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História A Encantadora de Dragões - A História de Pansy Parkinson - O Expresso de Hogwarts


Escrita por: RLSarzenski

Capítulo 2 - O Expresso de Hogwarts


Fanfic / Fanfiction A Encantadora de Dragões - A História de Pansy Parkinson - O Expresso de Hogwarts

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Era uma manhã ensolarada de setembro na Plataforma 9 ½ de Kingscross, e o ambiente não podia ser mais caloroso. Por toda parte se viam mulheres, homens e crianças, todos com um sorriso de expectativa no rosto murmurando animados entre carrinhos de bagagem e corujas engaioladas. Em meio à multidão e à fumaça lançada pela locomotiva a vapor, facilmente passava despercebida uma pequena menina magricela parada em frente a um vagão. Sozinha com uma única mala agarrada por ambas as mãos, trazia um chapeuzinho torto, meias listradas em preto e branco e um rosto tenso. Seu nome era Pansy Parkinson. E a única razão dela estar ali, esperando embarcar num trem que a levaria para morar num castelo estranho com centenas de desconhecidos, era porque há duas semanas ela havia recebido uma carta informando o pequeno fato de que ela era uma bruxa.

– Ora, mas quem diria! - bradara seu tio na ocasião. – A fedelha tinha alguma magia no sangue afinal! - e pôs-se a gargalhar com desdém.

De fato, a própria Pansy custou a acreditar. Mas não restava dúvidas: a carta entregue pela coruja-correio havia sido bem clara. Nenhuma coruja nunca havia mentido pra ela. Então depois de fazer suas compras no Beco Diagonal e empacotar tudo na mala às pressas, Pansy mal tinha começado a digerir sua nova realidade quando o apito soou e as portas do vagão se abriram.

Imediatamente ela foi engolfada por um rio de crianças. Pansy foi jogada para dentro aos empurrões e tropeços, e logo tratou de se ajustar ao fluxo que seguiu pelo corredor. Passos e vozes se espalhavam, e logo as cabines começaram a ser preenchidas. Enquanto procurava por uma que não estivesse invadida por um grupo, Pansy entre-escutou alguns comentários à sua volta:

– Você soube do menino famoso que entrou este ano? Tá todo mundo falando disso.

–  É, eu ouvi os boatos.. dizem que ele é incrível. Derrotou o bruxo mais poderoso do mundo, e ninguém até hoje consegue explicar como.

– Já pensou se a gente esbarra com ele aqui? Cara, eu ia querer ouvir a história toda..

– Isso se ele se lembrar né. Afinal de contas, ele era só um bebê. Nem deve ter percebido o estrago que fez!

Depois disso vieram risos e Pansy não voltou mais a ouvir a conversa. Finalmente encontrou uma cabine vaga no último vagão do trem e ali se instalou. Estava feito. Agora só restava esperar.

Pansy aguardou pacientemente pelos minutos seguintes, mas nenhuma criança apareceu para verificar sua cabine. Não demorou muito para o apito soar novamente e o trem começar a se deslocar lentamente pelos trilhos. Pela janela, Pansy observou a plataforma apinhada de irmãozinhos pequenos e pais sorridentes acenando um último adeus para os filhos, uma floresta de mãos agitadas. Logo o cenário foi substituído pelas casas e árvores de Londres, e a únicas vozes que se ouviam eram das cabines que estavam lotadas. Por um minuto, Pansy pensou naquele curioso garoto que tanto falavam.

Deve ser muito bom já chegar aqui sendo famoso – pensou. Não precisa fazer nada pra ter amigos.

 

***

 

O Expresso de Hogwarts já vinha serpenteando pelos campos e montes por algum tempo, e Pansy observava melancolicamente a paisagem se tornando aos poucos mais desolada. Estava distraída em seus pensamentos quando a porta da cabine se abriu de súbito, e um garoto entrou e se sentou à sua frente. Devia estar bastante irritado, pois seus olhos não desgrudaram da janela por um segundo e sequer notou a menina acomodada ali dentro. Pansy ficou pasma. Não sabia bem o que devia fazer. Se perguntou se deveria sinalizar sua presença, mas algo no olhar intenso daquele menino a disse que era melhor não incomodar. E de qualquer jeito, ela nem conseguia se mexer.. só conseguia mesmo admirar.

Diante de si estava um menino louro, pálido e belo – mais do que qualquer um que ela já tinha visto. Vestia-se com trajes escuros altamente refinados, um indício de que devia pertencer a uma categoria distinta. De fato, tudo nele parecia transpirar nobreza. Desde o modo como ele apoiava o queixo sobre a mão fechada, até os cabelos lisos jogados para trás, reluzindo quase como ouro. E enquanto os olhos dele iam lentamente se desanuviando para dar lugar a uma expressão suave e entediada, Pansy notou que eles tinham um tom azul celestial semelhante à prata. O conjunto da obra era realmente extraordinário.

Pansy estava justamente submersa naqueles olhos quando eles se viraram e encararam os dela. Seu susto foi tão grande que ela quase gritou, mas em vez disso apenas virou o rosto pra janela o mais rápido que pôde e torceu para que o menino não tivesse visto sua cara de idiota (o que era um tanto difícil agora, já que ela estava mais vermelha que pimenta).

– Ora. Olá. - cumprimentou o menino numa voz calma.

– O.. oi! - cumprimentou Pansy numa voz esganiçada, virando-se e sorrindo para ele como se também tivesse acabado de perceber que ele estava lá.

– Você estava aí o tempo todo?

– É.. - respondeu Pansy, demorando mais do que devia.

– Parece que também estava precisando fugir um pouco. Esses encontros todos de uma vez só podem ser bem desgastantes.

– Ah.. claro. É isso mesmo. Nem me fale.

– Suas amigas estão por aqui?

– É.. devem estar.. em algum lugar. E os seus?

– Ainda estou procurando por dois idiotas que conheço faz tempo. Eles ingressaram este ano também.

– Ah..

– O resto já encontrei por aí. Mas todos só conseguem falar daquele novo aluno, o “astro” dos livrinhos de história. Francamente já me cansei.

Pansy percebeu que se tratava do assunto que ouviu no corredor mais cedo, e ficou feliz de finalmente poder comentar algo que não fosse uma mentira:

– Bem que eu queria ser tão popular assim - disse num tom triste. – E tudo por causa de um golpe de sorte..

Pela primeira vez o garoto sorriu para ela. Um sorriso cínico de cumplicidade secreta, tão discreto que os dentes não se tocavam. Aquela visão a fez parar de respirar por um instante.

– Então conhece a verdadeira história de Harry Potter?

Pansy precisou recuperar o fôlego. Sua voz ainda estava tremida quando respondeu:

– Eu.. ouvi falar algo. Mas não sei os detalhes - apressou-se a dizer, já que nem mesmo tinha ouvido falar naquele nome até então. – Nunca fui muito fã de História da Magia.

– E do que você é fã?

– Bem.. - Pansy pensou por um segundo – Eu gosto muito de criaturas mágicas.

– Então deve ter escolhido um bom espécime para levar a Hogwarts.

Pansy corou novamente.

– Na verdade.. foi tudo muito corrido pra mim quando me preparei pra vir. Não consegui me decidir a tempo por um animal.

– Não é como se você tivesse muitas opções - riu o menino. – A Escola só admite três. Ou é um gato, ou um sapo ou uma coruja. Se bem que posso jurar que vi um moleque ruivo esquisito levando um rato no ombro.. - acrescentou num tom de voz mais baixo.

– Eca! - riu Pansy.

– Claro que isso não é muito diferente de um sapo. Mas se não quiser ter muito trabalho, eu sugiro esse.

– Ah, isso nunca. Sapos são muito gosmentos.

– Tem razão - riu o menino. – Que tal então uma coruja? Elas são bem elegantes.

– É.. até que elas são. Mas sei lá.. acho elas um pouco chatas. Além disso fazem muita sujeira.

O menino tornou a rir e olhar para a janela.

– Nossa, você é mesmo difícil de agradar.

Pansy não soube o que responder.

– Tá tudo bem - disse o menino, reparando em seu silêncio constrangido. – Não há nada de errado em ser exigente. Parece que é algo que nós dois temos em comum.

Isso fez Pansy se sentir muito melhor.

– A propósito, meu nome é Draco. Draco Malfoy.

– É um nome muito legal - comentou Pansy com sinceridade.

– E o seu é..?

– Pansy - sorriu. – Pansy Parkinson.

– É um nome muito esquisito.

O sorriso de Pansy se quebrou. Enquanto ela tentava recompor os pedaços, Draco continuou:

– Nunca ouvi falar de uma família de bruxos Parkinson na Inglaterra. De onde é o seu pai?

– Ah eu.. na verdade não sei muita coisa sobre ele.

Draco franziu o cenho. Pansy procurou se explicar da maneira mais breve possível, pois não era um assunto que gostava de tocar.

– Nunca conheci o meu pai. Sempre que perguntava minha mãe só me dizia que ele já estava ausente quando eu nasci. Bom, isso foi antes dela morrer num acidente quando eu ainda era muito pequena. Não lembro direito de como ela era.

Draco ficou quieto por um segundo.

– Então quem é que cuida de você?

– Meus tios me.. receberam em sua casa no condado de Cheshire. Desde então passei a morar com eles - concluiu com um sorriso tímido.

– Mas eles são bruxos, certo? Os seus tios.

– Ah, sim. Com certeza eles são.

– Entendi - Draco se recostou no acento e voltou a observar com tédio a paisagem. – Suponho que existam famílias de puro sangue fora da Inglaterra das quais nunca ouvi. Talvez seu pai pertença a uma delas.

Seguiu-se um silêncio após esse comentário. Pansy olhou para o elegante menino louro à sua frente e em seguida para as próprias mãos. Ela ainda estava com a cabeça abaixada quando perguntou numa voz fraca:

– O sangue.. - e apertou um pouco a aba de sua saia –  ..importa?

Draco precisou frear o riso.

– Tá brincando? - voltou-se para ela com incredulidade – Importa muito.

Pansy apertou sua saia com mais força.

– Pra começo de conversa, é o sangue que decide quem vai ser bruxo e quem vai ser trouxa. Dê graças ao seu por estar aqui agora, e não num ônibus qualquer indo pra uma escola de perdedores.

– Eu.. não tinha pensado nisso.

– Deveria. É a lei natural. O que separa as pessoas dos bichos. Mesmo entre os bruxos, aqueles que tem o sangue mais puro se destacam sobre os outros. Aqui, pegue!

Draco tirou uma embalagem azul-dourada do bolso e lançou contra o peito de Pansy. Ela se assustou e agarrou o objeto como um goleiro atingido por um balaço. Ainda estava se recuperando do choque quando abriu a embalagem e um sapo de chocolate saltou para o seu chapéu.

– Me diga, que bruxo histórico saiu na sua figurinha? - perguntou Draco despreocupadamente, enquanto abria sua própria embalagem e mordia um pedaço de seu sapo. – Aposto um galeão de ouro como é sangue puro.

Pansy procurou se recompor para ler em voz alta o que dizia o cartão:

 

Morgana Le Fay

Feiticeira ilustre da Era Medieval. Adepta da magia negra, Morgana era rival de Merlim e meia-irmã do Rei Arthur. Foi uma inimiga poderosa, causando por vezes males irreparáveis aos Cavaleiros da Távola Redonda. Assumia a forma animaga de um pássaro.

 

Uma imponente bruxa ruiva ilustrava o cartão em forma de pentágono, e Pansy só conseguiu olhar para ela com assombro.

– Viu só. Parente do rei mais lendário da Europa. Eu disse que seria sangue puro.

E segurando seu sapo entre os dentes, Draco revirou outro bolso e tirou de lá uma pilha de cartões dourados em forma de pentágono. Em seguida os dispôs em leque de frente para Pansy, que os tomou e começou a estudá-los.

– Todos os grandes magos da História pertencem de alguma forma às linhagens mais nobres, aquelas que foram preservadas por séculos e séculos sem se misturar. Acredite, sei do que falo. Fui ensinado desde pequeno.

Pansy não conhecia nada daquilo, mas não tinha por que duvidar. Todos aqueles bruxos em seus dedos pareciam concordar com as palavras de Draco, dado o olhar de desprezo que lançavam para Pansy. Ela tratou rapidamente de devolvê-los ao seu dono.

– Aposto como vamos conhecer muitos outros bruxos legais em Hogwarts! - disse forçando novamente o sorriso, enquanto estendia a pilha.

– Isso depende - respondeu Draco guardando-a de volta no bolso.

– Depende do quê?

Aqui ele a encarou com severidade:

– Da Casa que você for selecionada.

Draco se inclinou em direção à Pansy, e seu rosto ficou mais próximo que nunca do dela. Pansy congelou. Ele prosseguiu falando devagar, seus olhos de prata fixos nos dela, e de repente nada mais além daqueles olhos e daquela voz suave parecia existir:

– Sabe, algumas Casas de Hogwarts simplesmente aceitam qualquer lixo. Eles não estão preocupados em selecionar os mais aptos. Apenas acolhem o resto que as outras Casas não querem. Como se os fracos fossem dignos de dominar magia.

Pansy permaneceu muda. Nenhum dos dois se mexeu. Por um instante eles apenas se encararam em silêncio. Finalmente Draco rompeu o gelo com um risinho cínico.

– Bom, suponho que a Corvinal seja uma das que se salvam. Ela ainda mantém algum padrão e um certo grau de orgulho. Mas se você quiser realmente fazer parte da elite de Hogwarts, precisa entrar para a Sonserina.

– Sonserina?

– É para lá que os de sangue puro sempre são chamados. Todo mundo sabe disso.

Pansy pensou naquilo por um minuto. Em seguida comentou, o rosto abaixado enquanto afastava com a mão uma mecha de cabelo:

– Pureza.. faz mesmo toda diferença né.

– Pureza é tudo – sentenciou Draco, voltando a morder um pedaço de seu sapo. – Acha que eu estaria comendo esse chocolate agora se tivesse algum caroço ou lixo aqui dentro?

Pansy não soube o que responder. Em vez disso apenas baixou novamente a cabeça, e viu que a figurinha de Morgana Le Fay ainda estava em seu colo. Ela a estendeu para Draco.

– Fique com ela - recusou o menino com um sorriso – É repetida mesmo, já completei a coleção.

– Obrigada..

Nisso ouviram-se vozes no corredor e sombras passaram pela vidraça da cabine. Draco se levantou e foi até lá verificar.

– Crabbe! Goyle! Sabia que estariam seguindo o carrinho de doces, seus porcos inúteis.

E saiu para encontrá-los. Antes porém que Pansy pudesse fazer algo, ele voltou e colocou a cabeça para dentro da cabine:

– Gato.

– O.. o quê?

– A solução para o seu bicho de estimação. Elegante, mas sem ser chato nem bagunceiro. A resposta é um gato.

– Tem razão - sorriu Pansy, admirando os contornos delicadamente desenhados naquele rosto. – É um gato..

Draco Malfoy piscou e saiu de vez, fechando a porta atrás de si e deixando Pansy novamente sozinha - acompanhada apenas dos batimentos no peito, uma figurinha nas mãos e um sapo de chocolate no chapéu.

 

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