História A day in the future - Capítulo Único

Emily  

13 de julho de 2016   

Sabe aqueles dias que você acorda sentindo que não deveria sair da cama? Pois é, hoje foi um desses dias, mesmo assim eu levantei e fui trabalhar. Escolha errada, muito errada. Eu deveria ter ligado para onde trabalho como fotógrafa e dito que estava doente ou qualquer coisa assim porque como sempre minha intuição estava certa.  

Intuição de mulher é uma coisa meio sobrenatural.   

Deixa eu resumir meu dia para vocês, primeiro assim que eu sai do meu prédio e pisei na calçada esperando um táxi aparecer, por que o meu carro resolveu não funcionar hoje, um motorista passou praticamente grudado ao meio fio e ensopou meus jeans dos joelhos pra baixo, o que fez eu ter que voltar para o meu apartamento para me trocar, ocasionando em eu chegar atrasada no trabalho.    

Cheguei vinte minutos atrasada para a sessão de fotos da nova campanha de cosméticos da empresa e além de ganhar uma bronca da minha chefe, ainda tive que aturar a modelo que contrataram reclamando abertamente da falta de profissionalismo da minha parte. Ela com certeza não lembrou que dá primeira vez que a fotografei a seis meses atrás para outro trabalho foi ela quem se atrasou por mais de meia hora, tive que me conter para não jogar isso na sua cara.    

A sessão de fotos foi praticamente um desastre porque a modelo não estava querendo cooperar com nada, praticamente ignorava o que eu falava e reclamou de todos as roupas que fizeram ela usar, depois de três horas nisso eu desisti e disse que continuávamos com a sessão de fotos amanhã de manhã, todo mundo concordou dando graças aos deuses quando a criatura metida saiu porta a fora.    

O restante do meu dia foi lotado de trabalho e a noite tudo que eu queria era ir para casa, me jogar na cama e dormir, mas não podia fazer isso porque é aniversário do meu melhor amigo então tive que me enfiar dentro de um vestido e usar salto alto ao invés do meu confortável pijama, a qual eu estava louca para colocar.   

O que eu não faço por você Colton Haynes!   

[...]  

-Emily! - Colton me esmagou em um abraço assim que cheguei na festa, acho que sorri sinceramente pela primeira vez hoje quando ele fez isso.   

-Você está me esmagando. - Ele riu e se afastou um pouco de mim, eu segurei o seu rosto nas minhas mãos antes de dar um beijo na sua bochecha e voltar encarar seu olhar. -Parabéns!    

-Obrigado, agora vamos beber.    

Fui cumprimentando nossos amigos enquanto ele me arrasta até o bar, essa área da casa noturna está fechada só para gente, ele pediu as bebidas por nós dois quando chegamos e eu não consegui ignorar o dançarino que está usando somente uma sunga em cima do pequeno palco que tem aqui.   

-Isso não foi ideia minha. - Colton indicou o dançarino e me entregou a minha bebida. -Foi a Willa quem o contratou, disse que é meu presente de aniversário. - Nós dois não contemos nossas risadas nesse momento. 

-Ela realmente sabe escolher um presente. - Tirei meus olhos do dançarino voltando a olhar para ele, Colton me analisou por uns segundos antes de perguntar.    

-Dia ruim? - É incrível como ele sempre consegue me ler tão bem.    

-É o seu aniversário, então nada de falar sobre mim hoje.    

-Nada disso, o que houve? - Ele se aproximou de mim passando um de seus braços pela minha cintura.   

-Só tive um dia exaustivo. - Sorri tentando o tranquilizar, ele deu um beijo na minha testa antes de voltar a me olhar.   

-Desde que você terminou seu último namoro, o que eu tenho que te lembrar que já faz mais de sete meses, sua vida pessoal ficou completamente de lado e você só quer saber de trabalho e os únicos relacionamentos que tem são casuais, precisa concertar isso?   

-O que você sugere? Que eu peça demissão e vá atrás da minha princesa encantada? - Eu ri da minha própria pergunta e ele revirou seus olhos.   

-Não, você ama seu trabalho só está reclamando porque está se sobrecarregando propositalmente para poder ignorar sua vida pessoal. E apesar de isso ser a vida real e não um conto de fadas, não significa que você não vá encontrar uma mulher que te ame como você merece. Eu posso até dar um de cupido e te arranjar um encontro.   

-Não, não e não. - Falei balançando a minha cabeça.    

Colton riu e vendo que ele não ia mudar de assunto tão cedo eu segurei sua mão e o arrastei para pista de dança. Ficamos nisso por horas, dançando, bebendo, ouvindo as coisas idiotas que nossos amigos falam quando estão bêbedos, nos divertindo. Não bebi muito já que tenho que trabalhar cedo amanhã, mas fui embora era mais de duas horas da manhã.    

Dessa vez não tive problema para pegar um táxi, assim que sai da casa noturna já tinha um na frente como se estivesse esperando por mim. Entrei já falando meu endereço e me ajeitei confortavelmente no banco deitando minha cabeça no encosto, sabendo que é uns vinte minutos daqui até o meu apartamento mesmo sem trânsito.    

-Dia ruim? - A motorista, que deve ter quase uns cinquenta anos, perguntou me olhando através do retrovisor quando paramos em um sinal vermelho.   

-Está tão aparente assim na minha expressão? - Encarei seu olhar através do espelho e ela virou para mim me lançando um sorriso simpático. Ficamos em silêncio até que o sinal abriu e ela voltou sua atenção para estrada.   

-Problemas na vida amorosa? - Assim como da primeira vez foi ela quem quebrou o silêncio.   

-Para isso eu precisaria ter uma vida amorosa. - Meus olhos continuaram grudados na janela do carro enquanto falo com ela.   

-Sinto um tom de negatividade na sua voz. - Um meio sorriso se abriu em meus lábios após ouvir isso e por algum motivo que eu desconheço resolvi dar continuidade a essa conversa.    

-Durante meus vinte quatro anos eu já ouvi muito pessoas falarem o quão negativa eu sou.    

-Já pensou que esse pode ser o motivo para as coisas nunca acontecerem do jeito que você quer? - Fiquei em silêncio sem saber como responder. -Você deveria se permitir criar expectativas.   

-Expectativas geram frustrações. - As palavras saíram da minha boca sem nem precisar pensar, parece que o meu lado negativo tomou controle completamente.    

Eu parei de criar expectativas, parei de ter esperança, a muito tempo atrás quando cresci e percebi que a vida as vezes pode ser uma vadia. Quando criança só queremos saber de crescer, ter nossa independência, trabalhar em algo que a gente goste e depois casar e construir uma família. A gente constrói uma vida perfeita na nossa cabeça assim como fazemos com a vida que construímos para nossas bonecas, tudo isso parece bem mais fácil quando você só tem sete anos.    

-Você resolveu esquecer completamente daquele ditado que diz que esperança é a última que morre?   

-Não, só resolvi acreditar num ditado bem mais realista que diz que a esperança causa tristeza eterna.    

-Se você soubesse que deixando essa sua negatividade um pouco de lado poderia conseguir tudo que quer, você tentaria mudar?    

Voltei minha atenção para ela mesmo sabendo que não consigo ver o seu rosto e ela também não está olhando para mim. Novamente o silêncio preencheu o carro por alguns minutos sem eu saber como responder, resolvendo abraçar o resquício do lado positivo que ainda existe em mim eu respondi.    

-Sim. - O carro parou me fazendo perceber que estamos em frente ao meu prédio e ela olhou para mim com um grande sorriso estampado nos seus lábios. -Você tem conversas profundas assim com todos os seus passageiros? - Perguntei brincando.   

-Faz parte do trabalho de um taxista e um barman ter conversas profundas com seus clientes. - Respondeu entrando na brincadeira. Eu paguei e lhe desejei um boa noite antes de sair do carro, ela voltou a falar quando eu estava fechando a porta. -Boa noite Emily.    

Quando finalmente percebi que ela me chamou pelo meu nome o carro já estava fora do meu campo de visão, disse para mim mesma que eu devo ter imaginado ter ouvido meu nome sair da sua boca, provavelmente a bebida mais o cansaço me fazendo ouvir coisas. Deixei meu devaneio de lado e entrei no meu prédio, tirei o salto alto dentro do elevador já que meus pés estavam reclamando de dor e quando entrei no meu apartamento fui direto tomar uma ducha antes de me jogar na cama.    

A conversa maluca que tive com a motorista de táxi voltando a minha mente e eu pensando se realmente adiantaria alguma coisa não ser tão negativa sobre tudo, talvez eu devesse começar seguindo o conselho do Colton e tentando voltar a ter um relacionamento sério com alguém. O difícil é achar alguém que valha a pena... Cortei meu próprio pensamento percebendo que minha negatividade está tentando tomar controle novamente.   

O melhor que tenho para que fazer agora é parar de pensar nisso e ir dormir porque vou ter outra manhã insuportável tendo que a aturar a Christina ou como eu gosto de chama-la, a rainha do drama ou a modelo mais esnobe com quem já trabalhei. Graças aos deuses não demorou para eu conseguir dormir.    

Quando acordei e abri meus olhos a primeira coisa que vi foi um par de asas, meus olhos se fecharam de novo devido ao cansaço e demorou alguns segundos para o meu cérebro conseguir processar o que eu acabei de ver, quando isso finalmente aconteceu meu olhos imediatamente voltaram a se abrir comprovando que eu não imaginei. Tem uma mulher deitada na minha cama comigo e nas suas costas tem uma tatuagem de asas de anjo com uma frase numa língua a qual desconheço as ligando.    

O que diabos está acontecendo?! Eu me lembro muito bem que vim para casa sozinha e sóbria, então não faz o menor sentido eu não saber como uma mulher veio parar na minha cama!   

Me sentei na cama olhando ao meu redor imediatamente percebendo que esse não é o meu quarto, já deveria ter percebido isso assim que vi que é um edredom branco me tapando e não um vermelho, mas meu cérebro escolheu ignorar isso até esse momento. Em frente a cama no canto do quarto tem uma poltrona branca, a parede atrás da cama é preenchida por algum tipo de acolchoado de couro preto e eu não precisei olhar para trás para ver isso porque na frente da cama tem três grandes portas de espelho de correr que vão do teto até o chão. No meu lado direito tem uma porta que eu imagino que seja a saída do cômodo já que do meu lado esquerdo tem uma porta dupla que dá para uma sacada, a cortina está aberta me dando a visão da sacada.   

Aonde é que eu estou?!   

Um barulho de despertador diferente do meu preencheu o quarto e antes que eu pudesse olhar ao redor procurando a fonte do barulho, a mulher deitada ao meu lado acordou e virou para mim atraindo minha atenção. Eu não demorei para reconhece-la, é a Katie Cassidy, ela é uma modelo muito famosa a qual infelizmente eu nunca tive o prazer do fotografar.   

-Eu ia adorar fotografar você. -  As palavras escaparam da minha boca sem eu perceber e ela abriu seus olhos ao mesmo tempo que um sorriso apareceu em seus lábios.    

-Você já me fotografou um milhão de vezes. - Minha cabeça deu um nó após ouvir essas palavras, mas eu não tive tempo para processar porque ela se sentou na cama se aproximando de mim e deu um beijo casto nos meus lábios. -Eu vou me arrumar, provavelmente volto para casa antes do almoço. - Se levantou sem ter parecido notar que eu não correspondi o beijo ou a minha cara de choque por ela ter me beijado.    

Meus olhos permaneceram grudados nela percebendo só agora que ela está vestindo somente calcinha e sutiã, não me importei em tentar disfarçar que a estou olhando de cima a baixo, ela é ainda mais linda pessoalmente do que nas revistas. A Katie pegou o celular que estava em cima do criado mudo do seu lado da cama desligando o despertador,  depois ela voltou a olhar para mim parecendo não se importar deu estar praticamente a devorando com os olhos, me lançou um último sorriso e foi em direção a porta espelhada do meio a abrindo revelando o closet que tem ali.    

Eu voltei a me deitar e fiquei olhando para teto tentando entender o que diabos está acontecendo. Será que eu estou sonhando? Se eu estou, esse é o sonho mais real que já tive em toda a minha vida. Não sei quanto tempo fiquei ali perdida nos meus devaneios, mas só fui sair do meu transe quando a Katie saiu do closet já arrumada, maquiagem no rosto e os cabelos castanhos com californianas nas pontas devidamente penteados.    

-Volta a dormir, ainda está cedo, te amo. - Me mandou um beijo no ar antes de ir sair do quarto.     

Demorei uns segundos para sair do meu estado de choque e me levantei da cama olhando ao redor procurando algo para eu vestir, porque também estou só de calcinha e sutiã. Não encontrando nada para vestir aqui eu fui até a porta do lado esquerdo do closet tentando a abrir, mas não consegui, então tentei a do meio que se abriu facilmente. Quando entrei no closet que ocupa só dois terços do cômodo e vi uma porta normal ali dentro que dá para outro espaço entendi porque a porta esquerda não se abriu, ela é fixa. Abri a porta do outro espaço encontrando um banheiro ali, voltei a fechar a porta e fui procurar algo para eu vestir, esse closet é enorme. Junta o quarto, o banheiro e o closet e você tem o tamanho do meu apartamento que não é pequeno, não quero nem imaginar o quão grande essa casa é.    

Ignorando as roupas da Dior, Channel, Prada e de uma outra marca a qual não conheço peguei uma blusa que tinha a etiqueta da adidas e um short jeans da John John, depois de me vestir não consegui deixar de ir olhar mais de perto as três prateleiras preenchidas com bonés de várias marcas que tem aqui, isso é com certeza algo que eu queria ter no meu closet.    

-Esse é o seu closet Emily e todos esses bonés são seus. - Dei um grito quando ouvi essa voz atrás de mim e me virei vendo a mesma senhora que estava dirigindo o táxi ontem. Fiquei ainda mais assustada quando percebi que eu não tinha falado em voz alta sobre querer esses bonés no meu closet.    

-Eu só posso estar sonhando ou ter ficado maluca. - Dei voz aos meus pensamentos e ela riu.    

Acorda Emily, acorda! Repeti isso na minha cabeça várias vezes tentando entender se estou realmente sonhando ou se estou tendo alucinações. Fechei meus olhos e antes de abri-los rezei umas mil vezes mentalmente para eu acordar com o som irritante do meu despertador, não adiantou de nada, ainda estou dentro do closet olhando para senhora simpática do táxi de ontem à noite.    

-Você não está tendo alucinações e também não está sonhando. - Voltei a olhar para ela assustada.   

-Ok, para de ler minha mente! Isso já estava estranho o suficiente antes de você aparecer e começar a fazer isso. - Novamente ela riu e eu senti vontade de voar no seu pescoço.    

-Nós não temos muito tempo então eu vou direto ao ponto, você está no futuro.    

Minha gargalhada preencheu o cômodo, mas ela continuou olhando sério para mim. Demorei quase um minuto até finalmente consegui controlar minha risada, limpei as lagrimas que escaparam dos meus olhos de tanto que eu ri e voltei a prender meu olhar no seu, ela ainda está com uma expressão séria no rosto.   

-Você vai ter que fazer melhor do que isso se quiser me provar que eu estou no futuro, porque nesse momento as opções que eu ainda estou considerando são...   

-Sonho, alucinação ou que eu de algum jeito te trouxe para cá, e por isso você está pensando em como fugir de mim para ligar para polícia. - Ela completou e eu dei um passo para trás involuntariamente. -Não precisa ter medo de mim Emily, você quer provas, volte para o quarto e olhe o seu celular que está em cima do criado mudo ao lado da cama.     

Praticamente corri para fora do closet querendo me distanciar dela o que não adiantou muito porque ela me seguiu, fui até o criado mudo do lado esquerdo da cama, que era o que eu estava deitada antes, vendo um aparelho prateado mais fino que o meu e com a tela maior. Peguei o celular, mesmo sabendo que não é o meu, e assim que toquei na tela ela se acendeu mostrando a tela de fundo que é uma foto minha com a Katie, eu poderia até cogitar a possibilidade dessa foto ser falsa, mas eu conheço fotografia e essa com certeza não é uma montagem.   

Antes que eu me virasse para dizer para ela que uma foto não prova nada meus olhos se prenderam na data que está aparecendo acima do meu nome na tela do celular, 14 de julho de 2022. Eu sei que isso é a coisa mais fácil do mundo de se alterar, mas juntando isso a tudo que tem acontecido desde que eu acordei, me faz cogitar a possibilidade disso ser realmente real ou deu estar precisando me internar em um hospício, acho que a segunda opção é mais provável.    

-A data nesse aparelho com certeza está errada, porque hoje é 14 de julho de 2016. - Virei para ela falando. -E a foto também não prova nada.   

-Mas a aliança no seu dedo com o nome Katherine gravado prova. - Olhei para minha mão esquerda vendo a aliança de ouro ali. Como é que isso veio parar aqui?! -Coloque a senha no aparelho e pesquise seu nome na internet. - Falou vendo que eu não estou disposta a tirar a aliança do meu dedo para comprovar ou não sua afirmação anterior.   

-Eu não sei a senha.   

-Emily nós duas sabemos que você usa a mesma senha para todos os seus celulares desde que a função de colocar senha com números foi inventada.     

Ignorando minha vontade de perguntar como ela sabe disso eu voltei minha atenção para o celular que realmente desbloqueou com a minha senha, joguei meu nome no Google e para minha surpresa apareceu fotos minhas no topo da página onde também tem um resumo sobre a minha vida, 30 anos, casada com Katie Cassidy, amiga do ator e modelo Colton Haynes, dona do estúdio de fotografia Rickards&Sesay em Los Angeles.    

Eu conheço o sobrenome Sesay, esse é o sobrenome da minha melhor amiga que mora em LA. Nós temos um estúdio juntas? E quando foi que eu me mudei para Los Angeles? Dá última vez que chequei eu moro em Nova Iorque.    

-Você mora em Los Angeles agora. - Mais uma vez ela fez esse negócio de ler a minha mente e eu olhei para ela com uma expressão nada amigável no rosto.   

-Vamos dizer que eu acredite em você, porque eu estou no futuro?   

-Porque eu te mandei para cá.   

-E porque você me mandou para cá?   

-Você já ouviu falar que nosso futuro está mudando a todo momento, tudo isso as vezes por causa de pequenas decisões que vamos tomando ao longo do caminho? - Assenti a respondendo. -Você tem se deixado a tanto tempo ser movida pela sua negatividade que esse seu futuro no qual estamos agora está desaparecendo e uma outra linha do tempo com um futuro diferente está se construindo, um futuro que eu posso garantir que você não vai gostar, então eu resolvi intervir afinal o meu trabalho é te dar tudo que você precisa, mesmo que você não saiba que precisa de tal coisa ou que diga que não quer.   

-Ok, eu já posso acordar agora? - Olhei para o teto como se estivesse falando com deus.   

-Emily. - Voltei minha atenção para ela sentindo sua mão no meu ombro. -Qual foi a última vez que você se deixou sonhar em finalmente ter seu próprio estúdio? Em encontrar alguém que te ame e que você ame na mesma proporção para que possam formar uma família juntas?   

-Não faço a menor ideia, quando eu tinha 14 anos talvez. - Respondi dando de ombros e ela sorriu para mim.   

-Lembra da pergunta que te fiz?   

-Que se eu soubesse que deixando a minha negatividade um pouco de lado poderia conseguir tudo que quero, se eu tentaria mudar. É, eu lembro porquê?   

-No tempo que você passar aqui mantenha a resposta que você me deu sempre em mente. - Depois de falar isso ela simplesmente sumiu no ar me fazendo voltar a questionar a minha sanidade.    

A xinguei mentalmente por ter sumido antes deu poder perguntar por quanto tempo exatamente vou ficar aqui e como diabos faço para voltar mais cedo para minha vida. A possibilidade de isso ser tudo um sonho já sumiu da minha mente, mas ainda não desconsiderei a possibilidade deu ter ficado maluca e estar alucinando ou talvez, só talvez eu esteja mesmo no futuro.   

Ótimo agora já estou realmente acreditando que essa bruxa me mandou para o futuro, só posso ter ficado maluca! Quando eu ver aquela velha de novo vou primeiro exigir que ela me mande de volta para 2016 e depois vou voar no seu pescoço.    

Fui para o banheiro fazer minha higiene matinal e quando terminei de lavar meu rosto olhei para o meu reflexo no espelho, por algum motivo sinto como se estivesse faltando alguma coisa. Me aproximei mais do espelho olhando melhor e logo descobri do que estou sentindo falta, o piercing transversal na minha orelha, eu nunca o tiro e sou completamente apaixonada por ele não consigo acreditar que não o uso mais.    

Demorei alguns minutos até conseguir deixar isso de lado e voltar a focar na minha higiene matinal, depois de pentear o meu cabelo olhei para as escovas de dente tentando adivinhar qual é a minha mas vendo que não vou conseguir fazer isso procurei por uma nova, para minha sorte consegui encontrar e escovar meus dentes antes de sair do quarto.    

Segui pelo corredor que me levou até uma escada e desci para o primeiro andar encontrando a sala de estar, fiquei parada ali tentando descobrir o que fazer ou para onde ir porque essa casa realmente é grande e eu preciso encontrar a cozinha porque estou morrendo de fome.   

-Emily. - Ouvindo uma voz desconhecida falando eu tirei meus olhos da sala vendo uma mulher, que deve ter uns quarenta anos, vestindo um uniforme de empregada doméstica -O café está na mesa, eu fiz as panquecas com mirtilo que você gosta.    

-Obrigado. - Agradeci sem saber o que mais dizer e ela sorriu para mim antes de se virar, a segui deduzindo que ela está indo para a cozinha até que chegamos na sala de jantar.   

-Eu vou trazer as panquecas e o seu café.    

Assenti e me sentei na mesa ignorando minha vontade de perguntar como ela sabe do que eu gosto de comer e tomar no café da manhã. Ela não demorou a voltar com o prato de panquecas e uma xícara de café em mãos, colocou na mesa para mim perguntando se eu queria mais alguma coisa, o que eu respondi que não e a agradeci antes dela voltar para cozinha.   

Depois deu terminar de comer fui explorar a casa, no primeiro andar além da sala de estar, cozinha e sala de jantar também tem a lavanderia, um pequeno estúdio de fotografia do tamanho do quarto que eu tenho no meu apartamento, um quarto pequeno perto da cozinha e da lavanderia que eu deduzi que deve ser usado pela empregada quando ela tem que dormir aqui, um banheiro e a garagem. Fui para o segundo andar encontrando mais dois quartos além daquele em que eu acordei, os dois com banheiros acoplados ao cômodo, e uma sala de TV que mais parece uma sala de cinema com as duas fileiras com seis poltronas em cada e a tela enorme da televisão.   

Voltei para o quarto onde acordei e fui para sacada vendo o grande terreno que a casa tem e a piscina lá embaixo perto da banheira de hidromassagem, uma Mercedes prata chegando chamou minha atenção e eu acho que deve ser a Katie, não faço ideia de quanto tempo se passou desde que comecei a andar pela casa olhando tudo, mas deve ter se passado algumas horas.   

Acho melhor eu descer para o primeiro andar mas estou com medo de fazer isso, não sei como é que eu tenho que agir, sei que não posso contar que vim do futuro porque ou ela ia achar que estou brincando ou que preciso ser internada num hospício, então tenho que agir como Emily Bett Rickards sua esposa. Enrolei por uns minutos aqui no quarto até que vendo que não tenho como fugir disso fui para o primeiro andar, encontrei a Katie sentada no sofá da sala de estar mexendo na sua bolsa, percebendo a minha presença ela deixou a bolsa de lado e olhou para mim.    

-Emy, está tudo bem? - Só assenti a respondendo. -Vem aqui. - Pediu gentilmente.   

Sem ter outra opção eu fui até ela sentando ao seu lado, sua mão veio para o meu rosto e antes que eu pudesse processar o que está acontecendo ela me beijou, diante da surpresa eu não correspondi e a Katie logo se afastou e olhou para mim como se estivesse me analisando.   

-Quando você não correspondeu meu beijo de manhã eu ignorei, mas agora você fez de novo, tem certeza que você está bem? - Ela não parece brava e sim preocupada.   

-Sim, desculpa eu estou meio distraída tive um sonho estranho. - Ela relaxou um pouco e um meio sorriso se abriu em seus lábios.   

-Sonho ruim?   

-Ainda não sei como defini-lo. - Respondi sinceramente.    

Ela sorriu e voltou a se aproximar de mim, seus olhos verdes se fechando foi a última coisa que vi antes de sentir seus lábios nos meus. Dessa vez eu correspondi ao beijo e me xinguei mentalmente por não ter feito isso antes porque beija-la é muito bom, minha mão foi para a sua nuca a mantendo ali e a sua mão para o meu rosto delineando a minha mandíbula. Eu me perdi completamente no beijo ao ponto de esquecer da confusão em que estou no momento, até porque isso tudo parece muito real. Infelizmente meu desejo de que esse momento nunca acabasse não foi realizado, ela quebrou o beijo e olhou para mim parecendo um pouco sem ar.    

-Se isso foi você tentando me recompensar por não ter correspondido meus dois últimos beijos, saiba que conseguiu. - Nós duas rimos antes dela voltar a procurar algo na sua bolsa. Num ato automático eu levei minha mão até a minha orelha ainda sentindo falta do meu piercing e a Katie notou. -Só dois dias sem e você já está quase enlouquecendo. - Um sorriso ainda brincando em seus lábios enquanto ela fala.    

-Dois dias sem? - Perguntei confusa e ela espelhou minha expressão depois de ouvir a minha pergunta.   

-Sim, faz só dois dias desde que você tirou o seu piercing e acabou perdendo. - Imediatamente eu sorri sabendo que não parei de usar o transversal na minha orelha. -Te conhecendo esses dois dias devem ter parecido um mês.   

-Quase isso. - Falei ganhando outro sorriso dela.   

-Achei. - Ela falou tirando uma caixa pequena e cumprida da bolsa. -Eu preciso dar um jeito na bagunça que está aqui dentro. - Katie voltou a deixar a bolsa de lado e estendeu a caixa que ainda está em suas mãos para mim, alternei meu olhar entre ela e a caixa antes de pegar da sua mão a abrindo, novamente um sorriso tomou conta dos meus lábios vendo o piercing igual ao meu ali dentro.  -Eu sei que não é o mesmo que você estava usando, mas eu lembrei que você usava um igual a esse quando nos conhecemos, então eu não resisti e comprei esse ou invés do outro. - Segurei minha vontade de perguntar como era o outro que eu usava antes.   

-Esse é perfeito, obrigada. - Seu sorriso se alargou.   

-Meninas. - Ouvindo a voz da empregada eu tirei meus olhos da Katie. -O almoço está na mesa.    

-Obrigada Anni. - Katie agradeceu e ela assentiu antes de se retirar da sala, obviamente voltando para cozinha. -Vamos comer?   

-Sim, posso só colocar piercing antes? - Sua gargalhada preencheu os meus ouvidos e ela assentiu antes de se aproximar de mim, dessa vez eu correspondi ao beijo casto e rápido que ela me deu apesar de ainda ser estranho a beijar pois mal a conheço  

 [...]   

Almoçamos e viemos para sala assistir um filme, depois que me ajeitei no sofá a Katie veio para os meus braços e num primeiro momento foi estranho, mas logo essa sensação passou como se meu corpo estivesse acostumado aos seus toques mesmo minha mente não lembrando. Já estávamos terminando de assistir ao filme quando o barulho da campainha foi ouvido, Anni passou por nós indo atender, mas eu não dei atenção, continuei com meus olhos focados na televisão.   

-Em. - Uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar soou pelo cômodo e eu olhei para trás vendo o Colton ali com um sorriso no rosto. -Seu melhor amigo aparece na sua casa e você não é capaz de abrir a porta. - Ignorei sua provocação e me levantei indo até ele e praticamente me jogando em seus braços, é tão bom ver um rosto conhecido em toda essa confusão.    

-É tão bom te ver. - Dei voz aos meus pensamentos.   

-Parece até que você não me vê a um mês, nos vimos ontem você lembra disso né? - Ignorei sua pergunta e o abracei mais forte ainda. -Acho melhor você parar de me agarrar antes que a Katie fique com ciúmes. - Ouvi ela rir enquanto saiu do abraço prendendo meu olhar no dele. -Enquanto eu tive que trabalhar no dia do meu aniversário você está em pleno dia de semana deitada no sofá assistindo filme, as férias estão boas pelo jeito?    

-Ótimas. - Exceto que até esse momento eu nem sabia que estava de férias. Mantive um sorriso no rosto não querendo entregar meus pensamentos, Colton sempre foi muito bom em conseguir me ler.    

-Fantasy me mandou fotos dela em Tóquio, aquela lá também está aproveitando as férias. - Fantasy é nossa melhor amiga, a mesma com que aparentemente eu tenho um estúdio, esse não é seu verdadeiro nome é só um apelido que criamos quando estávamos bêbedos.   

-Ela mandou fotos para gente também. - Katie falou entrando na conversa. -Venham para o sofá ao invés de ficarem em pé aí.    

Ele deu um beijo no meu rosto antes de ir até o sofá se sentando ao lado da Katie a cumprimentando, me juntei a eles sentando ao lado do Colton o deixando no nosso meio e mantive meus olhos nele com medo de a qualquer momento ele sumir.    

-Tira uma foto que vai durar mais Em. - Ele falou percebendo meu olha sobre si mesmo.   

-Idiota. - Dei um tapa de leve no seu braço.    

-Não teve gravações do filme hoje? - Katie perguntou fazendo minha atenção voltar para ela.    

-Não, ainda bem porque depois da minha festa de aniversário ontem a noite eu precisava de doze horas de sono. Vocês duas não precisaram lidar com a ressaca já que não beberam. - Ele colocou a mão na barriga dela e eu fiquei sem entender o que está acontecendo. -Como está o meu afilhado aí dentro?    

-Nós ainda não sabemos se é um menino. - Katie o repreendeu, mas pelo sorriso no seu rosto ela não está realmente brava.   

Ah meu deus! Eu entendi errado ou ela está grávida?!    

-A Emily concorda comigo que vai ser um menino.    

-Quando foi que você disse que concorda com ele? - Katie olhou para mim com uma expressão séria no rosto.    

-Eu não disse. - Foi a única resposta que eu consegui fazer meu cérebro formular no momento, olhei para o Colton que riu voltando sua atenção para a Katie.   

-É verdade ela nunca disse nada e ainda temos dois ou três meses até descobrir, vocês preferem menino ou menina? - Perguntou se ajeitando no sofá e passando seus braços pelos meus ombros e da Katie, nos puxando para ficarmos deitadas com a cabeça no seu peito.    

-Eu sempre quis ter um menino, mas vou amar do mesmo jeito se vir uma menina. - Katie respondeu entrelaçando nossas mãos em cima do abdômen dele e eu me distrai vendo sua mão encaixando perfeitamente na minha. -Emy. - Me chamou fazendo minha atenção sair de nossas mãos indo para o seu rosto.  

-Quando eu era mais nova sempre pensei em ter ambos, então não me importo realmente se vir uma menina ou um menino. - Respondi sinceramente, fazia muito tempo que eu não me deixava pensar sobre ter filhos.    

Um largo sorriso apareceu nos seus lábios e com meu olhar focado nos seus lindos olhos verdes eu me deixei só por alguns segundos imaginar ter realmente essa vida, estar casada com essa mulher linda para qual estou olhando no momento, estar prestes a ser mãe, ter finalmente um estúdio onde sou minha própria chefe e faço meu trabalho exatamente como gosto, realmente não seria nada mal ter isso como meu futuro.    

-Você vai para Nova Iorque esse final de semana ver o Matt? - A voz da Katie me tirou do meu devaneio. 

Quem é esse tal de Matt? Sabendo que não posso perguntar isso olhei para a mão esquerda do Colton vendo se poderia encontrar minha resposta ali e foi exatamente isso que aconteceu quando vi uma aliança no seu dedo, parece que eu não fui a única a se casar nesses seis anos.    

-Sim, só mais um mês de gravações e eu não vou mais precisar ficar longe do meu marido.    

-Te entendo, é um inferno quando tenho que viajar para desfilar e a Emily não pode ir comigo, apesar que nesses últimos dois anos o número de desfiles diminui já que eu geralmente só trabalho como modelo para minha marca de roupa.    

Agora além de modelo ela é dona de uma grife de roupas?   

-Uma das vantagens de estar grávida, vai demorar um tempo até você voltar as passarelas. - Katie riu das palavras dele. -Emily você está muito quieta. - Sem esperar eu falar nada ele voltou a olhar para a Katie. -Ela nunca é assim quieta, está tudo bem?   

-Ela está assim desde que acordou, também não sei o que é.   

-Eu estou bem aqui ouvindo tudo que vocês falam. - Eles riram voltando seus olhares para mim. -E eu estou perfeitamente bem, obrigada.  

[...]  

Acabamos passando a tarde assistindo filme e conversando, Anni ganhou folga a noite já que a Katie e o Colton resolveram que iam cozinhar e eu só fiquei assistindo à interação dos dois, eles parecem ser tão amigos quanto eu e o Colton. Dessa vez os dois não pareceram se importar com o meu silêncio, mas me incluíam na conversa sempre que podiam e eu dei graças aos deuses quando não falei nenhuma coisa que entregaria que eu não sei nada sobre esses seis anos que se passaram.    

Colton foi embora depois do jantar e agora que já passam das onze horas da noite eu e a Katie estamos deitadas na cama já prontas para dormir, ela está de frente para mim e com os olhos fechados, mas pela sua respiração consigo dizer que ainda está acordada. Meu olhar está cravado no seu rosto desde que me juntei a ela na cama depois de tomar banho, a Katie só me deu um beijo casto e sussurrou um boa noite antes de voltar a tentar dormir, acho que já se passaram uns quinze minutos desde que isso aconteceu e nenhuma de nós duas conseguimos pegar no sono ainda.    

Não querendo mais lutar contra o que o meu corpo está pedindo desde que me deitei aqui, eu fui para mais perto dela passando o meu braço pelo sua cintura acabando com a distância entre nossos corpos, a ponta do nossos narizes estão se tocando agora e estranhamente eu me sinto confortável estando assim tão perto dela.    

-Finalmente. - Essa única palavra saiu quase como um sussurro de seus lábios.   

-O que? - Seus olhos se abriram lentamente.    

-Eu estava estranhando você não ter iniciado nenhum toque entre nós o dia inteiro, geralmente eu tenho que te repreender para manter suas mãos longe de mim. - Um meio sorriso estampado em seus lábios.   

-Não é como se você pudesse me culpar, afinal você já se viu no espelho né. - Sua risada preencheu o quarto e foi impossível para mim não sorrir ouvindo esse som.   

-Você não quer me contar que sonho foi esse que te deixou assim o dia inteiro? - Balancei a cabeça brevemente a respondendo, antes de dar um beijo na ponta do seu nariz tentando a tranquilizar para que ela mude de assunto. -Você ao menos pode me dizer se já consegue definir se o sonho é bom ou ruim? - Sua mão agora no meu rosto delineando a minha mandíbula, como se seus olhos já não me distraíssem o suficiente.   

-É bom, você está nele então não sei nem como considerei a possibilidade do sonho ser ruim. - Eu mesma me espantei com a sinceridade na minha voz, mas consegui não demonstrar.    

Um sorriso tão lindo se abriu em seus lábios que me deu vontade de beijá-la, mas eu não consegui fazer isso. É como se tivesse uma voz dentro da minha cabeça me dizendo que essa mulher não me pertence, ainda não pelo menos, e seria errado para mim a Emily de seis anos atrás que ela ainda nem conhece a beijar sem que tenha sido dela a iniciativa. Eu sei que é um pensamento maluco, mas não consigo ignorá-lo.    

Katie me beijou e sem hesitação eu correspondi, quando quebramos o beijo eu a puxei para os meus braços e ela deitou sua cabeça no meu peito, a última coisa que ouvi sair dos seus lábios foi um "eu te amo" antes de perceber que ela tinha caído no sono. Meu olhar se voltou para o seu rosto enquanto mexo no seu cabelo e minha mente está processando tudo que aconteceu hoje. Quem diria que esse dia que começou de um jeito tão estranho e maluco se tornaria um dos melhores dias da minha vida.    

Tenho certeza agora de que esse é um futuro do qual eu não ia reclamar de ter me esperando daqui alguns anos à frente, pela primeira vez desde que acordei hoje estou reconsiderando minha vontade de voltar para 2016, na verdade estou desejando que amanhã eu acorde novamente nessa mesma cama com ela ao meu lado.    

[...]  

Infelizmente meu desejo não foi atendido porque assim que acordei com o barulho do irritante e conhecido som do meu despertador já sabia que estava de volta, me sentei na cama em um pulo olhando ao redor vendo a minha mobília e meu edredom vermelho me tapando, por alguns segundos cheguei a cogitar a possibilidade de realmente ter sido tudo um sonho mas não consegui me convencer disso, era tudo real demais para ter sido algo criado pelo meu subconsciente.   

Peguei meu celular que estava ao meu lado em cima da cama desligando o despertador e meus olhos ficaram presos na tela quando vi a data, 14 de julho de 2016, é como se o dia que eu passei no futuro nunca tivesse acontecido. Isso não faz o menor sentido, eu preciso achar aquela velha e fazer ela me explicar tudo isso porque eu não estou maluca! O único problema é que eu não faço a menor ideia de como encontra-la, droga!   

Cheguei a cogitar a possibilidade de não ir trabalhar só para tentar acha-la, mas daí lembrei que isso é vida real e eu tenho contas para pagar então me levantei e fui para o banheiro me arrumar. Tudo que aconteceu ainda rodando a minha cabeça, mas consegui me concentrar melhor em ficar pronta logo quando lembrei que não estava afim de levar outra bronca da minha chefe muito menos ter que ouvir a Christina reclamando do meu atraso.   

Por algum motivo que eu desconheço resolvi ir até a garagem ver se hoje o meu carro resolve pegar, me deixei ser dominada pelo pensamento positivo de que isso ia acontecer mas quando girei a chave na ignição do meu lindo e novo Dodge Charger aconteceu a mesma coisa que ontem, ele morreu antes mesmo de se quer realmente ligar.    

-Merda! - Bati no volante antes de descansar minha cabeça no encosto do banco do carro, ainda tenho uns minutos pois sai mais cedo exatamente com medo disso acontecer de novo, é sempre bom se prevenir. Levei um susto quando ouvi alguém batendo na janela do carro e acho que fiquei mais branca do que já sou quando reconheci a mulher do táxi ali, eu realmente preciso descobrir o seu nome, ela se afastou um pouco da porta e eu sai do carro parando na sua frente. -Você por acaso tem alguma coisa a ver com o meu carro não ter pegado nem ontem e nem hoje?   

-Não, mas eu posso revolver isso para você. - Ela simplesmente estalou os dedos e o motor do carro veio a vida me fazendo levar outro susto, mas me recuperei rapidamente tirando os olhos do carro atrás de mim e voltando a olhar para ela. -Parece que minha pequena interferência ajudou, já consigo ver esperança e positividade dentro de você mesmo que ainda seja pouco.    

-Bom saber. - Sarcasmo completamente presente na minha voz. -Porque você não me deixou lá por mais tempo?   

-É perigoso mexer com o futuro Emily, te mandar para lá mesmo que por um dia já foi um risco muito grande não poderia deixa-la lá por mais tempo. Você já viu coisas demais do seu futuro mesmo eu tentando limitar suas descobertas ao máximo.   

-Como assim? Eu achei que você tivesse me mandado para lá exatamente para eu descobrir que poderia ter tudo que eu queria, pessoal e profissionalmente.   

-Sim, mas isso não significa que você tenha que descobrir o dia exato que essas coisas aconteceram, como a data do seu casamento ou quando foi que você abriu seu estúdio, saber dessas coisas as vezes pode alterar o futuro. - Revirei meus olhos demostrando minha indignação.   

-Então de agora em diante você quer que eu pense positivo e o que? Isso vai fazer com que eu esbarre na Katie na rua, a gente se apaixone a primeira vista e viva felizes para sempre? - Ela riu parecendo não se importar com o sarcasmo na minha voz.    

-Tudo ao seu tempo Emily, só continue alimentando esse lado positivo que está voltando a crescer dentro de você, só se deixe ter esperança, abra o seu coração novamente ao invés de mantê-lo trancando a sete chaves. - Percebendo que ela ia simplesmente sumir no ar como fez da outra vez eu segurei seu antebraço.   

-Porque fez isso tudo e como parece conseguir ler a minha mente? Quem é você? - Resolvi perguntar tudo de uma vez com medo dela desaparecer.    

-Meu trabalho é te proteger por isso fiz tudo isso assim como também é por isso que consigo saber o que se passa na sua cabeça, nossas mentes estão ligadas de certa forma. E quanto a quem eu sou bom vocês humanos tem muitos nomes para mim, feiticeira, bruxa... - Ela fez uma pausa dramática olhando para mim.   

-Eu só te chamei de bruxa uma vez e você não pode me culpar considerando que me mandou para o futuro sem o meu consentimento. - Me defendi e um sorriso voltou a ocupar os seus lábios demostrando que ela não se importava com o jeito que a chamei, então parecendo ignorar minhas palavras ela continuou.    

-Anjo da guarda e o meu preferido... - Outra pausa dramática antes de continuar. -Fada madrinha.    

-Fada madrinha? - A pergunta escapou da minha boca, mas ela já tinha sumido antes deu sequer terminar de falar.    

[...]   

Assim que sai do elevador no andar onde vou bater as fotos estranhei ver a minha chefe ali me esperando, ela geralmente mal sai da sua sala e só tinha feito isso no outro dia porque a Christina estava importunando por causa do meu atraso. Mesmo tendo os cabelos escuros e não sendo uma megera ela sempre me lembra a Miranda Priestly, aquela personagem do filme O Diabo Veste Prada interpretada pela Meryl Streep, acho que é por causa do jeito que ela se porta sempre com tanta elegância e autoridade.     

-Bom dia Emily.    

-Bom dia, Christina já chegou?     

-Não e nem vai chegar. - Começou a andar em direção ao estúdio então a segui. -Eu a demiti e contratei outra modelo, tempo é dinheiro então não posso ficar perdendo com pessoas mimadas e imaturas como a Christina.    

-Quem é a nova modelo? - Perguntei sabendo que seria estúpido perguntar se eles já tinham contratado uma e se ela já está aqui, porque se isso já não tivesse sido feito eu teria sido avisada para ir direto para minha sala ao invés de vir para o estúdio.    

-Acredito que você já tenha ouvido falar dela. - Segui seu olhar quando entramos no estúdio e congelei no lugar quando vi a Katie Cassidy a alguns metros de mim conversando com o Stanley, que é responsável pelas roupas. -Katie. - Os dois olharam para gente antes dela falar alguma coisa para ele, a qual não consegui ouvir, e vir até nós com aquele seu lindo sorriso no rosto.     

-Grace achei que não iria conseguir te ver.    

-Eu realmente estou cheia de trabalho, mas tinha que vir aqui agradecer por você ter vindo mesmo tão em cima da hora.    

-Não se preocupe com isso, eu tenho uns dias de folga e vai ser um prazer finalmente ser o rosto de uma de suas campanhas. - Seus olhos verdes se voltaram para mim e antes que eu pudesse me apresentar Grace fez isso por mim.     

-Essa é a Emily nossa fotógrafa.    

-Prazer. - Estendeu sua mão para mim, a mesma mão que a algumas horas atrás eu tinha entrelaçada a minha, e eu retribui o cumprimento rapidamente. -Gostei do piercing. - Meu cabelo está preso deixando o transversal à mostra.   

-Obrigado. - Agradeci retribuindo o seu sorriso.      

Por algum estranho motivo ela estar aqui na minha frente agora parece mais surreal do que eu ter acordado casada com ela ontem, e sua presença aumenta minha esperança de que aquele futuro a qual tive o privilégio de visitar vai se concretizar e para minha surpresa não a nada no mundo que eu queira mais do que isso.  

 

07 de dezembro de 2023   

Acordei sozinha na cama e amaldiçoei mentalmente esse fato antes de me levantar, peguei minha calcinha e minha regata que estavam jogadas no chão as vestindo e sai do quarto não me importando com a falta de roupas já que hoje é domingo, então os empregados estão de folga. Fui direto para cozinha sabendo que é lá que vou achar minha esposa, parei na entrada vendo a Katie sentada em cima do balcão de mármore da cozinha vestindo somente uma lingerie preta de renda e parecendo estar perdida em pensamentos enquanto come seus morangos cobertos com chocolate.    

Pensamentos impróprios tomando conta da minha mente tendo meus olhos fixados nos seus lábios rosados e perfeitos mordendo a fruta vermelha e suculenta coberta de chocolate, a cena parecendo se passar em câmera lenta na minha cabeça especialmente depois que ela terminou de comer e levou seus dedos indicador e médio até a sua boca os lambendo um de cada vez.   

Se vocês já assistiram Gossip Girl e viram a cena da Serena com o Dan no Ônibus, vão entender melhor o quão sexy uma visão como a que acabei de descrever pode ser.   

-Está uma delícia, você quer? - Sai do meu devaneio vendo a Katie indicando a caixa com morangos que está ao seu lado, o sorriso no seu rosto deixando claro que ela percebeu minha presença desde que pisei na cozinha e que não foi minha imaginação a cena anterior se passando lentamente na minha cabeça, ela fez de propósito para me provocar. -Tem certeza que não? Realmente está muito bom. - Completou diante do meu silêncio.   

-Não obrigado, eu me contento em assistir você comendo.    

Katie riu enquanto vou até ela, minhas mãos indo para seus joelhos separando suas pernas para eu ficar entre elas, seus olhos nunca desviando dos meus e um sorriso de lado estampado em seus lábios. Minhas mãos deslizaram até o meio das suas coxas antes deu a puxar mais para mim, sua mão esquerda no meu ombro e a direita saiu da minha nuca se emaranhando nos meus cabelos antes de seus lábios cobrirem os meus, sua língua logo invadindo minha boca trazendo o delicioso gosto de morango com chocolate. Infelizmente um choro de bebê preenchendo a cozinha fez a gente se separar, a Katie recostou sua testa no meu ombro deixando um gemido de frustração escapar dos seus lábios.    

-Será que ele não podia ter dormido só mais um pouquinho. - Eu ri antes de segurar seu rosto gentilmente nas minhas mãos fazendo ela olhar para mim.   

-Ele não incomodou a noite inteira, deveríamos estar agradecendo e não reclamando de ele só ter acordado agora. - Katie assentiu ainda com um bico nos lábios, lhe dei um beijo casto e rápido antes de pegar o monitor da babá eletrônica o desligando. -Eu vou pegar ele.    

-Eu vou fazer a mamadeira. - Falou já descendo do balcão.   

Fui para o segundo andar indo até o quarto do Tyler, nosso filho, e estranhei não estar ouvindo barulho de choro quando cheguei perto da porta do quarto, entrei imediatamente levando um susto quando vi uma mulher de costas para mim ao lado do berço do meu filho olhando para ele.    

-Se acalme Emily, eu só vim conhecer o Tyler. - Mesmo não tendo ouvindo sua voz a tanto tempo facilmente a reconheci, minha fada madrinha ou sei lá o que ela é se virou exibindo um enorme sorriso enquanto olha para mim. -Ele é lindo, tem os olhos da sua esposa.   

-Eu não vou a lugar nenhum ok, nem para futuro muito menos voltar ao passado, não tem absolutamente nada na minha vida que eu gostaria de mudar. - Sua risada preencheu o quarto enquanto ela dá alguns passos em minha direção se afastando um pouco do berço, segurei minha vontade de correr até o meu filho e o pegar o deixando seguro em meus braços.    

-Eu vim só fazer uma visita, vejo que agora você entende completamente porque te mandei para o futuro.   

-Não precisei de muito tempo para descobrir quando me deparei com a Katie no meu trabalho, se eu não tivesse visto o futuro que poderia ter com ela nunca teria nos dado uma chance. Meu lado negativo iria interferir novamente me dizendo que nunca ia dar certo entre nós duas e que eu só ia sair com outro coração partido. Você estava certa eu precisava deixar minha negatividade de lado para conseguir tudo o que queria, era isso que queria ouvir?    

-Não, a única coisa que eu queria é que você soubesse disso. - Ela se aproximou mais de mim parando na minha frente. -Estou orgulhosa de você Emily.    

-Obrigada por ter me mandado para passar um dia no futuro. - Agradeci finalmente baixando minhas defesas.   

-Não precisa agradecer, só fazendo o meu trabalho. Eu tenho que ir agora.   

-Vou te ver de novo? - Seu sorriso se alargou ouvindo minha pergunta.   

-Vou ser para sempre sua fada madrinha, mas vamos esperar que eu não tenha que interferir novamente. - Assenti concordando, ela deu um beijo na minha testa antes de voltar a se afastar só para sumir diante dos meus olhos, eu nunca vou me acostumar com isso.    

Fui para perto do berço vendo o Tyler deitado ali, os olhos verdes que realmente são iguais aos da Katie se prenderam em mim, não é só a cor que ele puxou dela, o formato e os cílios longos também são muito parecidos com os da sua outra mãe. O peguei no colo dando um beijo nos fios castanhos claros que cobrem sua cabeça e me segurei para não apertar suas bochechas, sua mãozinha pequena se fechou ao redor do meu indicador e bem na hora que eu decidi que era melhor leve-lo logo para cozinha antes que ele volte a chorar o barulho da porta do quarto sendo aberta foi ouvido.   

-Porque você não desceu? - Katie parou ao meu lado, mas eu mantive meus olhos no Tyler.   

-Ele parou de chorar, então decidi ficar um pouco aqui. - Só olhei para ela quando terminei de falar, nunca consigo mentir olhando em seus olhos.    

-Eu esqueci que você adora ficar babando em cima do nosso filho.   

Sua sutil risada preenchendo meus ouvidos demonstrando que ela está brincando, revirei meus olhos antes de dar um beijo casto nos seus lábios e voltar a olhar para o Tyler. Ele começou a se agitar em meus braços então a Katie me entregou a mamadeira que eu imediatamente comecei a dar para ele, não demorou para eu sentir os braços dela rodearem a minha cintura e seu queixo sendo apoiado no meu ombro.    

Realmente não tem nada na minha vida que eu queira mudar, esses dois são meu mundo, meu tudo, já tenho tudo que quero e preciso. Nunca acreditei em contos de fadas, mas tenho certeza que não importa onde o futuro me leve já conquistei o meu “e viveram felizes para sempre” no segundo que deixei a Katie entrar na minha vida.