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História 2 - A Casa Vermelha - A última noite (Penúltimo Capítulo)


Escrita por: Samuel_Super_

Capítulo 7 - A última noite (Penúltimo Capítulo)


Fanfic / Fanfiction 2 - A Casa Vermelha - A última noite (Penúltimo Capítulo)

Passei algumas primeiras folhas e achei um relato de 1998.

21 de fevereiro de 1998

Sinto como se eu não existisse mais. Sinto como se eu fosse apenas uma folha de papel voando pelas cortinas dessa casa horrível, apenas ouvindo as vozes da solidão e da dor. Elas pareciam dançar uma valsa assustadora no 1˚ andar ao lado do meu quarto. E eu não posso fazer mais nada, apenas sentar nesse sofá mofado com algumas gotas de sangue e escrever.

Morri em 1910 nesse exato dia: 21 de fevereiro. Faz 81 anos que morri no meu próprio quarto por algo que não sei, mas devo dizer que mereci. Atacar meu pai, mesmo sendo autodefesa, não foi uma atitude nobre. Apesar de que eu o detestava, principalmente depois do acidente. Mas coisas aconteceram na Casa vermelha que foi bem pior do que eu fiz no passado.

Ano passado surgiu um homem se autodominando o dono da casa. Se não fosse pelos colonos, eu próprio o tinha assassinado pelo sua mania de deixar as luzes ligadas à noite: espíritos não gostam da luz. Principalmente um espírito mau como eu. Ele acordava de madrugada com os barulhos constante de coisas caindo no chão na cozinha e em todos os cômodos. Não posso dizer que era eu, pois nunca havia feito isso. Apesar de eu ter sido mau na vida, na morte não queria perturbar ninguém, apenas descobri o motivo de eu não ter sido julgado por Deus.

Ele sonhava muito à noite. Uma vez até caíra da cama de madrugada. Na época que ele se mudou para cá, aconteceu coisas horríveis com ele. À noite, quando ele acordava, eu estava sentado no sofá fazendo desenhos no meu diário. Ele passou andando para a cozinha e ouvi o som de água enchendo um copo. Depois de uns segundos o copo de vidro caiu no chão. Andei calmamente até a cozinha e vi uma cena horrível: uma velha gorda com trancinhas malfeitas no cabelo o prendera num mata leão e pôs uma faca na garganta do pobre homem.

Olhei horrorizado para a cena.

Mandamos muitos sinais e você não abandonou a minha casa. Ela cortou a garganta do moço. Vi o sangue escorrendo pelo piso branco da cozinha recém-reformada pelo próprio cara. A mulher se levantou e pairou por cima do cadáver. Ela percebeu que eu estava lá e falou: Temos de defender nossa terra. Perdoe-me.

Na noite seguinte levei o corpo do homem para o rio ao lado da casa e deixei a correnteza o levar. Então entendi o motivo de tudo: os colonos tinham me matado. A mulher era uma colona mesmo naqueles tempos. Ela pedira desculpa e sua atitude mostrou muito que ela fazia – defendia sua terra.

Mas não sabia o mortivo de eu ter sido o que ficara lá depois da morte.

Pulei outras datas para tentar chegar a anos próximos. Segundo Donovan ele havia começado a escrever e parara quando conheceu a criança. 

19 de janeiro de 1999

No ano seguinte a essa morte eu resolvi sair da casa. Na verdade eu estou confinado às terras da Casa Vermelha e agradeço todo o dia por eu não ficar preso lá dentro com um ar sulfuroso pra caramba. Andei por todas as redondezas e resolvi entrar numa área da floresta que nunca havia entrado.

Era um lugar completamente inóspito e havia um ar lá... A atmosfera era diferente. Mais mística. Mais morta. E de um jeito completamente estranho não havia animais. Caminhei pela terra barrosa, tropeçando às vezes em galhos e pulando rochas grandes. Até que ouvi vozes e risos.

Você é muito sexy, amor. Disse uma voz masculina. Ainda bem que tenho uma esposa como você do meu lado em nossa nova casa. Ele beijou a mulher. O homem era forte, com cabelos castanhos e olhos claros de um tom âmbar. A mulher era magra, com um olhar duro e olhos castanhos avermelhados. Ambos usavam short jeans e um anel de ouro. Conclui que eles eram casados e por visto compraram a casa, já que havia os visto antes pelas redondezas.

Coitados. Pensei. Tomara que não morram.

Que tal a gente inaugurar o terreno? Ela perguntou rindo. Ele assentiu e se aproximou nela. Ela bateu numa estaca em uma terra fofa, mas ignorou o que estava atrás dela e se jogou nessa terra fofa. O homem começou a tirar a roupa dela e tirou a própria roupa. Agora chupa... Ele disse pra a moça enquanto ela descia lentamente para parte de baixo da sua roupa.

Ela tirou a calça dele mostrando o volume na cueca. Então ela começou a fazer sexo oral no homem de dava leves gemidos. Depois de um tempo resolvi me satisfazer também ali mesmo atrás de uma árvore. Eles continuaram com tudo em cima da terra fofa. Em um momento ela gritou alto. Eles faziam tudo muito rápido.

Depois do que rolou, olhei para uma pequena placa presa na estaca. A inscrição estava em inglês de forma surpreendente, já que tudo que encontrara na época que me mudei era em uma língua antiga. Menos os livros e diários relatados antes.

Eles saíram alegres enquanto fumavam um cigarro. Aproximei-me da plaquinha e li um nome que já ouvira nas bocas de alguns colonos: CROATOAN. Toquei a terra que estava quente e senti algo duro. Puxei aquilo e encontrei um colar feito de contas pequenas e algumas folhas douradas e outros enfeites indígenas. Deixei aquilo e saí. Percebi que aquilo era um túmulo. Um túmulo de alguém chamado Croatoan.

Acompanho o casal que está na casa faz dois meses. Estou rezando para não ocorrer nada a eles, já que a moça está grávida. Eles estão dormindo agora e eu estou aqui no sofá, como sempre. Escrevendo sobre a vida dos outros. 

Realmente Donovan escreveu tudo no diário. Detalhe por detalhe que às vezes me deixava abismada. Mas a página importante que falei veio sete meses depois. 

20 de setembro de 1999

Acordei hoje aos berros. A mulher que estava grávida (até agora não me lembro do nome dela) acordou todos da casa quando entrou em trabalho de parto. De início eu corri para o andar de cima pensando que algo de mal havia acontecido com ela. Mesmo eu não sendo da família deles, eu os amava de certa forma. E o amava pela vida que eles tinham: tudo muito rústico. Até o parto eles resolveram fazer na própria casa.

Sempre que podia eu tocava na barriga da moça e falava com o bebê. Isso principalmente de noite. Por isso peguei um castiçal e invadi o quarto. Eles não reparam em mim como sempre, mas notaram o castiçal flutuando. O deixei cair e eles se acalmaram murmurando sobre as alucinações.

Ela estava com as pernas abertas para um grupo muito suspeito. No pé da cama estava o marido dela segurando na sua mão e olhando todo o processo. Ao seu lado havia três mulheres com roupas hippie e cabelos sebosos. De primeira vista, pensei que eram enfermeiras com paletós e coisa e tal. Mas depois olhei com os olhos de fantasma e vi que eram as bruxas mortas dos colonos.

Arregalei os olhos e pedi para elas pararem. Elas apenas fizeram um sinal de silencio e continuaram. Eu fiquei assustado devido à fama que os colonos tinham de matar qualquer dono da casa, eu empurrei duas que caíram no chão. A outra continuou o processo enquanto o homem ajudava as outras a se levantarem. Eu via que não podia fazer nada após dois homens fortes me segurarem pelos braços. Debati-me e gritei, mas ninguém parecia nos ver a não serem as bruxas que ignoravam.

Após alguns minutos a moça soltou um som gutural. O aro foi cortado quando os berros de um bebê surgirem. Os homens me soltaram e desapareceram. Eu corri para ver o bebê que estava vivo. Já a mãe...

Amor. Amor... Chamara o pai. Ela não estava respondendo, apenas olhando fixo para o teto. Seu peito não se mexia mais e havia algo diferente no olhar: não havia nada. Ela estava olhando vazio, como se não estivesse vendo o teto. Descobri que era verdade segundos depois quando constataram que ela estava morta. O homem se jogou no chão e começou a chorar e gritar pedindo para que não a levasse, e sim a ele.

Senhor. Você não vai cuidar de seu filho. Disse uma das bruxas. O homem se ergueu do chão com uma expressão confusa. As bruxas acalentaram o bebê no colo. Como assim? Ele perguntou. Você vai morrer. Elas disseram em uníssono. Uma das bruxas levantou o braço esquerdo na direção do homem e ele voou caindo na frente da janela.  O vidro se espatifou e lá fora ele gritou de horror.

Quando fui ver pela janela, ele tinha acertado uma lança que era segurada por um homem de barba. Um dos colonos. Gritei de horror e tomei o bebê em minhas mãos quando as bruxas desapareceram. Ele está dormindo agora ao meu lado. O berço é lindo, foram os pais que compraram antes do parto e deixaram tudo de bom grado para o menino. Amanhã, quando algum colono vier e cuidar dele, eu jogo os corpos no rio. Novamente. 

O diário acabava ali. Talvez ele tivesse se ocupado antes com o bebê que deixou de escrever. Ou talvez como ele quisesse, arranjasse um propósito para viver. Bem, viver não é a melhor palavra, mas você entendeu.

Guardei o diário na gaveta e continuei sentada de frente para a janela. O dia já amanhecia lá fora e uma fina chuva caia fazendo o barro se transformar em lama na área ao redor da casa. Os campos secos lá fora se projetavam de uma forma diferente que o normal. Então parecia ficar vidrada no que acontecia ao redor da Casa Vermelha que dentro.

Nos meus pensamentos tudo se formou e o quebra-cabeça ficou completo. Antigamente os colonos tinham a casa e eles não queriam perdê-la para ninguém, então após sua morte eles perceberam e tiraram a conclusão que tudo feito em nome de Croatoan ficava preso ao lugar que o corpo ficava.

Então eles tiveram a visão. Uma visão que falava sobre essa tal criança e formaram um plano muito macabro: eles tinham de preparar o terreno para essa criança. Eles mataram Donovan para viver com a criança como um irmão. Então eles viviam ali após 1999. Para ficarem na casa, os corpos tinham que ficar guardados na casa e tudo estar em nome de Croatoan. Se não, nada funcionaria.

Só que a criança sumiu. Os colonos ainda acham que ela está lá dentro. Eles não podem entrar na casa desde 1999, provavelmente porque eles não sabem que essa tal criança veio para mudar tudo. Ela é a chave. E agora eu sabia onde estava a chave. E o principal: quem ela era. 

 

Não posso morrer agora, pensei comigo mesmo enquanto caminhava para o lado leste da casa. Não depois de tudo. Pulei uma pedra e avistei a verdadeira criança de longe: ela estava cortando lenha perto de uma fogueira apagada enquanto a chuva caía.

            - Oi... O que está fazendo na chuva? – ele me perguntou.

Aproximei-me dele e o olhei nos olhos. Então tive certeza. Ah, aqueles olhos castanhos avermelhados, dissera a mulher da colônia. Agora podia falar:

Era o Chad. 

Ele me olhou de forma confusa e me abraçou para me acolher da chuva. Entrei na casa dele me tremendo de frio e sentei em seu sofá ele me entregou uma coberta no meio da casa escura e saiu pedindo um segundo. Quando voltou, uma cesta de lenha coberta pousou ao lado da lareira e logo eu estava me sentindo quente. A casa de Chad era a mesma que eu me lembrava. Então ele me encarou de forma amigável e eu pude ver os traços nele.

            - Bem, a que devo a visita? – perguntou ele sorrindo.

Aquilo me matou. Como ele podia esconder aquilo? Como ele convivia sabendo que um ser maligno queria matá-lo? Depois vieram milhões de dúvidas, como o que aconteceu para ele sair da casa, ou se ele sabia de tudo. Acomodei-me no sofá ouvindo a chuva açoitando as persianas na janela da casa de Chad.

Por isso que nunca tinha visto seus pais. Ele não os tinha mais.

            - Vou direto ao assunto. – falei. – Porque não me contou que era a criança que Croatoan quer pegar? – aquela pergunta me soou tão ridículo quanto era na realidade.

Ele arregalou os olhos. Depois relaxou os ombros e tomou um gole de sua xícara.

            - Pensei que já soubesse e acertei. Você devia descobrir isso sozinha... – ele respondeu tranquilo.

Pigarreei.

            - Tenho ainda muitas dúvidas para se encaixarem sobre você. Porque saiu da casa? – indaguei.

Ele dobrou a perna e me olhou fixamente.

            - Descobri tudo quando tinha dez anos. Na época realmente achava que o Donovan era meu irmão, mas fui percebendo que ele nunca envelhecia, então estranhei aquilo e descobri tudo de forma rápida. À noite saí da casa e fui morar nessa daqui. Na época era uma casa muito velha, mas com o tempo fui construindo só.

Ele fez um gesto amplo para a sala.

            - Não vê? Estou bem protegido! Não sei se Croatoan pode me pegar, afinal eles ainda acham que estou na casa. Até o Dono provavelmente.

Fui compreendendo à medida que ele falava.

            - Mas as bruxas disseram que você é capaz de mudar tudo naquela casa. – contei. – Talvez você possa libertar os espíritos presentes lá!

Ele torceu o nariz.

            - Não entendo essa insistência que as bruxas têm sobre mim. – ele disse. – Sou apenas um erro, Sally. Fui fecundado sobre o túmulo de Croatoan e, por acaso, tive uma conexão com ela. Sei o que ela quer, o que ela sempre quis... Mas isso não deve acontecer.

Aproximei-me dele.

            - E o que ela quer de você?

Ele me analisou.

            - Acho que só eu sei disso. – ela falou. – Ela quer voltar à vida. Quer usar uma pessoa apta, um corpo apto, que entenda a vida dela. Eu entendo, mas não aceito. Entretanto ela fará de tudo para me ter, nem que deva derrubar aquela casa.

Estremeci. Então era isso: os colonos queriam evitar a volta de Croatoan para a vida, por isso protegiam Chad. Eles mataram Donovan para ser um irmão para Chad e o manter na casa protegido. Mas a criança saiu da casa sem ser visto e, não sei de que forma, os colonos acham que Chad ainda está lá. Croatoan também.

            - Só sei de uma coisa Sally: você deve sair daqui. – ele avisou. – Aquela casa guarda muitos perigos. Não quero que te machuquem.

Eu mantia os olhos fixos na lareira. O ser do porão, o cara de capuz: todos eram fantasmas. Onde eu tinha me metido? Era tudo era real. Mas ao mesmo tempo morto. Mesmo que a própria morte seja real...

            - Isso é verdade. Muito obrigado Chad. Mas você deve fazer sua parte. – pedi. – Você deve libertar os espíritos da casa de alguma forma.

Chad se levantou e guardou o copo na pia. Depois voltou a se sentar.

            - Na real, eu tenho muito medo. Até hoje jamais fui atacado. – ele fez uma expressão pensativa. – Ei! Se Croatoan pode entra na casa, por que ela até hoje não foi me buscar?

Nunca tinha parado para pensar. Ela teve tantas chances, mas nunca fez um ataque real.  

 

 

Voltava para casa enquanto a chuva se estiava. Caminhei pela terra molhada e o cheiro inconfundível de perigo que aquela área possuía. Entrei na zona rotativa da Casa Vermelha que para mim não me causava mais medo. Parecia que eu falava: agora eu sei tudo sobre você, vadia. Não me afetará nunca mais!

Entrei em casa. A mesa estava posta e minha irmã sentada no sofá lendo uma revista. Meus pais estavam na cozinha conversando. Minha família não era a minha família. Todos estava estranhos. Subi as escadas após o almoço sem falar nada. 

Entrei no quarto e contei tudo à Donovan. Ele era um bom ouvinte, mas ficara muito assustado e ao mesmo tempo feliz.

            - Ele tem de me libertar Sally. – ela falara para mim segurando minha mão. – Não suporto mais... Foram oitenta e nove anos preso aqui.

Eu sentia pena de Donovan. Realmente sentia algo por aquele garoto morto. Não suportava a ideia de ele sofrer e de ficar longe. O abracei e nos beijamos.

            - Mas se for pra ser liberto, ficará longe de mim, não é mesmo? – perguntei. Arrependi-me na hora de falar aquilo, mas ele não se importou.

            - Por mais que o mundo esteja louco, com fantasmas e espíritos do mal correndo por aí, ainda é melhor com você nele, Sally. – ele falou. – De todos esses 104 anos que tenho, você foi a coisa me fez sentir vivo pelo menos uma vez na vida. E também na morte. Encontrei a felicidade onde não havia.

Chorei no seu ombro e ficamos ali até à noite quando mostramos como era nosso amor. Não sabia que aquela era nossa última noite juntos. 

 



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