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História A Era Mais Escura - Além de um Bater de Asas - Parte 2


Escrita por: MarleyMAlves

Notas do Autor


Olá!

Esta segunda parte vai fazer algumas ligações (como alguns já devem suspeitar), assim como estabelecer relações entre personagens da nossa história, também quero tentar fazê-los observar a evolução destes e como é possível encontrar a tão sonhada harmonia nas coisas mais trívias... como eu faço ao escrever estes capítulos. <3

P.S: Este capítulo ainda não foi corrigido ou editado, já peço perdão pelos erros que vão encontrar soltos por ai. (vou pagar essa observação quando o capítulo for corrigido)

Capítulo 24 - Além de um Bater de Asas - Parte 2


Fanfic / Fanfiction A Era Mais Escura - Além de um Bater de Asas - Parte 2

Quando passou pelas portas de folha dupla daquela taberna ainda não tinha certeza se havia realmente acertado o lugar, pois mesmo tendo pedido informações aos passantes daquela movimentada rua da periferia, aquilo não lhe parecia com nem um dos outros estabelecimentos daquele tipo que chegou a frequentar; mas acabou por engolir aqueles questionamentos, os guardando apenas para si, ao mesmo tempo que varria o lugar com seus olhos azuis, observou que não haviam muitas pessoas naquele momento, uma ou outra comendo, mas todas bebendo, eram não mais que quatro fregueses, além de um idoso desacordado ao canto, o recruta achou até mesmo engraçado como o rosto deste estava amassado contra a mesa, o via babar em seu sono profundo, sem dúvidas parecia muito mais confortável do que Damian ultimamente em sua cama, ou camas, já que apenas nas últimas duas semanas já havia passado por três.

            Coçou seus cabelos pretos ao que sorteava uma mesa em silêncio, não era um salão muito grande, mesmo assim a quantidade de mesas parecia pensada para não tornar tudo um caos quando lotado, bem diferente das outras tavernas que não se importavam muito se os clientes conseguiriam andar pelo cômodo ao colocar mais mesas do que poderiam comportar, aquilo não passava de apenas mais faceta da ganância. Quando por fim se sentou, percebeu que sua escolha não foi tão aleatória quanto gostaria que tivesse sido, tendo pego a mesa que estava mais longe dos outros, estes que hora viravam canecos, hora davam gulosas mordidas em coxas de frango assado.

            O jovem começou a se perguntar as razões de Den gostar tanto daquele lugar, quem sabe fosse por causa deste clima mais “puro” e limpo que de todos os outros bares, talvez a razão estivesse na comida, sem dúvidas aqueles pratos pareciam deliciosos, poderia muito bem ser a bebida, não seria uma grande surpresa, já que Den era um amante do álcool, não é como se Damian não gostasse de se embebedar com os colegas uma vez ou outra, mas não havia competição quando o sobrinho do General se metia no meio... “Onde iria ele se sentar aqui?” Indagou a si mesmo, não se percebendo afundar mais e mais naquele que havia partido.

            - Bom dia. – Ouviu, e precisou de muita força de vontade para conter o susto que a garçonete lhe deu; usou o primeiro instante para se recompor discretamente, o segundo para se virar e cumprimenta-la com a cabeça, esperando não estar vermelho. – Posso anotar seu pedido? – Ela perguntou educadamente, foi apenas então que notou que esta não era mais velha que ele; sua pele morena e seus traços finos lhe chamaram atenção, e vestida com uma blusa de mangas compridas, avental branco, e os longos cabelos ondulados presos em um apertado rabo de cavalo, ela esperava, com um pedaço de pergaminho em uma mão, enquanto empunhava um pequeno cilindro de carvão na outra.

            - Ah, sim, eu... – Enrolou-se completamente, não tendo muita ideia do que pedir, mesmo porque, sua ida até ali não era exatamente para matar a fome, ou mesmo a sede, era um conceito muito mais emocional do que qualquer outra coisa, e esperava muito que aquilo não tornasse aquela decisão boba, ou vaga. – Bom... o que você me recomenda? – Acabou por retrucar, se recuperando e abrindo um meio sorriso para a garota.

            Damian percebeu-a levantar uma das sobrancelhas para ele e insinuar um sorriso enquanto virou-se para o balcão por um segundo, aparentemente não era muito comum para ela ouvir aquilo, acabou apenas por instinto, por olhar na mesma direção, e lá visualizou uma segunda mulher, um pouco mais velha e baixa, além de mais gorda, esta cozinhava em uma grande panela em uma pedra aquecida, de costas para eles, haviam traços em comum entre elas além da pele dourada que compartilhavam, não precisava ir longe para saber que eram parentes; aparentemente um negócio de família, concluiu, deduzindo que tendo a mãe como cozinheira, o pai como o taberneiro, e a filha auxiliando no atendimento das mesas, não deveria ser difícil manter um lugar decente como aquele.

            - Bem, se quer minha opinião... – Articulou a garçonete, se virando de volta para o recruta depois de alguns segundos encarando a cozinha, ou a pessoa nela. – Diria que o mais inteligente é pedir o risoto Orfilênio que a taverneira esta terminando, é uma receita nova, nós ainda nem colocamos no cardápio. – Ouviu-a indicar ao dar de ombros, mas não com indiferença, com uma gentileza sutil, assim como era sua discreta animação ao dar aquele conselho. Damian percebeu neste momento que ela havia se referido àquela mulher como “taberneira”, seria aquela a primeira vez em sua vida que entrara em um estabelecimento naquele ramo que era regido por uma; cada vez mais entendia o fascínio de Den por aquele lugar.

            - Hm... – Ponderou por um instante, cruzando os dedos das mãos em cima da madeira da mesa circular, a qual à cadeira estava sentado. – É uma ótima ideia. – Concordou, balançando a cabeça em afirmação.

            - Muito bem, então. – Riu a atendente de volta, escrevendo no pedaço de pergaminho que tinha em mãos. – E qual o tamanho da cerveja, temos também alguns tipos artesanais, além...

            - Ah, não vou querer cerveja, obrigado. – Interrompeu-a, educadamente levantando a mão ao negar, pois não sentia que seria correto (ao menos em sua cabeça), beber àquela hora e naquela visita em particular. – Se puder me trazer alguma outra bebida, eu aceito.

            A jovem pigarreou ao afastar com a mão uma mecha de cabelo castanho que recaiu por cima de seu ombro, e novamente demostrar traços de surpresa à decisão dele, no entanto entendia bem que não deveria ser comum visitar uma taberna e negar a cerveja, temia apenas causar alguma ofensa com o ato, aquele estabelecimento já havia se provado tão exótico até ali, o que mais poderia esperar?

            - Vou te trazer uma jarra de suco de morangos de Ethier, chegaram ontem. – Ela avisou, já anotando novamente com seu pequeno pedaço de carvão. Damian ao ouvir se resumiu a mais uma vez menear a cabeça em confirmação às palavras dela. - Muito obrigada, não vai demorar, volto logo. – Terminou a garçonete, ainda sorrindo enquanto caminhava de volta até o balcão, onde deixou o pedido com a segunda mulher, trocando algumas palavras com esta antes de mais uma vez retornar até as mesas onde continuou a atender os chamados dos outros fregueses.

            Relaxando no encosto de seu assento, o soldado internamente se pôs a questionar sobre sua decisão de atravessar quase toda a capital para chegar até ali, tudo por uma memória que se arrependia de não ter construído, não sabia se sua relação com o jovem soldado iria muito mais longe do que havia ido, mesmo assim não conseguia impedir o sentimento de lhe atormentar, a sensação de não ter feito o suficiente, de não ter se doado o bastante a uma pessoa que não tinha mais como olhar nos olhos. Quem sabe de seu próprio modo estivesse lidando com aquele luto, mas talvez estivesse fugindo do mesmo, correndo atrás de momentos os quais ainda esperava compartilhar; não era sua primeira vez naquela situação, e mesmo assim, a direção certa não era nem um pouco clara diante de si, eram tais complexidades e injustiças que o viraram contra tantas crenças e divindades as quais seu caminho o apresentou. Como poderia rezar para entidades que apenas o trouxeram sofrimento.

 

 

           

            - Aí esta. – A moça colocou o prato na mesa diante de Damian, o cheiro do arroz e das iguarias que não sabia nem mesmo nomear invadiram seus pulmões sem aviso e o fizeram suspirar. – Bom apetite. – Lhe desejou ela, ao dispor também o copo cheio até a boca com um liquido cor de rosa, assim como os talheres.

Neste meio tempo, dois dos outros clientes do estabelecimento se levantaram, e jogaram no balcão o pagamento pelos serviços prestados antes de se moverem em direção à saída; eram dois homens, bem vestidos em pano e couro, estes que não se importavam em esconder as adagas ao lado do cinto, seria preconceituoso e até ridículo de sua parte os tachar como foras da lei – é claro, caso não soubesse as quão ricas e poderosas poderiam ser as guildas mercenárias da capital. –, ainda mais baseado apenas nos modos, no jeito de andar e de se portar, entretanto, fez questão de se concentrar apenas em sua refeição e na atendente ao seu lado, esta que por sua vez passou a observá-los sair ainda enquanto entregava os utensílios em sua mesa.

- Obrigado, parece ótimo. – O recruta agradeceu, ainda encarando o prato maravilhoso e vibrante à sua frente, o vapor morno lhe esquentou as bochechas quando pegou a colher em mãos.

- Qualquer coisa é só chamar. – Terminou a jovem ao girar nos calcanhares e se dirigir até o balcão, notou-a se sentar em um dos bancos junto à grande e firme taboa de madeira e começar a contar as moedas douradas lá deixadas, por fim, estendendo os braços e dando-as à taberneira.

O delicioso cheiro uma vez mais incendiou seu nariz quando uma brisa soprou de uma das janelas do estabelecimento, obrigando-o a voltar sua atenção à aquele risoto tão visualmente e olfativamente atraente, não esperou mais ao encher seu talher e se deliciar naqueles sabores os quais jamais pensou presenciar, pegou-se de olhos fechados apreciando aquele momento, e aos poucos um sorriso despontou em seus lábios, e diferente de todos os outros nos últimos dias, aquele não era nem um pouco forçado ou fruto da necessidade de agradar alguém, apenas o prazer do momento e do paladar. Agora finalmente entendia o que Den queria dizer.

Um estranho som o surpreendeu de repente – talvez agora não fosse mais tão estranho, já que aquela fora a segunda vez que o escutava naquele mesmo dia –, e com seus olhos novamente abertos fitou sua origem, seria mentira dizer que não ficou surpreso ao se ver observando uma das janelas da taverna, pegou-se intrigado com aquela estranha coincidência; mais do que nunca podia dizer que era um bater de asas, apesar de ser diferente de qualquer outro que veio a ouvir. Sua atenção então novamente mudou de alvo quando viu que a garçonete também se virava para a abertura, e assim como ele fez um segundo atrás, a garota parecia tentar enxergar seja o quer for que poderia ter causado tal barulho.

            Por um pequeno espaço de tempo Damian ficou a fitar a jovem de cabelos castanhos, mas logo em seguida retornando para sua refeição, temendo que percebesse seus olhos sobre ela.

            Seguia saboreando os prazeres de seu pedido, até que outros dois dos que comiam terminaram seus pratos, e se levantando, se moveram até a garçonete e a sua parente; acabou percebendo que os fregueses – uma mulher mais velha, e um garoto pouco mais novo que o soldado –, pareciam familiarizados com a cozinheira e sua filha ao agradecê-las de uma maneira um pouco exagerada, além aparentemente estarem tentando pagar mais do que realmente deviam, porém, na falta de um contexto, não achava certo julgar suas ações, por outro lado, não negava ter ficado curioso. Por fim, os observou agradecer novamente, e depois irem em direção a porta, isso porque a taverneira pareceu deixar claro que não iria aceitar o ouro extra que estavam a oferecer, quando passaram por ele no caminho para o lado de fora, acompanhou-os espiando por cima dos ombros até que passassem pela saída.

            O jovem levou outra colher de risoto orfilênio à boca, e viu que mesmo já fazendo um tempo desde que entrou, o velho sentado ao canto ainda permanecia apagado, e agora quase caindo de sua cadeira, um meio sorriso passou por sua boca quando percebeu que todo aquele estabelecimento o lembrava muito de sua infância em Vila Nascente escura, os clientes fiéis, os mercenários ocasionais que apesar de tudo pareciam (ao menos na maioria das vezes) respeitar as regras do lugar, até mesmo os bêbados que jamais saiam de seus assentos, nem mesmo para dormir. Não tinha noção de quanto tempo fazia desde a última vez que olhou para trás e viu os momentos bons, talvez, no fim das contas, ir até ali acabou sendo para melhor.

            - E então, o que achou? – A atendente perguntou, se aproximando da mesa enquanto secava as mãos que minutos atrás lavavam a louça dos últimos fregueses. – Sei que quando provei, não consegui acreditar que passei tanto tempo sem nunca ter comido algo assim.

            Damian se endireitou ao engolir a última colherada do desjejum e sorrindo para a moça, respondeu, sentindo-se estranhamente melhor do que antes de colocar os pés lá:

            - Tudo o que você falou, e muito mais. – Concordou, apoiando os braços na madeira. – Na verdade, acho que nunca comi algo tão bom na minha vida!

            - É, acho que minha mãe se superou dessa vez. – Contou ela entre risos ao apoiar a mão na cadeira à sua frente. – Acho engraçado, ela não me conta de jeito nem um onde conseguiu essa receita; bom, não é como se os cozinheiros não devessem ter seus segredos, não é? – Questionou a garçonete.

            - Sim... – Concordou o soldado, devolvendo um sorriso suave. – Minha mãe era uma cozinheira também, tenha certeza que ela guardava bem os dela.

            A garota deu de ombros em resposta, em um gesto dizendo que, para o bem, ou para o mal, as coisas apenas eram assim. Estava certa, um movimento tão breve em um contexto tão inocente, porém, com capacidade para ilustrar tragédias, comédias e romances, porque no fim das contas... para o bem, ou para o mal, as coisas apenas eram assim.

            - Então, o que um soldado da guarda esta fazendo tão longe da cidade-alta sozinho? – A escutou perguntar, e pegou-se sem palavras por alguns instantes, pois não esperava ser tão fácil identificá-lo como um soldado, ainda mais não estando vestido com a armadura, o brasão, ou mesmo as cores do regimento; assim fez para não atrair atenção para si durante a caminhada pela cidade ou mesmo ali dentro, não é que não se orgulhasse de servir seu rei, mas sim que tinha noção que muitos dos seus haviam morrido nos últimos tempos, tanto pelas mãos da criatura, quanto pelas lâminas de assassinos.

            - Eu.... – Enrolou-se ao tentar formular a sentença. – Hm, perdão, mas como sabe que sirvo na guarda? – Indagou ainda um pouco perplexo.

            Notou-a erguer as sobrancelhas como se a funcionária da taverna pudesse ver todas as letras da palavra escritas em sua testa tão claras como o dia lá fora, quem sabe ela o tivesse visto em algum momento patrulhando, ou até poderia considerar que fosse culpa de sua espada que exibia seu nome entalhado nela – um ritual de passagem concebido aos melhores recém-chegados, estes que eram designados para a guarda de Losran –, caso não tivesse sido roubada pela Lâmina Sinistra semanas atrás.

            - Bem, primeiro que suas roupas são boas demais para um qualquer, e muito simples para um membro de guilda. – Começou a moça, se virando e caminhando até o balcão. – Além de que você pareceu muito cuidadoso quando entrou aqui, e depois ficou tenso quando aqueles dois mercenários passaram por você na saída. – Ela pegou a bandeja de prata e voltou, trazendo o item embaixo de um dos braços. – E também... – Observou-a começar a recolher o prato, talheres e copo à sua frente. – Parece que seus cabelos são cortados todos iguais.

            Por reflexo Damian levou uma mão até seu cabelo, sentindo-o como se através de seu tato fosse conseguir validar as razões da jovem, entretanto, quando naquele momento parou para pensar, os cabelos de todos os outros soldados realmente pareciam seguir um padrão, apenas ainda não havia entendido que estava inserido nele. Penteados a parte, nada poderia mudar o fato de que aquela atendente tinha olho sagazes, claro, não era como se estivesse disfarçado ali, se sentia apenas um pouco desconcertado por ser lido de uma maneira tão natural como aquela.

            - É, nosso barbeiro não é muito versátil. – Brincou o recruta ao que à assistia levar sua louça até o balcão, onde a taberneira já parecia estar preparando alguma outra comida, ao com as mãos massagear uma massa clara e consistente, enquanto cantarolava alegremente alguma canção que não vinha a conhecer.

            - Com vocês é tudo questão de praticidade e tudo mais, certo? – A garçonete perguntou retoricamente, fazendo o caminho de volta até sua mesa, e ao chegar, puxando a cadeira à sua frente, sentando-se nela muito naturalmente, afinal, estava em casa, levando em consideração a escada em espiral em um canto do salão. – Na verdade, estava me perguntando como estão as coisas nessa última semana, vocês devem estar bem ocupados, digo, com o rei chegando e as mortes que aconteceram.

            Se ajeitando melhor no seu próprio assento, Damian, que já havia parado de pensar em tragédias, ponderou sobre as mortes; o retorno de sua majestade a Losran, assim como a fuga de Mila Dameron; o falecimento de Den; e até mesmo a destruição ainda um pouco misteriosa de seu dormitório, sem dúvidas, muita coisa em pouquíssimo tempo. E depois desses segundos que gastou, cujos sua mente contava tantos acontecimentos e seu rosto demonstrava tudo em discretas caretas enquanto seus olhos encaravam o nada, disse:

            - Realmente, já é muita coisa até mesmo para uma única estação, mesmo um outono. – Concordou ao apoiar o cotovelo na mesa e coçar a cabeça. – Estão todos um pouco agitados, e nervosos também, disso você pode ter certeza. – Informou para ela, agora pensando com o que teria de lidar no dia seguinte, ouviu rumores de que o rei havia concordado em trazer reforços de seu exército (que naquele momento se encontrava estabelecido em outras cidades do reino), para auxiliar na defesa da capital, quem sabe isso finalmente traria um fim à seja o que for que estava assassinando tantos inocentes noite após noite, apenas esperava ter condições de ser de alguma ajuda nos próximos dias, pois haviam muitas mortes que deveriam ser vingadas.

            - Eu imagino. – Falou a garota, claramente em um tom consolador, imaginava se ela tinha ouvido falar do massacre do porto, um pensamento bobo de sua parte, sabia bem disso, dificilmente alguém não teria escutado sobre aquela chacina, ainda mais com o sobrinho do admirável General Logan Orioth sendo uma das vítimas. – Bom, você não respondeu minha pergunta de antes, o que te fez sair lá da cidade-alta para vir comer aqui? – A atendente sorriu ao questioná-lo, o porquê da curiosidade podia apenas especular que vinha das normas implícitas que haviam alguns lugares nos quais os soldados podiam “se divertir”; e outros não, estes que geralmente estavam sempre localizados na região da cidade mais longe possível do castelo real, e aquela taberna era um destes, porém, para aqueles que não buscavam problemas, aprendeu que as periferias sabiam ser ótimas anfitriãs.

            - Na verdade, um amigo me fala daqui já faz tempo. – Contou, poupando detalhes que julgou não pertinentes naquele momento. – Acabei demorando muito para vir, agora que eu percebi que foi um tremendo erro! – Admitiu, rindo discretamente, porque apesar de não existirem outros clientes (ao menos acordados), a cozinheira e também dona do bar, estava a não muitos metros distantes deles, mesmo que agora ela já estivesse praticamente dançando ao ritmo da música que tocava em sua cabeça. – Não sou muito do tipo de pessoa que vai em tavernas, não com frequência pelo menos.

            - Não se preocupe com isso, eu definitivamente não sou do tipo de pessoa que queria passar a vida servindo bandidos; viajantes; e bêbados. Mas é bem difícil conseguir tudo o que quer nessa vida. – A jovem confessou, erguendo as sobrancelhas à medida que dizia as palavras, e chegou a ficar surpreso com a sinceridade dela.

            Não tinha como dizer o motivo, mas sentia um peso diferente na voz daquela moça, um tipo de maturidade que não encontrara em ninguém de sua idade até aquele momento, nem mesmo em Den; tantos foram os colegas e amigos em sua vida que tinham ambições, mas os jovens, como eles também eram, não entendem de injustiças e atrocidades, até que estas finalmente os alcancem.

            - Mas você pode ao menos tentar ir atrás do que quer, tenho certeza que uma coisa que você não precisa fazer para sempre é ficar servindo mesas. – Argumentou Damian, dando de ombros para ela.

            Aparentemente concordando com a cabeça, a garçonete recostou em sua cadeira de madeira ao cruzas os braços finos e encará-lo com um meio sorriso na boca, e então retrucou, bem-humorada:

            - Dá só uma olhada naquilo. – Mostrou sem se virar para trás, enquanto apontava com o polegar em direção ao balcão, sem dúvidas se referindo a taberneira atrás deste que ainda balançava ao som de seu próprio cantarolar ao mesmo instante que mexia algo com a colher de pau. – Minha mãe não duraria uma semana sem que eu tirasse ela das nuvens diversas vezes ao dia. – Alegou descontraidamente, e o recruta não tardou a perceber que a relação da mãe com sua filha, e vice-versa, acabava por tornar aquele um ambiente confortável para ela, assim como para os clientes que chegavam e eram recebidos pela sinergia das duas.

            - Ela ao menos parece feliz. – Replicou Damian, retribuindo o meio sorriso; foi neste momento que vislumbrou pela janela do salão o sol vespertino, já não mais tão longe de se pôr no horizonte, era comum para ele se esquecer que os dias eram mais curtos em Losran, culpa apenas da imponente Mandíbula Negra que se erguia por muitos quilômetros acima de suas cabeças. – Deuses, eu que preciso ir andando, acho que o tempo passou mais rápido do que eu esperava. – Explicou ao se levantar, e de dentro do bolso, tirar algumas moedas de ouro, deixando-as em cima da mesa.

            A garota ergueu-se, fazendo logo depois uma singela reverência em agradecimento; ao mesmo tempo que dizia:

- Tenta não demorar muito para fazer uma visita. – Pediu. – É muito bom ter alguém aqui que não é um barril de cerveja ambulante. – Ela comentou acidamente, torcendo a boca ao olhar para o idoso desmaiado no assento do canto.

O recruta, por sua vez, não se virou imediatamente para a saída, e estendeu a mão para ela, pois sentia que de sua própria maneira, também deveria agradecê-la, pois afinal, mesmo que a atendente não soubesse, sua ida até ali foi puramente movida por tristeza e luto, mas de certa forma, estava saindo melhor do que havia entrado. Não demorou muito – mas a atendente fez o caminho de sua mão estendida até seu rosto uma ou duas vezes com seus olhos castanhos –, e ela aceitou o seu aperto, sorridente.

- Acabou que nem mesmo disse meu nome. – O soldado notou, até mesmo um pouco desconcertado. – Me chamo Damian.

- Prazer em te conhecer Damian, me chamo Elena. – A jovem também se apresentou, enquanto os dois ainda apertavam as mãos um do outro.

Suas mãos por fim se soltaram, e descendo as escadarias de entrada da Primadona, o recruta começou sua longa caminhada de volta à cidade-alta, seu espirito menos dolorido do que quando acordou naquela manhã.


Notas Finais


Como vocês perceberam, haverá uma terceira parte para esse trecho sobre Damian, tentarei fazer deste um fechamento interessante para essa trilogia de capítulos.


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