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História A Escolha - A Ideia


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oie gente!

Eu sei que eu tô muito desaparecida d'A Escolha, mas é porque o tempo apertou pra mim. Tava praticamente impossível escrever qualquer coisa que não fosse acadêmica. Para piorar, eu nem tinha como avisar nada a vocês que me acompanham. Prometo que já estou providenciando isso!

O capítulo está bem legal e marca o inicio de uma fase muito boa do casal. Acredito que vocês vão gostar ~espero, na verdade, haha ~

Agora vamos ao que interessa!

Capítulo 15 - A Ideia


– Prontinho, bebê – eu disse, ministrando as últimas gotas necessárias de anidrido carbônico na solução – Agora você tá completinha, meu amor, e totalmente carbonada...

Miguel sempre riu da minha mania de conversar com as minhas amostras. A questão é que a nossa relação de amor era mútua. Eu e elas sempre nos entendemos. Desde pequena eu tinha a mania de misturar ingredientes na cozinha da nossa antiga casa, junto com os gêmeos. Sempre dava alguma merda no final, mas o importante era que eu me divertia bastante.

Era uma bela e atípica manhã de sexta-feira. O sol brilhava alto, impondo o seu calor, ainda que nós estivéssemos quase no meio do inverno. Eu estava finalizando a terceira amostra que Draco havia me mandado desde que nós selamos a nossa parceria, praticamente escondida dentro daquele laboratório.

Nenhum dos meus colegas de trabalho sabia da minha presença na SeMz durante as últimas sextas. A partir do momento que o departamento de pesquisa nos liberou de vir nesse último dia da semana, eu aproveitei a deixa para poder realizar a minha parte do acordo em paz, sem intromissões ou questionamentos. Principalmente da parte da Angel, que andava bastante desconfiada desde quando, sem querer, eu deixei cair um dos requerimentos de Draco no meio da sala.

Eu finalizei o meu processo, vedando o tubo de ensaio. Pus a amostra na pequena caixa térmica toda elaborada que o meu irmão havia trazido de Londres e que eu havia chorado bastante para que ele me emprestasse. Descansei o objeto ao lado da minha bolsa, em cima do balcão, e andei até a minha mesa, me sentando logo em seguida. Sem muita enrolação, peguei o documento que precisava ser preenchido e comecei a escrever as informações. Acabei não percebendo quando Justino entrara no laboratório.

– Weasley? – eu me sobressaltei com a abordagem, surpresa – O que você tá fazendo aqui hoje?

Era muito azar o meu coordenador me encontrar no trabalho, justo no dia que eu não deveria estar. Ainda mais depois de eu ter faltado ao estágio duas vezes na mesma semana por causa da organização do plano estúpido do filho do meu chefe.

     Merda, você foi descoberta, Ginny...

Aquilo poderia se tornar um grande problema. Anotei mentalmente a obrigação de matar Draco Malfoy da forma mais lenta e dolorosa possível assim que eu saísse dali.

Com o susto da chegada de Justino, eu acabei deixando a minha garrafinha de água cair. O acrílico acabou se partindo com a queda. Ele andou na direção do frasco, apressado, mas eu me levantei rapidamente, passando a sua frente.

– Ah, oi Justino... – falei, um pouco desconcertada , com uma mão no peito. Recolhi o recipiente partido e o pus novamente em cima da superfície onde ele estava antes – Desculpa, eu não te vi entrar...

– Tudo bem... – Justino me analisou, de cenho franzido. Ele estava desconfiado – Mas você não me respondeu o que tá fazendo aqui. Teoricamente hoje é sua folga. Vocês já me entregaram a fórmula da semana na quarta-feira...

Eu precisava urgentemente de uma desculpa. Falei a primeira coisa que veio na minha cabeça.

– Eu tava com a manhã livre, aí resolvi adiantar algumas atividades da faculdade – blefei, tentando passar o máximo de segurança possível – Tem algum problema?

No mesmo momento o semblante do meu chefe de departamento abrandou. Ele sorriu, compreensivo.

– Não, lógico que não – agradeci mentalmente pela mentira ter colado – Fique a vontade.

– Ah, que bom então! – sorri de volta, dissimulada.

Aproveitei o espaço para esticar a mentira.

– E teria algum problema se eu tornasse disso um hábito? – indaguei, fingindo inocência – É que não temos materiais suficientes pra realizar as atividades lá na universidade. Fica tudo tão mais fácil de resolver quando eu tô aqui...

– Claro que pode, Ginny – Justino autorizou, sensibilizado – Eu estudei lá, sei bem como é essa dificuldade. Você pode vir fazer seus exercícios aqui, desde que seja no tempo livre.

– Muito obrigada, Justino. Você não sabe o quanto isso vai me ajudar... – a denunciar você e o poderoso chefão, no caso – Bom, agora eu vou voltar ao meu trabalho.

– Ah, sim, eu vou te deixar sozinha. Até segunda, Ginny – ele retornou a porta, me dando as costas.

– Até.

Eu balancei a mão, me despedindo, com um sorriso teatral no rosto. Assim que Justino atravessou o batente eu desfiz a encenação. Por pouco ele não havia descoberto os planos. Eu não sei o que teria feito caso a mentira não tivesse colado. Pelo menos agora eu tinha passe livre para usar o laboratório toda semana, sem nenhuma intromissão. Chegava ser cômico o fato de eu estar usando a própria empresa do Malfoy como arma para derrota-lo.

     Você tá parecendo o Draco falando, Ginny.

Acho que eu estava passando tempo demais com o herdeiro da SeMz.

Chacoalhei a cabeça, desfazendo os pensamentos estranhos, e voltei a preencher o meu papel, concentrada no que realmente me interessava.

A noite chegou totalmente oposta ao dia. O termômetro do corredor indicava que a temperatura só abaixara desde a última vez que eu havia o conferido. Quando Angelina e Hannah tocaram a campainha, eu estava enrolada em um edredom velho que eu tinha roubado do quarto do meu irmão, bebendo uma xícara de chocolate quente. Assim que eu abri a porta, elas entraram rapidamente no apartamento.

– Me lembre de nunca mais sair com a Hannah pra comprar nada – Angel reclamou, assim que passou por mim, com uma sacola pesada nas mãos – Ela queria levar o supermercado inteiro.

– Largue de exagero, Angelina – a loira rolou os olhos, antes de me cumprimentar com dois beijos na bochecha – Oi Ginny.

– Oi Hannah... – a saudei, fechando a porta logo em seguida.

– Como é você quer que o painel fique bonito só com um pano de fundo? – a namorada de Neville defendeu o seu argumento, incisiva.

– Hanninha, o Neville nem vai reparar nesse painel. Muito menos o Harry – Angel colocou os materiais no chão e encostou-se ao aparador – A gente só perdeu tempo e dinheiro comprando tudo isso.

Eu sorri com as duas. Hannah era o total oposto de Angel. Enquanto a primeira era sensível e meticulosa, a segunda era prática e rápida. Angelina não gostava de enrolação demais, muito menos de exageros nos detalhes. Seu charme estava exatamente no seu timing rápido e preciso, tanto nas atitudes, quanto nas respostas. A loira, diferencialmente, exibia uma gama variada de opções para tudo. Hannah era um poço de organização, visando sempre o equilíbrio e harmonia em tudo o que fazia, principalmente quando se tratava de questões estéticas. Não é a toa que ela havia escolhido medicina como a sua profissão. A minuciosidade era a peça chave das suas ações.

– Claro que vai. Eles não deixariam de reparar na decoração da própria festa de aniversario – Hannah se apoiou no braço do sofá e nos encarou, duvidosa – Não é mesmo...?

Acho que a nossa cara descrente desfez o resto de certeza que ainda existia na loira.

– Enfim, não custa nada tentarmos – ela disse, mantendo sua postura – Parem de reclamar e se movam. Ainda temos muitas coisas pra terminar hoje.

Nós três iniciamos nossos trabalhos com a organização logo em seguida. Enquanto trabalhávamos, as fofocas e os assuntos fluíram rapidamente, até chegar nos nossos planos de carreira. Hannah contou, empolgada, sobre a sua agitação em estar no último semestre da sua residência.

– Eu não sei como você aguenta. Seus horários são muito loucos – eu falei, me referindo ao pouco tempo que a loira tinha ao longo da semana para se dedicar a outras atividades – E você ainda dobra alguns plantões, como se fosse nada ficar acordada a noite inteira.

– Eu não me incomodo tanto, na verdade – Hannah respondeu, dando de ombros – De todos os horários, o que eu mais gosto de trabalhar é durante a madrugada, por sinal.

– Madrugada pra mim só serve pra dormir ou encher a cara – Angel replicou, sagaz.

– Ou pra dar, Angelina... – eu salientei e as meninas riram.

– Isso também. O mais importante por sinal – Angel completou, olhando para o corredor – Falando nisso...

Hannah me fitou sem entender e eu franzi a testa. Pouco tempo depois a explicação apareceu. Ron saiu da penumbra, completamente arrumado. Ele andou até nós e cumprimentou as meninas com um beijo na bochecha de cada. Quando meu irmão chegou até Angel, ela disse algo em seu ouvido. Ron riu e respondeu, no mesmo tom, também ao ouvido dela. Eu o observei, curiosa, sem entender para onde o meu irmão estaria indo uma hora daquelas.

– Polegar, eu tô saindo... – Ron me avisou, andando até a cozinha para pegar alguma coisa – Eu vou me encontrar com o Harry e o Cedrico.

– Pra onde vocês vão? – eu perguntei, interessada, elevando o tom da voz para que ele me escutasse.

– Comemorar aniversário em algum lugar chamado The House. Foi o Harry que me chamou – o meu irmão reapareceu, mastigando o pedaço de pizza fria. Ron suspirou quando viu o meu semblante – Ei, nem faz essa cara, Ginny. O Harry não sabe nada sobre surpresa. Eu não podia negar o convite, ia dar muita bandeira.

– Eu sei... – concordei de contragosto, um pouco entristecida – Se divirtam por lá.

Ele assentiu com a cabeça, engolindo o resto da pizza rapidamente. Ron se despediu de nós e saiu do apartamento. Assim que o meu irmão fechou a porta, Hannah se virou para Angel e jogou uma almofada nela.

– Você é muito cara de pau! – a loira parecia perplexa, mas ao mesmo tempo divertida – Como você consegue ser assim?!

Angel soltou uma gargalhada e eu a acompanhei.

– A gente faz o que pode – ela replicou, piscando um dos olhos.

– Não, Angel, você faz além do que pode – Hannah retrucou, se debruçando na mesa de centro e apontando para Angelina – E pelo que parece, tá dando certo né? Porque o Ron retribui.

– Inclusive... vocês estão se pegando? – eu comentei e a minha amiga riu de canto, abaixando a cabeça logo em seguida – Sim, vocês estão se pegando! Pode contar...!

– Eu não disse nada, vocês que estão afirmando – Angelina se defendeu, desviando a confirmação.

– Ah, larga de besteira, Angel – Hannah insistiu, me ajudando – É verdade?

– Certas respostas podem fazer mal para o coração, Hanninha – Angelina se levantou com parte das colagens nas mãos e começou a andar em direção à sacada – Você é médica, sabe muito bem disso.

Hannah rolou os olhos, jocosa, e eu balancei a cabeça, discordante. Ambas rimos da saída estratégica de Angel e voltamos ao nosso trabalho. A madrugada chegou tão tranquila que nós não percebemos o horário. Estávamos finalizando o painel quando o meu celular tocou, nos despertando. Hannah se esticou pelo sofá, o alcançando. Os olhos dela se arregalaram assim que viram o nome na tela.

– É o Harry...  – a loira me entregou o aparelho e se colocou ao lado de Angel, que também me observava apreensiva.

Eu peguei o celular e coloquei no ouvido, um pouco receosa.

– Oi, Harry... – eu o cumprimentei, tentando disfarçar a minha surpresa. O moreno respondeu, sociável – Tudo sim e com você?

Um barulho de música eletrônica irrompeu ao fundo, atrapalhando a ligação. Harry não pararia sua diversão no meio da madrugada para me ligar sem nenhum motivo importante. Talvez alguma coisa ruim tivesse acontecido. Talvez ele quisesse me avisar algo sobre o meu irmão.

– Ginny, você pode repetir, por favor? – ele pediu, com a voz um pouco abafada – O som tá bem alto lá fora.

Repeti que estava bem e perguntei pelo meu irmão. Harry me tranquilizou e fez algo que eu já tinha perdido as esperanças que acontecesse logo em seguida. Ele me convidou para jantar. Repeti as suas palavras, tentando controlar a minha ansiedade. Angel e Hannah comemoraram, animadas. Eu fiz cara feia para elas, pedindo silêncio.

– Tem certeza? – eu precisava me certificar. Harry contestou e eu justifiquei a minha insegurança – Não sei... É que a gente andou meio afastado essas semanas...

– É óbvio que eu quero passar a noite do meu aniversário com você, pequena – não faz assim que eu não resisto, por favor – Não tem mais ninguém que eu queira fazer isso além de você.

Eu poderia negar aquele convite. Poderia sim. Eu estava magoada pelo nosso distanciamento durante as últimas semanas. Eu queria negar. Queria muito. Mas eu estava com saudades, e, algo me dizia que aquele convite era sincero.

– E pra onde vamos? – indaguei, aceitando o pedido. As meninas comemoraram caladas, mas balançando as mãos, empolgadas.

Harry combinou de me avisar quando tivesse decidido o lugar. Nós nos despedimos e eu encerrei a ligação logo em seguida. As duas curiosas se adiantaram logo em seguida, querendo saber o que conversamos. Eu relatei as duas o breve diálogo.

– Viu, eu te disse que ia ficar tudo bem... – Angelina comentou, sorrindo amavelmente.

– Mas gente, calma... – Hannah pôs a mão na têmpora, um pouco confusa – Vocês brigaram feio assim foi?

– Tá desatualizada mesmo, hein? – Angel brincou – A faculdade inteira viu o barraco, e, quem não viu, ouviu sobre depois.

– Brigamos sim, Hannah. E foi horrível – eu confirmei, respondendo a pergunta da loira – Mas aí gente conversou e depois disso eu achei que iria ficar tudo bem entre nós, só que o Harry tava me evitando durante todos esses dias.

– Nossa... por quê? – Hannah questionou, sem entender.

– Não sei – eu realmente não sabia – Quem sabe o que se passa pela cabeça do Harry?

     Ninguém.

– O importante é que parece que ele voltou atrás – Angelina ressaltou – E você tá toda caidinha que eu sei...

Um sorriso bobo escapou dos meus lábios. Meu rosto deveria estar vermelho. As meninas riram de mim e se aproximaram.

– Eu espero mesmo que vocês se resolvam, Ginny – a loira apertou a minha mão, indulgente – Vocês dois são um casal que eu torço muito que dê certo, você sabe disso.

Embora eu soubesse que o comentário de Hannah era verdadeiro, a expressão dela denunciava alguma coisa diferente. Me senti um pouco retraída em perguntar, porém Angelina, que também percebera o mesmo que eu, não teve a mesma sensibilidade.

– Que cara é essa, loira? – a minha amiga indagou, se virando para a outra mulher – Não vai me dizer que você e o Neville também brigaram?

     Meu Deus, Angel não tem nenhum filtro nessa língua!

Olhei feio para ela, que apenas deu de ombros, concentrando suas atenções em Hannah. Para a minha surpresa, a resposta que veio em seguida foi bem aberta.

– Antes fosse... – a loira se lamentou, enquanto mexia no pano que enfeitava o móvel a sua frente – Mas o Nev nem me olha mais direito, imagina brigar comigo.

Meu queixo estava no chão.

– Como assim? – agora até eu estava curiosa – O namoro de vocês tá, sei la, frio?

– Gelado... – Hannah suspirou pesarosa – Desde quando a residência começou, nós passamos a nos afastar cada vez mais.

– Talvez ele esteja só com ciúmes da sua dedicação – Angelina arriscou um palpite – Ou talvez seja a falta de tempo pra vocês dois...

– Eu sinto que é isso – ela concordou – E ele até me cobrava mais atenção antes. Eu tento ao máximo organizar o meu horário pra ter mais tempo pra nós dois, mas às vezes é impossível. Eu sou plantonista. E de emergência. Não posso largar os meus pacientes porque o Neville tá se sentindo sozinho.

 Angel e eu nos encaramos, sem saber o que dizer a Hannah.  A loira continuou o desabafo.

– Só que agora nem reclamação tem mais. Às vezes parece que ele já desistiu de se importar e não tem coragem de me avisar.

– Eu sei que eu não sou a pessoa mais indicada pra dar conselhos amorosos – você não é mesmo, Ginny – Mas você já tentou sentar com ele e conversar sobre vocês dois? Ou, tipo, tentar fazer algo diferente no namoro de vocês? Talvez seja uma fase. Vocês já namoram há bastante tempo, as coisas podem ter caído na rotina...

Angelina balançou a cabeça, concordando com o que eu dissera.

– Eu tô contando com esse aniversário pra isso. Espero que dê certo – a loira abaixou a cabeça, suspirante.

– Vai dar... – Angel apertou a mão de Hannah, solidária.

Voltamos a concentrar nossas atenções no painel, que estava ficando horrível, por sinal.

Dormi menos de cinco horas. Aproveitei a falta de sono para levantar da cama cedo. Mione chegaria em pouco tempo, visto que a minha amiga não tinha o costume de se atrasar. Nós tínhamos combinado de terminar os detalhes da comemoração, visto que Angel estava cobrindo a minha falta de um dos dias da semana anterior, que eu não pude ir, e a Hannah estava de plantão no hospital. Tomei uma ducha rápida e vesti uma roupa leve. Me dirigi a cozinha logo em seguida, para preparar o meu café. Assim que acabei de comer, não me importei em também dar jeito na bagunça que o Ron havia feito quando chegara da boate, lá pelas quatro da manhã. Lavar a louça estava quase me saindo como uma terapia nos últimos dias.

Já que eu estava na cozinha, aproveitei para interfonar para o Igor, nosso porteiro, e avisar sobre a chegada de Hermione. Ele me atendeu, simpático, e garantiu que liberaria seu acesso, como de costume. Não demorou muito até que a minha amiga chegasse. Ao primeiro toque da campainha, eu andei até a porta rapidamente. Mione me cumprimentou, sorridente, com um abraço. Eu retribuí, um pouco desanimada.

Lógico que a culpa não era dela, eu só estava insegura sobre o real motivo meu encontro com o Harry, à noite. Dado o estado que eu ouvira o Ron chegar em casa, eu poderia muito bem entender que o moreno também deveria ter enchido a cara. Eu não queria apenas me tornar o alvo de uma ligação insana, em um momento de embriaguez. Minha amiga passou por mim, sem dizer nada, e andou até a cozinha, enquanto eu fechava a porta.

– Então... – Mione começou a falar, voltando com um copo d’agua da na mão e sentando no sofá – Falta muita coisa pra arrumar?

Eu me sentei ao lado dela.

– Até que não, já tá quase tudo pronto. Eu até ia ligar pra você ontem a noite, pra te falar que não precisava vir, só que eu acho que não queria ficar sozinha agora de manhã.

– Ué, cadê o Ronald?

As sobrancelhas suspensas da minha amiga indicavam que ela realmente queria saber dessa informação, o que era estranho, visto que uma vez Harry comentara que ela e o Ron viviam em pé de guerra o dia inteiro. Expliquei a Mione que o meu irmão estava dormindo, pois havia chegado tarde de uma festa com o Harry, e ela fez uma cara estranha por alguns segundos. Eu podia jurar que o seu semblante se demonstrava um pouco insatisfeito.

Mione pigarreou, se recompondo. Ela cruzou as pernas, novamente altiva.

– Mas o que houve, Gin? – ela indagou, se referindo as minhas expressões – Por que você está assim?

– Eu não sei, Mione – eu suspirei, me jogando no encosto do sofá – Eu tô me perguntando se deveria ter levado a diante essa ideia de aniversário surpresa mesmo.

A minha amiga questionou se eu e o Harry havíamos nos resolvido sobre a nossa briga no ginásio.

     Boa pergunta.

Hermione ouviu todo o meu ponto de vista e aproveitando para tirar algumas dúvidas. Ela pareceu interessada em saber se o Harry havia me tratado mal de alguma forma depois da nossa briga do dia do jogo e eu me adiantei em garantir que não. Hermione pareceu muito aliviada ao escutar que ele tinha sido o Harry de sempre, sensato e educado.

     Mione não tá muito normal hoje não...

– Ele me pediu desculpas por ter gritado comigo e tal, e disse que se depender dele a gente nunca mais vai brigar daquela forma – falei, a tranquilizando – Eu fiz o mesmo, também sei que eu não fui a pessoa mais educada da face da terra naquele dia.

– Então qual o problema, Ginny? Se vocês dois se desculparam e resolveram tudo o que aconteceu, porque você está triste dessa forma?

Provavelmente a minha amiga deveria estar me taxando de louca agora, pois, pelo visto, não havia motivo aparente para a minha insatisfação.

– Porque a gente fingiu que resolveu, amiga. Ele me diz que está tudo bem, mas no fundo eu sei que não tá.

Eu expliquei a ela toda a situação, principalmente a parte de eu ter sido ignorada por ele desde a nossa pseudo-reconciliação. Aproveitei também para falar sobre o jantar e sobre o que eu achava em relação às condições do motivo do convite.

– Eu tenho quase certeza que tem um dedinho do Ron nesse convite – desabafei. Eu estava tão nervosa que acabei começando por destruir a fronha da almofada que eu segurava insistentemente.

     Melhor ela do que a cara do Harry.

Ou não.

Alguns minutos se passaram, em silêncio. Hermione parecia estar analisando todo o assunto.

– Gin, eu não acho que se ele te chamou, foi porque o Ron disse alguma coisa a ele – ela comentou, direta.

– Como não?

– O Harry nunca faz o que ele não quer fazer e você é quem mais sabe disso.

A afirmação era verdadeira. Uma pontinha de esperança me cutucou.

– Eu não sei que passa na mente do Harry, mas se tem uma coisa que eu tenho certeza é que ele gosta de você – a minha amiga continuou, racional – Se ele te chamou é porque ele quer passar o aniversário com você acima de tudo, porque se não fosse isso ele não teria dito nada. Ou melhor, teria sei lá, chamado todo mundo, feito uma festinha ou algo do tipo. Não sei.

– Então por que ele tem me evitado dessa forma, Mione? – eu estava insegura, ainda que todos os argumentos dela me parecessem bem sensatos.

– Eu realmente não sei – Hermione balançou os ombros, visivelmente sem resposta – Eu queria ter uma bola de cristal pra poder entender o que se passa na cabeça desses homens.

     Opa, parece que tem alguém que também está perdida...

Eu ri, curiosa. O tom da declaração me fez imaginar de quem ela estaria falando.

     Tomara que não seja do imbecil do Krum.

Eu esperava mesmo que a minha amiga tivesse virado aquela página. Embora ela não gostasse de demonstrar, eu sabia que ela havia sofrido com o término.

A conversa sobre o Harry terminou por ali. Aproveitei a pré-disposição de Hermione e a nossa manhã livre, e a arrastei para sacada, para dar um jeito no painel horroroso que eu e as meninas tínhamos feito. Duas horas depois de bastante material escolar gasto, nós havíamos feito um plano de fundo digno. Nós não, ela. Para ser sincera eu apenas tinha colado as peças no lugar onde Mione ordenara. Brincamos um pouco, falando sobre o nosso trabalho, até que eu me lembrei de algo importante.

– Mione, e o bolo? – a minha amiga não tinha dito nada sobre desde quando chegara. Admito que eu estava um pouco preocupada.

– Já está pronto, relaxe – ela respondeu, displicentemente, limpando o excesso de cola das unhas bem feitas.

Aquele tipo de frase, nada típica da minha amiga, era, na verdade, bem comum aos meus ouvidos.

– Nossa, você falou agora exatamente da mesma forma que o Ron fala as coisas – comentei, divertida.

– É, ele deve estar me influenciando...

     Certo, isso agora é um sorriso bobo.

Encarei Hermione sem entender porra nenhuma das reações dela naquela manhã. Ainda sim preferi me manter calada. Mione deu continuidade ao assunto.

– Por falar nisso, quem é que vai buscar lá? – ela parou de limpar a mão e me encarou.

Minha amiga não era muito apta ao volante. Eu deveria ter me lembrado desse detalhe. Brinquei, me repreendendo e ela sorriu.

– Vou pedir pra o Ron ir te buscar, então – comuniquei, me virando em sua direção – O bolo já está na sua casa?

– Não – ela respondeu – Era muito pesado pra carregar sozinha, aí eu pedi pra Cari guardar mais um pouco para mim.

– Ah, ótimo. Então é bom que ele vá mesmo porque aí ele pega pra você.

– Certinho – Mione concordou, enchendo o peito de ar e fazendo uma cara engraçada – As velas a gente coloca lá na hora né?

     Ai meu deus, as velas!

Eu tinha esquecido completamente de compra-las. Hannah havia me pedido na semana anterior, mas eu estava com a cabeça tão cheia que acabei esquecendo. Me levantei correndo, atravessando a porta da sacada e andando em direção a minha bolsa, no aparador da sala.

Hermione me seguiu, assustada. Ela indagou se ninguém havia comprado as velas e eu confirmei que não. Minha amiga se ofereceu para ir ao mercado comigo. Eu neguei e pedi para que ela reunisse tudo o que seria levado para o Caldeirão à noite. Bati a porta logo em seguida e corri para o elevador. O que eu encontrei na volta foi o suficiente para começar a explicar o motivo da reação da minha amiga.

– Mione...? – chamei, assim que entrei em casa – Amiga, tá aí...?

Ninguém me respondeu. Imaginei que ela já estivesse ido embora, mas meus olhos se fixaram na sua bolsa marrom, que descansava no canto do sofá. Passei alguns segundos, me perguntando onde Hermione estaria, até que ouvi um barulho de leve vindo do quarto do meu irmão. Atravessei a sala e andei até o corredor.

– Ron? Já acordou? – girei a maçaneta sem bater, como de costume.

Para a minha surpresa, a porta estava trancada. E o silêncio continuava, levando a minha paciência embora, inclusive.

– Ron! – chamei mais uma vez, já estressada.

Mais silêncio.

Minha cabeça começou a funcionar a mil, formando algumas teorias.

     Não... não é possível que... ou é?

Sacodi a cabeça, dispersando os pensamentos. Eu deveria estar delirando. Não existia nenhum indício sobre a minha suposição.

     Ou havia e você não viu, Ginny?

A porta do quarto do meu irmão se abriu rapidamente e Hermione saiu de lá, sorrindo ansiosa. Não pude deixar de arregalar os meus olhos com o aparecimento. Pelo visto as minhas breves desconfianças estavam certas.

– Oi Gin! Comprou as velas? – ela sorria, mas eu pude perceber que estava nervosa.

     Sério mesmo, Mione?

Eu não estava acreditando no cinismo da minha amiga. Respondi que sim e me adiantei em perguntar logo o que me interessava.

– Mione, o que você tava fazendo aí dentro?

– Amiga, depois a gente conversa, é que eu tenho que ir – Hermione passou por mim tão rápido que eu quase não consegui raciocinar.

A minha amiga seguiu em direção à sala e eu corri atrás dela. Hermione deu uma sequencia de desculpas e saiu do apartamento apressada, sem nem olhar para trás. Voltei até o quarto de Ron, sem perder tempo, decidida a entender o que estava acontecendo. Não é que a ideia de ver a minha melhor amiga com o meu irmão juntos me incomodasse, pelo contrário, eu só estava confusa. Além de que ainda existia a questão do envolvimento do meu irmão com a Angel. Eu tinha quase certeza que havia rolado alguma coisa entre os dois, embora ela não me dissesse nada. Eu não queria que Ron retornasse a sua antiga mania de adolescente de pegar todas as minhas amigas mais próximas.

Assim que eu entrei no quarto, dei de cara com o meu irmão já pronto para sair. Frustrando as minhas expectativas, ele fez exatamente a mesma coisa que Hermione. Fugiu, sem me dar nenhuma explicação. Voltei para dentro de casa, brava com os dois. Acabei não refreando meu riso quando bati a porta. No fundo era bom saber que Ron estava seguindo a vida e deixando de lado qualquer pensamento que poderia aparecer sobre a maldita que havia destruído a vida dele em Londres. Afinal de contas, era para isso que ele tinha voltado. Para se reestruturar.

Deixei de lado as questões sobre a vida amorosa e sexual do meu irmão e me concentrei no que estaria por vir. O meu jantar com o Harry. Eu estava ansiosa, e não era pouco. Acabei me dando conta de que não havia comprado presente para ele. Minha falta de esperanças no convite apagou da minha mente qualquer possibilidade de fazer algo que o agradasse. Reuni as coisas na sala e sentei no sofá, pensando no que fazer para presenteá-lo.

Embora Harry fosse herdeiro de uma fortuna absurda, ele era uma pessoa simples. Tão simples ao ponto de eu não saber o que comprar. Olhei para os lados, buscando uma ideia. Não encontrei nenhuma. Apertei as minhas têmporas, focando a minha mente. Mais de dez minutos se passaram e nada.

     Nenhuma solução.

Vencida, apelei para a internet. A tarde foi passando e eu não encontrava nenhuma ideia interessante.

     Pensa, Ginny, pensa...

– Certo... – comecei a falar comigo mesma – Do que o Harry gosta?

Artigos de futebol, videogames, filmes e cerveja, foram às primeiras coisas que vieram a minha mente. Nenhuma delas se encaixavam no perfil de presentes. Eu não teria tempo de sair para comprar nada disso, além de que, duas dessas opções eu sabia que o Harry tinha de sobra em casa.

– Tem que ter mais coisa... – levantei do sofá e comecei a andar de um lado para o outro, apreensiva – Não é possível que eu não conheça o Harry ao ponto de poder escolher um presente de aniversário. Eu devo tá deixando passar algo.

E estava.

Uma lâmpada se acendeu no meu cérebro. Havia outra coisa que o Harry gostava tanto quanto qualquer objeto da lista que eu tinha feito. E o melhor de tudo, era de graça e também iria me satisfazer. Sentei novamente no sofá, puxando o laptop para o meu colo mais uma vez.

– Vamos ver... – levantei a aba do navegador – Brincadeirinhas para casais...

Uma gama de opções apareceram diante dos meus olhos. Abri diversos sites a procura da ideia que mais me agradasse. Depois de alguns minutos de pesquisa, encontrei duas que me pareceram boas o suficiente para servir como um presente de aniversário.

– Você não facilita as coisas pra mim, Potter. Então também as tornarei difíceis para você... – comentei, atrevida.

Um risinho maléfico pairava em meus lábios. Finalizei minha tarde com uma certeza: depois desse aniversário, ou o Harry terminaria comigo ou ele me assumiria de vez.

 

 


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários de vocês.

Pra quem quiser acompanhar o outro lado da história, esse capítulo faz ligação com três outros lá d'A Troca. Então:

==> Se vocês desejam saber na íntegra a conversa da Mione com a Ginny, basta dar uma espiada no capítulo 13 - "A Obra de Arte";

==> Se vocês desejam saber o que aconteceu dentro do quarto do Ron, é só dar uma lidinha no capítulo 14 - "O Acerto de Contas"
==> Se vocês desejam saber qual foi a reação da Mione ao sair do quarto e sobre os bastidores do aniversário do Harry, é só dar uma olhada no capítulo 15 - "A Primeira Opção"
Beijos, até semana que vem!


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