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História A Era Mais Escura - O Louco do Monte Atlas


Escrita por: MarleyMAlves

Notas do Autor


PS (14/03/18): Este capítulo assim como alguns dos seguintes estão sendo reeditados (Estou tentando condensar alguns parágrafos curtos demais e descrever com mais complexidade algumas ações e cenários) ao poucos, afinal são mais antigos que os demais e minha escrita progrediu bastante ao longo de dois anos (bom, gosto de pensar que sim!).

Capítulo 2 - O Louco do Monte Atlas


Fanfic / Fanfiction A Era Mais Escura - O Louco do Monte Atlas

Tein’ev mureti ell i”. Dizia o coro celeste para o mundo, mas nem uma pessoa os ouvia, ou mesmo entendia sua linguagem, não importava o quanto se esforçassem, o quanto suplicassem para que os notassem.

            “Aburt ti’e sutfrac mulligis... Iluaceas Susba”. Avisavam, no entanto ninguém parecia ouvir; porém, quando estavam prestes a desistir, alguém atendeu seu apelo, uma voz vinda do fim do mundo, do Monte Atlas, um lugar gélido onde nem uma alma se quer ousava a pisar. Nem uma a não ser um velho ermitão que fez do pico de um penhasco sua morada, construindo ali uma grande e muito resistente torre de pedras.

            - Hm...? – Questionou ele enquanto dormia um sono profundo, debruçado sobre sua mesa de estudos. Uma tempestade e neve urrava pela montanha naquela noite, assim como em todas as noites desde que vivera ali, desde que se isolara do resto do mundo.

            “Tan’eper em aut, et ad”. Suplicaram em uníssono, muitos e apenas um; pediam ajuda, não apenas para si próprios, mas por toda a vida e também pela vida além desta. Sua súplica viajou pelos violentos flocos de neve até alcançarem mais uma vez os ouvidos do mago.

            - Quem...? – Perguntou de volta ainda adormecido, e não demorou para a resposta chegar, como uma rajada fria e agressora do infindável inverno que reinava naquele deserto branco.

            “mugam tse murbe’cér!” Gritavam em desespero, como se estivessem agonizando somente por mencionar tal nome, e talvez estivessem.

            - Não... não... – Negou, agora também sentia seu ouvido latejar apenas por aquela menção antiga e proibida. – Não pode ser.

            “tse susre’ver Eira’vlac...

            - Não...! – Falou em aflição ao mesmo tempo que tentava desesperadamente acordar, mas não permitiam, o seguravam em agonia e imploravam por auxilio.

Eira’vlac!”.

            - Não! – Exclamou ao finalmente abrir os olhos ao mesmo tempo em que deu um salto na poltrona, fazendo doer seus fundos.

Daluin olhou em volta, a cabeça girando como se tivesse sido atingido por uma pedra; levou as duas mãos aos longos e embaraçados cabelos brancos e segurou a cabeça firmemente numa tentativa de fazer o mal-estar passar. O que acabou demorando mais do que esperava; a sua frente se encontravam inúmeros pergaminhos os quais estudava a mais de dias sem descanso, todos estes, escritos na língua dos antigos deuses, todos metafóricos e misteriosos como todo deus infelizmente gostava de ser. Malditos fossem!

            O ancião espreguiçou-se, acariciou a longa barba alva, e com pequenos pulinhos se ajeitou de volta em uma posição confortável que descobrira mês passado, desde então aposentara sua cama e passou a adotar aquele como seu lugar de descanso. Preparava-se para voltar para sua soneca quando, como um relâmpago, o sonho voltou à sua mente, claro como a neve que cobria tudo noite afora.

            - Impossível! – Exclamou ao pular da poltrona e correr até a grande estante de pergaminhos as costas da grande mesa.

            Passou a mão pelos livros, pergaminhos e tomos que jaziam ali, todos dispostos na organizada desordem de sua mente; não demorou nada para que finalmente achasse o que procurava, um gigante livro com capa dura e bordas de metal. Era o dialeto dos velhos deuses, o único exemplar existente para o complexo e incompreensível vocabulário dos ascendidos, o qual estudara por toda a sua vida e hoje conhecia completamente; no entanto não conseguia acreditar no que havia ouvido daquelas entidades que em desespero sussurraram, gritaram e urraram aquelas palavras aos ventos uivantes da montanha.

            Assim que jogou o imenso livro sobre sua mesa e abriu suas velhas páginas escritas a mão, começou a procurar significado nas palavras ditas pelo coro de vozes celestiais. No entanto para a infelicidade do mundo inteiro e dele mesmo, aparentemente havia entendido tudo claramente.

            - Malditos! – Berrou ao correr até grossa e pesada janela de madeira, escancarando-a, assim deixando a tempestade adentrar o recinto e fazer todos os pergaminhos abertos sobre a mesa levantar voo. – Vocês me ignoraram todos esses anos, e agora vem pedir minha ajuda?! – Gritava com indignação para o céu escuro e cheio de estrelas.

            Em seguida o mago voltou até a mesa e dela pegou o precioso livro, levantando-o até acima de sua cabeça; e com um movimento o arremessou pela janela ao continuar a vociferar:

            - Para o inferno com suas entrelinhas! Essa desgraça de mundo já esta acabado mesmo, não tem salvação, é melhor que termine agora de uma vez! – Exclamava enquanto andava de um lado para o outro levantando os braços ao ar.

            Quando finalmente parou no meio do pequeno quarto, percebeu que a tontura havia voltado, mas desta vez torcia para que fosse um infarto que se aproximava para leva-lo para o além-mundo de uma vez por todas.

            - Deuses ridículos, a vida era tão mais divertida quando ninguém sabia se vocês existiam ou não. – Constatou o ancião, ao cruzar os braços a altura do peito e bater no chão freneticamente com seu sapato pontudo.

            Ficou ali por alguns segundos, apenas olhando para os pergaminhos que haviam sidos jogados ao chão, alguns falavam sobre seres imensos e magníficos, outros descreviam feitiços que te permitiriam segurar a alma de alguém na palma na mão; mas o que estava logo a sua frente especulava outra coisa, o retorno do conquistador, a grande praga vinda de outro mundo; um momento que a história resolveu esquecer para sempre, e como qualquer história esquecida, esta também se tornou uma lenda, um mito disseminado apenas pela língua de loucos, não importava o quanto estes “loucos” eram sábios e experientes, quantas batalhas haviam visto e lutado ou quantas perdas tiveram de suportar, não passavam de malucos presos a tempos antigos e negros.

            - Seus desgraçados... não acredito. – Disse pôr fim ao disparar rumo a porta de seu quarto ao mesmo tempo que pegava sua bolsa de pano e passava sua alça por cima da cabeça.

            Quando escancarou a adornada e magnifica porta de madeira de seu quarto, o qual era localizado no topo da torre, olhou escada abaixo, para o lugar onde dormia tranquilamente seu aprendiz, um jovem de quinze anos que o obrigaram a aceitar como discípulo e ajudante; o menino na verdade não tinha aptidão alguma para a arte da magia e era muito mais como uma pedra no sapato do que de alguma ajuda.

            - Otho! Acorda, imprestável! – Exclamou ao correr escada abaixo, às vezes pulando dois degraus por vez, enquanto segurava suas longas vestes para não tropeçar nos próprios pés.

            Quando por fim chegou ao andar de baixo, onde o garoto ainda roncava tranquilamente em uma cama deveras confortável, coçou os olhos em decepção e então novamente chamou:

            - Acorda menino estúpido!

             O jovem virou-se na cama ficando de costas para o mestre, este que então voltou a cruzar os braços e bater o sapato no chão repetidamente em desaprovação; logo em seguida o eremita avançou na direção da cama e com um empurrão jogou o garoto ao chão.

            Quando Otho atingiu as pedras frias, Daluin já pegava as poucas roupas do aprendiz de dentro de seu guarda-roupas e as enfiava de qualquer modo dentro do primeiro objeto que pudesse desempenhar o serviço, que no caso era uma mochila roxa ridiculamente decorada com flores de pano.

            - Pelos deuses! – Exclamou o menino confuso ao colocar a mão na cabeça latejante pelo impacto.

            - Por quem mais poderia ser?! – Vociferou ao arremessar a bolsa já pronta na cabeça jovem. – De pé, de pé! Vamos, vamos, estamos perdendo tempo precioso!

            O eremita agora já voltava a descer as escadas de madeira em espiral da grande torre, quando olhou para baixo e constatou que levariam séculos para que chegassem a base da construção.

            - Mestre, essa bolsa era da minha vó! – Percebeu o aluno com indignação.

            - Ao menos ela tinha bom gosto! – Gritou das escadas abaixo. – Otho, por acaso você se lembra qual era o encanto para aterrisagem que aquele mago esquisitão formulou? – Perguntou, ainda encarando a grande distância entre si e o chão abaixo.

            - Acho que era algo como Pondus pinna, mas não tenho certeza mestre, por que? – Retrucou o garoto ao calçar os sapatos.

            Afastando-se do corrimão o mago estralou os ossos das mãos e depois a coluna ao se alongar, e por fim respondeu:

            - Só queria testar seus conhecimentos meu jovem, te vejo lá embaixo! – Exclamou ao pular das escadas para o espaço vazio abaixo.

            A queda era longa e o impacto seria rápido e talvez muito doloroso, mas Daluin estava confiante que conseguiria fazer o feitiço, levando em consideração que este era puramente teórico e nunca havia sido testado antes por questões obvias.

            O piso se aproximava rápido e o eremita estava pronto para ele, esticou os braços na direção do chão e abriu os longos e magros dedos o máximo que podia, e por fim, quando sentiu a magia salpicar em suas pontas, conjurou:

            - Pondus Pinna!

            Sentiu um pulso passar por todo o seu corpo, e de imediato começou a cair mais devagar, quase como se a gravidade estivesse sendo lentamente anulada. No momento em que chegou ao chão, não ouve nem um tipo de impacto e suas longas vestes flutuavam, revelando as meias multicoloridas que usava junto com seus calçados. Depois de bater as mãos por todo o corpo para verificar se ainda estava inteiro, apoiou-as na cintura e olhou para o nada com indignação ao dizer:

            - E não é que aquele pé de alface do Merlin estava certo? – Observou, apenas para então se dirigir a saída de sua torre, uma grande porta dupla construída de ferro e madeira, totalmente entalhada com as mais importantes constelações já descobertas, todas por ele.

            Logo atrás caiu Otho aos gritos também utilizando do feitiço, e aterrissando com sucesso e a julgar pelos gemidos, provavelmente náuseas.

            - Incrível não acha? O feitiço realmente funciona! – Animou-se ao abrir as grandes portas mais uma vez permitindo que a violenta nevasca invadisse o lugar.

Em seguida pegou seu grande chapéu pontudo e o ajeitou sobre a cabeça, de modo que não fosse possível perde-lo para a tempestade furiosa lá fora. O acessório era considerado por muitos, ridículo, devido as diversas cores que exibia, também por causa das linhas de ouro que adornavam as bordas de sua aba, assim como sua ponta; mas por nada sairia sem ele, fazia parte do visual.

            - O senhor não sabia que ia funcionar?! – Questionou seu aprendiz quase soando desesperado.

            Ignorando o menino, Daluin caminhou contra a tempestade gélida até atingir o penhasco do monte Atlas, o pico mais alto do mundo conhecido, abaixo a queda era infinita, um caminho reto e direto para o reino das sombras; o lugar onde as mais horrendas criaturas habitavam, no entanto nem uma delas tão terrível quanto o mal que estaria à espreita se as vozes celestes estivessem certas.

            - Mestre, para onde vamos? – Questionou o jovem, gritando o mais alto que podia para que o som de sua voz não fosse levado pelo vento forte.

            - Para Ravius, Otho, para a Mandíbula Negra! – Revelou o ermitão ao virar-se para o aluno, que já estava com os cabelos castanhos cobertos por neve.

            - Mas mestre Daluin! É impossível chegar até lá a pé! – Percebeu o garoto.

            Dando as costas para ele, voltou a olhar para o céu estrelado a sua frente, para as tão próximas estrelas que pareciam estar a um braço de distância.

            - Não seja idiota, não vamos andando, vamos pelo portal dos Eminentes!

            Não precisava estar encarando o aprendiz para ver o rosto confuso que este exibia.

            - Mas as leis sagradas dos Eminentes proíbem a viagem até a Mandíbula Negra!

            - Eu sei bem quais são as leis, seu tolo! Eu estava lá quando foram citadas! – O vento uivante fez seus longos cabelos e barba voarem quando repentinamente se virou para seu aluno uma vez mais. – Nós iremos até a base montanha, de lá vamos ter que escalar até o pico, até o Selo do antigo terror.

            - É quase um mês de escalada... – Disse Otho para si mesmo com desanimo.

            Mais uma vez encarando o penhasco a frente, o mago ergueu os braços, e deixando que a magia tomasse conta de seu ser, começou a recitar o chamado:

            - “Mutanits’ed da em tem’ime supem at’or ocov! ” – A nevasca começou a alterar seu curso, e um vento fantasma teve início alguns metros a sua frente, um passo à frente de onde o penhasco tinha seu fim e a queda começava; os flocos de neve giravam como se dessem forma a um furacão quando uma luz azulada começou a fazer sua aparição. – “Musru’cco, in ertafer muc te, enab’il irepa...” – A luz azul-celeste agora era intensa e junto com um turbilhão de neve formava algo que se assemelhava a um buraco vertical flutuante, por fim faltava apenas dizer a lugar, e tudo estaria pronto.

            - “Iluaceas Susba! ” – Na língua comum o lugar era nomeado de “A mandíbula negra”, no entanto os Eminentes o batizaram de outra forma; “Iluaceas Susba” ou “O lar do devorados de mundos”.

            A passagem mística soltou um som que se assemelhava a um grande sino, e a luz azulada pulsou, confirmando seu sucesso.

            - Está feito... – Falou por fim, ao abaixar os braços e observar com admiração seu feito que brilhava e girava diante de si. – Os jovens tolos primeiro, Otho.

            Ao virar-se para o aluno, viu que o mesmo estava boquiaberto, provavelmente por estar diante daquele portal mítico, não era uma surpresa, a maioria dos grandes bruxos viviam sua vida toda sem serem capazes de convoca-lo, para um jovem de quinze anos, atravessar a passagem dos Eminentes devia ser uma sensação sem igual. Ah, sentia falta de sua juventude.

            - Rápido imprestável! O mundo está para acabar e você fica aí parado babando para um buraco azul! – Berrou o velho ao dar um tapa na cabeça do garoto.

            - Certo, certo! Estou indo! – Apressou-se ele ao caminhar vagarosamente até o portal e com relutância, atravessa-lo, assim sumindo em sua luz celeste.

            Daluin encarou uma última vez sua torre antes de sua partida. O mundo havia mudado, a corrupção e a ganancia eram os soberanos agora, então não havia mais porque fazer parte dele, foi o que pensou ao reivindicar seu posto de alto inquisidor e se isolar naquele pico; mas agora mais uma vez os deuses o procuravam, porém ele agora estava velho e cansado, o que faria se não tivesse as forças para combater o mal desta vez? Não, não era hora para tais pensamentos.

            O velho louco do monte Atlas por fim atravessou o Portal dos Eminentes, rumo à montanha escura de Ravius, o que o esperava do outro lado somente os ascendidos saberiam, mas uma coisa dava como certa: uma tempestade se aproximava, e temia que mais uma vez sangue chovesse em um campo de batalha.

            O portal fechou-se e tudo o que ficou para trás foi a torre solitária, abandonada em meio a uma interminável nevasca.

Não haviam mais vozes do além, o uníssono celestial havia sido silenciado por algo tão obscuro que nem mesmo o antigo inquisidor tinha a capacidade de compreender.

            O tempo da desolação se aproximava.


Notas Finais


Peço que comentem e deixem suas sugestões e críticas! Elas me ajudam a guiar a história e a melhorar como um escritor!


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