Meu nome é Eduarda, e tudo começou quando eu tinha treze anos. Apesar da pouca idade, muita coisa acontecia na minha vida. Eu tinha um dos problemas menos valorizados da atualidade: a baixa autoestima. Você deve estar pensando, ou até tentando imaginar, como eu sou. Meu cabelo é loiro médio, uma cor nem tão clara, nem tão escura. Meus olhos são castanhos, e eu sou bem branquinha. E agora vem a pior parte de todas: Meu corpo. Eu sempre tive mais quadril e mais busto que a maioria das meninas da minha sala, e eu me considerava muito gordinha.
"Para com isso, você é linda!"
"Tira essas coisas da sua cabeça"
"Nossa, mas você é tão bonita..."
Apesar de todos falarem sempre o mesmo, eu nunca estive feliz comigo mesma. Eu sabia que era uma menina bonitinha, mas eu queria mais do que isso, eu queria me olhar no espelho e ter o prazer de me sentir bem comigo mesma, a sensação de me sentir bonita de verdade... E eu sabia que, a partir do primeiro momento que eu me olhei por horas no espelho, procurando apenas UMA qualidade em mim, era o começo de um inferno. Um inferno que eu não iria conseguir sair tão cedo.
Bom, nunca fui uma pessoa mal vista pelas outras pessoas, entende? Todas elas sempre levaram o meu problema como um simples "drama", uma "falta do que fazer", e as vezes até diziam que era "falta de macho". Mas, sempre foi muito além disso. Aliás, sempre foi muito além de qualquer coisa - ou desculpa - que tentavam arranjar. Eu ligava a TV, entrava na Netflix, ou até ia ler uma revista, só via o mesmo de sempre: mulheres de cabelo comprido, loiro ou moreno, com a barriga chapada, aqueles seios levantadinhos e aquele bumbum arrebitado. Se fosse em só um programa, só uma emissora, só um filme, uma série, uma revista, um catálogo, uma coluna de jornal... tudo bem. Mas não, aquele padrão estava em todas as partes, em todo lugar. E aquilo começou a me alienar de uma forma muito intensa, cada vez mais. Eu me olhava no espelho e me doía saber que eu não era daquele jeito, que eu não era bonita ou tinha um corpo bonito. Doía ir à praia e só usar maiô e shorts por cima, por ter vergonha da minha barriga. Então, após tentar várias dietas e falhar (pois eu nunca resistia a tentação de comer doces, fritura e etc), eu entrei em um abismo sem fim: a bulimia e a anorexia. Cheguei a um nível tão profundo da minha baixa autoestima, e aquilo foi subindo tanto à minha cabeça, que eu acabei me deprimindo de uma maneira que foi fatal. Procurei algumas dicas de como ser uma "ana" e "mia", apelidos carinhosos para meninas anoréxicas e bulemicas, e estava totalmente decidida de seguir esse caminho. Nos primeiros dias foi difícil, eu passava muito mal por ficar horas sem comer nada, sobrevivendo só por conta dos litros de água que eu bebia. Algumas vezes até chegava a comer comida na frente dos meus pais, para eles não perceberem a doença, mas eu acabava vomitando depois. Todos os dias eram a mesma coisa: eu comia contra minha vontade, e ia para o banheiro em seguida, para vomitar. E aquilo machucava de uma maneira gigantesca. Quando eu menos esperava, já tinha estragado completamente minha vida. Uma depressão profunda tomou conta de mim, contraí uma anemia nervosa, anorexia e bulimia nervosa... Com todas as mudanças que ocorreram em mim, acabei me afastando cada vez mais de meus pais e amigos, e quando fui ver já estava completamente sozinha. Sem apoio nenhum. Meus pais começaram a me tratar muito mal, meus amigos mais próximos se distanciaram por conta dos meus problemas, as pessoas constantemente me chamavam de louca e várias outras ofensas que acabavam comigo. Porém, o que mais mexia comigo, não era isso. Era que, apesar de tudo, eu realmente estava completamente louca. E quando eu vi já tarde demais. Tentei me suicidar várias vezes para acabar com aquele sofrimento imenso, e todas as vezes fui parar no hospital. Mas, a última vez que tentei, foi diferente. Uma hemorragia se desenvolveu no meu estômago por tomar tantos antidepressivos, e eu entrei em coma. Minha vida parecia ter finalmente acabado, quando comecei pensar em todos os momentos felizes que eu tinha vivido. Comecei a pensar na dor enorme que meus pais teriam caso eu partisse, no meu irmãozinho chorando... Comecei a pensar em algo que eu nunca havia pensado antes:
"E se eu fosse realmente importante para alguém, a ponto de mudar totalmente a vida dessa pessoa caso eu partisse?"
E uma enorme força de viver tornou a existir em mim. Nunca fui de orar muito, ou de acreditar totalmente na existencia de Deus, mas eu senti que naquele exato momento, Ele havia me dado uma segunda chance. A chance que eu precisava para ser feliz. Aos poucos, fui me reaproximando de todos, e conquistando uma autoestima que eu nunca tive. Não sentia mais dor ao me no espelho, sentia orgulho de ver meu reflexo. Sentia orgulho de, apesar de o mundo e as pessoas me colocarem para baixo varias vezes, eu ter motivos para acreditar que a vida tinha um significado maior que qualquer problemas que ocorresse comigo.
E aí, vai deixar a mídia impor o jeito que você tem que ser? Claro que não! Olhe para si própria, veja como é linda por natureza. Toque nos seus cabelos, cante bem alto e relembre uma coisa em que você é ótima em fazer. Todas nós somos diferentes, todas nós temos defeitos, mas todas nós somos guerreiras e temos a qualidade que mais ninguém tem: o amor ao próximo. Pois apesar de tudo que ocorre conosco, amamos o próximo como se não houvesse o amanhã. Sabemos da dor enorme que cada uma traz consigo, e mesmo assim, temos a esperança de que um dia vai tudo acabar. Sem desejar ao outro essa dor que carregamos.
Você é linda, única e completamente especial. E não precisa de ninguém para te provar isso, só de si própria. E quando te disserem o contrário, abra o maior sorriso do mundo e lembre-se:
"O amor próprio é uma coisa magnífica que todos nós deveriamos ter. Não se trata de cor de pele, gênero sexual, ou de qualquer outra coisa. Se trata da pureza da sua alma, a intensidade do seu caráter, o respeito e o amor que temos ao próximo."
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