1. Spirit Fanfics >
  2. A Eleição (em betagem) >
  3. Alessio

História A Eleição (em betagem) - Alessio


Escrita por: Gabbehh

Notas do Autor


Nesse capítulo terá apenas uma música, e ela vem depois do final
- Humbug Mountain Song - Fruit Bats

Capítulo 3 - Alessio


 

Diferente da manhã do feriado, não estava chovendo enquanto Alessio estava na aula de trigonometria naquela manhã de segunda-feira.

Já que o feriado havia sido na sexta-feira, ele teve muito tempo para se recuperar de toda raiva que havia passado com Ícaro e Sam, e também de toda a maldita ressaca que teve após beber mais de três garrafas e meia de cerveja (exatamente, não era vodca). Alessio ficava bêbado muito fácil, o que sempre fazia com que as pessoas questionassem se sua descendência era realmente italiana e não alemã. Mal sabiam que isso era tudo culpa de seu antecedente, seu tio-avô Bernardo Attenezi, que era um alcoólatra assumido. Para este homem apenas o cheiro do álcool de posto de gasolina já era suficiente para que ele se transformasse em um completo babaca sem calças. Mas Alessio possuía uma resistência um pouco maior para isso, felizmente.

Apesar de já estar fora dos terríveis efeitos que uma ressaca pode causar Alessio ainda parecia quase morto. Estava usando óculos escuros (o que não era horrível para ele, já que as garotas só consideravam isso mais estiloso ainda), havia sentado no fundo e não conseguia prestar a mínima atenção na aula. Os finais de semana sempre passavam rápido demais para ele já que Alessio sempre ficava maquinando novos planos para melhorar sua campanha ou estudava até cair no sono sobre os livros. Estava quase dormindo em sua carteira quando foi surpreendido por um aviãozinho de papel que caiu sobre sua mesa. Abriu o origami e então se deparou com um pequeno recado

"O time de basquete masculino fará um jogo hoje às sete e meia da noite no ginásio da escola. Ótima chance para se promover do jeito que você adora. Não vou mais escrever discursos para não correr o risco de serem brutalmente rejeitados por você, então apenas faça o que achar melhor.

- Ícaro da Grécia antiga"

Desde a briga que tiveram na festa de Chuck Swanson, Alessio e Ícaro não se falaram mais e nem tentaram resolver seus problemas. Alessio realmente não conseguia aguentar pessoas deprimidas como Ícaro estava naquela manhã de feriado. Na verdade, Ícaro estava assim desde o Grande Término, e Alessio estava dando o seu melhor para não se zangar com o amigo, mas era tremendamente difícil quando tudo que ele dizia era "Estou morto por dentro" ou "O fracasso habita a minha alma". A situação com Sam era diferente porque ela era sua namorada e era uma garota. Do jeito que foi criado, Alessio entendia que as garotas eram mais sensíveis com essas coisas e que era normal uma garota ficar triste ou deprimida por um ou vários dias do mês, então ele quase não se importava com isso. Quase.

Dobrou a folha de papel e a guardou no bolso segundos antes do sinal para o almoço tocar.

- - -

Era hora do almoço, e dessa vez era a comida favorita de Alessio: Carne em cubos ao molho madeira, arroz com brócolis e um purê de batatas fofinho. Enquanto levava sua bandeja de comida até uma mesa, ele começou a pensar que poderia comer aquilo em quantidades absurdas, principalmente o purê de batatas. Alessio estava sentado em uma das mesas do refeitório, sozinho dessa vez, mas era por opção mesmo. Ao longe ele podia ver Lara rodeada de amigos como sempre. Ele também estaria rodeado de amigos se não estivesse comendo de uma forma tão esquisita. Decidiu colocar seus óculos escuros para disfarçar sua expressão de stress e quem sabe assim, atrair seus outros amigos.

Começou a pensar no jogo de basquete. Ele tinha amizade com metade do time, o que devia garantir uns bons votos para ele. Mas o time de basquete estava longe de ser uma parte importante da escola. Há mais de três anos que eles não ganhavam uma partida sequer. Até quando jogavam entre si, eles perdiam (ninguém sabia como isso acontecia, mas geralmente alguém era gravemente ferido ou a bola de basquete ia parar no espaço sideral), mas dessa vez seria diferente. Todas as esperanças e economias da escola estavam apostadas no novato do ano: Trevor Kinney. Alessio não fazia a menor ideia de quem era esse tal de Trevor, mas de acordo com os boatos do segundo ano, Trevor era um cara encrenqueiro que foi suspenso pelo antigo diretor, mas com a posse da nova diretora, ela decidiu que seria melhor trazê-lo de volta e o enfiar a força no time de basquete para que ele servisse como um exemplo, algo como aquele programa de TV chamado Intervenção. Mas aparentemente as coisas realmente deram certo para Trevor e ele se tornou muito bom no basquete. Então agora ele estava mais tranquilo.

Alessio estava tão imerso em seus pensamentos que quase nem notou a presença de Sam bem ali do seu lado.

— Oi — Alessio falou

— Olá — Sam respondeu.

Os dois ficaram em silêncio por um bom tempo. Era assim na maioria das vezes, mas eles não se importavam. Gostavam da companhia um do outro mesmo que fosse em silêncio. Essa era a definição de "amor" dos dois, já que eles simplesmente detestavam ficar em silêncio ao lado de qualquer outra pessoa.

— Como vai a campanha? — Perguntou Alessio

— Vai bem — Disse Sam — Lara vai fazer um discurso hoje antes do jogo de basquete, e...

— Espera o quê?

Sam tirou o capuz e então repetiu calmamente:

— Lara. Discurso. Jogo de basquete. Hoje.

Alessio ficou boquiaberto.

— Mas eu ia discurso-jogo-de-basquete-hoje! — Ele disse, fazendo Sam soltar uma risada histérica — Ícaro me deu a ideia.

Sam parou de rir e então tentou pegar um pouco do purê de batatas que estava no prato de Alessio, mas ele percebeu e então recuou a mão de Sam.

— Acho que as grandes mentes pensam juntas. — Disse Sam — Eu também dei essa ideia pra Lara.

Alessio a olhou com uma cara de tédio, mas Sam provavelmente não percebeu já que ele estava usando óculos escuros.

— Grandes mentes né... — Alessio falou enquanto dava uma mordida na sua carne ao molho madeira — Sei.

Um grupo de alunos passou carregando outro aluno a força. Por um segundo Alessio deduziu que era Brad James e que ele deveria ajudá-lo, mas então se lembrou de que ele é só um personagem secundário sem importância, e logo retornou a comer sua carne em cubos.

— Vai ser constrangedor — Alessio falou

— Vai ser legal — Sam disse enquanto sorria.

Alessio sorriu ironicamente, mas acho que Sam também não percebeu isso.

— Ainda está de mal com Ícaro? — Perguntou Sam

— Eu nem sei aonde ele está, pra início de conversa.

— Hum, deve estar por aí com outros caras — Ela disse e então se levantou.

Alessio olhou para Sam. Ela sabia melhor do que ninguém que Ícaro não possuía outros amigos além dos dois. Estaria fazendo isso para provoca-lo?

Sam se despediu de Alessio e foi caminhando em direção à saída do refeitório.

Alessio também se levantou para levar sua bandeja de comida que agora estava vazia, quando bruscamente deu um empurrão em algum aluno que passava por ali. Obviamente tudo que o aluno aleatório fez foi se levantar e sair correndo novamente. Alessio pensou em gritar um palavrão, mas decidiu que deveria pegar sua bandeja de comida do chão. Assim que levantou sua bandeja, encontrou um papel jogado no chão e logo começou a ler. Era um trecho do jornal escolar do dia de hoje.

"Lara Wachowski para presidente!

Como colunista desse jornal, sei que não deveria manifestar minha opinião sobre a eleição que acontecerá em breve, já que isso poderia beneficiar a um candidato e prejudicar ao outro, mas creio que cada estudante do Colégio Gracetown deve ter suas próprias ideias sobre cada um dos candidatos.
Fiz uma entrevista com Lara Wachowski que sairá na manhã após o jogo de basquete de hoje, e então vocês terão mais motivos para votar nela do que no Attenezi, afinal, o presidente do conselho estudantil deve ser responsável e elegante ou um completo selvagem que fica bêbado em festas?
Decidam o melhor estudantes, pois o vencedor irá representa-los durante o resto do ano"

Alessio sentiu o sangue subir a cabeça, se ele não se controlasse, iria explodir ali mesmo, o que causaria outra visita ao local ruim. E como não queria ir para lá, Alessio fez o que sempre fazia para manter a calma: fechou os olhos e contou até dez. Mas dessa vez, isso não havia funcionado, e como sentia que iria explodir de raiva, o garoto largou a bandeja no chão do refeitório e saiu correndo de lá da forma mais nervosa possível, até trombar com Ícaro, que buscava algo em seu armário.

Ícaro de virou com uma expressão de raiva no rosto, já que odiava que os outros esbarrassem nele, mas quando viu que era apenas Alessio, apenas fez uma cara de tédio.

— O que foi Attenezi? — Disse Ícaro enquanto continuava a revirar seu armário

Alessio dava pulinhos de raiva, se ele ficasse parado ia acabar socando Ícaro de maneira involuntária. E ao contrário do que ele pensava, Alessio sabia muito bem como socar alguém.

— Você leu esse jornal? — Alessio falou, prensando o jornal no armário ao lado do de Ícaro. Você podia perceber que ele estava com raiva por causa de sua voz.

— Ah Deus... — Ícaro murmurou enquanto lia o título da manchete.

— COMO ESSA VAGABUNDA DA CHO ADAMS OUSA PUBLICAR INSULTOS SOBRE MIM? — Gritou Alessio dando um soco no armário aonde havia prensado o jornal. Sua mão chegou a ficar marcada no metal.

— E lá vamos nós... — Ícaro falou enquanto pegava sua pasta azul e remexia dentro dela.

Enquanto Ícaro calmamente revirava sua pasta a procura de alguma norma no regimento escolar que era contra esse tipo de ação, Alessio continuava a esmurrar furiosamente o armário que estava em sua frente. Ele dava socos e mais socos, imaginando que aquele pedaço de metal era o rosto de Cho Adams. Alessio entendia que nunca deveria bater em uma mulher, e ele respeitava isso. Mas bem, ele estava batendo no armário, e não realmente em uma garota chinesa de dezessete anos de idade chamada Cho.

Os dois estavam tão concentrados em suas tarefas (isso é, se você classificar Socar o armário ferozmente como uma tarefa) que assim que ouviram um click! Ambos levantaram o olhar, assustados.

E lá estava ninguém menos do que Cho Adams em carne e osso, com uma câmera Nikon em mãos, com a correia em seu pescoço. Seus médios cabelos castanhos e lisos caiam perfeitamente em seus ombros, seus olhos puxados pretos poderiam certamente olhar para sua alma, e em seus lábios jazia um sorriso malicioso. Estava usando uma camiseta larga cinza com uma estampa esquisita e uma bermuda jeans. Ela também carregava um bloco de notas na parte interna de seu cinto, o que fez Alessio pensar que isso talvez deva ter sido uma inspiração no cinto de utilidades do Batman, mas isso é outra história.

Alessio ficou completamente vermelho de raiva. Se Cho não fosse uma garota, esse seria o momento em que ele partiria para cima dela.

— O que você quer aqui, Cho? — Ícaro falou, voltando sua atenção a seus papéis, sem dar muita importância para a presença da garota.

— De você eu não quero nada, ferrugem. — Disse Cho com uma expressão séria.

Aquilo era golpe baixo. Praticamente todos sabem que você não deve debochar do cabelo laranja de uma pessoa, por mais perdedora que essa pessoa seja. Mas enfim, Cho direcionou sua atenção para Alessio enquanto levantava a câmera e dizia:

— Isso vai ficar perfeito na nova edição do jornal amanhã de manhã.

Alessio arregalou os olhos. Cho havia tirado uma foto de seu momento de raiva, depredando um dos patrimônios escolares. Isso não deve parecer nada importante agora, mas sabe... As pessoas realmente entram em problemas por destruir as coisas da escola. Posso dizer isso por experiência própria.

— Por que você quer tanto ferrar com a minha campanha? Sua filha... De um chinês! — Alessio quase gritou, mas conseguiu se contiver e evitar outro ataque de raiva.

— Olha só quem fala! — Disse Cho, usando um tom mais alto que o de Alessio — É você que destruiu completamente o armário do terceiro candidato a presidência, Brad James!

Alessio tirou a mão da porta do armário. Ela logo caiu completamente amassada no chão revelando todo o interior do armário, recheado de livros, cadernos e coisas normais de um aluno do ensino médio. No fundo, você podia ver as iniciais "B.J", marcadas com o canetão.

Eita caralho, pensou Alessio, tentando pensar em alguma desculpa, quando a coisa mais inteligente que conseguiu falar no momento foi:

— Quem é que liga pra esse cara, de qualquer forma? Ele é secundário!

Ícaro soltou uma risada. Brad James não era mesmo nem um pouco importante, e isso era engraçado para ele.

— Do mesmo jeito...! Um candidato a presidência como você não deveria sair por aí vandalizando tudo! Ainda mais o armário de outro candidato, como o Brad! — Cho se defendeu — O que será que vão pensar quando eu mostrar isso a todos, hein? Que você estava tentando sabotar a campanha dele é claro! E todos vão saber disso!

Alessio não conseguia acreditar no quando aquela asiática era cínica e manipuladora. Ele abriu a boca para dizer algo, mas foi bruscamente interrompido por Ícaro, que literalmente se meteu no meio dos dois.

— Eu posso falar uma coisa? — Ícaro disse enquanto se ajeitava no meio dos dois — De acordo com o regimento escolar, na lei nove, cláusula dois, olha aqui — Ícaro levantou o papel em que continha a lei, colocando-o excessivamente perto dos olhos de Cho — A, abre aspas, Imprensa, fecha aspas da escola é estritamente proibida de postar fatos sobre um aluno contra a vontade do mesmo. Tá vendo, docinho?

Cho pegou a folha e leu atentamente a lei nove, cláusula dois diversas vezes, correndo os olhos por todas as letrinhas miúdas. Então tudo o que ela fez foi segurar a folha com as duas mãos e então rasga-la em pedacinhos, jogando tudo para cima como se fossem confetes.

— Eu não dou a mínima para esse regimento estúpido! — Ela falou enquanto os pedaços de papel caiam sobre as cabeças dos três — É melhor se preparar, Attenezi. Porque eu vou destruir todas as suas chances de vencer essa eleição.

Então Cho deu as costas de forma elegante e saiu do campo de visão dos dois, que ficaram lá parados feito dois idiotas.

Ícaro ainda estava triste por ela ter feito aquilo com sua folha novinha do regimento escolar, e Alessio estava completamente chocado pela última frase que Cho disse. Os dois se entreolharam, Ícaro parecia tranquilo, já Alessio ainda parecia que ia explodir a qualquer momento. Dentre todas as coisas que Ícaro poderia ter dito para acalmar o amigo, tudo que ele falou foi:

— Como que você enxerga com os óculos escuros?

Aquela pergunta foi idiota o suficiente para que acalmasse Alessio de vez.

— São óculos de sol com grau, cara. — Alessio disse de maneira calma — Ok, de qualquer forma, valeu por abaixar minha raiva. Mas a gente ainda tem que impedir essa vagabunda de postar as coisas no jornal.

Ícaro puxou uma folha do fundo da pasta e a colocou no lugar da folha rasgada. Em seguida, colocou sua pasta de volta no armário, retirando de lá apenas um caderno e um livro de francês avançado.

— Ah, é? — Ícaro falou enquanto fechava o armário e começava a caminhar juntamente a Alessio — Tenta. Eu acho praticamente impossível que alguém da administração vá se importar com isso. Eles sequer se importaram com aquela vez que você foi picado por uma vespa e quase parou de respirar.

No primeiro ano do ensino médio, a turma toda foi levada para uma visita a Nova York, um lugar maravilhoso, devo dizer. Porém, Alessio era aquele tipo de garoto que gostava de fazer besteiras para que toda sala risse. Então lá foi ele mais uma vez fingir que era picado por uma vespa de maneira dramática. Acontece que alguns minutos depois dessa encenação, enquanto ele e Ícaro calmamente saboreavam seus sanduíches de manteiga de amendoim e geleia no piquenique com a turma abaixo de uma macieira do Central Park, Alessio foi picado de verdade no pescoço, e sendo alérgico, ele logo começou a ficar inchado. Por algum motivo, quando a professora o levou para a secretaria para dispensá-lo, tudo o que a coordenadora disse foi para manda-lo de volta para a sala, porque de alguma forma, ele estava fingindo. Alguns segundos depois, Alessio desmaiou na sala e só acordou três horas mais tarde em uma maca de hospital. Picadas de vespa são coisas perigosas, principalmente quando você é alérgico.

Mas voltando ao assunto inicial, Alessio o olhou com uma cara de tédio após os dizeres de Ícaro, mas o garoto não deve ter percebido, já que ele ainda estava com óculos escuros.

— Não estou falando de a administração fazer algo. Estou falando de nós mesmos. — Alessio falou.

Os dois pararam de andar. Ícaro encarou Alessio enquanto ele tirava os óculos escuros e sorria de forma maliciosa. Ele sabia muito bem o que seu melhor amigo italiano estava pensando. E não era nada bom.

— Alessio, por favor... — Ícaro implorou

— É necessário, Ícaro!

— Por favor, não...

- - -

A quadra da escola não era muito movimentada em dias normais porque geralmente as únicas pessoas que a usavam eram com o propósito de ou matar aula, ou fumar maconha, ou matar aula para fumar maconha. Ah, logicamente ela também era usada para as aulas de educação física, obviamente. Afinal de contas, para o que mais serviria? Mas de toda forma, hoje era diferente. Haviam tantas pessoas nas arquibancadas que quase não havia mais espaço, é claro que todos se reuniram ali por diversos motivos. Alguns casais iam para os jogos de basquete para ficarem se agarrando nos cantos da quadra, do lado de fora, outras pessoas iam porque gostavam da comida que era vendida em dias de jogos, e havia aqueles que apenas haviam sido obrigados a ir pelas forças do universo.

Alessio se encontrava do lado de fora da quadra, vestia roupas formais, como um terno e gravata. Nada demais nisso. Apenas um terno preto com uma gravata vermelha, que o deixava mais estiloso, o que deixaria muitas garotas babando por ele novamente.

Enquanto a torcida vibrava com o novo mascote do time (Que por acaso era um esquilo que usava uma camiseta vermelha de basquete com os dizeres "Colégio Gracetown" na parte de trás, seu nome era Squish, graças a democracia), Alessio e os outros dois candidatos se preparavam para entrar em cena. Lara estava usando um macacão jeans que era realmente fofo. Seu cabelo loiro e curto estava sedoso e esvoaçante, e Sam estava lá com ela, para dar apoio emocional e ensaiar o discurso. Alessio não lia discursos porque achava que eles não tinham graça nenhuma. Até tentou fazer um esforço na festa de Chuck Swanson, mas o discurso que Ícaro havia feito era ruim demais, na sua humilde opinião.

Brad James também estava lá, isolado de todos em um canto qualquer. Estava machucado no rosto e lia uma folha amassada. Parecia triste, mas assim que seu companheiro de chapa apareceu, Brad logo ficou feliz novamente. Se bem que ninguém se importa com ele mesmo.

Squish fez sua ultima tentativa de animar a plateia mais ainda (o que milagrosamente deu certo) e então a diretora assumiu o controle do microfone. Ela fez um sinal para a quadra toda ficar em silêncio, mas não foi muito efetivo.

— Uau... Isso é... Uau! — A diretora exclamou, sorrindo — Estou muito feliz que todos tenham sido animados pelo novo mascote, Squish!

Squish acenou do canto da quadra e saiu logo em seguida. As pessoas se animaram novamente, gritando como malucos.

— Mas não estamos aqui só para isso... — A diretora voltou a falar assim que todos se acalmara.

Do lado de fora da quadra, Alessio conseguia sentir o nervosismo chegando, aquilo que embrulhava seu estômago e o fazia começar a tremer. Ele afrouxou sua gravata e colocou a camisa por cima da calça, o que o fez parecer um pouquinho menos formal. Mas ele ainda parecia um homem de negócios.

Suspirou. Até Brad James estava com seu companheiro de chapa, mas Alessio não fazia a menor ideia de onde Ícaro estava, o que era um tanto quanto deprimente. Apesar das brigas, ele gostaria de ter seu melhor amigo ali para apoiá-lo.

— Ei. — Sam falou, se aproximando com seu típico capuz preto e amarelo.

Alessio sorriu e disse um "olá" tão baixo que nem mesmo ele chegou a ouvir.

— Está nervouser? — Sam perguntou, fazendo uma voz engraçada. Alessio riu de forma esquisita. — Acho que sim.

Sam ficou lado a lado com Alessio, olhando fixamente para ele enquanto o garoto bagunçava seus cabelos com as mãos tremendo. Ela soltou uma risadinha, o que chamou a atenção de Alessio.

— O que é engraçado? — Ele perguntou

— Você fica muito fofinho quando está nervouser assim! — Sam respondeu, sorrindo.

Alessio desviou o olhar para que Sam não percebesse que ele estava com vergonha. Seu dorso se encontrou com a mão de Sam e os dois entrelaçaram seus dedos mínimos.

— Você deve ir bem — Disse Sam, correspondendo ao gesto do namorado — Já que é popular e extrovertido.

— Hum... Acho que sim — Disse Alessio.

A diretora chamo Alessio até a quadra, o que fez seu coração bater mais forte. Alessio segurou a mão inteira de Sam, a apertando gentilmente apenas para dizer um "Eu te amo" baixo o suficiente que só os dois escutariam. Sam disse o mesmo e ele então partiu em direção a quadra.

Assim que entrou na quadra, Alessio foi aplaudido de forma calorosa. Ele pegou o microfone das mãos da diretora e então começou a falar.

— Hum... Olá! — Alessio falou, sorrindo de forma nervosa.

Olhou ao redor, correndo os olhos pelas arquibancadas. Não viu Ícaro em lugar nenhum e começou a questionar se ele realmente havia ido ao jogo, para início de conversa.

Do mesmo jeito, o show deve continuar.

— Suponho que vocês estejam aqui para ver o jogo de basquete e não para ver um italiano falando ao microfone — Alessio falou — Então vamos terminar logo com isso, certo?

"Como todos sabem, eu estou concorrendo a presidência do conselho estudantil. Na verdade, minha família inteira vem tentando ganhar essa eleição há mais de quarenta anos, e isso não é pouca bosta não! Mas enfim, recentemente a imprensa publicou uma matéria me chamando de selvagem que fica bêbado em festas. É, dá pra acreditar? Mas de toda forma, eu gostaria de me retratar com vocês. Existem momentos para tudo na nossa vida, eu certamente não fico bêbado em momentos inapropriados como agora, mas sim em festas, quando estou me divertindo com meus amigos. Porque aquele é o momento certo, quando estamos fora do ambiente escolar."

Alessio continuou fazendo seu discurso após ter feito uma retratação, dizendo suas principais propostas para a escola. Foi algo longo, porém nada cansativo já que ele fazia piadas no meio, o que deixava tudo com um clima mais descontraído. Assim que terminou seu discurso, percebeu que tinha conseguido não fazer nenhum insulto á Cho Adams.

Assim que saiu da quadra, logo após uma calorosa salva de palmas, ele viu Lara se preparando para seu discurso. Os dois se entreolharam e Lara sorriu.

— Foi um ótimo discurso, Alessio! — Ela o parabenizou enquanto sorria — Não acho certo que Cho tenha escrito aquelas coisas sobre você. Posso conversar com ela se você quiser.

Alessio sorriu de forma sarcástica. Ele não acreditava em uma palavra do que ela havia dito, mas parte dele queria acreditar que Lara não estava envolvida com nada daquilo, mas de acordo com ele, as pessoas não saíam sorrindo gentilmente para seus concorrentes. Ele achava que Lara estava fingindo o tempo todo.

— Obrigado Lara, mas isso não será necessário. — Alessio disse enquanto se distanciava.

- - -

Alessio estava aguardando Ícaro há muito tempo no lugar em que haviam combinado: O lado de trás da escola.

O plano do brilhante Alessio Attenezi era simples: Ele e Ícaro iriam invadir o clube de jornalismo pela janela (Ícaro estava encarregado de trazer a escada) e então os dois apagariam toda a mentira que denegria a imagem de bom moço que Alessio possuia. Simples, porém eficaz. Mas seria impossível para nosso herói italiano realizar esse plano sem seu parceiro de crime. 

Já estava quase desistindo quando Squish, o mascote, apareceu correndo e parou bem na frente dele. Obviamente, Alessio não entendeu nada do que estava acontecendo. E demorou um certo tempo para ele criar coragem de dizer algo para o mascote, porque, falando sério. Muito provavelmente quando você vê um esquilo gigante correndo na sua direção a primeira coisa a fazer é ficar no mínimo assustado. Ou atirar nele. 

  — Hã...  — Alessio falou enquanto olhava de maneira desconfiada para Squish —  Oi...

Antes de conseguir completar sua frase, Squish... Ou melhor, a pessoa que estava dentro do mascote, retirou sua cabeça mostrando que na verdade os esquilos gigantes jogadores de basquete não existem, e que era apenas Ícaro dentro de uma fantasia. Obviamente, Alessio ficou surpreso com aquilo, já que nunca conseguiria imaginar Ícaro como um mascote do time, animando as pessoas. Isso porque Ícaro não conseguia animar nem a si mesmo. 

  — Acabou com toda a magia, cara — Alessio falou enquanto cruzava os braços e soltava um sorriso debochado, ainda sem acreditar no que havia visto. 

Ícaro o encarou, ofegante pela corrida. O garoto-mascote devia ter perdido no mínimo uns dois quilos por ter feito aquela corrida.

— É por isso que eles cortam sua cabeça se tirar a fantasia de mascote na Disney. — Ícaro respondeu.

Por um segundo Alessio chegou a sorrir, mas então percebeu que Ícaro não trazia consigo a escada, e isso realmente o enfureceu. Pode ser que não tenha sido algo tão visível externamente, mas por dentro ele estava praticamente soltando faíscas, como se fosse um computador prestes a explodir. 

  — Você não trouxe a escada. — Alessio disse o óbvio. 

— É, eu não trouxe. Mas é por um bom motivo. — Ícaro rebateu. 

— E qual seria esse motivo?

Ícaro não disse muita coisa. Na verdade, ele não disse nada mesmo, apenas abriu a porta que estava bem na frente dos dois, o que fez Alessio ficar abismado com sua imbecilidade. Era óbvio que os documentos que Cho escrevia ficariam guardados no almoxarifado e não na sala do clube de jornalismo do segundo andar. Ele não tinha pensado nisso agora, mas se sentiu um pouco mal por não ter tido essa ideia antes de Ícaro. Mas também ficou feliz por ter o amigo por perto em momentos úteis como esse. 

— Como você descobriu isso? — Alessio indagou, ainda um pouco surpreso.

Ícaro sorriu de forma assustadora. 

— Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe. — Ícaro disse, entrando no almoxarifado— Vamos terminar isso logo. 

Alessio o seguiu e ficou completamente surpreso com o que viu. A sala do almoxarifado era completamente diferente do que ele esperava. Não havia nada de armários e estantes empoeiradas, mas sim materiais muito elegantes. Havia uma impressora enorme que deve ter custado mais do que sua alma, quatro computadores distribuídos em fileiras e seis armários gigantes, três do lado esquerdo e três do lado direito. 

Ícaro também ficou maravilhado ao ver o lugar incrível aonde se encontrava a papelada. Ele largou a cabeça do esquilo gigante em uma das cadeiras rotatórias e então correu suas patinhas de esquilo pela tranca de um dos armários, abrindo-o e causando um grande barulho. 

— Eles devem guardar as próximas edições em algum lugar por aqui...— Murmurou Ícaro enquanto caçava algo entre as pastas. 

Alessio abriu as gavetas das mesas aonde os computadores ficavam, não sem antes fazer um barulho estrondoso também. Ícaro o advertiu com um "shh", já que aquele barulho poderia ter acordado toda uma pequena vizinhança de Gracetown. 

— Você não precisa quebrar tudo...— Alessio murmurou para si mesmo enquanto mexia loucamente em todos os documentos dentro da gaveta — Não está aqui! — Ele berrou, virando sua cabeça em direção a Ícaro.

  — Calma, cara. Não precisa entrar em pânico! —  Ícaro falou. Aquela devia ter sido a coisa mais idiota para se dizer no momento. 

Alessio ficou em pé e abriu brutalmente os outros armários a procura da matéria comprometedora de sua campanha, tudo isso enquanto gritava descontroladamente:

— EU JÁ ESTOU EM PÂNICO, SEU ESQUILO GIGANTE!  

Ícaro nem deu tanta atenção para esse ataque de raiva que Alessio teve. Era algo muito comum na vida dos dois, então não valia a pena se estressar com isso. 

Enquanto Alessio enlouquecia nos armários e Ícaro procurava calmamente a senha dos computadores, sem se importar com seu amigo maluco, os dois foram surpreendidos por uma voz feminina que veio da porta de saída do almoxarifado. 

 —  Procurando por isso? — Os dois se viraram bruscamente e deram de cara com Cho Adams segurando sua câmera fotográfica e uma pasta amarela, onde deveriam estar todas as futuras edições do jornal escolar, já que estava escrito "JORNAL" com maiúsculas gritantes na lateral. 

Cho tirou mais uma foto comprometedora de Alessio. Aparentemente essa garota não gostava nem um pouco dos dois, já que só aparecia em momentos inoportunos para ferrar ainda mais com o dia dos dois. Mas na verdade, esse ódio tinha nome e sobrenome. 

Logo após a foto ter sido tirada, Ícaro fez a coisa mais sensata possível: Saiu correndo a toda velocidade, deixando Alessio para trás. Alessio nem se surpreendeu com a reação do amigo, porque não era a primeira vez que Ícaro dava no pé. Isso era muito comum no fundamental, quando os dois eram pegos por fazer algo errado na escola, como pegar mais comida no refeitório sem ter permissão. E isso estava acontecendo novamente, só que ao invés de pegarem comida sem permissão, eles estavam tentando pegar uma matéria de jornal.

— Muito legal esse seu amigo esquilo— Disse Cho sem tirar os olhos de sua câmera. — Qual deveria ser a manchete dessa foto? "Candidatos invadem o almoxarifado escolar"? Ou talvez "Candidatos invadem o almoxarifado escolar com uma fantasia ridícula de esquilo"? Já sei! Pode ser "Mais provas de que Alessio seria um péssimo presidente!"

Alessio ficou parado lá, apertando as unhas contra a palma de sua mão. Não podia fazer nada para se defender dessa vez. Eles realmente invadiram o almoxarifado escolar, e essa seria um ato com pena de suspensão. E para piorar, tudo havia sido ideia dele. Não culpava Ícaro por ter fugido, ele faria o mesmo se a situação fosse inversa. 

Alessio ainda não conseguia se conformar que aquele seria o fim de sua campanha, mas mesmo assim, tentou relaxar um pouco. 

  — Por que você está fazendo isso, Cho? Por que quer destruir minha campanha? — Alessio indagou, permanecendo imóvel. 

Cho desligou sua câmera e encarou Alessio como se estivesse prestes a engolir seus órgãos internos. 

— É a Lara quem merece ganhar, não você, seu italiano mimado! —  Cho falou. Isso só fez a raiva de Alessio subir — É a Lara que é responsável o suficiente! A Lara nunca sairia por aí, fazendo essas babaquices de pessoas bêbadas! A Lara é muito mais elegante, gentil, fofa... e... e... 

Cho se calou por um momento após perceber que estava se empolgando demais. Ela acabou falando coisas que não devia dizer, e então tudo se encaixou na mente de Alessio. Tudo fez sentido, todas as provocações, as fotos de momentos comprometedores, as matérias ofensivas... Só podia ser aquilo! 

— Você gosta da Lara! — Alessio exclamou, apontando seu dedo para Cho. 

A garota asiática ficou completamente corada, como se todo seu sangue tivesse ido para a cabeça. 

— Eu não! — Ela protestou

— Gosta sim, sua maldita lésbica asiática! — Alessio exclamou, andando em direção a Cho — É por isso que você quer que a Lara ganhe! Então você pode ficar mais perto dela! Eu estou certo, não estou? Ah Deus, eu estou certo! 

Cho se recompôs, de volta a sua expressão séria de sempre. Era fato que essas eram suas intenções, e que ela realmente gostava de Lara, e que isso nunca seria bem visto por sua família, já que todos eram um bando de asiáticos tradicionalistas que abominam casais do mesmo sexo, MAS MESMO ASSIM, Cho não deixaria ninguém, muito menos Alessio, fazê-la perder a pose. 

  — Até pode ser, Attenezi. Mas eu tenho fatos que comprovam que você não merece ganhar, e eu irei mostrar isso para todos! — Cho falou, fazendo um bom uso de sua cara de vadia. 

Logo a atenção dos dois tomou uma nova direção: A saída. E digamos que é preciso ser cego para não prestar atenção em Ícaro, vestido de esquilo e carregando uma garota nas costas. E em nome de todos os clichês, é claro que essa garota era ninguém mais, ninguém menos do que Lara Wachowsky. 

Todos ficaram quietos por um tempo para absorver o que estava acontecendo. Alessio parecia surpreso, mas certamente não estava nem um pouco mais surpreso do que Cho. Seu desespero era visível em seu olhar, e isso se misturava com a surpresa em seu subconsciente. Todo tempo, Cho estava fazendo aquelas coisas terríveis sem que Lara suspeitasse de nada, nem de seus esquemas e muito menos de seus sentimentos.

Demorou certo tempo até que alguém criasse coragem para dizer algo naquele clima esquisito. 

—... Vocês ouviram? — Cho perguntou depois de muitos minutos de um silêncio constrangedor. 

— Tudinho. — Disse Ícaro enquanto sentava Lara em uma das cadeiras perto dos computadores.

Mais alguns segundos de silêncio constrangedor se passaram até que outra pessoa decidisse se manifestar. 

— Eu não acredito que você fez isso. — Disse Lara. Ela tinha uma feição tão séria que chegava a assustar. Nenhuma pessoa de lá já havia visto Lara daquele jeito, era sempre a Lara fofa e gentil, e não a Lara cruel e com raiva. 

Cho ficou extasiada por um segundo.

— Eu fiz isso para te ajudar— Cho falou, tentando se defender. Como se aquilo melhorasse a situação. 

— Eu não preciso trapacear desse jeito para ganhar! Você nem me conhece! — Lara argumentou. Por um segundo, Alessio e Ícaro podiam jurar que viram o exato momento em que o coração de Cho fora partido.— Apague essas fotos e me entregue o jornal. 

Cho hesitou por um momento, mas como seu amor por Lara já havia sido brutalmente rejeitado, não havia motivo nenhum para manter aquelas fotos consigo. Muito menos a futura edição do jornal. A asiática parou na metade do caminho quando ia entregar a pasta com as futuras edições do jornal e encarou Lara. 

— Você tem certeza disso? — Cho indagou. 

— Eu tenho o direito de não querer esse jornal publicado desde que a minha imagem esteja aí. — Lara disse com convicção. 

Aparentemente Lara mudava completamente quando estava com raiva. Alessio e Ícaro estavam realmente surpresos e mal conseguiam acreditar no que estava acontecendo. Nunca poderiam imaginar que a doce e gentil Lara conseguia fazer essas expressões raivosas e falar essas coisas maldosas.  

Depois de Lara pegar as futuras edições do jornal, e depois de Cho apagar todas as fotos que havia tirado de Ícaro e Alessio, mas um silêncio constrangedor reinou no almoxarifado. Como quando você fica dentro de uma sala com pessoas desconhecidas, se é que você já passou por isso. E as coisas continuaram constrangedoras por um tempo, até Lara falar:

  — Ícaro, pode me levar de volta, por favor? — Ela pediu, sorrindo da forma doce de sempre. Ela fez esse pedido de forma tão doce que fez Cho ficar corada. A asiática não conseguia acreditar que a pessoa que amava era tão linda. 

Ícaro ergueu Lara no colo, e quando ambos estavam prestes a sair, Lara disse algo que chocou a todos

— A propósito — Disse enquanto direcionava seu olhar para Cho — Eu nunca poderia amar alguém como você.

E no meio daquele silêncio, se você escutasse de perto, poderia ouvir o som do coração de Cho se partindo ao meio. 

Ícaro saiu da sala carregando Lara, fingindo não ter ouvido o que a garota disse. Cho apenas se sentou em uma das cadeiras estilosas, colocando uma das mãos sobre o rosto entre soluços, e Alessio... Ele só saiu da sala e voltou para casa, com a sensação de dever cumprido em seu coração, e sem sentir um pingo de remorso.  



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...