Elisa.
Depois de reunir toda minha documentação e levar para a faculdade, Shawn e eu fomos direto para o mercado da cidade. Se eu realmente quisesse sobreviver, era bom aprender que a comida não vai parar sozinha no armário e na geladeira. O que é uma triste realidade.
— Então vai mesmo cursar Direito?
Assinto.
— Assim eu posso ocupar um cargo na empresa dos meus pais, que meu tio governa agora. Ele me garantiu essa vaga, e a parte boa é que eu trabalharia numa das companhias que fica na cidade ao lado.
— Isso é ótimo! – Shawn parecia mais empolgado que eu.
Quando chegamos ao mercado, puxei um carrinho largado e segui para as prateleiras de limpeza, ao passo que Shawn foi para a parte dos congelados e das besteiras, como biscoitos e afins.
Alguns minutos depois de pegar tudo o que estava na minha parte da lista, peguei dois potes de sorvetes e encontrei com Shawn na parte dos vinhos.
— Desde quando bebe? – O surpreendo.
— Certo então, peguei duas pizzas de forno, lasanhas de microondas e algumas peças de carne. Biscoitos e alguns doces também confere.
— E minha pergunta, não vai responder? – cerro os olhos.
— Não bebo. Pensei em levar para minha mãe, é o novo hobby dela. Degustar vinhos.
Dou risada.
— Entra aqui. – Shawn aponta para o carrinho.
— O que? Não. Nós não fazemos isso desde os doze anos. Somos adultos agora.
— Anda, Isa! – ele revira os olhos — Eu sei que você quer. Além do mais, estamos longe de sermos adultos chatos e quadrados.
Entro no carrinho vendo o sorriso convencido de Shawn. Ele arruma os produtos de limpeza na parte de baixo do carrinho e põe os biscoitos em cima de mim. Algumas pessoas olhavam, mas que mal tem? Se tem uma coisa que recebia bastante na reabilitação eram olhares indesejados e tortos, já estava mais do que acostumada.
Shawn vira o carrinho com força e me pega de surpresa, correndo com o mesmo até a parte de sucos e refrigerantes.
— Coca? – nego.
— Na... viagem aprendi a não beber mais isso, prefiro suco agora. – Shawn faz uma careta e automaticamente rio baixo.
Ele faz uma volta com o carrinho e corre por entre as pessoas, me fazendo tremer quando ele passa muito próximo de alguém ou de alguma prateleira com itens frágeis. Quando percebo, estou rindo mais que o normal e Shawn tinha as bochechas vermelhas de rir também. Sentia falta de me divertir assim.
— BIIIIII! Carrinho passando! – ele gritava, entre os sorrisos e as risadas. — Chegamos ao nosso destino, milady. — O mesmo segura minha mão e me ajuda a descer.
Um pouco cansada de rir, pago as compras e consigo arrancar algumas sacolas de Shawn, já que ele não queria me deixar levar nenhuma até o carro.
Uma vez que colocamos tudo na mala, entramos e ligamos o rádio, mas Shawn não sai do lugar até recuperar o fôlego.
— Onde vamos agora? – perguntou.
— Preciso ir pra casa. A poeira continua lá.
— Eu ajudo você.
Apenas faço que sim.
Observo a paisagem borrada enquanto Shawn dirige atento de volta para casa. O caminho não era longe, mas era o suficiente para eu começar a me iludir novamente. Shawn estava muito prestativo e desde que me viu chegar ontem, parece querer estar sempre por perto. Sacudo a cabeça. Elisa, não seja burra de novo. Ele sempre foi assim e deixou claro que não significava nada.
— Está tudo bem?
— Sim. Fiquei um pouco tonta, deve ser fome. Está perto do almoço.
— Já? – assinto — As horas passam tão rápido as vezes, é estranho.
Continuo quieta, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo mal feito. Estava quente e o sol já estava bem alto e brilhava forte.
Assim que chegamos em casa, descongelei a lasanha e dividimos a mesma.
— Durante a sua viagem, não... você sabe, ficou com ninguém?
— Não. – sorrio de canto — Queria ficar sozinha e pensar.
— É verdade, sinto muito.
Abano a mão.
— Mas por que essa pergunta agora?
— Queria saber se teria que me preocupar com algum marmanjo dando em cima da minha irmãzinha.
Tento não demonstrar, apenas reviro os olhos e deixo os pratos na pia. Pego os panos e uma vassoura, subindo para o andar de cima.
— Você cuida dos banheiros. – disse, assim que o mesmo apareceu atrás de mim.
— Por que não posso tirar a poeira dos móveis? – o encaro e ele levanta as mãos — Estou brincando, calminha.
Sorrio e viro, balançando a cabeça negativamente. Talvez essa fosse minha maior fraqueza, não conseguir ficar brava com Shawn, mesmo quando a maior parte de mim quer.
***
— Deus, finalmente acabou! – Shawn se joga no tapete da sala, ao meu lado. — Ficou tudo limpinho.
— Já pode pular para a próxima etapa agora, Mendes. – ele me olha, confuso — O casamento. – rimos.
— Se eu tivesse uma namorada, poderia pensar no caso. – lanço um olhar comprometedor e logo desvio para o teto — Sim, nós não... não era o que eu realmente queria.
Shawn se vira para o meu lado e apoia a cabeça sobre uma mão.
— Você realmente me perdoou? Por que eu realmente quero que tudo volte a ser como antes. Ou até melhor que antes!
— Claro que perdoei. – digo — É uma pena que não deram certo, mesmo. Tessa era minha melhor amiga também, torcia muito pela felicidade dela.
— Toda vez que fala isso ou que penso no que fiz, me sinto um completo babaca. Quero dizer, você gostava de mim e eu... me apaixonei pela sua melhor amiga. E não contei a você.
Sento, encarando Shawn. Era possível ver arrependimento no seu semblante, mas isso não tornava o assunto mais fácil de se conversar.
— Esqueça isso, Shawn. É passado. Já superei e disse que está tudo bem.
— Prova pra mim.
Arregalo os olhos, confusa.
— Como?
— Você passou o dia inteiro agindo estranho, exceto pelo mercado. Quero que tudo volte ao normal. Se você diz que está tudo bem, então prove. Amanhã tem uma festa, um lual que não estou nem um pouco afim de ir, mas se você fosse comigo, isso tornaria tudo mais fácil.
— Você quer que eu vá com você?
— Preciso desenhar? – lhe dou um tapa, Shawn revira os olhos e sorri. — Sim, quero que vá. Aceita? Ou não sou digno de ter um encontro com a nova Elisa Snow?
Encontro.
Sinto meu coração palpitar com força. Ou Shawn estava fazendo o que eu pensava que estava fazendo, ou simplesmente estava me fazendo de trouxa novamente. No entanto, antes que eu pudesse pensar em dizer não...
— Tudo bem. Eu vou com você.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.