História A Certain Romance - Aquele do show do Oasis

         Assim que as portas do elevador se abriram, Alex respirou fundo e eu tentei mais uma vez tranquiliza-lo.

- Vai dar tudo certo, ele não vai te expulsar daqui ou te socar.

Ele riu nervoso e por fim entramos. Meu pai aguardava sentado no sofá da sala, e assim que nos viu, veio cumprimentar Alex.

- O nome dele é Jacques, o sobrenome é Gainsbourg - murmurei para Alex.

- Prazer sr. Gainsbourg. Eu sou Alexander, mas pode me chamar de Alex.

- Bem, bom te conhecer jovem. Eu imagino que estejam ansiosos para o show não é mesmo? - após concordarmos com a cabeça, ele continuou - vem, vamos comer. Vocês precisam estar bem alimentados para hoje à noite.

Novamente apenas concordamos com a cabeça e fomos até a mesa. Alex e eu sentamos de um lado e meu pai do outro. Percebi o clima estranho e tentei melhorar a situação.

- Então pai, você conhece Oasis?

- Pouca coisa. Encontrei aquele Liam Gallagher em um voo. Parecia uma diva.

- Uma diva? - perguntei enquanto ria.

- Muito reclamão, e se achava a pessoa mais famosa do planeta.

Ele provavelmente é, pensei para mim mesma. Comemos em silêncio por alguns minutos. Tive a impressão de que Alex estava muito, mas muito nervoso mesmo. As vezes até parecia estar tremendo, e por inúmeras vezes tive que me controlar para não começar a rir. Percebia os olhares de reprovação vindo do meu pai e tentava deixar Alex mais tranquilo.

- Bom, eu vou tomar um banho e logo podemos ir - meu pai falou se levantando e indo até sua suíte.

Esperei até ele desaparecer para enfim cair na gargalhada. Alex ficou me encarando mais uma vez confuso e quando eu finalmente consegui me conter, tentei explicar para ele o porque eu ria tanto.

- Sério, parece que você está aqui para anunciar nosso noivado, sorte que você não viu os olhares de ódio que ele lançava para você - falei ainda rindo.

- Ele é assustador, mas pelo menos ele não fez nada para me tirar daqui - ele respondeu mais tranquilo.

Levei Alex para fazer um rápido tour pelo apartamento e paramos no meu quarto para conversar enquanto eu arrumava meu cabelo.

- Se o Noel cantar Don't Look Back In Anger eu morro - falei animada.

- Acho que vai ter essa, meu amigo disse que tocaram em todos os shows até agora.

- Aí eu nem acredito que vou ver eles, eu tô tão feliz.

- Eu mesmo não consigo acreditar também…

Conversamos por cerca de dez minutos até meu pai aparecer. Eu havia tentado todo tipo de penteado, e no fim optei por deixar o cabelo solto. Fomos até a porta, calcei minhas botas e enfim saímos.

***

- Vocês já sabem, nada de pegar carona com estranhos, comer coisas que estranhos dão, nada alcoólico ou que seja considerado droga. Não fumem, não pulem de lugares altos, não façam nada que machuque ou deixe vocês loucões… E nada de pular do palco.

- Sim senhor - Alex concordou.

- Podem ir então, se cuidem e bom show - Alex abriu a porta e saiu, eu estava prestes a fazer o mesmo, mas fui chamada por meu pai - Jacqueline, na sua bolsa eu coloquei um kit emergência.

- Pai…

- Tem um canivete, spray de pimenta e dinheiro.

- Se me revistarem eu estou encrencada.

- Não vai dar nada… Pode ir filhota. O paizão te ama - ele berrou quando eu já estava fora do carro. Eu ri e acenei enquanto assistia o carro ir embora.

Olhei para Alex, que estava sorridente. Ele parecia tão animado quanto eu, e bem arrumado também. Estava usando uma jaqueta azul muito parecida com a que havia esquecido na casa de Claire alguns dias atrás.

- Vamos lá? - ele perguntou e eu nem pensei antes de concordar. Começamos a andar para a direção oposta de onde as pessoas vinham e chegamos em frente a um portão enorme. Alex pegou seu celular e começou a mandar mensagens para um número. Cinco minutos se passaram e ainda estávamos alí.

- Será que vão deixar a gente entrar?

- Que droga, ele me disse pra mandar uma mensagem quando a gente chegasse mas ele não responde - Alex reclamou.

- Tenta ligar para ele, talvez ele não viu nada pois está ocupado.

- É vou tentar - ele discou um número e clicou para chamar. Passaram vinte segundos e ninguém atendeu. Alex começou a soltar uns palavrões mas de repente parou - Oi Mike, sim sou eu. Sim, eu tô aqui no portão que você me disse para esperar. Tá, aham, sim. Ok, até logo.

Olhei para Alex com uma cara de quem queria saber algo e ele fez um sinal positivo. Dei um pulinho de alegria e bati palmas. Dois minutos depois o amigo dele, Mike, apareceu e nos deu dois passes de backstage. Entramos quase surtando e quando chegamos perto do palco, pudemos ver que o gramado do estádio já estava praticamente lotado. Ainda faltavam duas horas para o show começar então tínhamos tempo suficiente para dar uma volta pelo local.

Após uma volta rápida, nos sentamos no chão, já que não tínhamos mais o que fazer. Alex acendeu um cigarro e eu decidi encher o saco dele.

- Não fumem - falei tentando imitar a voz do meu pai. Alex riu e continuou o que estava fazendo. Percebemos que o backstage estava começando a encher. Chegaram convidados, fotógrafos, e os roadies pareciam estar ali a horas, trabalhando incansavelmente.

- Será que o camarim fica muito longe? - Alex perguntou.

- Não faço idéia. Mas de qualquer maneira eu não iria lá.

- Porque não? A gente já está aqui mesmo.

- Alex, eles vão ficar com uma impressão muito errada da gente, imagina se mandam alguém nos expulsar - eu falei rindo.

- É, você tem razão. Talvez a gente consiga pelo menos apertar a mão de algum deles quando estiverem entrando no palco.

- Se a gente der sorte é bem possível.

Ficamos mais alguns minutos conversando e tentando não ficar entediados.

***

- Vai, agora eu consigo - falei abrindo a boca e esperando Alex jogar provavelmente o vigésimo confete.

- Não dá certo, ou acerto seu queixo ou seu nariz.

- Só mais uma vez, vai - abri a boca e quando Alex estava prestes a atirar novamente o confete, ouvi sons extremamente altos vindos das caixas de som. Virei meu rosto para ver o que era e o doce acertou meu olho - aí!

- Eu falei que não ia dar certo - Alex gargalhou.

- ALEX VAI COMEÇAR! OLHA AS LUZES.

- AI MEU DEUS - ele levantou em menos de um segundo e foi o mais perto que pôde do palco. Ficamos olhando para trás, esperando a banda passar por nós, mas para nosso azar eles entraram pelo lado esquerdo.

Andei até onde Alex estava e sorrimos um para o outro. O dia mais feliz da minha com certeza seria esse.

- Obrigada por isso Alex - o abracei apertado, grata pelo que ele fez por mim - você é o melhor.