História A construção do Para Sempre - Assimetria

Dias haviam se passado desde aquele incidente. Emma estava tomando seu café, dessa vez uma hora mais tarde que o habitual. Ela preferiu dar tempo suficiente para que a morena tomasse seu café da manhã e elas não precisassem se encontrar. Apesar da falta de contato e vários dias passados, a mente da salvadora não tinha se organizado em nada ainda.

            Para completar, Killian estava cada vez mais ciumento e estressado, e eles nem sequer tinham nada oficial, só se beijavam de vez em quando. Mas aparentemente, a ideia dela ser o final feliz de Regina foi suficiente para fazê-lo achar que deveria marcar território – mesmo sem sequer possuí-lo de fato. Ela precisava organizar as ideias e ele continuava insistindo em estar por perto a cada instante. Aquilo estava dando nos nervos da salvadora.

- Olá, meu amor – Emma fechou os olhos lentamente. Estava cansada daquela situação.

- Oi, Killian – respondeu, secamente.

- Estava pensando – continuou o pirata – que tal um jantar hoje à noite?

- Nós já jantamos juntos ontem. E antes de ontem.

- Eu sei, eu sei – respondeu, dando seu sorriso sedutor – mas eu ainda não consegui chegar no ponto onde eu queria – completou, passando um dedo delicadamente pelo jeans de Swan.

- Killian, pare – Emma respondeu, afastando a mão do pirata – eu não vou jantar com alguém que está tentando insistentemente me levar pra cama.

- Bom, tudo bem – olhou diretamente nos olhos da loira, ainda sorrindo – nós não precisamos jantar.

- Gancho – ela vociferou, irritada – para com isso. Não tá vendo que tá me irritando?

- Por que, meu amor? Eu só quero uma chance. Uma noite comigo e eu prometo que você nunca vai ter olhos para a Regina.

            Emma o fuzilou com os olhos. Imediatamente sentiu suas palmas esquentarem com sua magia pronta para reduzi-lo a pó. Ela suspirou e procurou se acalmar até suas mãos voltarem ao normal. Mas já estava farta daquela conversa.

- Escuta Killian, chega. Eu preciso passar um tempo pensando melhor em tudo. Minha vida tá uma bagunça e não tá dando certo que nós estejamos juntos agora – Na verdade nós nunca sequer estivemos juntos de verdade, pensou, mas preferiu não falar. – Você consegue me entender?

            Killian parou um instante. A primeira vez que ele fazia isso em muito tempo. Ela começou a imaginar qual seria a reação dele e ficou amedrontada. Mas diferente de todas as expectativas, ele sorriu para ela.

- Tudo bem, meu amor. Resolva o que você tem para resolver e volte para mim. Vou estar esperando por você, apenas me avise quando estiver pronta para os meus braços – ele deu um beijo em sua bochecha e se afastou. Emma suspirou, aliviada. Seus sentimentos pela morena estavam confusos, mas ela queria tê-la por perto, não aguentava mais passar os dias sem vê-la. E se Regina estava mantendo distância por causa do que elas viram no filtro, ela sabia o que devia ser feito em seguida.

***

            Regina lia uma solicitação de materiais para a escola pública da cidade em seu gabinete. Ela precisava ler o mesmo trecho várias vezes para compreender do que se tratava. Sua mente estava longe a dias. Desde o incidente no café ela não tinha mais visto Emma em lugar algum. Ela deve estar me evitando agora, pensou. Ela se questionava o porquê de não se sentir aliviada com isso. Pelo contrário, sentia como se tivesse um buraco em seu peito que não se fechava nunca.

            Suspirou profundamente e largou os papéis. Sempre que a salvadora passava em sua mente ela não conseguia pensar em nada a não ser querer encontra-la e aquilo estava arruinando sua vida. Swan não podia ser seu final feliz, ela se recusava a acreditar naquilo. Sua mente e seu coração estavam em conflito e ela não encontrava uma saída para aquela situação. Ouviu uma batida na porta e revirou os olhos.

- Seja lá quem for, não é uma boa hora. Estou ocupada. Volte mais tarde.

- Regina? Eu prometo ser breve – A voz que vinha da porta era abafada, mas claramente era de Emma e isso foi o suficiente para fazê-la entrar em pânico por um momento. Atravessou o gabinete e, quando passou pelo espelho, se certificou que estava bem arrumada antes de abrir a porta.

            Hesitou um instante, controlando sua respiração e finalmente abriu. A morena aproveitou os primeiros instantes enquanto abria a porta para olhar para a salvadora. Emma estava com a sua tradicional jaqueta vermelha, uma blusa preta por baixo, jeans escuros e justos, botas pretas e uma expressão séria no rosto. Ela pediu para que a salvadora entrasse e quando ela passou pela prefeita e ela pode sentir seu perfume, Regina involuntariamente apertou a porta com força, como que para manter o controle de seu próprio corpo. Virou-se e encarou Emma.

- Então... o que você quer, Srta. Swan? – Regina se cruzou os braços e olhava para qualquer lugar exceto para os olhos da loira.

- Eu quero que isso pare, Regina – embora Swan estivesse com a sua tradicional pose destemida, sua voz a traía. Era fácil perceber que ela estava incomodada e confusa, e aquilo estava encantando a prefeita, que mal conseguia manter a fisionomia séria. – Eu não... quero mais ficar fugindo de você. Isso é estranho e sem sentido.

            Regina olhava para sua mesa, sem conseguir acreditar no que ouvia e principalmente, sem acreditar no que sentia enquanto ouvia Swan. Tudo que ela queria naquele momento era se aproximar e abraça-la.

- Swan, eu... – Regina começou a falar, mas a loira continuou.

- Nós somos amigas e... – Emma hesitou por um instante – o que vimos naquele filtro é uma bobagem. Você não precisa manter distância por causa disso.

            As palavras atingiram a prefeita como um tapa. Por um instante achou que suas pernas estavam bambas. Então é isso que Swan pensa. Eu devia ter imaginado, pensou, magoada. Manteve sua postura e a encarou.

- Você tem razão. Não faz sentido nenhum aquilo que vimos. Deve ter sido... uma brincadeira de mau gosto ou coisa assim.

Emma limitou-se a acenar com a cabeça.

- Vou voltar a ir no café no mesmo horário e tudo bem se você estiver lá. Eu vou dar um jeito de não ficar no seu caminho. Pode ser?

- ...Tudo bem.

- Certo. Vou voltar pra delegacia. Até mais, Regina. – Emma se despediu, desanimada, e passou pela porta.

            A prefeita sentou-se, a ponto de desabar. Para sua razão aquilo que havia acontecido era bom. Um sinal de que ela e Emma não tinham nada e no máximo ela estava impressionada com o que viu com o pó de fadas. Mas em seu peito, só sentia o vazio e uma profunda decepção. Pegou um copo de whisky. Não conseguiria mais ler pedido de materiais nenhum naquele dia.

            Emma voltou para a delegacia e foi direto para o escritório. Estava estressada e precisava colocar foco total no trabalho para não pensar no que aconteceu. Seu coração ainda não tinha desacelerado desde que Regina abriu a porta. Ela sempre parecia mais linda que o normal naquelas roupas sociais. A salvadora foi no arquivo e pegou seus casos mais difíceis, um copo de café e se trancou no trabalho pelo resto do dia.

***

            Naquela manhã, Regina acordou francamente indisposta. Como de costume, o primeiro pensamento que veio em sua cabeça foi a salvadora. Apesar da conversa desastrosa no dia anterior ela pelo menos a veria naquele dia, provavelmente. Olhou para o relógio e viu que era quase o horário em que Emma normalmente ia comprar seu café. Levantou-se e foi até o guarda-roupa. Passou mais tempo que o habitual escolhendo quais roupas usaria. Se pegou imaginando qual era a preferência de Emma e automaticamente se repreendeu. Arrumou suas coisas e decidiu ir de carro daquela vez.

            Quando se aproximava do café, percebeu que o carro de Emma não estava por perto. Estacionou e foi até o balcão fazer seu pedido. Sentou-se ao lado da janela e começou a imaginar se Emma tinha desistido de ir mais cedo ou se já havia ido embora. Enquanto pensava, o sino na porta anunciou a chegada de alguém. Ela levantou os olhos e a primeira coisa que viu foi os olhos verdes de Emma olhando diretamente para os seus. Aquela troca de olhares quase fez seu coração falhar.

A salvadora passou por ela e a cumprimentou, com um fraco sorriso no rosto. Fez seu pedido e aguardou pacientemente no balcão. Regina conseguia perceber que a loira de instante em instante olhava para ela de relance e aquilo a deixava confusa, mas em êxtase. Quando o pedido de Swan chegou, ela recebeu e saiu do café, deixando a morena um tanto quanto desapontada. Ela a acompanhou pela janela e viu que Emma tinha entrado no seu carro, que estava próximo.

Ficou a observando tomar seu café ali e se sentiu culpada. Então é assim que Swan pretende sair do meu caminho, pensou. Continuou a observá-la, quase em transe. Viu a loira mexer no painel do carro e começar a se balançar levemente, ao que parecia ser ao som de uma música. A viu cantarolar entre um gole e outro de café e nem percebeu o sorriso bobo que se formou em seus lábios enquanto assistia àquela cena.

- Tendo um bom dia hoje, Regina? – Ainda que suave, a voz de Killian trouxe a prefeita de volta bruscamente.

- O que você quer, pirata? – perguntou, irritada.

- Eu quero que você saia do meu caminho – respondeu, devolvendo-lhe um sorriso – Emma é minha. Não importa o que tinha naquele objeto mágico. Eu sou o final feliz dela e não vou deixar que ninguém se meta nisso. Nem mesmo a rainha má. – o pirata se levantou e saiu do café, deixando uma Regina completamente furiosa para trás.