— H-Hiroto...?
Hiroto Ukawa. Cabelos negros e ressecados, colunas envergadas e um rosto que...uh...bem...ignoremos essa parte. Sim, eu irei perdoar seu exterior, em favor do interior.
Pois ele era ridículo no exterior, e exemplar no interior.
Mas se ele fosse bom no exterior, não importaria.
Mas se ele continuasse ridículo no exterior, não importa e nem importaria.
Não importaria, não importaria.
Não importaria nos dois diferentes jeitos.¹
Suas colunas estavam morbidamente inclinadas para trás, porém sua cabeça encarava o sujo e avulso papel na mesinha. Me encontrava na porta à suas costas, por isso, seu horrive...quer dizer, seu peculiar rosto e sua expressão por mim não eram vistas. Por outro lado, tenho certeza que era uma de arrependimento, por alguma banalidade cometida.
Mas eu também o perdoo-o, afinal, dizem que errar é humano, e perdoar, preciso. “Uma boa ação a cada dia”.
E particularmente, irei cobrar cada uma dessas ações lá no outro lado do mistério.
No período entre minha fala e a esperada resposta, já se continha numerosos segundos. Hiroto provavelmente, por estar cheio de culpa, bondade e preocupação para com os outros, sequer se encontrava na realidade. Chamei-o mais uma vez.
— Hiroto?!
Era uma existência lenta. E quando digo existência, incluo tudo; raciocínio, gestos, reação, coordenação, senso comum, etc. Sorte a dele, que eu, sempre iria perdoar a inferioridade, e nunca julgar o meu próximo.
Talvez eu pudesse até mesmo concerta-lo?
Com a voz rouca, o peculiar garoto virara o rosto ainda com resquícios e indícios de espanto. Como era uma pessoa simples, lê-lo não me mostrava a mínima dificuldade. Em sua testa estava escrito “Asami Hikari...chamou o meu nome?!”.
Também, talvez existisse um ótimo adjetivo antes de “Asami”, porém eu, não gostaria de tanto exagero. Uma dama precisa ser humilde nos seus modos.
Em contrapartida, a verdadeira surpresa fora...
— O que você...
— O que eu...o que Hiro-Hiro ?
— Está fazendo aqui...? E em segundo lugar, Hiro o quê?!
Timídez.
Essa é a única razão que posso pensar para tão fria recepção vinda dele. Não conseguir expressar como se sente à outras pessoas, impedira, impede, e caso persista assim, sempre impedirá Hiroto de se aproximar dos outros.
Não digo que não entendo o lado dele. As pessoas são falsas, escondem suas maliciosas opiniões sobre você, para que só depois de depositarem-lhes confiança, elas gradualmente ou sucintamente se revelem, acabando por o machucar.
São hipócritas e egoístas ao ponto de apenas ajudar aqueles próximos delas, a qual elas sentem por, e ainda chamar isso de atos de pura benevolência, como se não tivessem ajudando o outro apenas por aquilo machucar e angustiar ela mesma.
Afinal, caso não fosse por esse motivo, por que não ajudam desconhecidos?
É a simples natureza humana, se apegar ao que gosta em seu a redor, enquanto ignora todo resto. Assustadoras de determinado ponto de vista.
Imagino poder ficar horas listando defeitos e defeitos, e no final, nada mudaria. Se quisermos mudar algo temos de começar por onde podemos, e começarei ajudando Hiroto, ao passo que o próprio, me ajuda.
— Preciso...conversar com você.
— Comigo...? — Disse ao mesmo tempo que amassava e arremessava ao lixo, a estranha folha que antes jazia exposta sobre a mesa.
— Sim...podemos ir a outro lugar?
— Uh...
“Uh”. Hiroto era peculiar até mesmo quando concordava com as coisas.
A partir dali começamos a andar pelos corredores da nossa querida escola de ensino fundamental Gakuen Hakone. Que na realidade, era a única escola desta modalidade que havia pelas redondezas. Pisos e estruturas de madeira mostravam certa tradicionalidade, numa cidade que em si, além de fria e pequena, é antiga e repleta de “cultura” segundo alguns.
A economia da cidade é totalmente baseada no turismo. Para continuar movendo as coisas aqui, é preciso que pessoas nos visitem, geralmente vindo do lugar mais próximo daqui, Tóquio. Bom, e sinceramente, agora que penso nisso, boa parte do Japão precisa de Tóquio para mover as coisas.
Árvores e árvores pela passagem do vento, agitavam suas copas, sendo tal bonita paisagem contemplada por nós em todas as manhãs nos três últimos anos, juntamente com o majestoso, intrigante e amedrontador Monte Fuji. Ativo.
Ver aquilo que vejo todos os dias, despiste ser tão lindo, por outro lado, não era tão surpreendente. Já estávamos nos aproximando dos vestibulares, e provavelmente, eu iria me mudar para Tóquio, afinal, os colégios de lá eram melhores. É natural ir atrás do que é superior. Em contrapartida, me perguntava se sentiria falta deste lugar...não...o que estou falando...não sinto falta de nada...
Nem mesmo da minha irmã.
E desejo saber porque. Por isso virei “amiga” de Hiroto.
Finalmente paramos atrás da escola, e isso era familiar, e daqui a um certo tempo, será nostálgico e inspirador. É aqui o lugar que ocorreu minha vingança. É aqui o lugar que rejeitei todos.
— Então...? — Perguntou o possuidor de olhos tão entediados.
— E-eu... — Nenhum menino poderia resistir a isso, minhas bochechas, mesmo que por uma reação não natural, estavam vermelhas, e em conjunto com uma voz tímida e carinhosa, o golpe era fatal — P-preciso...de sua ajuda...
Primeiro ponto.
— Ajuda...? Não há pessoas melhores para te ajudar?
— Não! Nenhum dos meus outros amigos seriam tão bons quanto você nesta situação.
Segundo ponto.
— S-sei...
Fazia uma cara de choro, e me posicionei para a frente enquanto coloquei as duas mãos para trás de modo completamente fofo. Cheque-mate.
— V-você...vai me ajudar...Hi-ro-to?
Home-run.
— Tudo bem...mas, no que precisa de ajuda?
Honestamente, não sentia tanta tristeza, mas ironicamente, para eu saber o motivo disto, precisava primeiramente fingir que sentia. Com uma voz vacilante e meiga repliquei a questão — Minha irmã...ele...
— Como o esperado...quer encontrá-la?
Hiroto...Hiroto...Hiroto.
Como você é inocente.
Apenas balancei a cabeça em um pequeno gesto, indicando um sim. No entanto, aquilo era só o aparente. Não queria encontrar minha irmã.
Queria saber porque não sentia a falta dela.
Queria saber quem diabos era ele.
Queria saber porque ele não me levou naquela noite.
Pois naquele dia tenebroso, onde tudo o que eu tinha era ódio e lágrimas, ele podia ter me levado, pois ele olhara bem para minha alma e rosto, mesmo que o próprio não tivesse nenhum dos dois.
E me rejeitou, e me rejeitou.
Repetindo, repetindo o feito.²
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