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História A Encantadora de Dragões - A História de Pansy Parkinson - A Vassoura na Árvore


Escrita por: RLSarzenski

Capítulo 4 - A Vassoura na Árvore


Fanfic / Fanfiction A Encantadora de Dragões - A História de Pansy Parkinson - A Vassoura na Árvore

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O tempo passou.

Pansy já estava prestes a completar oito anos e ainda não tinha despertado seus poderes mágicos. Ela continuava se empenhando ao máximo nisso, mas as entregas no vilarejo, o cuidado das corujas e a limpeza da casa a mantinham ocupada demais para conseguir algum progresso. Como o método de incentivo da vassoura não estava surtindo efeito, seu tio resolveu intensificar o programa:

– Já que uma vassoura encantada e uma trouxa como você servem para a mesma coisa, vou tratá-las como a mesma coisa.

E dizendo isto ele a jogou no armário de vassouras sob a escada.

– De agora em diante é aqui que passará suas noites.

E fechou a porta passando o trinco. Pansy esperou ouvir os passos do tio se distanciarem antes de descarregar o choro. Ela se recolheu num canto e tremeu no escuro. Não ousou pedir uma lamparina ou um cobertor.

Vassouras não precisam de lamparina nem de cobertor.

 

***

 

Já havia algum tempo que Pansy estava quieta numa mesa, o queixo caído em cima do braço. Brincava desanimada com um pequeno relógio dourado pendurado em forma de colar num coelho branco.

– Qual o problema, pirralha? - perguntou o Sr. Carroll, enquanto buscava os itens da lista de Pansy. – Você não tem tagarelado muito esses dias.

– Não é nada.

O velhinho olhou com estranheza para ela. Claramente havia algo de errado, mas ele não quis se intrometer muito. Em vez disso apenas lembrou:

– Sabe, recebi por engano uma remessa de caramelos ontem. Achei que tinha sido bem claro quando disse que queria caramujos. Enfim.. nenhum dos meus animais parece afim de comê-los.

Ele se inclinou sobre Pansy e ajustou os óculos:

– Acho que não faria mal se você pegasse um.

Pansy olhou para ele e sorriu timidamente.

– Estão naquele armário - sorriu de volta o velhinho.

Pansy se levantou da mesa e foi até lá. Achou com facilidade o vidro e pegou um caramelo, devolvendo o restante. Já estava fechando a porta do armário quando notou um pôster ali:

 

“TORNADOS DE TUTSHILL – 1921”

 

Sob este título havia uma grande foto em sépia de bruxos vestindo uniformes. Montados em vassouras, eles deslizavam para todos os lados em pleno ar. Pansy olhou para aquilo espantada.

– Ah, meu time de Quadribol favorito desde a juventude - interveio o dono. – Ainda sabem fazer uma coisa ou duas.

Pansy nunca havia visto fotos se mexerem antes e nem imaginava o que era Quadribol. Entretanto, havia apenas uma coisa que ela precisava saber naquele momento:

– Como faço pra vassoura voar?

– Hein? Não seja tola, menina - respondeu o velho. – Essas vassouras já vem com um feitiço pronto. É só montar e pular. Até uma pirralha como você conseguiria.

Então Pansy não ouviu mais nada. De repente ela foi arrastada para dentro de um remoinho de pensamentos. E logo após o remoinho, uma onda de esperança a atingiu tão forte que ela deixou cair o caramelo e correu para a escada.

– Ei! Está esquecendo as compras! - gritou o Sr. Carroll para as pernas de Pansy no alto da escada em espiral.

Mas Pansy já tinha vencido todos os degraus e estava empurrando a porta da loja. Ela apanhou sua bicicleta do chão e começou a pedalar com todas as suas forças. E enquanto pedalava com todas as suas forças para fora do vilarejo, uma única ideia fixa dominava sua mente e seu corpo, a ponto de nem perceber seus pulmões arderem em protesto:

Liberdade.

Esse era o nome do espírito que empurrava seus pedais agora, colina acima. Que cortou como um vento a alameda de árvores secas, e que lançou a bicicleta por terra assim que Pansy saltou para fora dela e correu em direção à porta de casa. Esse maravilhoso espírito, porém, não contou a Pansy o restante da história. Ele não contou a Pansy, quando ela pegou a vassoura no armário sob a escada, que aquela não era uma vassoura de corrida. Ele não contou a Pansy, enquanto subia eufórica as escadas até seu quarto no sótão, que não era assim que a magia funcionava. E tampouco contou a Pansy, quando ela abriu sua janela e subiu no parapeito, que não era necessário pular da altura de três pisos para fazer uma vassoura encantada voar.

Mas que outra forma existia de voar? – A garotinha pensou, olhando para o céu branco entrecortado pelas árvores. Todo filhote de coruja aprende assim.

E segurando firmemente o cabo da vassoura com as duas mãos, o restante preso entre as coxas, Pansy sorriu para o alto ao imaginar o milagre que estava prestes a acontecer. E então ela pulou.

A primeira coisa que ela sentiu ao cair foi seu corpo inclinar para baixo. O céu imediatamente desapareceu e Pansy viu no seu lugar um galho. Suas mãos ocupadas não a permitiram se proteger a tempo, e o resultado foi que seu rosto foi violentamente atingido. No instante seguinte ela estava se chacoalhando em meio a um furioso borrão de gravetos, folhas e braços. Logo tudo cessou, e Pansy viu o chão se aproximar tão rapidamente que teve tempo apenas de colocar a mão na frente e ouvir um forte estalo. E então o escuro.

Demorou alguns segundos para Pansy reunir coragem de abrir os olhos. Quando o fez, algumas folhas alaranjadas ainda dançavam à sua volta. Lentamente ela se prostrou no chão sobre as pernas caídas, e ergueu o nariz ensanguentado para cima. Lá estava sua vassoura, presa entre os ramos da árvore.

Eu não entendo.. – ela pensou, segurando o pulso que agora começava a latejar. Por que a vassoura me rejeitou..?

Antes que ela pudesse achar uma resposta, porém, sua tia surgiu de dentro da casa e caminhou até onde ela estava. Aparentemente havia sido alertada pelo barulho.

Seu semblante era de perplexidade quando se aproximou de Pansy:

– Mas o que foi que aconteceu?!

A menina não se atreveu a dizer. De qualquer forma ela achava que se abrisse a boca não conseguiria fazer outra coisa a não ser gritar de dor.

– Onde estão as compras?

Algo no tom de voz perigosamente frio de sua tia fez Pansy perceber que o silêncio não seria a melhor resposta dessa vez.

– Eu.. sofri um acidente.

– Como assim?

– Eu caí..

Então ela indicou com o queixo a vassoura na árvore, esperando que de alguma forma isso fizesse algum sentido para sua tia. Ela olhou para aquela cena por um momento, processando o seu significado. Então baixou os olhos para a menina ferida aos seus pés e disse no tom de voz mais gélido que conseguiu:

– Vá buscar.

Pansy tremeu.

– Não posso..

– Por que não?

E fazendo força para não gritar enquanto segurava o pulso, ela ofegou numa voz aguda:

– Acho que quebrei minha mão.

Sua tia não voltou a perguntar mais nada. Com um suspiro de esgotamento, ela apanhou um dos galhos caídos à sua volta e com a outra mão ergueu Pansy pela raiz dos cabelos. Ela a arrastou dessa forma até a cozinha no interior da casa.

Ali chegando, puxou uma cadeira para o centro e largou Pansy na frente dela.

– Sente-se.

Pansy obedeceu, ainda tremendo e segurando o pulso. Ela achou que sua tia fosse lhe surrar com a vara, mas o que ela fez foi muito pior. Ela foi até uma gaveta e tirou de lá uma tesoura. Em seguida se posicionou atrás de Pansy.

– Não se mexa.

E dizendo isto, puxou seus cabelos e começou a cortá-los. Pansy ouviu o ruído metálico perto de seus ouvidos ao mesmo tempo em que as pulsações de seu coração aceleravam. As primeiras mechas de cabelo preto já estavam no chão quando as lágrimas de Pansy também começaram a cair.

– Sua sangue-ruim imunda - rosnou sua tia.

E continuou a cortar. Logo não havia mais nenhum fio separando a cabeça de Pansy da mão de sua tia, que agora segurava um feixe de longos cabelos escuros. Então ela se voltou ao galho que tinha trazido e começou a amarrar o feixe em uma de suas pontas, enquanto Pansy soluçava em sua cadeira. Quando terminou, tinha em mãos uma espécie de esfregão improvisado a partir dos cabelos de Pansy Parkinson.

– Pegue. - estendeu.

Pansy pegou o objeto com a mão esquerda, a única que lhe restava.

– O balde está ali.

A menina olhou para o balde de madeira encostado num canto escuro. Ela choramingou:

– Por favor..

– Se agir como trouxa, vai pagar como trouxa. Agora limpe o chão.

Pansy não teve escolha. Fazendo um esforço tremendo para engolir o choro e levantar da cadeira, ela cambaleou até o balde sentindo a dor aumentar a cada passo. Ela se deteve um instante em frente ao balde para observar o líquido turvo e malcheiroso ali dentro. Então ergueu o graveto e mergulhou ali seus cabelos.

A superfície escura borbulhou.

Pansy ergueu seus cabelos encharcados de volta. Era difícil mantê-los no ar com uma só mão agora que estavam pesados, assim que Pansy se desequilibrou e tombou o esfregão para um lado, caindo de peito no chão de pedra. Sua tia observava a tudo impassível, os braços cruzados. Pansy precisou se apoiar no esfregão como uma muleta para se levantar. Quando finalmente seus joelhos molhados pararam de tremer, ela respirou fundo, e então começou a esfregar.

Sua tia deu meia-volta e se dirigiu ao pátio.

– Quando eu voltar, quero ver esse piso brilhando.

E bateu a porta. Pansy foi deixada sozinha em meio à cozinha fria, e por um minuto ela não fez nada mais além de esfregar. E enquanto esfregava, não enxergava nada além do piso. Não pensava em nada além do piso. Naquele momento, não queria ver nem pensar em qualquer outra coisa. Mas então ela viu. Algumas gotas cristalinas caíam em meio ao líquido turvo aos seus pés, e elas pareciam vir do seu rosto. Foi então que Pansy percebeu que já fazia algum tempo que ela não estava mais esfregando. Estava apenas ali parada como uma estátua, encarando o piso. E a realidade que ela tanto estivera lutando para manter trancada de repente escancarou sua mente com todas as forças.

Foi só então que o mundo de Pansy desabou.

 

***

 

Daquele dia em diante, Pansy não tentou mais fugir de casa.

Ela também não voltou mais a tentar despertar sua magia.

E acima de tudo, ela nunca mais deixou seu cabelo crescer mais do que alguns centímetros abaixo do queixo.

Ela agora fazia apenas o que lhe mandavam, e nada mais. Ela já não sorria  enquanto andava de bicicleta, nem fazia perguntas para o dono da loja de animais mágicos. E à noite quando se deitava para dormir, ela apenas se sentia grata por terem-lhe devolvido o sótão, mesmo não merecendo.

E assim se passaram seus dias até ela cumprir oito anos. Foi assim até ela cumprir nove. E continuou assim até ela cumprir dez.

No dia em que completou onze anos, porém, algo novo aconteceu. Quando ela saiu de casa uma manhã cedo para alimentar as corujas, levou um susto ao adentrar a torrinha. Parada de frente para Pansy num poleiro no meio do recinto, estava uma coruja estranha que ela nunca tinha visto. Trazia no bico um envelope de pergaminho amarelado. Nele havia um brasão com um leão, uma serpente, uma águia e um texugo em torno de uma grande letra "H". Ela se aproximou do raio de sol que cobria a coruja vindo de uma janela, e leu os dizeres escritos no envelope em tinta verde-esmeralda:

 

Srtª P. Parkinson

O sótão sobre o casarão

Alameda das Faias Acobreadas

Adlington Village

Cheshire

 

 

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