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História A Eleição (em betagem) - O pior dia de todos - Parte um


Escrita por: Gabbehh

Notas do Autor


Postei e saí correndo... O resto vocês já sabem.
Sakky pare de me forçar a te dar Spoiler. Peixe, você também.

As músicas desse capítulo são, exatamente nessa ordem:
- Breathe me - Sia
- Dollhouse - Melanie Martinez

Dessa vez, sem música de encerramento.

Capítulo 5 - O pior dia de todos - Parte um


Era um dia nublado em Gracetown. Não estava chovendo, mas em breve, gotas iriam cair. E não seriam gotas de chuva. 

Se você estivesse do lado Sul da cidade, poderia ver com clareza um grupo de pessoas no cemitério local. Cerca de dez homens e seis mulheres, todos vestidos de preto, rodeavam uma cova recém cavada no chão. Não era mesmo um dia feliz, e nem deveria ser. 

Alessio estava no meio da multidão, usando um terno preto e encarando o caixão ao lado da cova. Uma criancinha o abraçava, seu irmão mais novo, Kevin. O garoto chorava baixinho porém de forma desesperada. E devia mesmo, porque não é todo dia que seu pai morre em um acidente de carro. 

A mãe Attenezi (Cujo nome era Silvia Attenezi) também não conseguia conter suas lágrimas. Ela chorava tanto que chegava a soluçar. Alessio havia tentado acalmar a mãe mais cedo, mas não obteve sucesso. Silvia permanecia inconsolável com a morte de seu amado marido. E isso não ia passar tão cedo.

Dois homens então levantaram o caixão e o colocaram dentro da cova, mas antes que pudessem começar a cobri-lo com terra, o padre tomou a palavra. 

— Gostariam de cantar algum hino? — O padre perguntou gentilmente. 

Demorou um certo tempo até Alessio perceber que a pergunta havia sido feita para ele, visto que era o único de sua família que não estava chorando. 

— Podem cobri-lo, por favor. —  Alessio falou firmemente.  

Os membros avulsos da família jogaram algumas flores enquanto a terra caia. A maioria chorava, em especial Silvia e Kevin, que pareciam estar sofrendo mais do que todos, já outros, como Alessio, apenas lamentavam internamente, com um pesar nos olhos.

Como isso foi acontecer? Bom, tudo começou alguns dias atrás. Silvia estava fazendo um delicioso Gnocchi de semolina, como na receita original da família Attenezi, para o jantar quando seu marido entrou animadamente na cozinha. O motivo de toda essa energia era simples: Seu chefe havia lhe concedido uma chance única para aumentar a renda familiar, e tudo que Lorenzo precisava fazer era viajar até Baltimore e coletar os dados de 30% da população local. Era algo tão simples, mas animou toda a família mesmo significando que o pai Lorenzo teria que ficar uma semana fora de casa. Possuindo um trabalho como esse, a família já havia se acostumado com suas viagens. 

Então ele partiu logo cedo de manhã com o chrysler 200 da empresa, sentindo o sol da manhã em sua pele assim que pegou a Dennisville road. 

As dez da noite, após tomar doses de café para continuar acordado, foi atingido em cheio por um caminhão sonolento que andava na pista oposta. 

E ele nunca mais voltou vivo.

Enquanto Alessio caminhava com sua mãe e seu irmão para o Honda Accord da família (comprado com muita determinação. A única coisa que realmente lembrava Lorenzo, já que o homem passava todo seu tempo livre limpando o carro), diversos parentes mostravam suas condolências, o que ajudava Silvia a parar de chorar por um curto período de tempo, mas não ajudava Alessio com nada. Foi só quando seu tio tocou seu ombro que Alessio sentiu que sua situação era pior do que pensava. 

E tudo ficou pior ainda após seu tio abrir a boca, falando as oito palavras mais pesadas que Alessio poderia ouvir.

— Você é o novo homem da casa, sobrinho. 

Apenas Alessio pôde sentir o quanto aquelas palavras pesaram. A família Attenezi acredita no antigo sistema familiar: O marido trabalhava e conseguia o dinheiro, e a esposa ficava em casa, fazendo os serviços domésticos e cuidando dos filhos. Silvia nunca havia trabalhado desde que se casara com Lorenzo e nem possuía a educação necessária para conseguir um emprego nos dias de hoje. Alessio teria que dar duro para arranjar um emprego e estudar ao mesmo tempo, porque agora toda a família dependia disso.

— Entendo, tio. — Alessio respondeu enquanto retirava a mão do tio de seu ombro e entrava no banco do motorista. Sua mãe não estava em condições de dirigir no momento. 

Enquanto Alessio, Silvia e o pequeno Kevin faziam um silencioso caminho de volta a casa, tudo que Alessio conseguia pensar era: 

"Eu vou perder a primeira aula"

---

Enquanto a família Attenezi estava se lamentando pela morte de Lorenzo, do outro lado da cidade, Sam estava dormindo tranquilamente em sua cama desorganizada. 

Seja lá com o que Sam estava sonhando, ela acordou no exato momento em que Ellen, sua madrasta, entrou em seu quarto de forma escandalosa, batendo a porta com força na parede e falando com seu tom de voz insuportável.  

— Acorde, pirralha! — Ellen falou enquanto fazia sua entrada triunfal —  Escola. Agora!

Sam levantou sua cabeça rapidamente e sentiu a tontura tomar conta de si. Ela esfregou a mão direita no rosto e bocejou. Seu pai havia viajado na noite anterior para uma videoconferência em Vancouver, e após o incidente com o fogão em chamas, Paul não confiava mais em sua amada filha, então colocou a madrasta Ellen para ficar de olho na garota. Mas é óbvio que isso não daria certo. 

Assim que sua visão se estabilizou, Sam encarou Ellen com sua melhor cara de indiferença. 

— Vai se foder, Ellen. —  Sam disse enquanto ligava o celular para ver o horário. 

— Nah, eu estou muito ocupada fodendo o seu pai. — Ellen respondeu e então fechou a porta com uma força desumana.   

Sam deu um pulo da cama assim que viu que horas eram. Era tarde. Muito tarde! Em uma fração de segundo ela se trocou para suas roupas normais, escovou seus dentes, arrumou seu material e saiu desesperada para a escola (que não ficava nem um pouco longe), pensando a todo momento...

"Eu vou perder a primeira aula"

---

"Eu preciso de um tempo para mim.
Você vai se dar bem sozinho, tenho certeza.

Beijos;
Pai."

Essas palavras estavam escritas sobre um envelope cheio que notas de cem. Para adolescentes normais, significava festa, diversão e loucuras. Mas para Ícaro...

Só era triste. 

Por que seu pai o havia deixado? Ele nunca fora um filho ruim. Sempre o obedecia, fazia os serviços domésticos para ajudá-lo, tirava boas notas... Era tudo para deixá-lo feliz. Apenas nos últimos meses que Ícaro estava se mostrando mais desanimado, mas isso era o motivo dele ter ido embora? Onde seu pai estaria? Estaria vivo? Com quem estaria? Ícaro não sabia, mas com certeza ele não voltaria para casa. 

Ícaro não conseguia parar de encarar o envelope com um olhar vazio. Porque todos que ele amava o abandonavam? Era muito cansativo. Mas Ícaro não derramou uma lágrima sequer por isso. 

Enquanto lia os dizeres de seu pai novamente, Ícaro colocou o dinheiro na mochila e saiu de casa, indo para a escola. 

Diferente de Alessio e Sam, Ícaro não estava atrasado quando chegou na escola. Mas ao invés de ir direto para a sala de aula como em dias normais, Ícaro ficou no refeitório durante um bom tempo, olhando para a tela de seu celular para um contato em especial. E como o esperado, é claro que esse contato era Sam.

Ah Sam. Lá estava mais uma parte conturbada da vida de Ícaro. O que estava acontecendo? Ele havia feito algo terrível com a namorada de seu melhor amigo, mas não se sentia mal por aquilo... Na verdade, ele nunca havia estado tão feliz desde o Grande Término. E qual era a sensação de beijar Samantha Travis? Bom, para Ícaro era como se os lábios de Sam fossem a borda da galáxia, e seu beijo era como uma constelação caindo no espaço. E isso o deixava feliz. 

Ícaro deitou sua cabeça na mesa do refeitório e continuou a encarar o contato de Sam por mais um tempo até abrir seu Facebook. Na foto de perfil do Facebook Sam estava sorrindo de forma sincera, sem medo de mostrar seus dentes tortos e com os olhos semicerrados. Ícaro não se cansava de olhar para ela, com aquela beleza que só ele via. Sam era a única coisa que estava deixando seu dia bom, e a possibilidade de vê-la hoje simplesmente o enchia de determinação. Sem pensar duas vezes, Ícaro fechou o Facebook e voltou para seus contatos, mudando o nome "Sam" para "Eu amo essa pessoa". 

Após fazer isso, Ícaro largou o celular na mesa e decidiu que dormiria um pouco. E enquanto ele se rendia ao sono, seus últimos pensamentos foram:

"Eu vou perder a primeira aula"

---

"As vezes eu quero desaparecer"

Assim que esses pensamentos atingiram Lara, a garota se assustou e acordou levantando sua cabeça bruscamente. Ela levou a mão a testa e em seguida acariciou a raiz de seus cabelos, e assim que sua visão se estabilizou, Lara olhou ao redor.

Estava no escritório de seu pai, um lugar gigantesco, devo dizer. Haviam estantes e mais estantes recheadas de livros, uma escrivaninha na parede horizontal direita e uma mesinha com um computador ao lado. Cortinas de veludo vermelho estavam sobre as janelas, o piso era coberto por um elegante carpete também vermelho, e olhar o papel de parede era como olhar o mapa-múndi. Lara havia adormecido sobre livros de história na noite passada, o que era algo muito comum para ela. Mas o desconforto em seu pescoço por dormir sobre os livros era quase insuportável.

Assim que recobrou a consciência, Lara desligou o pequeno abajur da escrivaninha e fechou os livros de história. Ela esfregou os olhos e apoiou as mãos na mesa para diminuir a tontura. Depois de poucos segundos ela já estava completamente acordada. Colocou as mãos sobre a roda de sua cadeira para voltar para seu quarto, mas antes que pudesse se mover por menos de um milímetro, um fio do computador enroscou na roda e ela caiu com força no chão, sobre seu braço esquerdo.

Lara gemeu um "Ai!" e apoiou sua mão esquerda no carpete, massageando seu braço machucado com a mão direita por um tempo Ergueu sua cadeira com a mão direita e tentou se apoiar na mesma para se levantar, mas o peso de seu corpo era apenas demais, e como a garota havia acabado de acordar, ela não estava com muita energia para isso.

Ela continuou tentando por um tempo até ouvir a porta ser aberta de forma estrondosa. Lara deu uma espiadinha pelo lado da escrivaninha e viu que era seu pai, atendendo uma chamada em seu celular. Algo que irritava muito seus pais era quando Lara conversava com eles enquanto falavam pelo telefone. Eles brigaram com a garota diversas vezes por essa mania, e desde então Lara sempre esperou as chamadas terminarem para falar com seus pais. E não foi diferente dessa vez.

— Alô?! ... Ah, Deus, eu disse para não me ligar quando eu estou em casa! - Jared (pai de Lara) falou, quase gritando. O escritório era enorme, então não havia risco de ninguém ouvir seus gritos ali. — ... Como eu disse, hoje. Eu sei... Eu sei, Jeanie!

Lara franziu o cenho assim que ouviu o nome "Jeanie". Era um nome feminino, obviamente, mas também era completamente desconhecido. E aquela conversa era muito estranha.

— Olha, eu tenho que ir pro trabalho. Jeanie, nos falamos depois. Depois, entendeu? - Jared disse, levando a mão aos cabelos. — ... Já disse, hoje... Quando? Bom, as seis... Você tem a chave do quarto, chegue mais cedo e me faça uma surpresa. Certo, gatinha? ... Ok, certo... Eu também, docinho. Eu também. Tchau.

E a ligação terminou assim. Jared deu um suspiro profundo e saiu do escritório logo em seguida. Lara se escondeu atrás da escrivaninha e não soltou um suspiro sequer. Aquilo havia sido chocante, tão chocante que ela sequer pediu ajuda de seu pai para se levantar. Se sentia suja após ouvir aquilo, não conseguia acreditar que após doze anos de casado, seu pai, Jared estava traindo Ann, sua mãe. Não demorou muito para que as lágrimas começassem a cair.

Lara se apoiou na parte superior da mesa e puxou seu corpo com toda a força que tinha, conseguindo logo em seguida se sentar em sua cadeira. Ela limpou as lágrimas que corriam por seu rosto e assim que se acalmou, se lembrou que tinha aula e saiu pela porta.

A casa da família Wachowsky era grande. Uma pessoa não acostumada se perderia com facilidade, porém, como Lara estava naquela casa desde seu nascimento, ela já havia decorado todos os caminhos e atalhos para todos os quartos. Era um pouco grande demais para apenas quatro pessoas, mas a ilustre família Wachowsky, conhecida por suas riquezas no campo da advocacia, não se contentaria com uma casa qualquer.

Lara foi em direção ao quarto de seus pais. Sua mãe era quem a acordava, ajudava com a higiene matinal e a levava para a escola, mas Ann não havia feito isso hoje, e Lara estranhamente sentiu falta disso.

Chegando na porta do quarto de seus pais, Lara bateu levemente na porta e chamou por sua mãe.

— Mãe? — Sem resposta. A garota bateu mais uma vez — Mãe, nós estamos atrasadas. — Sem resposta mais uma vez. Lara então começou a bater freneticamente na porta, até abri-la por acidente.

E mesmo na escuridão do quarto, Lara conseguia enxergar sua mãe claramente. Ann estava deitada ainda com a roupa do trabalho, segurando um copo de uísque enquanto dormia tranquilamente em um travesseiro de penas de ganso.

Lara se aproximou da mãe, passando por contas de telefone espalhadas pelo chão. Um número em especial estava marcado, mas Lara não deu muita atenção para isso. Ela encostou a mão no ombro de Ann, e a mulher levantou sua cabeça, assustada.

— Que horas são? — Ela perguntou como se estivesse alerta para o que acontecia.

— É tarde. Precisa se levantar, nós já estamos atrasadas! — Lara disse enquanto tirava o cabelo do rosto de sua mãe.

Ann deitou sua cabeça no travesseiro novamente e então se virou de costas, murmurando coisas sem sentido. Algo sobre um jantar especial as dez horas, contas, e outra coisa que Lara não deu atenção. Em poucos segundos, sua mãe estava dormindo novamente, e ao invés de acordá-la, Lara apenas a cobriu com o edredom que estava em seus pés e saiu do quarto, fechando a porta em seguida.

Lara apoiou sua testa na porta. O que diabos estava acontecendo com seus pais? Sua última mas não menos importante opção era ir até o quarto de Matt, seu irmão mais velho, e pedir para que ele a levasse para a escola.

Matt era um garoto realmente amável. Tinha notas boas, era bom nos esportes e recentemente havia conseguido uma bolsa de estudos por causa de seu talento no futebol americano. Estava cursando a faculdade de direito, obviamente. Não que isso o incomodasse, ele nunca reclamava e era gentil com todos. Também era a única pessoa da casa que ouvia todos os problemas e reclamações de Lara sem dizer coisas ignorantes. Ele cuidava muito de sua irmã mais nova, as vezes, melhor do que seus pais e ambos apreciavam a companhia um do outro.

Lara levantou seu punho para bater na porta do quarto do irmão, mas parou subitamente ao sentir um cheiro estranho vindo do quarto. Ela hesitou, mas bateu do mesmo jeito, chamando por Matt.

— Já vai! — Matt quase gritou de dentro do quarto. Em menos de um minuto, o garoto abriu a porta o suficiente para que sua cabeça passasse. — Oi Lara. O que posso fazer por você nessa magnífica manhã de quarta feira?

Lara deu mais uma olhada no irmão. Matt estava vestindo o uniforme da faculdade, o que fazia com que ele parecesse um pouco como aqueles garotos mimados dos filmes. Seu cabelo loiro estava bagunçado e seus olhos estavam vermelhos.

— Estava chorando? — Lara perguntou, desconfiada.

Matt piscou e respirou fundo.

— Ah merda. Dá pra perceber? — O garoto falou sorrindo, na tentativa de fazer a irmã sorrir também. Sem sucesso.

Lara continuava com sua feição séria, olhando para Matt de forma intimidadora. Matt podia mentir para qualquer um, menos para sua irmã.

— ... É medicinal! — Ele falou, abaixando o olhar.

— Eu sabia! — Lara exclamou — De novo, Matt? Sério?

— Lara...

— Não, Matt. Sem Desculpas!

— Lara, por favor...

— Você precisa parar com isso. Mamãe ou o papai vão acabar descobrindo alguma hora. Você sabe disso!

Matt coçou a parte de trás da cabeça e continuou olhando para baixo de forma envergonhada.

— Tá, beleza. Eu paro. Mas só porque você está me pedindo. — Matt falou, levantando o olhar e sorrindo para a irmã. — Mas então, o que você quer?

Lara olhou para o lado, cruzando os braços. Por algum motivo ela não acreditava em uma palavra do que seu irmão havia dito. Era sempre assim, ele prometia que ia parar com sua erva da alegria, mas nunca parava.

— Só me leva pra escola, por favor... — Lara pediu de forma gentil.

Matt saiu do quarto e trancou a porta, tateando os bolsos a procura da chave. Ele foi até a parte de trás da cadeira de Lara e a empurrou em direção a entrada de casa.

— Pode deixar, futura presidente! — Matt disse, soltando uma risadinha no final.

E enquanto Lara era levada até o carro pelo irmão, tudo que ela conseguia pensar era...

"Eu vou perder a primeira aula"

---

E de fato, todos eles chegaram atrasados, mas não ao mesmo tempo, porque senão seria coincidência demais. 

Alessio foi o primeiro a chegar atrasado com seu Honda Accord (de acordo com o testamento, agora o carro era mesmo de Alessio). Sua mãe e seu irmão mais novo ficariam em casa o dia todo, então ele podia usar o carro naquele dia. Ele chegou vestindo roupas confortáveis mas não relaxadas. Carregava um copo com café ao leite e creme de avelã (seu café favorito. Ele costumava ser muito exigente sobre o gosto) e com seu caderno, o resto dos materiais o esperava em seu armário. Dentro de seu caderno estava a página dos classificados, Alessio havia circulado alguns anúncios com o marcador vermelho quando estava em busca de alguma vaga de emprego em casa. Não seria muito difícil para ele arranjar um emprego logo com suas diversas qualidades. De qualquer forma, como o portão da escola era aberto para alunos atrasados e como Alessio tinha uma desculpa plausível por ter chegado tarde, ele logo pôde entrar e assistir aula tranquilamente como um aluno exemplar, e durante o tempo todo, Alessio não demonstrou um pingo de tristeza pelo infortúnio que havia acontecido com seu pai, guardado todo aquele sentimento para si.

Lara chegou minutos após a Alessio, acompanhada de Matt. Ele era muito cuidadoso, tirando a cadeira de rodas do porta malas e pegando Lara no colo para sentá-la no assento acolchoado marrom da mesma. Chegava até a ser mais cuidadoso do que seus pais, principalmente sua mãe. Ann estava sempre nervosa e com pressa, e ás vezes não posicionava Lara corretamente em sua cadeira. É óbvio que Lara sentia um desconforto por causa disso ás vezes, mas não dizia nada, ela entendia que sua mãe era uma mulher muito ocupada, de fato, a vida na promotoria não é para qualquer um. Então Lara entrava na escola sozinha e assim que encontrava Piper (sua companheira de chapa, que agora estava curada da tuberculose que havia pegado no início da eleição), pedia para a amiga ajeitá-la. De toda forma, Matt não era assim. Ele era gentil apesar de fazer uso de uma droga ilícita. A administração já era acostumada com os atrasos de Lara por conta da fisioterapia, então Matt carregou calmamente a irmã mais nova até a sala de aula, e só foi embora ao ter certeza de que ela estaria 100% confortável. Claro que não sem antes tirar suspiros apaixonados das garotas de sua sala.

Já Sam não teve tanta sorte quanto os dois. Ela foi a última a chegar, e como sua desculpa para ter se atrasado era apenas "Eu dormi demais e mesmo morando aqui ao lado me atrasei mais do que qualquer aluno que more na cidade vizinha", ela foi barrada pela administração, sem poder entrar. Por um segundo ela pensou que tudo estava perdido e que ela teria que passar o resto de suas horas no parquinho ao lado da escola, já que Ellen estava em casa sendo a madrasta malvada de sempre. Até que ela se lembrou que um pequeno "atalho", que incluía basicamente, ir até o lado dos fundos da escola e pular o muro sorrateiramente. Nada demais, ela já havia feito isso com Luna e Audrey durante o primeiro ano quando as três haviam matado aula. E foi isso o que ela fez. Jogou sua mochila primeiro e escalou o muro com muita dificuldade logo em seguida. Estava finalizando sua magnífica entrada quando nos últimos segundos seus pés escorregaram do muro e ela caiu violentamente no chão de terra, por cima de sua mochila, o que amorteceu um pouco a queda, mas ainda doeu. Ela se levantou lentamente após isso e foi para a sala de aula enquanto mancava e murmurava um "Ai" bem baixinho. 

Já Ícaro, ele ficou no refeitório durante todas as aulas até a hora do almoço, encarando o contato "eu amo essa pessoa"

---

Era horário de almoço quando Lara saiu da sala acompanhada por Piper. Ambas estavam conversando animadamente sobre algumas possíveis táticas para aumentar suas reputações e assim conseguir a vitória na eleição, que já estava chegando. 

— Ok, o que você quer comer hoje? — Piper perguntou enquanto guiava Lara pelo corredor do segundo andar. — Eu pago!

— Quanta generosidade! — Lara disse enquanto olhava para a amiga. Ela soltou uma risadinha e logo voltou a falar — Nesse caso, eu vou querer... 

Sua fala foi logo interrompida por uma vibração vinda do bolso de sua calça. Enquanto Piper ainda a guiava, Lara retirou seu celular de lá e logo viu que havia recebido uma nova mensagem. Ela desbloqueou a tela apenas para ver algo que a deixou completamente confusa.

"Já sabemos a verdade"

Era o que a mensagem dizia. Lara bloqueou a tela novamente só para receber mais uma mensagem. E então recebeu mais outra. E mais uma, e muitas outras seguidas. 

"Como você pôde dizer algo assim?"

"Você é tão preconceituosa!"

"Pessoas como você deviam morrer!"

"Sério, que lixo"

"Apenas morre!" 

E esses são apenas alguns exemplos.

— Piper... — Lara disse, encostando com calma na mão da amiga. Lara estava gelada, e também estava realmente chocada com as mensagens maldosas, sem entender nada do que acontecia.

— Qual o problema? — Piper disse. Lara logo mostrou as mensagens  e a garota ficou boquiaberta — Quem mandaria algo assim? Que horror!

— As mensagens vem de números diferentes...

Assim que as duas viraram o corredor, Lara pôde sentir o pesar dos olhares maldosos das pessoas. Garotos e garotas, muitas pessoas estavam ali, e o modo como encaravam Lara, como se ela realmente fosse um lixo, a deixava muito desconfortável. Ela não havia feito nada de errado, ou ao menos não se lembrava. 

— E aí está a homofóbica! — Chuck Swanson disse enquanto se aproximava de Lara. O garoto usava um típico casaco do time de futebol americano e carregava consigo uma bola. Ele a arremessou para o amigo assim que falou a palavra "homofóbica" — A gente vive no século 21, tá?

Piper afastou a cadeira de Lara. As duas não estavam entendendo nada.

— Ok... Eu estou muito confusa agora... — Lara disse enquanto tentava não encarar Chuck. Ele podia fazer sucesso com outras garotas, mas Lara não gostava de nada nele. Seu hálito cheirava a cebola, mesmo forte, ele parecia mais um monstro do que um ser humano e aquele casaco vermelho do time de futebol era mesmo muito ridículo.

Chuck arremessou seu celular no colo de Lara. Na tela havia um aplicativo chamado "Eavesdropper" estava aberto, e nele continha dizeres que deixaram Lara ainda mais surpresa. 

"Lara Wachowsky rejeita o amor de Cho Adams. Ok, isso não é tudo, ela ainda disse: 'eu nunca poderia amar alguém como você'. Estão vendo, pessoal? Lara é realmente uma homofóbica. Ela me enjoa"

 — Todo mundo já sabe, Wachowsky! — Chuck diz, levantando os braços — Não precisa mais continuar com essa sua pose de garota certinha. Agora nós finalmente sabemos quem você é.

Lara estava realmente confusa. Como haviam descoberto aquilo? Ela duvidava muito que Cho tivesse contado, porque isso certamente arruinaria a reputação de sua clássica família chinesa. E de toda forma, Lara definitivamente não havia dito aquela frase com intenção de ferir o espírito homossexual da garota chinesa. Aquela frase, "Eu nunca poderia amar alguém como você", se referia aos atos que Cho havia feito apenas para prejudicar Alessio, e não ao fato dela ser lésbica. 

— Ah! — Lara arfou— Vocês entenderam tudo errado. Eu não sou homofóbica.

— Aqui diz o contrário. — Um aluno no meio da multidão disse enquanto levantava o celular para mostrar claramente a mensagem. 

Lara olhou para todos aqueles rostos conhecidos que agora a encaravam com reprovação no olhar. Aquilo realmente danificaria sua reputação, e agora que isso estava acontecendo, ganhar a eleição parecia impossível. 

Mas aquilo era apenas a escola. Aquelas eram apenas pessoas que ela nunca mais veria na vida, e aquilo era apenas um momento que logo seria engolido pelo tempo. Daqui um ano, quando Lara fosse para a faculdade, tudo iria ficar para trás. Todas essas eleições, todas as discussões, as brigas, as risadas e principalmente momentos como esse. Iriam embora, e nunca mais voltariam. E após isso, nenhum ser vivo iria se lembrar de quem havia sido o presidente do grêmio estudantil no ano de 2016, e todo o reconhecimento que teria por isso seria uma foto emoldurada que passaria o resto dos dias no arquivo escolar do almoxarifado, sem que ninguém tocasse novamente. Então pra que se estressar sobre aquilo tudo?

Lara e Piper não possuíam um motivo grandioso para participar da eleição. Lara apenas havia ficado por dentro da eleição por causa de uma indicação de um professor. Então ela achou que seria divertido participar de algo onde os outros a veriam do tórax para cima, como uma aluna normal que pode concorrer a uma eleição como qualquer outro. Então Piper achou essa ideia um máximo, e decidiu ajudar Lara com isso, pouco antes de pegar tuberculose e ter que ficar de repouso em casa. Mas as duas se divertiram bastante, então perder não era um problema. 

Sem falar que com todos as coisas acontecendo dentro da casa de Lara, se preocupar com a eleição parecia completamente trivial. 

— Beleza! Vocês me acham homofóbica! — Lara disse enquanto encarava a multidão e levantava os braços — Lidem com isso! Podemos ir agora, Piper?

Então sem se importar com os olhares maldosos, as duas garotas atravessaram a multidão e foram em direção ao primeiro andar. 



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