História A Cobaia - Pesquisa

Wendy leva seu braço até o lado oposto da cama de casal, tateando à procura do marido, porém encontra apenas um espaço vazio e frio, que indica que Joseph já levantou-se há muito tempo. A mulher abre os olhos de forma preguiçosa, suspirando pesadamente. Após àquela maravilhosa noite de sexo, ela tinha esperanças que ele estaria ao lado dela para falar bom dia. Enganou-se mais uma vez.

Joseph nem sempre foi daquela forma. Quando o conheceu, no penúltimo ano de faculdade, ele era considerado o modelo perfeito de homem: gentil, engraçado e quente. Porém, durante esse último ano tem se distanciado cada vez mais, tornando-se horrivelmente frio.

Wendy questionou-se algumas vezes se é algo consigo mesma, mas rapidamente descartou essa possibilidade, sabe que é a mesma de sempre. Outra possibilidade que rondou seus pensamentos foi a de uma traição, já que Josh fica horas e horas fora de casa. E como vira no jantar de ontem à noite, seus colegas de trabalho são especialmente atraentes, ao contrário do estereótipo de cientista-nerd que muitos têm.

A noite anterior foi especialmente constrangedora, com Miller sentindo-se uma intrusa. A colega do marido, Jennifer, tinha toda aquela áurea de inteligência sobre si, enquanto o homem, Mark, era fechado, limitando-se apenas às palavras extremamente necessárias. Eles permaneceram a refeição toda conversando sobre a pesquisa atual, que pareceu extremamente confidencial e que despertou a curiosidade ávida de Wendy, que obviamente não foi saciada.

Ela resolve se levantar, feliz por ser sábado e não precisar trabalhar. Suas aguardadas férias se aproximavam, e Wendy planeja fazer algo diferente. Talvez uma viagem ao exterior, para tentar reaproximar-se de Joseph. Sabe como ele adora viajar, e aquela era uma ótima oportunidade.

Wendy caminha até o banheiro, passando pelo laptop ligado do marido no percurso. Ele nunca deixava seu precioso instrumento de trabalho em casa, muito menos ligado. Provavelmente alguma emergência do trabalho exigira sua presença imediata, como aconteceu inúmeras vezes nos últimos meses.

A loira luta contra o ímpeto de avançar até o objeto e devorar todo o conteúdo do mesmo. Nunca foi o tipo de mulher que invade cada mísero espaço do marido, acabando com qualquer tipo de privacidade, e tornar-se ela agora não estava em seus planos. Por isso, obriga-se a entrar no banheiro espaçoso, ligando a água da banheira.

Wendy apalpa os seios firmes em frente ao espelho, uma mania um tanto narcisista, enquanto vistoria seu próprio corpo. A maioria das mulheres que conheciam Wendy não simpatizavam muito com a mesma, talvez pela sua segurança que era muitas vezes chamada de arrogância, ou apenas pela sua beleza. Passou a maior parte da vida com homens, que certamente não se incomodavam com sua aparência, e em certo momento parou de se importar por não ter amigas mulheres.

Quando a banheira está cheia, ela entra dentro da mesma, relaxando imediatamente. O banho era, sem dúvidas, um dos seus momentos favoritos no dia. Wendy esvazia a mente, libertando-se de todo estresse e pensamentos negativos, focando-se apenas na sensação da água morna sobre sua pele e no cheiro agradável de seu sabonete.

Quando seus dedos já estão enrugados, a mulher resolve terminar seu banho. Após tantos minutos em paz, esperava ter se livrado da vontade de descobrir o que há dentro do computador de Joseph, porém isso não aconteceu.

— Talvez seja hora de descobrir — Wendy murmura com a voz rouca, olhando para o labtop em cima da escrivaninha enquanto troca de roupa.

Até hoje Wendy não sabe exatamente o que o marido faz, apenas que ele é cientista em algum laboratório do governo. Sente-se incrivelmente estranha por isso. Que tipo de mulher não sabe onde o próprio marido trabalha?

Ela senta-se em frente ao aparelho, colocando seus óculos. Uma rápida movimentação no touchpad faz a tela se acender, revelando uma página com fundo branco repleta de informações. Wendy sente seu cenho franzir-se enquanto lê os parágrafos do que parece ser um relatório.

[...] Torna-se necessário após esses resultados uma extensa pesquisa acerca dos reais efeitos do vírus. Teoricamente, esperava-se que o humano adquirisse melhorias nos reflexos, na resistência, adaptação e regeneração...

A loira continua lendo os textos que preenchem o documento, sentindo seus olhos se arregalarem cada vez mais. Já havia ouvido falar das experiências que o governo fez durante a Segunda Guerra Mundial, na tentativa de criar super-soldados, mas imaginava que isto era passado. Nunca passou por seus pensamentos que os Estados Unidos planejavam criar mutantes, e que estavam mais próximos disso do que jamais estiveram.

A lista de “melhorias” físicas e psicológicas proporcionadas pelo vírus é enorme, e há dezenas de relatos e outros históricos da pesquisa, que aparentemente não está tendo tanto sucesso — apesar dos avanços históricos.

Porém, Miller não pode terminar de ler, já que é bruscamente interrompida por Joseph.

— O que pensa que está fazendo?!

It's spiraling down
Biting words like a wolf howling
Hate is spitting out eachothers mouths
But we're still sleeping like we're lovers