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História A Eleição (em betagem) - Sam


Escrita por: Gabbehh

Notas do Autor


Outro dia, outro capítulo...
Espero que aproveitem. E tenho certeza que um certo "Peixe" vai gostar.

As músicas desse capítulo são, exatamente nessa ordem:
- Fire - BTS (essa vem mais pro meio do capítulo)
- Drive - Oh Wonder (Essa é apenas no final)

Capítulo 4 - Sam


Primeiramente, vamos fazer uma pequena explicação.

No colégio Gracetown é praticamente uma tradição ter o dia da corrida estudantil em combate ao câncer cerebral. O esquema é bem simples: todo o ensino médio deve correr  (a.k.a: caminhar, rastejar ou até voar) um percurso de 53 quilômetros ao redor da escola para arrecadar fundos para o estudo do combate ao câncer cerebral que por acaso é causado pela programação ruim do canal ADSL TV. Tudo isso poderia ser evitado se as pessoas parassem de assistir esse canal, mas poucas eram as pessoas que realmente seguiam esses dizeres.

De qualquer forma, os eventos desse capítulo se passam na maior parte, durante a corrida estudantil.

---

— Isso é tudo por hoje — Disse a professora, o que fez toda a sala se levantar de uma vez de maneira estrondosa — Espero poder contar com todos na corrida estudantil de hoje a tarde!

Sam se levantou como os outros e saiu da sala.

É claro que todos iriam participar dessa corrida, porque a doce diretora do colégio Gracetown percebeu que nenhum dos alunos gostaria de correr pelo câncer cerebral causado pela péssima programação de TV, então ela foi bem clara com a nova regra do regimento escolar: Todo e qualquer aluno que não participar da corrida estudantil será imediatamente expulso. A menos, é claro, que o aluno tenha um motivo plausível.

Mas Sam não tinha um motivo plausível, ela só não queria participar. Queria que fosse só mais um dia normal na escola, onde ela veria suas amigas e falaria com seu namorado, mas não seria, porque o destino tinha planos diferentes para hoje, e ela teria que participar de uma corrida estúpida sobre algo que não dava a mínima.

Sam suspirou enquanto abria seu armário e jogava seus livros de física lá dentro. Ela pegou um livro de biologia, fechou o armário e quase morreu de susto ao ver Luna parada ali do seu lado. Ela devia ter se teleportado para chegar lá tão rápido. 

  — Olá. — Disse Sam enquanto tentava disfarçar o susto que havia levado. 

Luna estava com sua típica cara de foda-se. Logo as duas garotas começaram a caminhar juntas em direção a sala de aula. Assim como Sam, Luna não gostava nem um pouco da ideia de terem uma corrida estudantil, e ela não fazia a menor questão de tentar esconder seu ódio. 

— Eu não acredito que vão nos forçar a ir nessa corrida inútil. —  Luna resmungou, olhando para o final do corredor —  Sério mesmo. Essa corrida é mais inútil do que a sua existência. 

Sam fez uma cara confusa. Não entendeu qual era a do insulto a essas horas da manhã, mas mesmo assim, decidiu seguir a vibe de sua amiga. 

 — É bem idiota, até. —  Sam falou, colocando seu capuz amarelo  e preto. 

— Meio?! — Exclamou Luna — É completamente idiota. Mas tanto faz. Me deixa feliz saber que esse é meu ultimo ano nessa merda. 

As garotas entraram pela porta verde da sala 12 e se sentaram uma próxima a outra. 

Agora, algumas informações sobre Luna Albuquerque: Luna tem 18 anos e está no terceiro ano do ensino médio. Sua chegada nos Estados Unidos foi... hum... na classe econômica (para não dizermos as palavras "imigrante ilegal"). É certo que Luna possui certos costumes que podem ser considerados ilegais assim como sua chegada, mas de qualquer forma, Sam não julgava isso. Talvez por ter tios mexicanos, ela meio que estava acostumada com essas atividades malucas que os latinos faziam (tais como o uso de fogos de artifício ilegais em locais inapropriados, ou o uso de narcóticos e bebidas alcoólicas em locais inapropriados). Luna até conseguia ser legal as vezes mas ela também era bem imbecil em certos momentos, como na situação do Grande Término, mas não vamos falar sobre isso agora. 

  — Você ao menos sabe o que vai fazer depois que se formar? — Sam indagou, ainda pensando em planos para o futuro.

Luna a olhou com um olhar desconfiado. Sam nunca falava coisas sérias sobre o futuro, ela estava tão perdida quanto Luna. Na realidade, os planos de Sam consistiam em morar com o pai e a madrasta até eles morrerem, e depois de um tempo, ela morreria de fome por não saber cozinhar nada. 

— Sei lá. — Luna falou — Talvez eu fiquei aqui e continue naquele trabalho de merda e morando com a vadia da minha mãe. 

Nota: A mãe de Luna é literalmente uma vadia, então não tem problema em chamá-la assim. 

— Sem fazer faculdade, né? — Sam debochou, soltando uma risadinha no final. 

— Você sabe que eu não tenho inteligência suficiente para sequer mendigar na porta de uma faculdade — Luna resmungou enquanto fazia sua típica cara de foda-se — E também, faculdade é uma perda de tempo e dinheiro. Você sai do ensino médio para estudar mais quatro anos, para depois fazer uma pós-graduação, para depois fazer um doutorado para só aí ir parar no emprego medíocre de sempre. 

Sam não sabia se concordava totalmente com o que Luna disse. Por um lado, ela estava certa, porém, para Sam a faculdade servia para ajudar você a encontrar um emprego medíocre de forma mais rápida. As duas tinham opiniões diferentes, mas Sam não se manifestava. Era melhor ficar calada e concordar, como fez. 

— Eu concordo. — Sam falou, Luna logo se virou para frente. 

E a professora entrou na sala, e tudo que as duas garotas fizeram foi fingir que prestavam atenção. 

---

— Vamos logo, pessoal! Não tenho o dia todo! — A professora de ginástica quase gritou enquanto tentava colocar ordem nos alunos do terceiro ano  — Allen, fique na fila! Greg, pare de mastigar esse plástico!

Sam piscou. Estava distraída, de novo. Ela tem ficado muito distraída nos últimos dias. Talvez seja a campanha de Lara que a deixou tão desatenta, ou "Alessio" seja o nome de sua distração, ou até mesmo... As coisas que Ícaro havia dito para ela aquele dia na festa de Chuck Swanson quando ela disse que gostaria de se matar.  Mas isso era algo completamente impossível, então Sam decidiu que estava distraída apenas por ser distraída mesmo. Só isso. Sem mistério nenhum. 

 — E você! Samantha Travis! —  Exclamou a professora de ginástica, indo em direção a Sam — Entregue o casaco. 

 Com muita dor em seu coração, Sam tirou seu fiel amigo casaco da forma mais lenta possível e o entregou para a professora. Não havia feito devagar para irritar a professora ou algo assim, ela apenas era lenta por natureza. 

 — Luna, você também. Dê o casaco. — A professora se direcionou a Luna, que estava atrás de Sam. 

Luna tirou o casaco enquanto franzia o cenho. Luna fazia parte das pessoas que amavam seu casaco mais do que a própria vida, e agora que estava sendo forçada a tirá-lo, isso a irritava muito. Acho que nesse quesito, podemos compará-la a Alessio, já que ambos perdem a calma facilmente por causa de assuntos triviais. 

— Que injusto. — Sam falou assim que a professora foi para a fila dos garotos. 

Luna desviou o olhar e cruzou os braços, você conseguia ver que ela estava com raiva apenas pelo jeito que a garota mordia o lábio inferior. Luna fazia isso para aliviar o estresse, e esse era o motivo pelo qual seus lábios não eram macios como os de Sam. Ela mordia com tanta força que chegava a sangrar, e isso causava hematomas.  

— Eu vou arrancar seus intestinos, sua vadia. — Luna murmurou enquanto olhava para a professora.

— Nossa, que desrespeito! — Sam falou enquanto sorria para indicar que aquilo era brincadeira. Luna também sorriu. 

O sorriso de Luna era perfeito. O modo como seus lábios se alinhavam perfeitamente formando uma visão quase simétrica, o jeito que seus dentes se encaixavam perfeitamente e sua mania olhar para o chão rapidamente faziam com que qualquer um que visse aquilo ficasse completamente maravilhado. Ou ao menos, quase todos. 

Luna fitou a fila dos garotos, encarando Martinez. Sorriu novamente ao ver que ele estava conversando tranquilamente com os outros garotos. 

A coisa com Martinez havia sido meio complicada, e Sam sabia de tudo. Com os dois sendo latinos, era meio óbvio que eles iriam se dar bem por terem algo em comum, principalmente algo tão importante como sua nacionalidade. Já fazia muito, muito tempo que os dois se conheciam e conversavam com tanta intimidade quanto agora, mas os dois enrolaram muito até criar coragem para declarar seu amor um ao outro, e tiveram muitos problemas no meio disso. E um desses problemas tinha cabelo laranja e se chamava "Ícaro". Mas do mesmo jeito, agora juntos, ambos estavam felizes, e isso era tudo o que importava. 

Luna voltou sua atenção para Sam, que estava falando coisas sobre viagem no tempo. Luna a interrompeu no meio de um monólogo, dizendo:

— Vamos para a sua casa. 

— Tá bom. —  Sam respondeu. Na verdade, não era como se Luna se importasse com sua opinião mesmo. — Vou chamar a Audrey. 

 Luna, Sam e Audrey eram quase inseparáveis. Desde o início do ensino médio as três viviam fazendo quase tudo juntas. E desde o Grande Término, Luna parecia estar passando cada vez mais tempo na casa de Sam. Talvez esteja fazendo isso pelo fato de ter muito tempo livre agora, ou só por gostar de beber com suas duas melhores amigas. De toda forma, Sam sempre se divertia quando bebia com suas amigas. Era o único momento em que as três ficavam felizes de verdade.

A professora logo começou a guiar toda a sala do terceiro ano para a saída da escola. Sem seguia o fluxo da multidão, mas estava distraída novamente pensando em seu lorde e salvador Noah Evans. Ela havia re-assistido a segunda temporada toda de Sparks e não parava de pensar em como seria incrível a estréia da terceira temporada. 

— Essa corrida é inútil! — Luna exclamou enquanto marchava de um jeito esquisito. 

Sam virou o rosto sem parar de andar. Ela soltou uma risadinha ao ver o jeito que Luna estava andando. 

— Estamos salvando pessoas do câncer — Sam disse enquanto começava a marchar do mesmo jeito que Luna —  Vamos para o céu!

Luna parou de marchar e olhou para Sam de forma desconfiada. 

— Você não acredita no céu. Nem em Deus. — Luna falou, andando como uma pessoa normal

— Ah, verdade. — Sam falou, também voltando a andar do jeito normal. — Mas hey, Hail Satan. 

Luna fez uma cara confusa, mas logo em seguida as duas começaram a rir descontroladamente e a gritar "Hail Satan" no meio da multidão, atraindo olhares desconfiados e reprovadores das pessoas.    

Assim que a turma toda já estava do lado de fora da escola, tudo o que as duas fizeram foi se misturar com a turma do segundo ano e sair do campo de visão de todos ao seu redor.

Quando digo que Sam morava ao lado da escola, é porque ela REALMENTE morava ao lado da escola. É uma casinha pequena que ficava escondida atrás de um portão branco gigantesco. Sam não era muito rica e nem muito pobre, era algo no meio dos dois. Tanto que o único motivo para que sua família possuísse uma casa pequena era justamente porque eles eram apenas três, e com a provável saída de Sam para a faculdade, seu quarto ficaria vazio. Mas Sam sequer sabia o que queria fazer agora, como poderia saber o que fazer para a vida toda?

 — Seu pai e a vadia dele estão aí? —Luna perguntou assim que Sam abriu o portão

As duas se entreolharam e Sam fez uma cara de tédio. 

 — Se estivessem eu não iria te trazer aqui. — Ela disse e sorriu, numa tentativa de amenizar o efeito da frase.

Mal cruzaram o portão quando foram recebidas animadamente por June, a fofa cachorrinha boxer de Sam. Ela tinha apenas um ano de vida, mas já estava enorme. Sam a adorava. Tirando seu pai, June era o único ser vivo daquela casa que Sam não odiava. June sempre estava perto dela nos tempos difíceis, e era a única que não a abandonava, ou dizia coisas que ela não gostava de ouvir. 

Sam fez um carinho amoroso nas orelhas de June e a mandou para longe em seguida.

Apesar de não demonstrar, Luna também gostava de animais. Ela já teve cachorros, mas todos morreram de velhice, e para não correr o risco de ficar triste por causa da morte de cachorros novamente, ela agora possui dois coelhos que ela ama mais do que tudo. As prováveis únicas criaturas que ela ama. 

Sam destrancou a porta da sala e ambas foram para seu quarto. 

O interior da casa de Sam não era nada mal. Seu pai odiava a bagunça que sua madrasta fazia, mas não falava nada, só arrumava. Por isso a sala de estar era tão bem arrumada. Eles possuíam um sofá preto usado, mas em compensação a televisão de 55 polegadas que eles tinham na parede a frente do sofá era realmente incrível e com uma maravilhosa resolução. Os quartos ficavam lado a lado em um longo corredor pintado na cor azul pastel. O pai e a filha haviam pintado juntos antes da chegada de Ellen, a madrasta. A cozinha ficava logo a frente do corredor, não havia nada especial nela, exceto comida. 

Luna mal entrou no quarto de Sam e já foi correndo em direção de sua amada vodca que ela havia deixado lá em sua última visita (que por acaso havia sido no dia anterior). Desde o Grande Término, Sam notou que Luna estava levando cada vez mais bebidas para sua casa, e não entendia o motivo disso. Talvez por ter muito tempo livre, já que Martinez não a perturbava, chamando para encontros e essas coisas. Assim que Luna pegou sua garrafa, começou a beijar a parte externa da mesma, dizendo:

— Meu amorzinho!

Sam riu enquanto a amiga destampava a garrafa e dava um longo gole. Ambas se jogaram no sofá que ficava ao lado da cama, contemplando a bagunça do quarto de Sam. 

Sam possuía um quarto suficiente. Possuía uma cama suficientemente boa e resistente, um guarda-roupa cinza que estava composto 60% de roupas de seu pai e de sua madrasta, e 40% de suas roupas. Uma penteadeira que servia como suporte para uma impressora, e também possuía o antigo sofá da sala no qual as duas estavam sentadas. 

Sam mexia em seu celular, comunicando Audrey de que as duas estavam em casa esperando por ela. Luna estava sentada abraçando sua vodca, olhando para o guarda-roupa e sorrindo de forma entusiástica. Ela abraçava sua bebida como se aquilo fosse a coisa mais preciosa do mundo. 

 — Você chamou a Audrey? — Luna perguntou o que era óbvio. 

— Sim.

— Ok. 

 Em menos de dez minutos as garotas escutaram batidas na porta. Era Audrey. 

Audrey era uma típica garota... Hum... Digamos que ela tenta pegar muita gente, e bom, ela consegue. Com sua pele morena, seus cabelo longo, preto e liso e seus óculos para miopia ela chamava bastante atenção. Ela era como Mia Khalifa, só que com peitos menores e sem fazer os videos pornográficos. 

Apesar dos seus hábitos amorosos, Audrey era a pessoa daquele grupo com quem você mais gostaria de conversar. Ela era divertida, feliz, animada e nunca escondia nada de ninguém. E por mais inacreditável que seja, ela ia semanalmente a sinagoga local, sendo a única Judia das três. 

Assim que Sam abriu a porta, deu de cara com Audrey usando óculos escuros e fazendo uma pose esquisita. 

— É aqui que está acontecendo uma festa? — Audrey indagou, fazendo com que Luna soltasse uma gargalhada que você podia ouvir vindo do quarto de Sam. 

Então elas voltaram ao quarto, sentaram no sofá e ficaram se perguntando o que deviam fazer para não ficar no tédio.  

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 — Eu realmente tenho que fazer isso?— Sam perguntou enquanto encarava a colher cheia de wasabi em pasta. 

Audrey e Luna sorriram de forma maliciosa. Audrey estava com seu celular em mãos, gravam tudo, já Luna só queria ver o desastre acontecer mesmo. 

 — Claro que sim! —  Audrey falou enquanto segurava o celular com uma mão e levava a outra a boca, para tentar abafar uma risada. 

Sam levantou a colher e a abaixou logo em seguida.

— Por que você tá gravando? — Ela perguntou.

— É para provas para o mundo que você comeu de verdade! — Luna exclamou. 

A ideia genial obviamente havia sido de Audrey, a cabeça por trás de todas as idiotices do grupo. Ela havia encontrado um tubo de wasabi em pasta dentro de sua mochila, ela havia usado em sua última aula de culinária na escola nova, e como todas estavam com tédio, Audrey pensou que seria uma boa ideia comer wasabi logo após beber vodca. 

— Mas eu acabei de tomar vodca. Eu vou morrer se comer isso! — Sam protestou, entre risinhos. 

— Eu comi e não morri. — Audrey respondeu. Isso havia acontecido há poucos minutos atrás. A garota quase vomitou todo seu almoço na pia do banheiro, mas se conteve. 

— É, come logo, caralho! — Luna exclamou. 

— Não precisa agredir! — Sam falou.

Ela observou a pasta se mover lentamente na colher, aquela coisa verde não era nem um pouco atraente, e ela realmente não queria comer aquilo, mas era um desafio, e recusar um desafio estava fora de questão. Sam pôs a colher na boca, deixando a pasta escorrer até sua língua e assim que a substância verde entrou em contato com suas papilas fungiformes, fazendo com que ela sentisse o terrível gosto de raiz forte, Sam largou a colher no chão e levou as mãos até a boca como se estivesse prestes a vomitar. Mas não estava, ela apenas era exagerada. 

— Nada de cuspir! — Luna ordenou enquanto ria. 

Audrey nem tentou esconder, começou a rir de forma histérica e Luna a acompanhou poucos segundos depois.

— Issho é muto rui! — Sam falou ainda com o wasabi em sua boca, o que fez com que suas palavras saíssem de forma esquisita. 

Então Sam saiu do quarto.

E voltou dez segundos depois só para dizer:

— ISSHO É MUTO RUIM MEMO! — De forma deficiente, saindo do quarto novamente.  

Audrey e Luna estavam rindo tanto que seus estômagos começaram a doer. Elas simplesmente não conseguiam parar, porque aquilo era divertido demais. 

Então Sam voltou para o quarto lentamente, lambendo os dentes e fazendo uma cara de dor. Ela tateou os móveis de seu quarto como se fosse desmaiar, e então se sentou devagar no sofá e enquando as outras duas diminuíam as risadas, Sam falou:

 — É bom.

Isso só fez com que as três rissem mais ainda de forma escandalosa. 

Audrey parou de gravar e ela e Sam então se viraram em direção de Luna, que se mostrou confusa ao que as duas queriam inicialmente, mas percebeu logo o que as duas estavam querendo quando Sam a ofereceu a colher. 

— Não! — A garota exclamou 

— Sim! — Audrey e Sam disseram em uníssono.

— Tá bom. — Luna disse, se conformando com seu destino. 

A garota pegou a colher da mão de Sam de forma impaciente e Audrey colocou uma quantidade generosa de wasabi para Luna. 

— Mas isso é muito mais do que vocês comeram! — Luna exclamou enquanto olhava para as duas com um olhar de indignação 

— Cala a boca e come de uma vez! — Audrey falou enquanto erguia o celular e começava a gravar novamente. 

Luna não enrolou nem um pouco como as duas amigas haviam feito antes dela. A garota colocou a colher na boca e engoliu todo o wasabi de uma vez. Ela fez uma careta, segurando a colher contra o seu peito, e quando sentiu que todo o wasabi já havia sido engolido, falou:

— Eu amei. 

E lambeu o restante do wasabi da colher, fazendo um sinal de chef com as mãos para indicar que realmente tinha gostado. Obviamente, as três riram mais ainda após aquilo.

Após um longo período de silêncio, Sam foi a primeira a se pronunciar.

— Eu estou com vontade de comer cookies. 

Na mente de Audrey e Luna, ambas endeusaram essa ideia. Seria simplesmente maravilhoso comer cookies recém saídos do forno, com as gotas de chocolate ainda derretendo de forma deliciosa. Os cookies certamente tirariam o gosto amargo que havia sido deixado em suas bocas pelo wasabi. Porém, contudo, todavia... Nenhuma das garotas gostaria de se aventurar pela cozinha, explorando território desconhecido numa tentativa de fazer cookies que, muito provavelmente, não se pareceriam nem um pouco com os que as três tinham em mente.

— Cookies seriam mais do que bem-vindos. — Luna falou enquanto cruzava os braços. 

— A gente não tem a receita.— Audrey falou enquanto as três iam para a cozinha, passando pelo corredor estreito. 

— Mas eu conheço alguém que tem. — Sam falou enquanto tirava o celular do bolso e abria o contato de Ícaro, que devia estar na corrida estudantil se não tivesse fugido como Sam e Luna. 

"Ei, Ícaro.

Sei que é repentino, mas você, por algum acaso, não teria nenhuma receita de cookies aí com você? Eu me lembro de você tentando achar a fórmula dos cookies do subway, então por isso deduzi que teria. "

Sam escreveu aquilo e então enviou. Em menos de dez segundos a mensagem foi respondida com uma receite completa e simples de cookies de chocolate, acompanhada por uma mensagem de Ícaro no final:

"Só porque é você que está me pedindo, viu?

Atenciosamente,
- Ícaro da Grécia antiga." 

 Sam não entendeu muito o que aquilo queria dizer, então decidiu apenas ignorar.

— Parece que ele serve pra alguma coisa, afinal. — Luna falou enquanto abraçava Sam por trás, mas a garota pegou o celular das mãos de Sam e logo a soltou, caminhando em direção aos armários da cozinha. — Vamos fazer isso logo. Audrey, me ajuda a procurar as coisas. Sam, apenas pré-aqueça o forno. 

Audrey e Luna reviravam os armários e gavetas a procura dos ingredientes enquanto Sam pré-aquecia o forno a 180ºC. Após as três fazerem os preparativos, as garotas olharam para a mesa cheia de ingredientes. Nenhuma delas se atrevia a por a mão na massa por medo de explodir a casa, até que Luna se lembrou de algo, um detalhe que era um tanto importante.

 — Hey Audrey. Você tem aulas de culinária na escola nova — Luna falou o que não era mentira — Tecnicamente, você é a mais apta para esse tipo de coisa entre nós.  

Era verdade. Após Audrey conseguir uma bolsa de estudos para uma escola particular de elite, ela tem ficado cada vez mais ocupada. Não só por causa das aulas, provas e trabalhos, mas também por causa das atividades extra-curriculares das quais participava no contraturno. 

Audrey arregaçou as mangas de sua camisa e ficou na parte de trás da mesa.

— Beleza, vadias. — Audrey falou enquanto prendia seu cabelo e fazia uma pose um tanto épica — Hora de fazer minha poção.   

Audrey soltou um sorriso tão macabro que deixaria qualquer um com medo do que poderia acontecer. A parte surpreendente foi que a receita deu certo, mesmo sendo feito por uma garota do Time Desastre (como as três eram intituladas). Luna e Sam apenas observavam Audrey jogar todos os ingredientes de uma vez e misturar tudo, parecendo mesmo que ela estava mexendo em uma poção. Audrey despejou a substância pastosa separada em pequenas quantidades em uma forma com papel manteiga e levou tudo aquilo ao forno. 

— E agora? — Sam perguntou, olhando para Audrey. 

— Agora a gente espera. — A garota respondeu 

---

— Ok, não, espera! Me conta isso de novo! — Luna disse enquanto soltava uma risada. Ela estava sentada de frente para Audrey no sofá da sala de estar, segurando sua amada vodca e conversando com a amiga. Sam estava sentada no tapete, observando as duas atentamente com um sorriso bobo em seus lábios. As três estavam se divertindo muito. 

— Eu estava no ponto de ônibus e o cara perguntou se eu gostava de vitamina — Audrey disse enquanto tirava a garrafa de vodca das mãos de Luna e se preparava para dar um gole — Eu respondi que sim, né, quem não gosta de vitamina! Mas aí o cara disse — A garota fez uma pausa para engolir a bebida e logo em seguida começou a rir descontroladamente, fazendo com que suas palavras fossem quase impossíveis de entender — "Então bate uma pra mim"!

Isso foi suficiente para que todas caíssem para trás de tanto rir. Essa era com certeza uma das cantadas mais geniais de todos os tempos. 

As garotas continuaram a conversar por um curto período de tempo, até sentirem o cheiro de queimado e irem direto para a cozinha. 

Não se sabe o que aconteceu, e muito menos como aquilo foi possível. Talvez Sam tenha usado uma temperatura alta demais para assar os biscoitos, ou talvez Audrey tenha confundido água com álcool, mas a melhor justificativa para esse acontecimento era que Sam era uma garota terrivelmente azarada. Mas no momento em que as três sentiram o cheiro de queimado vindo da cozinha, Sam pôde perceber que algo de errado não estava certo (obviamente).

O fogão todo estava pegando fogo. Literalmente. 

Sei que essa frase é engraçada, mas tente se imaginar no lugar de Sam. A garota só queria comer cookies deliciosos com gotas de chocolate derretendo, mas ao invés disso, agora ela tinha um fogão em chamas. Ela havia destruído algo que nem era dela, e estava desesperada. 

— AH. MEU. DEUS! — Sam gritou ao entrar na cozinha. Para uma ateia, ela falava muito "ai meu Deus".

As outras duas garotas ficaram paradas na entrada da cozinha, em estado de choque. Audrey logo correu para ajudar Sam a apagar o fogo, já Luna continuou em estado de choque, levando a garrafa de vodca aos lábios sem tirar os olhos daquela cena desastrosa, como se sua bebida fosse tirá-la daquela situação desesperadora. 

Audrey foi mais esperta, desistiu de apagar o fogo e pegou seu celular, começando a discar para o corpo de bombeiros. Sam ainda continuava tentando apagar o fogo com um pano de prato úmido, mas as coisas saíram de controle e o pano também pegou fogo. Luna estava observando as duas, até que sua vodca acabou, e ela então fez uma das coisas mais idiotas do mundo: Jogou a garrafa no chão, fazendo com que as duas olhassem para ela, e então a garota latina gritou:

— Bultaoureune. 

Isso descontraiu Audrey o suficiente para gritar:

— FIRE! 

O que era na verdade uma referência a música "Fire" do grupo Bangtan Boys, que as três amavam no primeiro ano do ensino médio. 

Talvez pelo fato de terem memórias boas do primeiro ano as garotas tenham começado a rir loucamente daquilo, já que o clima combinava totalmente com o videoclipe da música, que era basicamente consistido em caras asiáticos pulando loucamente assim que o fogo se acendia. 

Audrey começou a cantar a parte do Rap da música, e até mesmo Sam ignorou todas as suas preocupações e se juntou as amigas, rindo e dando pulos de animação. 

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Aparentemente Sam não se cansava de fazer decisões ruins em sua vida, porque assim que as três se distraíram do fogo, ele tomou proporções estupendas e quase se alastrou para a mesa da cozinha. De acordo com os bombeiros, foi uma grande sorte o gás não ter explodido, já que aquela situação era algo MUITO sério que as três garotas haviam levado na brincadeira. Algo muito idiota mesmo, nunca façam isso, pessoas. 

Minutos após levarem uma dura dos bombeiros, as garotas do Time Desastre agora se encontravam sentadas no meio-fio da calçada. Audrey estava ofegante com a cabeça entre os joelhos, Luna olhava para o lado sem se importar com nada como sempre e Sam apenas olhava em linha reta, era como se seus olhos tivessem perdido o foco e a alegria de viver (se bem que ela nunca teve isso). 

Luna foi a primeira a se levantar. Ela coçou a parte de trás da cabeça e enquanto ainda tinha aquele olhar de indiferença, falou:

— Que confusão — A garota colocou as mãos atrás da cabeça e começou a andar em direção a escola   — Tô indo.

E poucos segundos após isso, Audrey recebeu uma mensagem de seu namorado/ficante/pretendente pedindo para que ela o encontrasse em casa. Então ela também deu no pé, deixando Sam completamente sozinha. 

Não que Audrey e Luna sejam pessoas ruins. Na verdade, se uma série de eventos desastrosos como esses não tivessem acontecido, as garotas ainda estariam acompanhando Sam. Mas as coisas estavam diferentes agora, e Sam detestava isso. Ela gostava dos tempos antigos quando Luna ficava abraçada com Ícaro na frente da escola, enquanto Alessio conversava sobre jardinagem (o garoto sempre gostou de botânica. Era algo que o acalmava) ou sobre a poluição ambiental que os seres humanos causam. E quando Audrey fazia suas piadas idiotas sobre coisas aleatórias do cotidiano e todos começavam a rir... O antes era muito melhor do que o agora, quando Ícaro beijava Luna do nada, quando Sam e Alessio conversavam sobre tudo, e quando a vida fazia sentido para ela. 

Sam não suportou continuar lá, sentada na calçada. Ela nunca foi de correr, mas para se livrar desse sentimento, faria qualquer coisa. E dessa vez ela se levantou e saiu correndo ao pequeno parque que ficava ao lado da escola, se misturando aos outros alunos que também estavam correndo/caminhando/rastejando na corrida estudantil. Sam estava caminhando pela subida quando viu um aluno rolar violentamente para baixo. Ela pensou em ir ajudá-lo, mas logo percebeu que era apenas Brad James, que havia sido jogado da subida por um bully qualquer, então ela só o deixou para lá.   

Por que as coisas não podiam ser como antes? Tudo era mais fácil antes. Ela não parava de pensar que se ela tivesse um desejo, ela pediria... 

Assim que chegou ao parque, Sam deu de cara com Ícaro, sentado em um balanço enquanto comia um sanduíche de manteiga de amendoim com geleia. 

Ainda ofegante por causa da subida, Sam se aproximou o suficiente para dizer:

— Oi.

---

— Tá, como isso é quimicamente possível? — Ícaro perguntou enquanto se balançava. 

— Eu não sei, só... Aconteceu! — Sam disse enquanto pegava impulso suficiente para se balançar mais alto do que Ícaro. 

O encontro surpresa de Sam e Ícaro não foi tão ruim assim. Já fazia um tempinho desde que os dois saíram para se divertir. A festa de Chuck Swanson não contava porque nenhum dos dois queria ter ido lá. Mas de qualquer forma, Sam contou tudo o que havia acontecido, e apesar de ser muito doloroso para Ícaro (ouvir sobre Luna sendo feliz e seguindo sua vida enquanto ele queria pular de paraquedas sem um paraquedas) ele ouviu tudo o que a garota dizia com grande entusiasmo, fazendo o máximo para não demonstrar tristeza. 

E enquanto ambos se balançavam naquele brinquedo infantil e Sam contava sobre seu fogão em chamas, Ícaro riu descontroladamente, é claro. Quem em sã consciência não iria rir, não é mesmo?

— Eu seriamente pensei que depois de você fazer uma sopa com água do aquário, nada podia ser pior — Ícaro debochou.

Ainda se balançando, Sam soltou uma risada curta ao lembrar da sopa do aquário. Não conseguia acreditar que Ícaro ainda se lembrava daquilo. Já faziam meses desde esse incidente. 

— Eu sou uma série de decepções, mesmo — Sam disse enquanto ainda estava no ar

— Talvez seja — Ícaro falou— Uma grande decepção na cozinha. — Ele fez uma pausa longa como se criasse coragem para falar algo — Desse jeito você nunca vai poder fazer parte da família Attenezi.

Sam o encarou com um olhar envergonhado e parou de se balançar imediatamente. A verdade é que Sam não conseguia se imaginar como esposa de Alessio. 

 — Ele vai me largar alguma hora— Sam falou, entrelaçando seus dedos. 

Ícaro também parou de se balançar e ficou observando-a. Sam podia ter suas falhas como os dentes tortos e as amigas que Ícaro não apreciava, mas ela também possuía muitas qualidades que nem uma pessoa normal. Ela tinha um bom gosto para filmes, fazia piada com todas as coisas sem ter preconceitos, e querendo ou não, era a melhor amiga garota dele. Não existia absolutamente nenhum motivo para Alessio deixá-la, a não ser é claro, por uma série de eventos que viriam a acontecer em menos de dez minutos. 

— Você tem seus defeitos, mas não consigo imaginar um motivo para que ele termine com você. — Ícaro disse. 

Ah, como eu gostaria que as pessoas conseguissem ver o futuro.  

Sam abaixou a cabeça como ela sempre faz, e Ícaro olhou para seus cabelos negros que caíam sob seus ombros. Ela ainda estava vestindo a roupa de ginástica, e aos olhos de Ícaro, ela estava perfeita. 

— Não dá pra evitar! — Sam exclamou. O jeito com o qual ela movia seus lábios era perigosamente lindo — Garotos bons como Alessio não deviam estar com garotas cheias de falhas como eu. 

Ícaro não conseguia tirar os olhos de Sam. Era como se Ícaro fosse um urso e Sam o peixe sobre uma armadilha de ursos. E de fato, era isso mesmo. 

Agora faltavam menos de dois minutos. 

— Pode ser verdade. — Ícaro falou enquanto finalmente desviava seu olhar — Mas vocês são um casal legal... 

Ambos ficaram em silêncio por um bom tempo. A mente de Sam continuava do jeito de sempre, e sua expressão continuava indiferente. Já ícaro possuía uma expressão envergonhada e sua mente, bem... A mente de Ícaro era como uma pilha de papéis ordenados, e esse sentimento era como um vento forte que fazia tudo voar para os ares. Agora faltavam cinco segundos. 

Ícaro se virou bruscamente para Sam, o que fez com que ela se assustasse um pouco. O garoto se sentou na beirada do balanço e então, com três segundos faltando, ele disse:

— Por favor, não entre em pânico. 

Ele segurou os ombros da garota e chegou mais perto, até que os dois se apoiassem um na testa do outro. 

Dois.

Um.    

Os dois se beijaram, sem saber que aquele ato inocente desencadearia uma série de piores eventos. 



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