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História A Encantadora de Dragões - A História de Pansy Parkinson - A Serpente Fugitiva


Escrita por: RLSarzenski

Notas do Autor


OBS:
A imagem que ilustra esse capítulo foi feita por mim mesmo. Não tinha muitas imagens delas na internet, então eu fiz um desenho retratando mais ou menos como eu imagino as garotas da Sonserina.. espero que tenham gostado. ^^

Capítulo 7 - A Serpente Fugitiva


Fanfic / Fanfiction A Encantadora de Dragões - A História de Pansy Parkinson - A Serpente Fugitiva

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Quando Pansy Parkinson iniciou seu segundo ano letivo na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, muita coisa havia mudado.

A primeira e mais importante delas é que ela já não estava mais sozinha. Desde os acontecimentos daquela fatídica lição de voo no início do ano passado, tudo passou a ser diferente. Ela agora tinha um motivo para passar seus dias livres nos jardins, com os outros estudantes. Ela tinha amigos. Amigos de carne e osso, que andavam e interagiam com ela, e não apenas de tinta e papel. Ela tinha também um novo lar.

E ela tinha até mesmo um gato.

Pansy o encontrara vagando pelo telhado do casarão de seus tios, quando voltou para passar as férias em Cheshire. Era um pequeno filhote cor de carvão, muito esperto, e tinha olhos verde-limão que brilhavam no escuro. Ela o apanhou quando passou em frente à janela de seu sótão, e educadamente perguntou se ele a aceitaria como sua nova dona. Pansy interpretou seu miado fraco como um “sim”. Ele foi sua segunda grande alegria naquele verão (a primeira foi enfeitiçar, com um grande sorriso, a vassoura na frente dos seus tios). Seguindo a amável sugestão do Sr. Carroll, Pansy decidiu nomeá-lo Meia-Noite, a hora em que ele aparecera no telhado. E ele foi a sensação da Sala Comunal da Sonserina - principalmente entre as meninas.

Emília Bulstrode foi a que mais se apegou. Ruiva e de rosto sardento, amava apertar coisas fofas, e como Meia-Noite era o único gato da Casa (todos os demais estudantes tinham corujas), ela o adotou como seu principal alvo. Sempre que podia o sequestrava de cima de um móvel ou prateleira, abraçando-o como uma almofada, e nessas horas Pansy ficava um pouco agoniada - os braços de Emília eram particularmente fortes.

Tracey Davis era mais comportada. Suas carícias eram gentis, bem como os seus modos em geral. Um pouco mais baixa que o resto do grupo, tinha cabelos amadeirados cujos fios exalavam uma leve fragrância de baunilha. Já Dafne Greengrass, por sua vez, era uma bruxinha da classe mais refinada. Alta e esbelta, sua pele era alva e seus longos cabelos eram dourados. Parecia a própria gêmea de Draco, exceto pelos olhos que eram verde-claro. Também se encantou com o gato de Pansy (embora preferisse não tocá-lo muito).

A Sala Comunal da Sonserina ficava no subsolo de Hogwarts, logo abaixo do Lago Negro. Em conjunto com as masmorras, formavam um mundo oculto à parte - quase um segundo castelo invertido no chão. Os salões, escadarias e corredores eram esculpidos na rocha, e iluminados com belos candelabros de ferro preto. A Sala Comunal em especial lembrava o interior de uma luxuosa mansão gótica, com lâmpadas esféricas espalhadas por toda parte emitindo uma suave luz verde. Enquanto as meninas ficavam nos sofás vitorianos do centro, baixo um grande lustre de prata, na ala mais nobre da sala se reuniam os meninos em torno da lareira. A principal poltrona era reservada a Draco, que como sempre vivia acompanhado de Crabbe e Goyle. Frequentemente se juntava ao grupo Blásio Zabini, um vistoso bruxo negro de expressão sombria. Num canto mais afastado, sempre descansando o braço no console da lareira, ficava Teodoro Nott, um menino de cabelos escuros e ar melancólico que raramente falava. Além deles haviam outros bruxos e bruxas na turma de Pansy (fora os estudantes dos demais anos que também compartilhavam a grande Sala Comunal) mas estes eram os que integravam seu círculo mais próximo. E ela adorava fazer parte deste círculo. Principalmente porque era em torno de Draco que ele girava..

Eles agora se viam e conversavam todos os dias. Draco Malfoy definitivamente era o mais popular da turma. Como descendia de uma das famílias mais poderosas e tradicionais da Inglaterra, já havia conhecido muitos lugares e acumulado várias experiências. Isso lhe permitiu adquirir uma compreensão invejável do mundo, que gostava de compartilhar com os colegas sempre que podia. Eles por sua vez ouviam com interesse, mas ninguém parecia encontrar mais deleite na sabedoria de Draco do que Pansy Parkinson.

Talvez por ser a mais inexperiente e ignorante da magia na sua turma, Pansy sorvia cada palavra dele como um sedento no deserto bebe de uma fonte. Draco por sua vez parecia gostar de exibir seus conhecimentos, e como Pansy era sua aprendiz mais devota, não demorou muito para elege-la como sua plateia favorita.

– A serpente, naturalmente, é o símbolo da Sonserina por sua astúcia e discrição. - dizia enquanto escavavam a terra de um vaso na aula de Herbologia - Não são como os leões pomposos que representam a Grifinória: elas não saem por aí rugindo selvagemente para chamar a atenção. Elas são sofisticadas, tem sangue frio: estudam a presa antes de atacar. São criaturas nobres que não precisam grunhir nem mostrar os dentes. Sua mera presença já inspira temor e respeito.

Pansy ouvia deliciada com os olhos brilhando, sem interromper. Apenas sorria e balançava a cabeça, concordando com tudo que ele dizia.

Por muito tempo Pansy tivera receio de não ser digna da Sonserina, e de que Draco viesse a descobrir isso de alguma maneira. Afinal de contas, nunca encontrara seu nome nos livros da biblioteca. Mas o brasão prateado com a serpente esmeralda no uniforme de Pansy parecia ser prova suficiente para Draco, e no fim das contas Pansy aceitou como prova suficiente para ela também.

Nas caminhadas pelos jardins ensolarados, durante os intervalos, Draco apontava para os alunos das demais Casas enquanto discorria sobre eles. Por ser o mais célebre, Potter era um dos mais comentados:

– Eu até tentei me relacionar bem com ele, sabe. No Expresso de Hogwarts, pouco depois de conhecer você. Eu o procurei na cabine e o cumprimentei como um cavalheiro. Mas ele simplesmente me esnobou e se recusou a apertar minha mão.

Pansy deixou escapar um arquejo de exclamação.

– É isso o que acontece quando um bruxo deixa a fama lhe subir à cabeça. Tornam-se arrogantes e cheios de soberba. Não me surpreende que tenha sido escolhido para a Grifinória.

Então Draco aproveitava para falar dos companheiros ao lado de Potter:

– Aquele ali é Rony Weasley. - Pansy olhou para o menino de varinha remendada, que naquele momento explorava sua narina com um dedo. – Você reconhece um Weasley fácil pelos cabelos ruivos e pelas vestes de segunda mão. Eram uma das famílias de sangue puro mais tradicionais da Inglaterra, mas entraram em decadência por causa de suas relações com os trouxas. Hoje em dia vivem na miséria e mal conseguem pagar por uma bota. Mas apesar disso, insistem em se reproduzir por aí como coelhos.

Era verdade, pensou Pansy. Ela lembrou que em Hogwarts Rony tinha vários irmãos mais velhos, incluindo dois gêmeos delinquentes e uma irmãzinha do primeiro ano chamada Gina.

– A garota de juba grande ao lado, lendo o livro, é Hermione Granger. Acho que vocês já se conhecem.

Pansy olhou para ela com ligeiro pesar.

– Não exatamente. - respondeu em voz baixa.

Desde a aula de voo do ano passado nenhuma das duas voltara a se falar. Pansy não voltou mais à biblioteca para investigar seu passado, e nem Hermione para se refugiar da solidão. Aparentemente ela também havia conseguido fazer amigos depois daquilo - Pansy só estranhou que fossem justamente o presunçoso Potter e o vulgar Weasley. Ela sempre lhe pareceu “certinha” demais para apreciar tais companhias.

– Se crê muito superior, essa. - prosseguiu Draco – Uma verdadeira metida a sabe-tudo. Assim como Potter, vive querendo aparecer - só que no caso dela é com alguma bobagem que ela decorou de um livro qualquer. É a forma que ela encontrou de mascarar sua verdadeira natureza. Engolir livros e vomitar o conteúdo. O fato é que ela não passa de uma fraude medíocre nascida de trouxas.

Nessas horas Pansy se impressionava um pouco com a severidade de Draco, mas não podia deixar de reconhecer que de certa forma ele tinha razão. Lembrava de como Hermione nunca perdia a oportunidade de exibir seus conhecimentos. A verdade na boca de Draco podia adquirir contornos duros, mas era sempre precisa. Pansy sentia que às vezes ele sabia mais do que os próprios professores de Hogwarts. Eles também tinham muito a lhe ensinar, mas eram teorias ou a simples e pura magia. Draco por outro lado lhe ensinava acerca do mundo real: o universo da magia vivido na prática.

Além do mais, ela adorava ouvir aquela voz suave.

Ou sentir a respiração de Draco perto de seu rosto, quando precisavam falar em voz baixa para não serem pegos numa aula qualquer..

 

Outras vezes, no entanto, Draco falava abertamente para toda sua trupe. Como quando desceram uma manhã para o café no Salão Principal, e Pansy pediu que lhe contasse sobre as outras Casas.

– A Corvinal costuma ser mais reservada. - falou sentando-se à mesa e servindo-se de torradas e geleia. –  São conhecidos por serem pensadores profundos e de mente aberta, mas às vezes podem ser um tanto excêntricos. Esquisitos, pra dizer a verdade.

E apontou com o queixo para a próxima mesa.

– Já a Lufa-Lufa.. bom, não há muito o que dizer dela. São a escória de Hogwarts. Um antro de trouxas sem talento ou futuro. Mas a pior de todas com certeza é a Grifinória..

Seus olhos se anuviaram de desprezo quando indicou a última.

– Eles também são um bando de imprestáveis. Mas ao contrário da Lufa-Lufa, eles parecem não saber disso. Ao menos a Lufa-Lufa sabe qual é o seu lugar, e age de acordo. Os grifinórios por outro lado pensam que são reis. Como um asno que achou as ferraduras de um alazão de puro-sangue, e agora acredita que é um deles. Querem sempre aparecer e pisar em cima dos outros. Mas todos sabemos o que acontece se competirem uma corrida de verdade.

Todos na mesa da Sonserina riram.

– Ainda assim, eles ganharam a Taça das Casas ano passado.. - lembrou Tracey Davis.

– Unicamente porque ele quis. - asseverou Draco na mesma hora, fulminando Dumbledore com um olhar.

Sentado na mesa especial dos professores, o diretor de longas barbas brancas e oclinhos meia-lua comia feliz suas panquecas. Pansy olhou para ele sentindo também um certo rancor. No início não entendia por que Draco nutria tanta antipatia por Dumbledore - sempre lhe havia parecido um velhinho simpático e bondoso. Mas sua opinião mudara radicalmente no final do ano passado.

Durante a cerimônia de encerramento do ano letivo, quando toda a escola comemorava naquele salão a vitória da Sonserina pela Taça das Casas, o fato mais bizarro aconteceu. Dumbledore, que era conhecido por ter uma predileção descarada pela Grifinória, interrompeu o meio da festa e começou a distribuir em voz alta chuvas de pontos para Potter e seus companheiros. Cinquenta, cem pontos.. todos pelos motivos mais banais e absurdos, tais como jogar uma partida de xadrez ou “enfrentar os amigos”. Só parou quando atingiu a quantidade necessária para a vitória, e então simplesmente bateu palmas e trocou toda a decoração verde-prata pela vermelho-dourada, para total ultraje e indignação da Sonserina. Pansy ficou horrorizada com tamanha injustiça. Desde então passou a compreender melhor por que Draco dizia que Dumbledore era a pior coisa que havia acontecido a Hogwarts.

Ou pelo menos era, até aquele ano.

 

Quando Pansy já estava começando a se sentir à vontade e segura em seu novo lar, uma sombra se abateu sobre ele. Uma onda de misteriosos ataques começou a assolar Hogwarts, e de repente o castelo encantado se transformou num circo de horrores.

A primeira vez aconteceu num corredor, quando todos voltavam do jantar para seus dormitórios. Pansy e os demais alunos se depararam com uma cena grotesca: a gata do zelador Filch morta e pendurada pelo rabo numa tocha, com água espalhada por toda parte, e uma inscrição na parede que parecia ter sido feita com sangue:

 

A CÂMARA DOS SEGREDOS FOI ABERTA

INIMIGOS DO HERDEIRO, CUIDADO

 

Parado diante da parede eles flagraram Potter. Foi um verdadeiro tumulto. Pansy correu para procurar Meia-Noite pelos corredores, gritando seu nome. Os professores levaram Potter para ser interrogado, mas ele naturalmente negou qualquer envolvimento. Passadas algumas semanas, quando o escândalo parecia ter se dissipado, um novo ataque ocorreu. Dessa vez um garotinho do primeiro ano foi encontrado petrificado, ainda com uma câmera nas mãos. O rolo de filme estava queimado por dentro.

A escola entrou em polvorosa. Nenhuma magia conhecida parecia capaz de reverter o encanto, e o pânico tomou conta de vários alunos. Alguns pais já estavam falando em retirar seus filhos de Hogwarts. Foi nesse espírito de alarme que em meados de dezembro os professores reabriram o Clube dos Duelos, baixo a permissão de Dumbledore.

– Clube dos Duelos? - estranhou Pansy, lendo o cartaz fixado no quadro de avisos da Sala Comunal.

– Que deselegante. - comentou Dafne, empinando o narizinho.

– Pode ser útil. - interveio Draco, surgindo no meio do grupo e apertando os olhos para o cartaz. – Nem que seja para matar o tédio.

Crabbe, Goyle e os demais meninos assentiram animados.

– Oh, bem. Suponho que podemos assistir. - disse Dafne para as amigas.

Pansy e Tracey concordaram. Emília Bulstrode, que estava sufocando Meia-Noite, o soltou no sofá e limpou os pelos na saia, lançando um sorriso maníaco para o grupo:

– Vamos arrebentar alguns dentes.

Quando subiram para o Salão Principal alguns minutos mais tarde, o encontraram completamente mudado. As mesas haviam sumido, e um grande palco nos fundos projetava Snape e o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Gilderoy Lockhart, sobre a multidão. Lockhart estava dando uma breve palestra, e piscou para as meninas assim que as viu chegar.

– Ai ai.. - suspirou Tracey Davis, cutucando Pansy e acenando para ele.

Era perdidamente apaixonada pelo novo professor. Havia confidenciado apenas a Pansy seus sentimentos, e as duas ainda riam quando tocavam no assunto. Apesar de não demonstrar na frente de Draco, Pansy não podia evitar de concordar com ela: os cabelos ondulados e o sorriso impecável tornavam Lockhart muito charmoso, e Pansy só esperava que ele não tivesse o mesmo fim trágico que seu antecessor (os rumores diziam que Quirrell havia morrido misteriosamente).

Terminada a explanação acerca dos duelos, Lockhart e Snape se propuseram a fazer uma demonstração. E embora Lockhart fosse uma aclamada autoridade no combate às artes das trevas, Snape o derrotou sem grande dificuldade. Tracey levou as mãos à boca quando o viu se estatelar contra a parede.

– Vocês acham que ele está bem?

– Quem se importa? - responderam em coro todos os meninos.

Lockhart no entanto logo se levantou, cumprimentando bem-humorado o Prof. Snape. Em seguida mandou os alunos se separarem em duplas. Os estudantes começaram a buscar parceiros entre os de sua própria Casa, mas Snape interveio para tornar as coisas mais interessantes.

– Sr. Malfoy, venha cá.

Draco se apresentou. Ninguém ficou surpreso: era o aluno mais estimado de Snape.

– Vamos ver o que o senhor faz com o famoso Potter. E a senhorita - virou-se para Hermione – pode fazer par com a Srta. Bulstrode.

Draco se aproximou confiante. Hermione até lançou um rápido sorriso nervoso para Emília, mas ela apenas estalou em silêncio a junta dos dedos. Entrementes, Dafne Greengrass foi empurrada contra sua vontade para cima de Lilá Brown, e Pansy foi colocada frente a frente com Parvati Patil.

– Onde está seu namorado, Parvati? - brincou Pansy, quando o professor se afastou. – Não estou vendo ele aqui.

A menina a ignorou com uma careta.

– Ah, lembrei. Ele já tem um duelo marcado. Com a vassoura.

A Sonserina novamente desatou a rir.

– Como eu vou gostar de arrancar esse seu sorrisinho da cara, Parkinson.

– Há há há!

Pansy riu, no fundo mais por nervosismo do que por qualquer outra coisa. A verdade é que estava um pouco assustada. Aquele era seu primeiro duelo bruxo, e Parvati parecia estar realmente disposta a consumar sua vingança.

Pansy olhou para a expressão assassina de Parvati, e por um segundo desejou não ter irritado tanto a menina. Nos últimos meses a havia provocado inúmeras vezes, mas era unicamente porque fazendo isto parecia ganhar muitos pontos com seus amigos. O fato é que ela não sentia nenhum prazer naquilo. Precisava reunir uma boa dose de ousadia para zombar das garotas da Grifinória, o que sempre fazia sua voz soar um tanto esganiçada nessas horas.

– De frente para seus parceiros! - mandou Lockhart, voltando para o palco – E façam uma reverência!

Pansy mal inclinou a cabeça. Parvati, no entanto, juntou as duas mãos abertas e dobrou o corpo numa solene saudação. Ela continuou mantendo as palmas das mãos juntas quando voltou, a varinha firme entre elas, o que Pansy achou muito esquisito.

– Preparar as varinhas! - gritou Lockhart, e Pansy sacou a sua do bolso. – Quando eu contar três, lancem seus feitiços para desarmar os oponentes. Apenas para desarmá-los, não queremos acidentes. Um.. dois.. três!

O salão virou um pandemônio. Nenhum dos estudantes pareceu ter dado ouvidos à instrução de Lockhart, e uma tempestade de encantos e azarações eclodiu no recinto. Pansy imediatamente lançou a sua, apontando a varinha para Parvati:

Estupefaça!

Um jorro de luz vermelha voou em direção à menina.

Lótus Protego! - gritou ela.

A pequena joia em sua testa emitiu um brilho rosa, e uma flor aquática branca brotou da ponta de sua varinha. O jorro escarlate de Pansy atravessou seu corpo como uma miragem, e atingiu em cheio as costas de Goyle no outro lado. Pansy levou a mão à boca. Parvati parecia estar usando algum tipo de magia exótica da Índia.

Samsaraballa! - gritou, dessa vez apontando a varinha para Pansy.

Pansy foi surpreendida de guarda baixa, e recebeu o feitiço. Na mesma hora o salão começou a girar, embora Pansy não saísse do lugar. A ilusão a impedia de ajustar a mira, e Pansy nocauteou três estudantes aleatórios com seus feitiços antes de cambalear tonta até uma menina e esborrachar com ela no chão.

– Parem! Parem! - berrou Lockhart em meio ao caos, mas Snape assumiu calmamente o controle:

Finite Incantatem!

Subitamente tudo cessou. O mundo de Pansy parou de girar, e o de todos à sua volta também. Dafne mordia o lábio com uma careta enquanto segurava o joelho no chão. Goyle jazia desmaiado a um lado, e Emília ainda estava cabeceando Hermione como uma cabra.

Pansy olhou para baixo, e viu que tinha derrubado sua adversária.

– Rá! Peguei você, Parvati!

– O que está fazendo? - perguntou uma segunda Parvati, se aproximando por trás.

Pansy olhou para aquilo espantada, virando o rosto de uma para outra.

– Que bruxaria é essa??

– Sua idiota. Essa é minha irmã gêmea, Padma!

Pansy corou. Tinha se esquecido que Parvati tinha uma gêmea na Corvinal.

Passada a confusão, os professores decidiram que apenas um par de alunos seria tomado como demonstração para o resto. Aparentemente escolheram os duelistas que mais haviam se destacado - não por acaso, Harry Potter e Draco Malfoy.

Quando os dois subiram no palco e fizeram uma leve reverência um para o outro, havia um silêncio de expectativa no ar, uma atmosfera tão densa que poderia ter sido cortada com uma faca. Lockhart deu o sinal, e então Draco sacou a varinha com a velocidade de um raio:

Serpensortia!

Houve um forte lampejo, e uma comprida serpente preta se materializou da ponta da varinha de Draco e caiu pesadamente entre os dois. Os alunos ofegaram recuando rapidamente. Potter porém não se mexeu, talvez por estar paralisado de medo. A serpente se ergueu e começou a sibilar ameaçadoramente para ele.

– Não se mexa, Potter. - disse Snape tranquilamente - Vou dar um fim nela.

– Permita-me. - interveio Lockhart, mas antes que pudesse selar a cobra ela escapou e se jogou no meio dos estudantes, provocando pânico e correria.

Então o fato mais surreal aconteceu.

Potter avançou em direção à serpente com o olhar vidrado, movendo a língua para fora e emitindo um chiado tão arranhado que parecia estar cortando a própria garganta por dentro. A cena fez Pansy gelar a espinha. A serpente imediatamente se deteve, olhando para ele, e demorou alguns segundos para Pansy notar que todos no salão estavam fazendo a mesma coisa. O silêncio dessa vez foi ainda mais longo e perturbador. Era quase mortal.

Finalmente Snape se desfez da serpente. Rony Weasley empurrou o amigo pelo ombro e o guiou para fora do salão, seguidos de perto por Hermione. Draco e Snape ainda olhavam para as costas de Potter com uma expressão profundamente intrigada, como se olhassem para um túmulo que se abriu.

 

***

 

– Ofidioglossia.

A resposta de Draco para a pergunta de Pansy foi tão estranha quanto a questão que a originou.

– O dom de falar com as cobras. - prosseguiu Draco, bastante sério. – Um talento bastante raro, mesmo entre os bruxos das trevas mais poderosos.

Pansy parou sua xícara de chá a meio caminho da boca.

Estavam à mesa da Sonserina para o desjejum, na manhã da véspera de Natal. O Salão Principal havia sido magnificamente decorado para a ocasião, com uma dúzia de grandes árvores adornadas com cristais de gelo e uma neve encantada que caía suavemente do teto. A decoração, no entanto, não estava sendo desfrutada por muita gente. O salão estava quase vazio.

Desde que um novo ataque ocorrera há poucos dias, todos os alunos correram para fazer as malas e passar o feriado com a família. Era comum Hogwarts ficar mais deserta nessa época do ano, mas agora estava mais desolada que o normal. Afinal de contas, quando um menino do segundo ano e até mesmo um fantasma são encontrados petrificados ao mesmo tempo, é porque algo de muito errado andava acontecendo entre as paredes daquele castelo. Algo (ou alguém) muito perigoso estava rondando à solta, e nem Dumbledore nem os professores pareciam saber o que era. Só por precaução, Pansy já havia adquirido secretamente um amuleto protetor com uma menina da Corvinal chamada Luna Lovegood.

– Você acha que pode ter sido ele, Draco? - perguntou Goyle, num sussurro rouco. – Acha que o responsável pelos ataques pode ter sido Harry Potter?

– Por favor, não seja ridículo. - retrucou Draco rispidamente. – Potter jamais poderia ser o Herdeiro de Slytherin. Ele nem mesmo é da Sonserina.

– Mas não dá pra negar que ele é bastante suspeito. - argumentou Crabbe. – Quer dizer, a forma como ele controlou aquela cobra.. e ele estava na cena do crime na primeira vez, lembra?

Draco se recostou na cadeira e girou a colherzinha na xícara por alguns instantes.

– Não.. Potter é apenas um moleque desesperado por atenção. Pessoas assim são capazes de tudo. Não seria problema algum matar um gato ou pixar algumas ameaças na parede. Quanto à ofidioglossia..

Ele bebeu um gole de sua xícara e afastou o resto.

– Ter um talento natural não significa que você saiba usá-lo. Alguns bruxos desperdiçam seu dom, seja por algum tipo de escrúpulo qualquer ou simplesmente por serem idiotas demais para aproveitá-lo. São como os pássaros que não voam.

Draco olhou em silêncio para as mesas vazias à sua volta, sem tocar na sua comida.

– Entretanto.. - sussurrou numa voz arrastada. - ..não posso negar que alguma coisa realmente está acontecendo em Hogwarts.

Ele ficou pensativo por uns minutos, e então se levantou.

– Preciso verificar uma coisa. Crabbe, Goyle, venham comigo.

Os meninos obedeceram contrariados. Ainda não haviam terminado de comer seus pudins e bolinhos de chocolate regados a vinho. Quando se foram deixaram Pansy sozinha à mesa, perdida em pensamentos. Não tentara ir atrás de Draco: quando ele especificava quem devia acompanha-lo, eram apenas estes que podiam. Outras vezes ainda ele preferia sair sozinho, e Pansy respeitava sua vontade.

Ela terminou de tomar seu chá, e depositou a xícara no pires. Então deixou seu olhar vagar sem rumo à sua volta. Não havia sobrado mais ninguém da sua Casa em Hogwarts. Então ela viu alguém que a fez parar na mesma hora. Uma sensação morna percorreu seu peito, e ela se levantou com um sorriso. Fazia tempo que queria falar com aquela pessoa. Ela afastou uma mecha de cabelo do rosto, e se aproximou timidamente da mesa dos professores.

– Prof.ª Grubbly-Plank?

Uma senhora de cabelos curtos e brancos virou-se para ela da ponta da mesa em que se achava sentada. Tinha um rosto afável e fumava um longo cachimbo de cerejeira.

– Sim, querida?

– Meu nome é Pansy Parkinson. Sou uma aluna do segundo ano. Ouvi falar muito da senhora.. é a professora de Trato das Criaturas Mágicas, não é?

– Está certíssima. Estou a cargo dessa matéria, ao menos até o quarto ano. Por favor, sente-se. Lugar é o que não falta. - sorriu a velhinha.

– Não, obrigada.. - recusou Pansy sem jeito.

Ela hesitou um segundo. Parecia estar tentando reencontrar as palavras que havia acabado de juntar na mente.

– Eu só.. queria dizer que estou muito ansiosa para começar a ter aulas com a senhora ano que vem.

A professora olhou para ela invadida por uma onda de ternura.

– Ora.. muito obrigada, meu bem. Fico lisonjeada. Pode ter certeza que farei o possível para corresponder à altura.

Pansy se afastou com um sorriso. Poucas coisas eram tão gratificantes quanto conhecer o seu ídolo, e Pansy achou que aquele bem poderia ser seu primeiro presente de Natal.

 

 

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