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História A Cordial Criatura Entre Os Galhos - III. O que você devia fazer...e o que você fez.


Escrita por: xwk3

Notas do Autor


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Capítulo 3 - III. O que você devia fazer...e o que você fez.


Fanfic / Fanfiction A Cordial Criatura Entre Os Galhos - III. O que você devia fazer...e o que você fez.

— Hiroto Ukawa. Explicações...?

Nome completo, tom sério e pergunta direta. Todos os sintomas de “encrenca” estão presentes aqui. Além de sinceramente, uma sensação extremamente desagradável...ou eu deveria dizer...algo extremamente desagradável?

— Explicações...sobre...?

Carta na manga; o teatro do bobo. Deposito minhas expectativas nisto.

— Não se lembra...? — Disse Noriko, a coordenadora da escola — Pois bem! Irei fazer este favor a você!

Estrondosa foi a reintrodução da minha própria redação a mim, e provavelmente dolorosa fora a breve introdução entre a madeira da mesa, a folha e a mão de Noriko. Porém não era como se ela se importasse. O medo e o ódio extinguiam de sua consciência qualquer notícia sobre a dor. Aquele ato, que poderia facilmente ser considerado como “socar a mesa com papel sulfite”, fora ignorado ao mesmo tempo que criado, pela subjetividade.

— Isso! É sobre o que estamos falando! — Gritou após ter com toda sua força, prensado a prova do crime na desgastada mesinha.

É, não era uma bela carta na manga.

— Entendo... — Murmurei cabisbaixo, mas honestamente, não arrependido.

— S-se você entendesse Hiro... — Gaguejou choramingando — Você não faria...

Se você entendesse, você não faria. Nesses três anos que convivemos no mesmo ambiente, esta fora a primeira, e provavelmente última, frase inteligente dita por ela.

Em contrapartida, eu nunca entenderia ela, nunca entenderia essa covardia. Nem sequer desejo entender.

— Ukawa...qual era o tema da redação...que Naromi...lhe deu? — Indagou séria, com uma voz vacilante.

— Indignação.

— Exato...exato... — Sussurrou, mais para si do que para mim, com os olhos apagados em um breu — E...sobre o que...você escreveu...?

— Sobre indignação.

— Não! — Exasperou-se.

— ...

— V-você...escreveu sobre ele.

Ele.

Mesmo que se esse simples pronome apenas dê a se entender por um indivíduo do sexo masculino, não é desta maneira que aqui em Hakone, a cidade de neve, esta palavra é compreendida.

Ele se refere a Ele. Ele criou vida própria. Ele...é proibido.

— Você tem ideia...do estado que a professora Naromi...deixou essa sala...? — Indagara novamente, ainda mais apagada, ainda mais sem vida — Diga...Hiroto...

— Sim...?

— Você...gostaria de ver ele?

Noriko...como você é desagradável. Olhe bem para si mesma, para sua covardia, sua submissão, sua irracionalidade...sua superstição. Nada mais do que alguém que segue o rebanho e o senso comum reside aí dentro de você. Se algum dia tu mudaras, fora para pior. Se apagara ao invés de ficar mais brilhante.

Nunca ouvira a frase; “Progressos, não regressos. ” ?

Aparentemente, não, nunca. No entanto não importa, este não é o motivo pelo qual és tão desagradável. O verdadeiro problema está...em seu rosto. Bem aí, em suas verrugas, olhos e bochechas.

Não importa como és por dentro, ninguém te conhece o suficiente de primeira vista, logo, a não ser que seja seu objetivo, você não iria soar tão desagradável como está a soar agora. Olhando para seu rosto...sua pele manchada...seus dentes sujos...seus ridículos óculos...sua ridícula presença.

Você é desagradável tanto no interior quanto no exterior.

Mas se você fosse boa no exterior, isso não importava.

Mas se você fosse boa no interior, isto não importava.

Não importava, não importava.

Não importava de dois jeitos diferentes.¹

— Como posso responder a isso...Noriko-sensei...se sequer tenho certeza...de que ele existe?

Noriko se levantou, por não poder derramar suas emoções em mais nenhum lugar, ela decidiu, naquele exato momento de euforia, conscientemente ou sub, lança-las todas sobre mim.

Que decisão egoísta, Noriko.

Ela gritava, chorava, gemia, me agarrava e partia para cima. “Meu filho”, “Meu sobrinho”, “Minha aluna”, tais frases saíam dissuasivamente de suas cordas vocais, e junto com gotículas de saliva - produzidas pelo puro e verdadeiro ódio - eram lançadas sobre mim.

Sim, o filho dela, o sobrinho dela, a aluna dela, e crianças, jovens e velhos com todos os tipos de relações e ligações, sumiam. “Pois assim como o som se esvai no ar, uma pessoa repete o feito... “. Repete o feito. E repete o feito.

Noriko estava no chão e grunhia, grunhia, grunhia. Velhos fantasmas não são esquecidos, porque eles justamente fazem parte da pessoa. Esquece-los seria esquecer uma parte de si mesmo. Impossível. O que fazemos é tentar ignora-los tanto quanto conseguimos.

Diga-me Noriko, você algum dia por acaso já esqueceu de quem você era? De que fora mãe? De que fora avó? De que já lecionou?

Diga-me Noriko, você já fugiu da realidade? Já inventou um personagem? A coordenadora que senta aqui, e ignora o que um dia já foi, ao mesmo passo que ignora aqueles que passaram por sua vida? Tudo isso por que não tem capacidade de nem tentar salva-los?

Seu nome é mesmo Noriko?

Noriko...Noriko...Noriko.

Você é realmente desagradável.

Essa foi a conclusão de que cheguei enquanto ela se retirava desamparada da sala mofada e escura que costumava se trancar. Apelidado carinhosamente de “escritório” ou “coordenação”. Um belo esconderijo da realidade, onde sequer a luz chega para dar seus comprimentos e avisar-lhe que está viva.

E em cima da mesa, jazia, ainda lá, minha querida redação.

                                                                                                      

                                                                                          Lá.

Indignação, substantivo feminino, “sentimento de cólera ou de desprezo experimentado diante de indignidade, injustiça, afronta; repulsa, revolta. “.

Dado que somos produtos do meio, e de que vivemos em meios diferentes, porém por vezes similares, achar um motivo de indignação comum não é uma tarefa difícil, e não necessariamente fácil. Tudo depende onde você olha.

Há na nossa sociedade, certos conceitos que ninguém mais se propõe discutir. E talvez, sequer deveria. No entanto isso...é só um ponto de vista. Mas por outro lado, quando tal conjunto de conceitos é aceitado moralmente pela maioria (pelo menos no aparente), podemos facilmente achar um motivo de indignação comum. Ou seja, tudo afinal que temos que fazer, é olhar para nossas semelhanças.

Nós todos aqui...também temos nossas experiências semelhantes...e obviamente...uma indignação...

Lá...na Floresta de Neve...onde ninguém chega...nem ninguém sai...

Lá...onde eles somem...

Pois quando seu nome é dito...assim como o som se esvai no ar....

Uma existência repete o feito.

E repete o feito...repete o feito... e repete o feito...e repete o feito...repete o feito... repete o feito... e repete o feito... e repete o feito... repete o feito...repete o feito... repete o feito... repete o feito...

 

REPETE O FEITO. E REPETE O FEITO.

Eles dizem...e dizem...ao dizer...bem dizendo...

NÃO FALE. NÃO CITE. NÃO FAÇA REFERÊNCIA.

                                                                                                                                                                   "

 

 


Notas Finais


"Não importava de dois jeitos diferentes" ¹ - O significado dessa frase é que para Hiroto, caso ela fosse boa no exterior, o fato dela ser "podre" no interior não importava, mas porém, caso ela fosse boa no interior, isso não importaria, pois ela ainda teria uma "pessima aparência", ou seja, para Hiroto, não importava como ela era por dentro, se ela fosse bonita, tudo seria "relevado".


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