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História A Encantadora de Dragões - A História de Pansy Parkinson - O Livro dos Monstros


Escrita por: RLSarzenski

Capítulo 9 - O Livro dos Monstros


Fanfic / Fanfiction A Encantadora de Dragões - A História de Pansy Parkinson - O Livro dos Monstros

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Pansy nunca achou que fosse lançar seu gato contra uma parede de tijolos, mas era exatamente isso que tinha acabado de fazer.

Devem achar que sou louca. - riu Pansy, caminhando despreocupada em direção à Meia-Noite em meio a olhares perplexos. Ela se aproximou da parede de tijolos e a atravessou como se fosse um fantasma. Do outro lado avistou seu gatinho, encarapitado em cima da sua mala num carrinho de bagagem. Parecia um pouco zangado com a súbita corrida brusca. Pansy o afagou como se pedisse desculpas.

– Ah, não me olha assim. Prometo que não faço de novo.

Atrás dela surgiram Tracey Davis e Emília Bulstrode, cada uma com seu carrinho.

– Miga, sua louca! - exclamou Tracey, embora também estivesse rindo – Sabe que não deve chamar a atenção dos trouxas.

– Tá tudo bem, eles nunca reparam mesmo. - respondeu, ainda afagando seu gato – É por isso que se chamam “trouxas”, não é Meia-Noite?

De fato, Pansy não parecia estar minimamente preocupada em ser discreta. Com suas meias listradas e seu chapéu cônico de bruxo, ela empurrou sua mala e seu gato preto pela ensolarada plataforma 9 ½, abrindo caminho em meio à multidão agitada. Ela logo divisou o restante de seus colegas, parados em frente a um vagão vermelho do Expresso de Hogwarts. Pansy acenou e sorriu para eles.

Quando se aproximaram, Pansy quase não acreditou que os dois grandalhões ao lado de Draco eram Crabbe e Goyle. Pareciam ter envelhecido uns dois anos nas férias, embora tivessem apenas treze como todos ali. Dafne também estava mais radiante que nunca, e segurava a mão de uma garotinha ao lado.

– Deixa eu apresentar a mais nova estrela da Sonserina esse ano. - anunciou, orgulhosa – Essa é a minha irmãzinha, Astória.

E empurrou a garotinha de cabelos escorridos e rosto assustado para o grupo. Na mesma hora Emília correu para apertá-la.

– Aiiin, que gracinha!

– Ei, não é uma boneca! - saltitou Dafne em volta, aflita.

Pansy riu sentindo-se grata por Emília ter conseguido uma nova vítima. Seu gato quase não ficava mais na Sala Comunal tamanho era o assédio.

A locomotiva apitou, e todos logo subiram para se acomodar num vagão especial sem cabines. E enquanto o Expresso fumegava pelos campos, eles contavam histórias divertidas sobre suas férias e colocavam em dia as novidades. Crabbe e Goyle se envolveram numa competição de desafios para ver quem comia o sabor mais nojento de Feijõezinhos-de-Todos-os-Sabores (Crabbe venceu por voto unânime com “sovaco de trasgo”). Draco observava com calma a paisagem pela janela e Astória não parava de olhar abobalhada para ele. Sentada ao lado de Pansy, Tracey folheava ansiosa a última edição do tabloide sensacionalista O Pasquim.

– Céus, não acredito que você lê esse lixo, Tracey. - queixou-se Dafne para ela.

– Só quero saber se saiu alguma notícia sobre o Prof. Gilderoy. - defendeu-se a menina. – Não consigo entender por que ele abandonou Hogwarts..

Após algum tempo, porém, ela jogou a revista na mesa de centro com cara de choro. Pansy a aninhou com um braço e tombou a cabeça na amiga, que a olhou agradecida.

– Ao menos ele salvou a escola dos ataques, depois que achou a Câmara Secreta. - lembrou Tracey com um sorriso triste.

Do outro lado do acento, Draco deu um tipo diferente de sorriso.

           

A viagem prosseguiu tranquilamente a bordo do Expresso de Hogwarts. Houve apenas um pequeno incidente que perturbou a animada reunião da Sonserina, pouco antes de chegarem a Hogwarts. Já era noite e chovia quando as luzes do trem apagaram e ele parou para ser revistado por dementadores de Azkaban. Aparentemente um prisioneiro havia fugido, e seus guardas - seres fúnebres de capuz negro e pele apodrecida - assustaram as meninas (principalmente Astória). Foi uma experiência um tanto desagradável. Mas Pansy e seus colegas riram muito quando ficaram sabendo que Potter havia literalmente desmaiado de pavor.

À altura que todos finalmente iniciaram o banquete de abertura no Salão Principal, já estavam se sentindo bem melhor. A cerimônia de Seleção transcorrera harmoniosamente. Dafne abraçou sua irmãzinha quase tão forte quanto Emília quando ela foi enviada para a mesma mesa que eles. Potter chegou atrasado minutos mais tarde, voltando da enfermaria. Obviamente eles não perderam a chance de brincar com o ocorrido. Quando o menino passou pela mesa deles, todos os alunos da Sonserina começaram a tombar seu corpo das cadeiras à medida que ele ia passando, como um efeito dominó. A gargalhada no Salão foi geral.

Pansy não podia estar se sentindo melhor. Estava prestes a iniciar seu terceiro ano letivo em Hogwarts, e aquele ano tinha tudo para ser o melhor de todos. Até porque - ela pensou, regando seu prato com uma generosa porção de molho - finalmente começaria a ter aulas de Trato das Criaturas Mágicas com a professora Grubbly-Plank. Assim como o trem que a trouxe até ali, Pansy sentiu que ultimamente o tempo era uma força que a conduzia apenas para frente.. para as alturas.

– Sejam bem vindos! - anunciou Dumbledore, erguendo-se de sua cadeira – Tenho algumas coisas a dizer a todos.

O diretor começou a falar, mas Pansy não prestou muita atenção. Estava ocupada demais abocanhando uma perna de pato. Era qualquer coisa a respeito de dementadores e o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Mas quando Dumbledore falou em um novo professor de Trato das Criaturas Mágicas, ela imediatamente parou:

– Tenho o prazer de informar que o cargo será preenchido por ninguém menos que Rúbeo Hagrid.

As outras mesas aplaudiram.

Pansy cuspiu seu suco de abóbora na cara de Goyle.

 

***

 

– Eu não acredito! - guinchou Pansy para as amigas, na manhã seguinte naquela mesma mesa – O que aconteceu com a Prof.ª Grubbly-Plank?

– Provavelmente foi promovida a professora-sênior de Trato das Criaturas Mágicas - ponderou Tracey, enquanto todos recebiam seus novos horários no café da manhã. – Com a aposentadoria do Prof. Kettleburn, é natural que ela seja a próxima na linha de sucessão. Agora ela vai dar aulas para as turmas dos últimos anos, enquanto as iniciantes vão ficar com esse novo..

Nesse momento o gigantesco guarda-caças da escola passou por elas, dirigindo-se à sua mesa nos fundos. Usava um casaco puído de pele de toupeira, e trazia na mão um gambá morto e malcheiroso que sem perceber roçou no cabelo de Dafne.

– ...professor. - se apressou a finalizar Tracey, antes que Dafne pudesse usar outra palavra.

Enquanto a menina loira corria para o banheiro, Pansy olhou empaspalhada para as costas do troglodita que tinha acabado de passar. Lembrava-se dele como o guia de sua chegada a Hogwarts, na ocasião da travessia do Lago Negro com os barquinhos, e a primeira impressão que tivera foi de que definitivamente era alguém assustador. Com sua cabeleira vasta e sua barba desgrenhada, Pansy não podia imaginar como alguém tão selvagem poderia ser agraciado com um respeitável cargo acadêmico.

Embora agora tudo fizesse sentido, pensou.

Quando Pansy recebeu na sua janela a lista de material do correio-coruja, ela estranhou o título destinado à Magizoologia: O Livro Monstruoso dos Monstros.

E como fica Newt Scamander? - ela se perguntou. Pelo que soubera todos os anos Hogwarts renovava Animais Fantásticos e Onde Habitam. Era um referencial clássico na área, sem falar que era o único livro que Pansy não precisaria comprar. Ela ficou arrasada: estava ansiosa para aprender mais coisas com seu velho amigo em sala de aula. Mas se ela estava arrasada naquele instante, dali a alguns dias ficou quase despedaçada.

Ao entrar na livraria do Beco Diagonal, Pansy teve um mau pressentimento sobre aquela gaiola na vitrine. Alguns livros de couro verde muito mal-educados devoravam-se uns aos outros, enquanto páginas arrancadas farfalhavam em volta. O vendedor da Floreios & Borrões checou a lista de Pansy com um suspiro, e para seu desespero ele foi até a gaiola buscar um exemplar. Ao menos ele estava munido com uma vara e uma luva grossa, mas Pansy estava desarmada - e quando recebeu seu livro ele arreganhou os dentes e a derrubou no chão. Foi o minuto mais pavoroso da vida de Pansy. Por alguns breves segundos ela teve certeza que estava sendo atacada por um urso. Quando finalmente conseguiu se desvencilhar do livro e correr para fora, o monstro a seguiu. Ela correu metade da extensão do Beco Diagonal com as vestes rasgadas, gritando para abrir caminho no meio da multidão enquanto o livro a perseguia. Por fim ela foi se refugiar na Artigos de Qualidade Para Quadribol, onde pegou o primeiro bastão de batedor que viu e o usou para nocautear o livro com sete golpes (no sexto ele já estava inerte, mas ela bateu uma vez mais só pra garantir). Naturalmente, ela precisou pagar pelo bastão.

Mas que diabos a Prof.ª Grubbly-Plank está pensando?

Pansy tentava compreender o enigma enquanto caminhava descabelada pelo Beco, com um bastão semi-novo numa mão e uma correia na outra (ela também aproveitou e comprou a peça para imobilizar seu livro). O que levaria uma grande professora a escolher uma coisa daquelas como obra didática?

Somente agora ela entendia o mistério. O livro não havia sido escolhido por um professor. Professor algum em sã consciência faria aquilo. Aquilo era obra de um bárbaro, um farsante com um certo pendor pelo grotesco.

A matéria favorita de Pansy estava arruinada, antes mesmo de começar.

 

Foi com esse pensamento fatalista em mente que Pansy atravessou os jardins com seus colegas naquela tarde, rumo à primeira aula de Trato das Criaturas Mágicas. Estava um dia ameno e pálido, e a chuva da noite anterior ainda resplandecia no gramado úmido enquanto caminhavam rumo a uma pequena cabana de pedras na orla da Floresta Proibida. Lá já os aguardava Hagrid, parado em frente à porta com um imenso cão de caça nos calcanhares. Assim que chegaram Goyle franziu o cenho:

– É esse cachorro aí que nós vamos estudar?

– Não seja tolo, Goyle. - respondeu Draco em voz calma – É óbvio que esse aí é o professor. Não, espere..

Todos ao seu redor riram. Hagrid pareceu não ter ouvido o comentário de Draco, e interpretou o bom humor dos alunos como expectativa positiva pela aula. Nesse momento chegaram os estudantes da Grifinória, com quem mais uma vez dividiriam a disciplina. Essa matéria está se tornando um pesadelo cada vez pior - pensou Pansy.

Assim que todos se reuniram, Hagrid os guiou pela orla da floresta. Eles marcharam em silêncio, contornando as árvores até chegarem numa clareira sombreada por grandes pinheiros. A clareira se achava vazia: era inundada apenas por fachos de sol, que pintavam a relva com manchas de luz num padrão semelhante ao de um dálmata.

– Todos se agrupem em volta dessa cerca! - bradou o gigante – Agora, a primeira coisa que vão precisar fazer é abrir os livros..

– Como? - perguntou Draco numa voz fria e arrastada.

– Que foi?

– Como é que vamos abrir os livros? - repetiu o menino, tirando da mochila o seu exemplar de O Livro Monstruoso dos Monstros amarrado com um pedaço de corda. Os outros alunos fizeram o mesmo, e Pansy viu que todos estavam imobilizados com cintos ou bolsas.

– Será que ninguém conseguiu abrir o livro? - perguntou o homem parecendo indignado – Vocês tem que fazer carinho neles!

Ele disse aquilo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. E arrancando bruscamente um exemplar da mão de Hermione, rasgou a fita adesiva que o prendia e passou seu gigantesco dedo pela lombada. O livro estremeceu e se abriu, permanecendo quieto em sua mão.

– Ah, mas que tolice a nossa. - disse Draco para seus colegas com um sorriso – Devíamos ter feito carinho no livro.. como foi que não adivinhamos?

Pansy e sua turma novamente desataram a rir. Hagrid devolveu o livro para Hermione, comentando que tinha mesmo achado que seus livros fossem engraçados.

– Ah, engraçadíssimos. - ironizou Draco, mas dessa vez não estava sorrindo – Uma ideia realmente espirituosa, nos dar livros que tentam arrancar nossa mão.

Hagrid pareceu não entender. Ele ignorou o menino e se retirou para buscar as criaturas mágicas no fundo do bosque.

– Nossa. Essa escola está indo para a lama. - comentou Draco, sem se incomodar em manter a voz baixa – Esse palhaço dando aulas..

– Cala a boca, Draco! - se intrometeu Potter.

– Cuidado, Potter, tem um dementador atrás de você.

Nesse momento as árvores no outro lado da clareira farfalharam, e uma menina da Grifinória gritou. Pansy prendeu o fôlego quando viu as criaturas que emergiram dali.

Por volta de uma dezena de hipogrifos trotavam ameaçadoramente na direção deles. Pansy os reconheceu assim que os viu. Eram idênticos à ilustração de seu livro: a metade traseira cavalo e a metade dianteira águia, embora vistos de perto fossem certamente muito mais assustadores. Eles vinham presos por grossas coleiras de couro, cujas correntes Hagrid segurava em suas robustas mãos. Apesar disso ele parecia estar encontrando dificuldade para controlar os animais, e quando eles se aproximaram da cerca todos os alunos recuaram instintivamente.

– Hipogrifos! - trovejou Hagrid, alegremente – Lindos, não acham?

Pansy avançou devagar em direção à cerca e colocou uma mão sobre ela. Pela primeira vez tinha algo a concordar com o brutamontes: ela estava boquiaberta. As imponentes criaturas balançavam as cabeças e flexionavam suas asas majestosas. Os hipogrifos eram de muitas cores: castanho brilhante, bronze, cinza-chuva, negro. Um em especial chamou a sua atenção: era um belíssimo espécime branco-perolado.

– Agora, a primeira coisa que vocês precisam saber sobre os hipogrifos é que são orgulhosos - explicou Hagrid. – Se ofendem com facilidade. Nunca insultem um bicho desses, porque pode ser a última coisa que vão fazer na vida.

Nesse momento Pansy olhou de relance e percebeu que Draco, Crabbe e Goyle cochichavam alguma coisa entre eles, o que a deixou curiosa.

– Vocês sempre esperam o hipogrifo fazer o primeiro movimento. - continuou Hagrid – É uma questão de cortesia, entendem? Vocês vão até eles, fazem uma reverência e aí esperam. Se o bicho retribuir o cumprimento, vocês podem tocar nele. Se não retribuir, saiam de perto bem depressinha, porque essas garras machucam feio. Certo, quem quer ser o primeiro?

A maioria dos alunos recuou mais um pouco.

Assim como Hagrid, Pansy olhou para eles esperando. Ninguém parecia disposto a ir. Então ela olhou de volta para o hipogrifo claro, e sentiu a adrenalina correr em sua veia.

Por que não? - pensou ela. - Imagina a cara das minhas amigas. Imagina a cara de Draco..

Ela começou a levantar a mão.

– Eu vou. - disse Potter.

– É assim que se faz, Harry! - urrou Hagrid.

Pansy observou o menino trepar a cerca e ser conduzido até o hipogrifo cinzento. No momento em que ele curvou a cabeça para a criatura, ela desejou sinceramente que o hipogrifo estivesse com fome. Mas infelizmente para Pansy o hipogrifo decidiu não abrir e comer a cabeça dele, e passado um longo tempo de reflexão, ele finalmente retribuiu o cumprimento.

– Certo então Harry - falou Hagrid, enquanto o menino acariciava o bico metálico do animal – Acho que ele até deixaria você montar nele!

E antes que ele pudesse dizer se estava de acordo, o gigante o agarrou e o içou para cima do hipogrifo. Em seguida deu uma palmada nas ancas da criatura e ela se ergueu sobre os cascos, provocando uma expressão de pânico hilária no menino. Ele se segurou desajeitado quando o hipogrifo alçou voo, batendo as grandes asas e lançando uma ventania contra Pansy. O berro de desespero de Potter foi como uma música para os ouvidos de Pansy. Ela riu com seus colegas enquanto assistia ele ser sacudido acima das árvores numa volta vertiginosa. Finalmente eles pousaram no meio da clareira, e Hagrid o elogiou enquanto ele escorregava para o piso e endireitava os óculos sob os aplausos da Grifinória.

– Muito bem, quem mais quer experimentar?

Dessa vez Pansy não hesitou. Encorajados pela iniciativa dela e de Potter, os outros alunos também subiram com cuidado a cerca, aproximando-se dos hipogrifos. Pansy logo escolheu aquele que mais lhe havia atraído.

– Vejo que gostou da Pandora. - riu o gigante, soltando a coleira – Excelente escolha! Mas devo avisar que é um pouco difícil, essa daqui.

– Tem certeza disso, Pansy? - perguntou Tracey insegura, quando Hagrid se afastou.

Pansy olhou para trás. Dafne mantinha dois metros de distância. Logo atrás dela Crabbe e Goyle escoltavam Draco enquanto ele fazia uma bela reverência para o mesmo hipogrifo cinzento que carregou Potter. O animal retribuiu imediatamente o cumprimento, dobrando os escamosos joelhos dianteiros. Draco se ergueu com um sorriso.

– Tenho. - respondeu Pansy, concentrando-se em sua própria hipogrifo.

Ela era ainda mais linda vista de perto. Sua pelagem era luzidia sob os raios de sol, e mudava suavemente da pena para o pelo. Somente suas garras transpareciam uma ameaça real: eram quinze centímetros de aço afiado, capazes de rasgar troncos como se fossem manteiga. Pansy engoliu em seco, e olhou para a cabeça altiva acima dela.

– Então.. Pandora, não é?

A criatura fixou nela um olho azul-turquesa, perfeitamente redondo.

– Muito prazer. Me chamo Pansy.

Ela sorriu timidamente, levantando a saia com os dedos e dobrando os joelhos com um pé atrás do outro. Apesar do nervosismo, em nenhum momento ela desviou o olhar. A hipogrifo não se mexeu: apenas continuou encarando-a com aquele grande olho intenso. Então inesperadamente abriu as asas com uma sonora lufada de vento, revelando uma envergadura de quase cinco metros.

– Pansy.. – chamou Tracey num sussurro urgente – Saia já daí!

A menina porém não se mexeu. Estava com medo, mas acima de tudo estava maravilhada. A criatura diante de si exalava uma aura incrível. Suas poderosas asas estendidas refletiam os raios de sol com um brilho ofuscante, e Pansy pôde ver que as penas nas pontas tinham uma suave coloração rosada. Seus olhos no entanto permaneciam implacáveis, e quando a hipogrifo moveu-se com passos decisivos na direção dela, Pansy preparou-se para ser destripada.

Em vez disso, porém, Pandora se inclinou e se prostrou vagarosamente aos seus pés.

– Eu não acredito.. - sussurrou Dafne.

Pansy tampouco acreditou. No entanto lá estava a enorme criatura, prostrada, docilmente aguardando o toque de sua mão. Pansy sorriu consigo mesma. Aquela aula estava se revelando uma experiência magnífica. Talvez tivera uma impressão equivocada daquele professor, afinal. Ela estendeu a mão para acariciar a penugem alva e sedosa de Pandora. Quando seus dedos estavam a centímetros de sua cabeça, porém, um grito horrível se ouviu.

Pansy se virou e viu Draco Malfoy estirado na relva, com sangue aflorando em suas vestes. Hagrid pelejava para colocar a coleira no hipogrifo cinzento, que se debatia tentando avançar no menino. A turma entrou em pânico, e várias meninas começaram a gritar. Pansy ficou pálida. Sentia seu corpo enrijecer.

– Ele está morrendo! - ela pensou ter ouvido alguém gritar.

– Alguém me ajude! - berrou o gigante, alçando Draco nos braços – Preciso tirar ele daqui!

Hermione correu para abrir o portão e Hagrid seguiu apressado pelo caminho de volta, o restante da turma seguindo-o de perto. Pansy viu a trilha com gotas de sangue que havia se espalhado na relva, e nesse instante ela finalmente recuperou o controle das pernas. Ela disparou com todas as forças encosta acima, cruzando o gramado em direção ao castelo. Enquanto seguia o rastro de sangue, ela percebeu pelo vento anormalmente gélido em seus olhos que estava chorando.

Ela alcançou o restante da turma nas escadas de pedra que davam para a porta de entrada do castelo.

– Deviam despedir ele, imediatamente! - berrou Pansy para seus colegas, assim que se aproximou.

– Foi culpa do Draco. - replicou cheio de arrogância um menino da Grifinória chamado Dino Thomas.

Ela teria esbofeteado ele com toda sua fúria se não estivesse desesperada demais com outra prioridade.

– Vou ver se ele está bem!

E dizendo isto subiu correndo as escadarias de mármore do saguão de entrada. Ela seguiu as gotas de sangue e dobrou à esquerda no topo, seguindo por um longo corredor de muitas janelas até chegar à ala hospitalar no final. No momento em que ela avistou Draco sendo cuidadosamente colocado num leito, porém, a porta foi fechada na sua frente. E por mais que batesse nela aos prantos, não lhe permitiram entrar.

 

***

 

Pansy aguardava do lado de fora da ala hospitalar, paciente e vigilante como uma sentinela.

Ela não sabia dizer quanto tempo já havia se passado. Foi o bastante para seus colegas aparecerem e a consolarem, dando meia-volta e prometendo voltar mais tarde. Foi o bastante para ela se cansar e sentar no chão ao lado da porta, as costas apoiadas contra a parede. E foi o bastante para Hagrid sair e ver ela ali sentada, provocando nele um visível desconforto (talvez pelo olhar ferido de raiva que Pansy lhe lançou).

Quando por fim Madame Pomfrey abriu a porta e deixou ela entrar, Pansy se atirou para dentro quase empurrando a enfermeira.

– Draco! Você está bem??

O menino se achava pálido e deitado num leito, apoiado num travesseiro. Parecia muito fraco, e seu braço direito estava completamente enfaixado.

– Pansy.. é você? - perguntou numa voz rouca, estreitando os olhos para enxerga-la.

– Vou deixá-los a sós. - disse Madame Pomfrey num tom cansado, dando as costas para eles.

Assim que ela se retirou para uma salinha contígua, Draco se empertigou no travesseiro e pegou um pirulito da mesa de cabeceira, rasgando a embalagem plástica com os dentes. Subitamente parecia muito bem disposto.

– Finalmente, ela saiu. - disse com a boca cheia. – Já estava me sentindo como um morto no velório. Pirulito de sangue?

Draco ofereceu os doces em forma de coração na mesa, tingidos de vermelho translúcido. Mas Pansy conseguia apenas olhar estupefata para ele.

– Não se preocupe. - riu Draco, vendo sua expressão – Não são feitos de sangue de verdade. Pelo menos eu acho.. de qualquer forma, ajuda a repor a perda. E não são nada maus também.

– Eu.. achei que tivesse..

– O que? Morrido?

Ele sorriu com o pirulito de sangue entre os dentes, parecendo se divertir muito com a ideia.

– É preciso mais do que uma galinha gigante pra me matar, Pansy. Sei me defender muito bem. Ela apenas conseguiu arranhar meu braço.

– Mas então.. o que aconteceu? Por que o hipogrifo te atacou?

– Vai saber. - respondeu numa voz arrastada – Esses animais devem ter tido um péssimo criador. Eu estava tratando o meu com a máxima delicadeza, todos viram. Mas quando um cão é criado de forma agressiva, ele também fica agressivo. Vai morder qualquer mão que tentar acaricia-lo, de forma abrupta e sem nenhum aviso.

– Eu devia ter imaginado. - disse Pansy em voz baixa, lembrando-se do livro de Hagrid – O que mais se podia esperar? Animais tão perigosos sob os cuidados de um selvagem daqueles..

Ela olhou para o braço enfaixado de Draco, e sentiu os olhos lacrimejarem.

– Ainda bem que nada pior aconteceu..

– Tem razão. - respondeu Draco – Mas poderia ter acontecido.

Ele tirou o pirulito da boca e de repente a encarou muito sério, curvando o rosto até ficar bem próximo a Pansy. Ela sentiu o aroma caramelizado dos lábios rubros de Draco.

– Precisamos fazer alguma coisa, Pansy. Não podemos permitir que esse selvagem continue colocando a vida dos alunos em risco. Hoje eu me safei ferindo apenas um braço, mas o próximo pode não ter a mesma sorte. E pode ser qualquer um de nós. Você, Emília, ou a Tracey..

Pansy sentia o coração disparar como se estivesse sendo pressionado pela ponta de uma faca.

– O.. o que você sugere? - balbuciou.

– Vamos tirar o máximo proveito desse acidente. Transformá-lo numa tragédia, fazer o meu ferimento valer por todos os outros que irá evitar. Só assim a escola vai perceber o erro que cometeu e vão afastar o amante de monstros. Você quer a professora Grubbly-Plank de volta, não quer?

– Quero..

– Então. Está comigo, Pansy?

Ela sorriu ao ouvir aquilo. Nunca achou que fosse encontrar uma pergunta tão fácil de responder.

– Estou.

Draco também sorriu ao ouvir a resposta de Pansy. O mesmo sorriso de cumplicidade secreta que sempre arrancava o seu ar, mas dessa vez adornado com um pirulito de sangue.

 

 

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