História A culpa - Dia Feliz

Eu não possuo nenhuma memória sobre os meus pais...

Desde que eu me lembre já vivo aqui, não que eu me importe com isso, se estou aqui é porque meus pais não me quiseram. Na verdade, existem outras possibilidades, elas sempre existem, eu só não penso nelas, ou demais nesse assunto, sinceramente não faz muita diferença.

Aqui cada um tem a sua história, uns tiveram experiências traumáticas, outros não, cada um com o seu passado, cada um com a sua história, eu não possuo um passado, não possuo memórias, eu nem ao menos sei se tinha um nome antes e vir para cá, aqui todos me chamam de Red, porque eu tenho um braço deformado, eu nasci assim, me pergunto se é por isso que estou aqui, mas acho que nunca saberei a resposta.

–Red! Red! Vem brincar!- Gritava a menina asiática de onze anos, a Lena era uma menina muito doce, porém muito sensível, ela tem um irmão mais velho chamado Komurin e ele também vive em um orfanato. Depois que a Lena perdeu os pais, ela e o irmão se separaram, cada um foi para um orfanato diferente, e apesar de não dizer sei que a Lena sente muita falta dele.

–Estou indo!- Disse com o sorriso de sempre, era a melhor forma de passar por cima das dores e sofrimentos, fingindo que eles simplesmente não existem, talvez possa parecer uma visão um tanto quanto infantil, mas é assim que eu encaro o mundo.

Corri na direção dela, já avistando o ruivo, Deak era seu nome, com seu sorriso bobo costumeiro, que alegrava a todos.

–Redddddddd!- Gritou Deak indo para mais um abraço de urso, era um costume dele pular em cima dos outros, eu particularmente não me importava muito com isso, bem só algumas vezes, quando ele me derrubava.

–Deak! Precisava disso tudo? Doeu....- Disse no chão, ele havia me derrubado de novo. Pra que tudo isso?

–Desculpa Red, é que eu senti sua falta- O Ruivo riu alegremente me ajudando a levantar. Tem horas, que parece que ele está a fim de debochar da minha cara.

–Mas dormimos no mesmo quarto, e nem faz tanto tempo que não nos vemos- Disse olhando para o Deak, que tinha seu sorriso bobo de sempre, de uma forma ou outra, o sorriso dele sempre me deixava mais calmo.

–Onde está o Kanda?- Perguntou Lena calmamente olhando em volta, ela era uma das poucas pessoas que se davam "bem" com ele, mas a principal era Alma Karma, um menino bem esquisito, não que eu tenha o direito de me achar perfeitamente normal.

–Deve estar com o Alma de novo, aqueles dois parecem até marido e mulher- No começo eles não eram tão amigos, Kanda parecia odiá-lo mais que tudo, porém com o tempo Kanda começou a se abrir com o Alma, e viraram o que podemos chamar de "amigos".

–Não diga isso Deak, você e suas piadinhas, se o Kanda te ouve...- Ria Lena, de todos nós, acredito que o sorriso mais sincero e verdadeiro é o dela. Se Kanda ouvisse com toda certeza daria em confusão.

–Por que não vamos procura-lo? Se o Alma estiver com ele o chamamos para brincar também, que tal?- Dei a minha ideia, enquanto olhava para o rosto pensativo de meus amigos, Lena e Deak se entreolharam, e silenciosamente cada um segurou em uma de minhas mãos, e correram, era meio estranho quando alguém segurava na minha mão esquerda, como fazia Deak, afinal ela era estranha e feia, mas eu apenas ignorei isso, e acompanhei eles.

–Lá está ele!- Gritou Deak, aquele era o lugar favorito do Kanda, onde ficavam as flores de lótus. Ele podia ficar horas lá sem se importar com mais nada em sua volta, isso era um tanto quanto fofo...

–Yuuuuuuuuu!- Deak pulou em cima de Kanda, o moreno parecia ser ninja, se esquivava de todas! Deak acabou caindo no lago, no meio das flores de lótus, o que fez com que o moreno lhe lançasse um olhar assassino.

–Kanda, onde está o Alma, não está com você?- Perguntou Lena, olhando em volta, como se procurasse o menino.

–Quero mais é que aquele stalker vá para a puta que pariu!- Grosso como sempre! Não sei qual é problema desse cara.

–O que é puta que pariu? Nunca ouvi falar nisso, é algo ruim?- Perguntei confuso, por algum motivo Deak caiu na risada, eu realmente não sabia o significado, muito menos Lena.

–Tsc...apenas esqueça!- Cara chato! Como me irrita esse Bakanda! É assim que o chamo, é a junção de Kanda com idiota em japonês, ficou Bakanda, descobri isso uma vez em que ele chamou Lavi de Baka Usagi, e Alma me disse que significava Coelho idiota, e que baka era idiota, essa é a origem do apelido.

–O que você fez com o Alma?- Lena perguntou encostando Kanda na árvore, ela podia ser uma menina mas bota medo em muitos meninos por aqui.

–Mandei ele passear, aquele moleque fica me perseguindo o tempo todo, tem hora que não dá! É chato!- Se explicava, como ele podia chamar alguém de Chato? Se ele mesmo é o pior!

–Yu! Não acredito nisso, o Alma é sempre tão legal com você, deixa de ser chato!- Lena ficou um bom tempo brigando com o moreno, que apenas revirava os olhos, e estalava a língua.

–Já parou com o drama?- Perguntou Kanda, revirando os olhos, se os olhos dele saírem do lugar, eu vou rir, eu juro que vou.

–Já, e não é drama nenhum! Se maltratar o Alma de novo, você vai ver- Disse Lena, observando o grande céu azul e ensolarado, para muitos aquela era uma paisagem bela, para mim ela era apenas comum.

–Vem Deak, vamos sair da água- Apenas estendi minha mão para o ruivo, que estava ensopado, isso era um tanto quanto engraçado, ri um pouco da situação.

–Você acha engraçado?- Perguntou Deak com um sorriso, sinceramente aquele sorriso me deu medo.

–Eh? Não...bem, é que...- Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Deak me puxou com toda a força para dentro de lago, eu nem tive muito tempo para reagir, agarrei o primeiro pulso que senti sem nem ao menos ver quem era, acidentalmente arrastei a pessoa para dentro d'água junto comigo.

–Deak! Não teve graça, por que fez isso?- Perguntei indignado, ele não devia ter feito isso. Agora vem o mais importante, quem eu derrubei?

–Moyashi!- Disse Kanda com sangue nos olhos, ele realmente iria me matar.

–C-Calma Kanda....foi um acidente, desculpa- Disse me escondendo atrás de Deak.

–Que se foda o acidente! Se quer cair, que caia sozinho! Não me arraste com você para essa merda!- Eu obviamente não entendi boa parte do que ele disse mas me calei.

–D-Desculpa Kanda, a culpa foi toda minha....desculpa- Me senti culpado, odiava quando ele gritava comigo.

–Que bom que sabe disso, idiota!- Kanda saiu da água, e me ignorou completamente, ele só não me bateu porque a Moore estava por perto, e ela normalmente me defendia dele.

–Oh meu Deus! Crianças vocês estão bem?- Perguntou Moore estendo os braços para nos tirar da água.

–S-Sim! Obrigado Moore- Disse saindo da água, com a ajuda dela, Moore é a faxineira do orfanato, uma moça muito gentil que sempre nos ajuda.

–Ainda bem, venham! Vocês estão todos molhados, não quero que fiquem doentes e isso inclui você também Yu- Disse Moore recebendo um olhar frio, e assassino de Kanda.

–Não me chame pelo nome, mulher!- Kanda cruzou os braços e virou o rosto, ele não era muito sociável, mas uma coisa ele era, chato, muito chato!

–Mulher? Não fale comigo nesse tom! Você é a criança obedeça!- Moore disse irritada, mas Kanda apenas a ignorou e deu as costas.

–Vem Kanda, você ficará doente se não trocar de roupa- Segurei o moreno pela blusa molhada, eu me preocupo até demais com esse idiota.

–Não encoste em mim, Moyashi!- Kanda me empurrou com força, ele me odiava. Mas eu nunca desistiria dele, porque no fundo sinto que ele é meu amigo.

–Não seja grosso Yu! O Red é seu amigo, só quer seu bem. O Alma estava chorando de novo, e a culpa é sua, seja mais gentil, ou ficará sozinho- Moore brigou com Kanda, ela estava cansada das confusões que o moreno arranjava.

–Eu não quero amigo nenhum!- Gritou Kanda correndo para longe.

–Francamente, esse menino- Moore disse calmamente colocando a mão no rosto, para muitos Kanda era um garoto complicado, e eram poucos que não desistiam dele.

–Olha lá Moore!- Disse Lenalee apontando, como se estivesse vendo algo muito interessante, e legal.

–Ele veio, vamos crianças, vamos cumprimenta-lo- Moore foi na direção do homem elegante, que não estava muito nítido para mim, o sol forte atrapalhava minha visão. Moore foi correndo, ela sorria alegremente.

–Joyd, que bom que veio!- Moore pulou nos braços do homem, que agora eu identifiquei como sendo Joyd.

–Que saudades de você meu amor- Joyd puxou Moore para perto e a beijou, todas as crianças riram e bateram palmas.

–Eu também, que bom que voltou- Moore sorria alegremente, nunca a vira tão feliz antes. Joyd era uma homem muito rico, ele sempre doa quantias elevadas de dinheiro para o orfanato, dizem que esse lugar só existe graças a ele, a Moore é namorada dele, eles são um lindo casal, mas algo nesse homem me é familiar, e o estranho é que só eu sinto a aura negativa que emana dele, odeio vê-lo por perto, mas todos ficam em festa.

–Vejo que as crianças estão muito animadas por aqui- Os olhos frios de Joyd pairaram sobre mim, naquele momento senti como se ele fosse se tornar uma ameaça a todos nós, ou talvez seja coisa apenas da minha imaginação...