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História A Era Mais Escura - Além de um Bater de Asas - Parte 1


Escrita por: MarleyMAlves

Notas do Autor


Olá de novo! Um novo capítulo... separado em duas partes como alguns outros, alguns talvez achem ele monótono, ao menos esta primeira parte, ainda assim quero que me mandem suas opiniões e pensamentos, são coisas importantes.

Boa leitura.

Capítulo 23 - Além de um Bater de Asas - Parte 1


Fanfic / Fanfiction A Era Mais Escura - Além de um Bater de Asas - Parte 1

- Você tem certeza que tudo bem eu ficar aqui? – Questionou ao entrar em um pequeno quarto, duas camas ficaram a vista bem diante dele assim que passou pela porta, assim como os dois guarda-roupas, cada um do lado de uma delas; não conseguia esconder bem que estava desconfortável com aquela situação, principalmente quando viu que em cima do ajeitado criado-mudo, estavam diversas loções e outros vidrinhos – os quais conseguia sentir o perfume muito bem, mesmo ainda estando na entrada.

            - Larga disso Damian, se eu mesma que ofereci, então esta tudo bem! – Reforçou Hélia às suas costas, provavelmente pela terceira ou quarta vez; uma recruta, assim como ele, a jovem era uma das pouquíssimas mulheres entre os da guarda real, assim como era uma colega entre os outros não tão amigáveis, mesmo que o máximo que tivessem feito era patrulhar o festival de primavera juntos, isso não queria dizer que o soldado não reconhecesse sua boa índole. – Coloque suas coisas na cama da direita, o guarda-roupas aqui esta vazio. – Indicou ela, passando por ele e colocando a mão no velho móvel de madeira aos pés de sua suposta cama. – Na verdade, esse quarto era apenas para mulheres da guarda, mas já que por enquanto estamos em falta por aqui, acho que não tem problema dividir com outro cara, principalmente em condições como essa que vocês estão passando. – A garota se explicou, sentando na outra cama à esquerda.

Ele percebeu nitidamente em suas palavras o quanto aquele “por enquanto” era importante. Como uma conhecida progressista, Hélia tinha muito otimismo e acreditava que em breve muitas outras jovens teriam a chance de se juntar a eles, mas ao contrário dela, Damian não era tão esperançoso sobre essa igualdade, ao menos não por enquanto. Isso porque, mesmo que seu general apoiasse abertamente toda e qualquer mulher que tivesse interesse em um lugar entre eles – contanto, é claro, que conseguisse se provar tão forte quanto seus competidores do sexo oposto –, Ravius ainda era o reino mais conservador da trindade, provavelmente perdendo apenas para os pequenos e retrógados impérios independentes, especialmente os nortenhos.

            O soldado suspirou ao caminhar até o roupeiro e abri-lo, colocando sua trouxa de roupas no chão enquanto começava a guardar suas poucas vestes, observou que, mesmo antigo, aquele móvel parecia estável e limpo, bem diferente do lugar em que colocava suas vestes, no alojamento norte. Não podia dizer que sentia falta daquele lugar, apesar ter conseguido se divertir algumas vezes com alguns dos outros recrutas – os não tão estúpidos, como Albert e os seus. Lembrava-se das quedas de braços, jogos improvisados, e madrugadas com história sobre os sinistros monstros que caminhavam pela noite. Estas coisas chegaram a serem marcadas em sua memória, mas, infelizmente, muito mudou desde aqueles dias mais distantes do que gostaria que fossem.

            - Você sabe o que aconteceu com o dormitório de vocês? – A ouviu perguntar, sua voz transparecendo mais preocupação do que curiosidade. – Eu conversei com todo mundo e ninguém sabe me dizer exatamente o que houve, simplesmente fecharam o lugar e falaram que foi destruído. – Contou ela, coçando seus curtos cabelos castanhos um pouco desconcertada.

            O recruta se virou e deu de ombros, sem saber como responder melhor aquela pergunta, mas para não deixar a soldado no limbo, falou:

            - Ouvi dizer que o general foi lá para conversar com um homem. Parece que ele entrou e tirou todos os outros de repente; eu não estava lá na hora, ainda tive que ficar sob a supervisão do curandeiro. – Contou, soando mais deprimido do que queria transparecer, pois havia ouvido estas coisas de Den, que ainda uma semana atrás, estava entre eles. Ainda não sabia bem como reagir a àquela perda; não havia chorado, ou mesmo expressado algo além de apatia. Haviam, no entanto, momentos de tristeza que não sabia bem como eram disparados.

            A jovem abria a boca para falar quando Damian escutou um som vindo de fora da janela do quarto, a qual se localizava na parede oposta à porta e bem entre as camas; poderia jurar que o barulho – que muito parecia o de um bater de grandes asas – estava muito próximo. Quando olhou naquela direção, porém, tudo o que viu foi o campo de treino a céu aberto, com alguns soldados treinando com espadas de madeiras e escudos, além, é claro, do próprio céu matutino, enfeitado com diversas nuvens brancas.

            - O que foi isso? – Indagou, surpreso, não necessariamente para a jovem sentada na cama a poucos passos de distância, mas para qualquer um que estivesse por perto.

            - Estranho... Deve ter sido algum pássaro. Se bem que é raro ver eles por aqui. – Hélia respondeu, não dando muita importância, e apoiando as mãos nos joelhos. – Bom, e como vai seu ferimento?

            - Ah, sem dúvidas melhor do que estaria sem o tratamento de Gundyr; ele é um pouco estranho, mas não é à toa que está aqui até hoje. – Mostrou, dando tapinhas em sua perna já não mais enfaixada, porém com uma cicatriz para lembrá-lo para sempre daquela madrugada (embora não precisasse dela para lembrar). – Mesmo assim, acho que vai demorar um pouco para eu voltar para os exercícios mais pesados.

            - Não se preocupe, tenho certeza que você logo vai voltar a acabar com os outros no treino com espadas. – A moça incentivou, fazendo-o olhar mais uma vez pela janela, para ver aqueles que ainda treinavam seus movimentos. Força e agilidade eram coisas nas quais era bom; por outro lado, não melhor que Den, ele que entre todos os que ainda não eram veteranos, era um destaque (com certeza não perfeito em tudo, mas mesmo assim, não um qualquer). – Ei, você deve estar animado, já que é amanhã que você volta à ativa. – Completou, e fez Damian questionar a quão informada era a recruta, afinal, não havia contado a ninguém que o permitiram voltar no dia seguinte para a patrulha.

            Ainda que o dia estivesse tão próximo, o soldado não havia parado para pensar naquilo com calma, principalmente porque se encontrou perdido no meio daquela tormenta de mortes e perdas ultimamente. Já havia entendido que precisaria mais uma vez respeitar seu próprio tempo, pois mesmo que agora seu corpo ferido por uma exímia assassina estivesse quase recuperado, era chegada a hora de começar a remendar seu interior fragilizado. Em sua visão, voltar para seus deveres só iria ajudá-lo naquela recuperação.

            - Hm... – Murmurou, ao fechar o guarda-roupas e caminhar até cama vazia, sentando-se de frente com a recruta. – Para falar a verdade, eu estou bem animado com isso, vai ser bom voltar a ter algo para fazer. – Admitiu ao sorrir discretamente, pensando consigo mesmo que a partir da próxima manhã as coisas poderiam começar a melhorar em sua vida.

            - Esse é o espírito! – Exclamou a jovem, ao se levantar e começar a alongar as costas e braços, estralando as mãos e o pescoço no processo – E então, já sabe como você vai curtir esse último dia de folga?

            Damian riu em resposta à Hélia; sabia bem para onde iria naquele dia livre restante, e isso era porque essa fora uma das muitas coisas em que pensou ultimamente, ao invés de como seria ter de volta suas tarefas. Como tão vividamente se lembrava, em uma manhã cinco dias atrás, na qual vira pela última vez seu amigo e companheiro dentro da guarda de sua majestade, este intimou-o a ir conhecer o que deveria ser um dos de seus lugares preferidos em Losran.

            - É, acho que tenho uma ideia. – Damian complementou, apoiando os braços nos joelhos enquanto dizia as palavras. Pois bem, se Den e ele não foram agraciados com a chance de irem até lá juntos, iria por si só; que aquilo o ajudasse no começo daquele novo arco interior de superação, forçadamente traçado pelas mãos dos antigos deuses e seu poder sobre a vida e o futuro. Aquela era apenas mais uma perda que teria de aceitar, como já tantas outras.

            Hélia caminhou até seu próprio armário, ainda fazendo alongamentos pelo caminho. Damian seguia com os olhos em todo o percurso, mesmo enquanto abria as folhas duplas de madeira e pegava de dentro uma espada e um escudo, feitos do mesmo material; esguia e mais alta que muitos de seus colegas homens, ele sabia que a jovem já havia superado muitos desafios dentro, e ainda mais fora daqueles portões, tudo por ter escolhido servir seu rei com armas em mãos, e não vassouras ou panelas.

Virando-se para ele enquanto cerrava o guarda-roupas, ela se pôs a dizer:

            - Muito bem, eu preciso ir andando, tenho treino daqui a pouco e não quero ser quem vai lavar os banheiros essa semana. – A escutou explicar, sorrindo com um certo nervosismo. – Ah, outra coisa! Eu estou escalada na patrulha noturna por enquanto, então dependendo do horário que receber amanhã, vamos acabar não nos vendo tanto. – Explicou a recruta, já dando passos para trás em direção à porta, e ao finalmente chegar, virou-se e espiou por cima dos ombros. – Você já sabe, pode ficar à vontade. O quarto é seu, e todo o resto... – Se despediu, já saindo de seu campo de visão ao caminhar pelo corredor.

            - Só uma última coisa. – Damian chamou, e a jovem retornou em um instante, apoiando o corpo em um lado do batente ao colocar a cabeça para dentro do cômodo. – Você foi até lá, não é, no beco onde os encontraram? – Questionou, mesmo já sabendo a resposta daquela pergunta.

            - Eu, hm... – Damian a percebeu hesitar, olhando para baixo nitidamente sem jeito. Mesmo assim, aguardou-a suspirar e tomar a coragem que faltava, pois passara muito tempo remoendo aquilo para guardar. – Sim, fui eu quem recebeu a mensagem e a entregou ao general, e depois, acabei indo com ele até lá.

            - Desculpe falar disso, eu só queria perguntar se você acha que ele...

            - Damian. – O interrompeu Hélia, e o recruta viu em seus olhos o horror e a tristeza que aquela visão a causou, mas mais que isso, viu em suas mãos que se contraíram no batente de madeira. – Não quero que você faça isso com você mesmo, sabe. Eu admirava muito o Den, ele era um amigo verdadeiro, assim como de quase todos nesse castelo, e te garanto que não era só por causa de quem ele era sobrinho.

As palavras da moça eram cheias de sentimento e luto pelo companheiro caído. Damian captou um pouco disso naqueles que cruzaram seu caminho nos dias que se seguiram ao massacre, ou em suas cabeças baixas ou nos olhares meio assustados, meio tristes, e discretos gestos de condolências que recebeu dos poucos que sabiam, porém não condenavam sua relação com um dos soldados mortos.

– Sabe, o Den viu alguma coisa em você, e você viu algo nele. Vocês dois tiveram tão pouco tempo juntos, guarde essas memórias boas, assim como eu estou fazendo com as do meu amigo, e vamos seguir em frente. – Propôs a recruta por fim, mais uma vez lançando um sorriso para ele, mas agora podia dizer que por trás deste existia um espírito fragmentado, assim como o de Damian; percebeu que não era o único que sofrera perdas; apenas então pensou nos familiares, nos filhos e amigos dos outros doze que caíram junto a Den naquele beco perto ao porto, sem falar nas outras dezenas de vítimas de uma sombra que não tinha nome, ainda. Não estava sozinho.

            - Você esta certa, obrigado. – Ele agradeceu, e era um sentimento verdadeiro. – É melhor você ir ou vai se atrasar.

            - Deuses, é verdade. – Percebeu Hélia ao olhar desesperada para o corredor, provavelmente pensando quantos metros deveria correr para chegar na hora. – Lá vou eu. Até mais Damian, nos vemos por ai! – Exclamou ela ao se retirar às pressas, disparando rumo ao campo de treinamento, talvez ocupada o suficiente para esquecer um pouco dos problemas, assim como ele desejava estar naquele mesmo horário do dia seguinte.

            Agora sozinho, pensou que talvez pudesse continuar sentado em sua nova cama por mais algum tempo. Virou-se para a janela esperando observar mais uma vez os que praticavam a céu aberto, porém já não havia mais ninguém lá; provavelmente já tinham partido para seus próximos compromissos. Uma brisa fresca soprou de fora e acariciou seu rosto, e fez se mover uma pequena pena negra sobre o parapeito da abertura, essa a qual não havia percebido a presença antes. Viu-a vagarosamente deslizar em sua direção, levada pelo vento suave até quase cair dentro do dormitório, porém, uma lufada contrária se fez, e mais forte, levou-a a voar para fora. Diante daquele momento tão simplório, ele abaixou a cabeça e encarou o chão, por nenhum motivo aparente.

            Damian se levantou e deixou o quarto, fechando a porta às suas costas.


Notas Finais


Talvez a ilustração faça mais sentido na segunda parte, espero postá-la em breve... não esqueçam de comentar!

Até breve.


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