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História A Escolha - O Jantar


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oie gentchê,

Primeiro eu gostaria de pedir um milhão de desculpas. Pra quem acompanha minha outra fic, eu disse lá que tive problemas técnicos com o meu notebook e as postagens iriam atrasar. Acontece que esse capítulo não tinha nem duas linhas prontas. Só pude começar a escrevê-lo na quinta e eu não sou uma pessoa muito ágil quando tô construindo os textos. Então sorry mesmo.

Segundo, peço pela água de jesus que vocês deem uma lidinha nas notas finais ~smile ~
Agora vamos ao que interessa.

Capítulo 6 - O Jantar


– Harry, esse é o Ron, meu irmão. Eu te falei que ele estava vindo morar aqui comigo.

Ginny me explicou o fato como se eu não fizesse a mínima ideia da volta do irmão dela. Não sei qual era a intenção da ruiva, mas com certeza eu não estava gostando daquela imparcialidade. Ronald arqueou as sobrancelhas, inquisitivo.

– E ele é...? – ele perguntou enquanto ela se afastava para voltar a vestir a roupa.

– Ele é o Harry – Ginny disse como se fosse óbvio. Ronald a encarou incrédulo. Eu também.

– Só isso que você tem a me dizer, Ginny? – ele voltou a perguntar

– Só isso. Ele é só o Harry, irmãozinho.

     Só o Harry.

Maldita mania que Ginny tinha de usar minhas próprias frases contra mim. Eu terminei de vestir minha roupa e pus meus óculos de volta. Andei até Ronald e estendi a mão. Não seria interessante que ele pensasse que eu era apenas um retardado dentro do quarto da irmã dele.

– Me chamo Harry Potter – ele disse. Ele apertou minha mão de volta quando eu a estendi – Sou o... o amigo da Gin.

Porque era isso que eu era mesmo. No fundo Ginny estava certa em esfregar isso na minha cara. Ronald me pediu desculpas pela cena ocorrida agora a pouco e eu o tranquilizei, informando que estava tudo bem. Talvez se eu estivesse no lugar dele a minha atitude tivesse sido a mesma. Mas, infelizmente, eu não tinha irmãs, nem ninguém da família próximo o suficiente para me dar ao luxo de te ter essa reação. Me despedi dos dois e segui de volta para o meu apartamento.  Era melhor deixa-los aproveitar o reencontro sozinhos. Quando eu cheguei à portaria do meu prédio o zelador me recepcionou, confuso.

– Sr. Harry, já de volta? – ele perguntou, sem entender – Sem querer ser intrometido, mas não tem nem uma hora que o senhor e a Sra. Ginny saíram daqui.

– É... – merda... eu não consigo lembrar o nome desse porteiro de jeito nenhum – Apareceu um imprevisto e ela vai ter que se ocupar hoje...

– Ah... – ele lamentou – É uma pena, senhor...

– É... uma droga.

Eu me despedi do porteiro e segui em direção ao elevador. Assim que a porta abriu dei de cara com Cho. Ela enxugou o rosto apressada, parecia estar chorando. Eu olhei para os lados sem saber o que dizer.

– Oi, Harry. Tudo bom? – Cho me cumprimentou falsamente animada.

– Err... Tudo? – eu respondi confuso com a súbita mudança de comportamento dela.  Abri um sorriso tão falso quanto a empolgação dela – Tudo... Tudo sim...

Entrei no elevador e apertei o botão do meu andar. Cho permaneceu parada no mesmo lugar. O elevador começou a subir de volta.

– Você não ia descer? – eu indaguei.

– Eu deveria? – essa mulher tá maluca, só pode.

– Como é que eu vou saber?! – eu respondi, a encarando.

Ela fechou os olhos e riu de si mesma.

– Minha cara tá um merda, né? – Cho me perguntou.

– Bastante – estava mesmo – Aconteceu alguma coisa?

Cho balançou a cabeça, afirmativa. Ela pôs a mão na porta do elevador quando a gente parou no terceiro andar.

– Quer ir tomar um café? – Cho me perguntou. Eu ponderei mentalmente por alguns segundos e ela percebeu.

– Eu não sei se eu sou a melhor companhia que você vai encontrar por aqui hoje – expliquei, sincero – Talvez não seja uma boa ideia você me levar junto.

– Ah, qual foi, Harry...? Pior do que eu você não tá, te garanto – ela argumentou e eu levantei uma sobrancelha, discordante. Cho riu – Vem, vamos... Pelos velhos tempos...

Cho me puxou pela mão e eu não tive como recusar. Pra falar a verdade, eu achava até que seria até bom para me distrair um pouco. Descemos pela escada de emergência e saímos do prédio pela garagem. Cho me levou a um café perto do nosso condomínio. O lugar era bem aconchegante, lembrava um pequeno chalé veneziano. O lugar estava com pouco movimento. Assim que nós entramos, uma senhorinha muito simpática nos cumprimentou.

– Boa tarde, meu amores. Mesa pra dois? – nós confirmamos. A senhora voltou a perguntar, com um olhar maroto – Preferem algum lugar mais reservado?

– Não é necessário, Batilda – Cho se apressou em esclarecer – Harry e eu somos somente amigos.

– Ah... É que você sempre vem sozinha, eu achei que dessa vez... – Batilda parecia decepcionada – Vocês formariam um belo casal...

Nós nos olhamos, envergonhados. A mulher percebeu e sorriu, antes de se manifestar novamente.

– Enfim lindinhos, me acompanhem.

Ela nos levou até uma das mesas mais próximas da janela. Nós agradecemos a amabilidade da dona do chalé. Eu me apresentei assim que sentamos e Batilda estranhou nunca ter me visto por ali. Segundo ela, era um crime não visitar a Melisse em algum momento da semana.

– Tem menos de um mês que eu me mudei pra esse bairro – eu me justifiquei – Ainda não tive tempo de conhecer toda a vizinhança.

– Pois bem, Sr. Potter. Espero ver o senhor por aqui mais vezes – ela decretou e eu confirmei, sorrindo.

Cho pediu um expresso e eu um cappuccino. Batilda se afastou com os nossos pedidos. Nós permanecemos calados até quando uma garota, que o pressupus pela idade e pelas semelhanças, que deveria ser uma das netas da senhora que nos recepcionou, veio trazer os nossos cafés.

– Ainda os mesmos costumes – Cho apontou para o meu cappuccino. Eu acabei sorrindo com a afirmação nostálgica.

– Já você mudou os seus – eu comentei – Achei bem estranho você pedir um expresso. Antigamente você gostava de qualquer coisa que viesse cheia de chocolate.

– Ainda gosto. Só mudei um pouco os hábitos – ela bebericou o café antes de completar – Acho que nós dois mudamos muito, né?

– Mudamos... – eu falei após alguns goles de cappuccino. Algumas lembranças divertidas afloraram na minha mente – Você nem usa mais aquele aparelho colorido na boca... Qual era a cor que você gostava mais mesmo?

– Verde cana. Tava na moda – ela se justificou, orgulhosa – Por falar nisso, única coisa que continua igual é esse seu cabelo sem pentear.

– Eu gosto de pensar que ele tem vontade própria – agora eu que estava me defendendo.

Cho riu abertamente e eu a acompanhei.

– Aconteceu alguma coisa? – eu indaguei, me referindo ao episódio do elevador.

– O de sempre. O que faz todo mundo chorar – ela deu de ombros – Problemas no relacionamento.

– É, sei bem como é isso... – eu concordei, pensativo.

Cho franziu a testa, estranhando.

– Sabe? Achei que você e aquela ruiva bonita... Como é mesmo o nome dela?

– Ginny – eu respondi.

– Isso – Cho sorriu – Eu achei que vocês estivessem bem. Vocês parecem tão apaixonados juntos que é difícil pensar outra coisa.

– Nós somos. Pelo menos eu acho que somos – era tão estranho conversar sobre isso com minha ex-namorada da adolescência – Mas a gente não facilita muito as coisas. Eu principalmente.

– Por quê?

     Porque eu sou um imbecil.

– Porque eu sou um idiota com bloqueio, pelo que parece – eu disse – E eu acho que isso não tem conserto.

– Não tem? – Cho se apoiou os cotovelos na mesa e me encarou.

Eu não respondi. Apenas me larguei na cadeira e soltei um longo suspiro. Ela entendeu o recado.

– Sabe, Harry, eu me casei muito cedo. E com um homem que eu nem conhecia direito. Nas minhas tradições casamento é pra sempre, sabe? Então ou eu aprendo a conviver com ele ou eu esqueço que tenho uma família. Isso é algo que eu posso chamar irreversível – Cho não me encarava mais, apenas olhava pela janela. Não havia pesar na sua fala, apenas indiferença – Mas olha pra você. E olha pra ela. Vocês são livres pra escolher. Quer coisa mais mutável que isso?

– Você falando assim torna tudo mais fácil do que realmente é.

– Eu daria tudo pra voltar atrás, Harry. Tudo. Eu teria esperado mais pra decidir. Eu teria o conhecido melhor. Não deixaria o meu medo falar por mim – ela rebateu, me fitando – Então por que não seria fácil pra você, já que seu caminho é livre?

– Porque eu não sou bom pra ficar com ninguém, Cho. Eu sou uma péssima companhia. Você bem sabe – eu sorri de canto, sem vontade – Uma hora Ginny vai perceber isso e vai embora. Por isso é melhor deixar as coisas como estão, aí eu não me magoo, ela não se magoa, e todo mundo segue em paz depois.

– Você foi embora, Harry. E eu tô aqui vivinha, até agora – Cho mencionou. Ela levantou uma sobrancelha e apontou a colherzinha do café na minha direção – E você também, mesmo depois de tudo o que aconteceu. Mesmo depois de tudo que você descobriu.

Senti meu corpo enrijecer. Todos aqueles anos haviam se passado e ela ainda se lembrava do que havia acontecido.

– Cho... – eu comecei a falar. Acho que eu estava agitado, sem saber exatamente o que dizer.

Ela se adiantou.

– Fica tranquilo, Harry. Eu nunca contei nada a ninguém – o olhar que eu recebi foi crucial – Pelo visto você também não...

– Essa dor é só minha. Eu não preciso envolver ninguém nela.

– Então essa é a sua decisão? – Cho questionou.

     Tem que ser.

– Eu tenho que ir – eu falei, me levantando rapidamente.

Pus a mão no meu bolso, alcançando a carteira. Cho levantou a mão indicando que não precisava. Eu agradeci silenciosamente e saí do café. Segui até o meu apartamento pensando no que Cho me dissera. O final de semana terminou da mesma forma que havia começado, monótono. No final da tarde do domingo Ginny me ligou, pedindo que eu auxiliasse o irmão dela com matrícula do dia seguinte. Como nós fazíamos o mesmo curso, seria bem mais fácil para mim guia-lo nos processos da universidade. Eu confirmei a minha ajuda e logo depois desliguei o telefone.

 Na segunda-feira eu me encontrei com Ronald no corredor da administração, um pouco antes da aula. O lugar estava cheio. Era início de semestre e, como sempre, uma infinidade de alunos provavelmente estaria cheia de problemas curriculares. Depois de um tempo sentado, esperando, eu olhei no relógio. Já passado das duas da tarde.

     Você perdeu a primeira aula, Harry.

Não era algo tão alarmante assim. Ainda era a primeira semana de aula. Ronald, que até então estava sentado do meu lado de cabeça baixa, levantou o rosto e analisou a minha atitude, um pouco preocupado.

– Pode ir pra aula, cara – ele falou – Eu fico aqui, sem problemas.

– Tá tranquilo, esse professor não vai me condenar pela falta não – respondi, sincero.

– É né... só que deve ser chato pra caralho ficar aí sentado esperando pela matricula de alguém que você nem conhece direito.

     Bastante.

A franqueza da frase dele acabou me fazendo dar risada.

– Pode falar, a Ginny deve ter enchido o seu saco pra me acompanhar, né? – ele completou – Ela adora fazer essas coisas.

– Na verdade eu aceitei rápido – já que é pra ser verdadeiro... – Ela iria me convencer de qualquer forma. Ela sempre me convence.

– É cara, você tá fodido que nem eu.

Eu soltei uma gargalhada com o comentário de Ronald. Ele acabou me acompanhando. Logo depois o nome dele foi chamado pela assistente de McGonagall. Eu permaneci sentado no banco de concreto enquanto ele resolvia suas pendências dentro do gabinete. Em menos de quinze minutos Ronald retornou, sorridente. Seguimos pelo corredor central em direção à saída do pavilhão. Eu perguntei se tinha ocorrido tudo bem e ele me confirmou, estendendo um papel com a grade curricular temporária para mim.

– Ei, pegamos as mesmas matérias praticamente! – eu falei, surpreso e animado. O que era estranho por sinal. Eu estava feliz com similaridade das nossas grades e nem sabia o porquê.

– Pegamos? – ele perguntou. Parecia estar surpreso também.

– Pegamos – eu confirmei, achando graça.

Nós falamos um pouco mais sobre os motivos da temporariedade da grade de matérias enquanto praticamente corríamos para a lanchonete. Pelas minhas contas nós iriamos chegar atrasados para a aula de Snape e eu não estava nem afim de ouvir sermão no meio da sala.

Dito e certo. Assim que entramos no laboratório, Snape fez questão de pausar sua explicação desnecessariamente, apenas para reclamar sobre o meu atraso. Eu me controlei ao máximo, fechando os meus punhos, para não dar a resposta que ele merecia ali mesmo, na frente de todos. Ignorei Snape e arrastei Ronald até uma bancada vazia nos fundos da sala.  Snape se concentrou na explicação do trabalho da parte onde ele já estava.

– A primeira etapa será a escolha do tema e o recolhimento das amostras que serão estudadas. Essa parte deverá ser entregue semana que vem.

– Ei! Cho! – eu joguei uma bolinha de papel na cabeça dela e ela olhou para trás, de cara feia.

– O que é, Harry? – Cho sussurrou de volta.

– Snape esta falando de que?

– Do trabalho da unidade – ela respondeu sem vontade de dar mais explicações. Pelas suas expressões, a minha fuga da nossa conversa de sábado não tinha sido bem recebida.

– Na terceira etapa vocês me irão me entregar um estudo dirigido sobre a análise que vocês fizeram na segunda etapa... – Snape prosseguiu com a explicação.

Joguei outra bolinha de papel em Cho novamente.

– Sobre o que é o trabalho da unidade, minha filha?

– É pra fazer em dupla – ela respondeu rapidamente – A gente escolhe algum marco natural, pode ser qualquer um, de qualquer lugar, e desenvolve um estudo químico completo sobre ele.

– Obrigado, Cho – Harry agradeci com um sorriso dissimulado.

– De nada – ela respondeu irritada – E pare de jogar bolinha de papel em mim.

Eu e Ronald rimos do estresse dela. Snape terminou a elucidação falando sobre a entrega de um relatório final com todos os processos de análise e sobre a apresentação de um seminário. Eles nos deu dez minutos para nos dividirmos em duplas, com as pessoas que estavam presentes na sala.

– Posso fazer dupla com você, cara? – Ronald me perguntou.

De poder ele até poderia, mas tinha um probleminha: Hermione. Nós sempre fazíamos duplas, contudo, com ela viajando, Snape não aceitaria que eu a citasse. Eu também não tinha o interesse de deixar Ronald sozinho. Ele não conhecia ninguém ali naquela sala.  Antes que eu terminasse de fomentar alguma solução sobre essa questão, a assistente de McGonagall entrou na sala e se dirigiu diretamente a Snape. Eles trocaram algumas palavras e ela entregou um papel a ele. Discordante, Snape aceitou. Assim que ela saiu da sala, ele se virou para a turma.

– Me entreguem o nome das duplas.

Ronald e mais algumas pessoas se levantaram para entregar os nomes. Assim que se certificou que todos haviam entregados os papeis, Snape sorriu convencido. Segundo ele, Hermione teria que fazer o trabalho sozinha, pois todas as duplas já tinham sido formadas. Eu me adiantei e pedi a palavra. Não poderia deixa-la sem companhia, a atividade era muito extensa. Incrivelmente Snape me concedeu a voz.

– Nós podemos formar um trio com ela – Harry sugeriu, apontei de Ronald para mim sem nem pergunta-lo se concordava com a minha decisão. De qualquer forma ele não pareceu se importar.

– E por que eu deveria autorizar, Potter? – Snape indagou, levantando as sobrancelhas.

Eu apelei para o óbvio.

– Porque Hermione escreve demais. Aceitar te daria um trabalho a menos pra corrigir.

Snape avaliou a proposta por alguns segundos.

 - Certo, Potter – ele respondeu por fim – Vocês são um trio agora.

Para a minha felicidade a aula não se demorou a terminar. Ronald e eu seguimos para o estacionamento. Se esse primeiro encontro acadêmico com Snape já tinha me deixado angustiado, imagina a droga que não seria o resto do semestre. Eu precisava relaxar a minha mente. Sugeri a Ronald que fossemos a um bar perto do meu apartamento. Eu tinha quase certeza que ele não ia aceitar, por causa do episódio de sábado, mas não custava nada perguntar. Mis uma vez ele me surpreendeu, aceitando o convite.

– E aí, Harry? – Bob me recepcionou rindo assim que chegamos ao bar – Você aqui na segunda?!

– Ainda não consegui dizer adeus às férias, Bob – eu respondi.

– Estudar ninguém quer... – Bob comentou. Ele ajeitou a bandeja no braço – Mas já que você tá aqui, vai de que?

– Cerveja? – eu me virei na direção de Ronald.

– Sim ou claro? – a indagação dele era óbvia.

– Duas cervejas, Bob – eu respondi, rindo.

Bob retornou logo depois, com duas cervejas. Ronald me perguntou qual era o meu problema com Snape e eu apenas respondi que eram questões familiares. Falamos um pouco mais sobre o assunto. Ele não se aprofundou nas perguntas, o que foi bom para mim. Esse assunto sempre acabava me deixando na defensiva e estragando qualquer diálogo.

Após algumas cervejas a conversa seguiu por outro viés, permeando principalmente os assuntos da universidade. Um pouco depois das nove ele anunciou que estava indo embora e eu não tardei a fazer o mesmo. Na terça feira eu acordei tarde e cheguei atrasado para a aula de Bioquímica. Ron me esperava na cantina, sem se importar com a minha demora.

– E aí, cara? – eu falei assim que ele se juntou a mim pelo corredor – Foi mal, dormi demais.

– Relaxa, eu nem sei de quem é a aula hoje – ele respondeu sorrindo enquanto nós subíamos a escada.

– Ué, e o papel que McGonagall te deu ontem?

– Digamos que eu não sei onde eu coloquei – ele disse.

– Você já perdeu o cronograma?! – eu ri. Aquilo não era possível.

– Perder é uma palavra muito forte – ele replicou, se defendendo – Eu apenas não me lembro onde guardei.

– Então diga isso a McGonagall – nós entramos no laboratório de bioquímica – Porque hoje a aula é dela.

A professora interrompeu a aula assim que nós dois entramos na sala. Diferentemente de Snape, ela foi bem mais cordial.

– Boa tarde, Sr. Potter. Boa tarde, Sr. Weasley – ela nos cumprimentou, segurando o apagador entre as mãos – Pelo visto os senhores já estão bastante familiarizados na questão dos atrasos.

Eu estava prestes a pedir desculpa pela demora, porém Ron foi mais rápido.

– A senhora sabe como é, né? Famoso nunca chega cedo – ele respondeu, divertido.

Os outros alunos riram do comentário de Ronald. A professora apenas rolou os olhos, jocosa. Ela indicou que nós sentássemos em uma das bancadas e explicou novamente a parte da aula que perdemos. Ron e eu começamos a fazer a atividade, conversando sobre alguns assuntos triviais.

– Mentira que você torce pra o Chudley?! – ele me perguntou, animado – Lá em casa só eu torço. Era deprimente assistir os jogos sem companhia.

– Nem me diga – eu comentei – Snape nem de futebol gosta. Só depois de adulto que eu passei a ir assistir nos barzinhos, com os meus colegas.

– Você mora com Snape?! – Ron me perguntou. Ele fez uma cara de perplexidade.

– Morava – eu respondi, rindo – Me mudei de lá tem pouco tempo.

Eu já estava preparado para o turbilhão de perguntas sobre os motivos que me levaram a morar com Snape, no entanto, Ron apenas fez cara de nojo e balançou a cabeça em negação.

– Que bosta, hein? Deve ser um saco morar com aquela criatura – ele se sacodiu, como se estivesse se livrando de alguma coisa incomoda do corpo.

– Maior parte do tempo a gente só se ignorava mesmo – eu respondi.

– É impossível ignorar aquele cara. Ele parece a Mortícia da família Adams! – eu não consegui conter uma gargalhada – Só que a Mortícia é chique e simpática.

Eu ainda estava rindo quando ele completou.

– Você nunca acordou de madrugada e deu de cara com aquele morcego te olhando não? Eu iria tomar um susto da porra se eu visse uma imagem dessa na minha frente.

As minhas risadas triplicaram, até o momento que McGonagall encostou-se à nossa bancada.

– O que há de tão engraçado nessa aula, senhores? – ela perguntou, de cara feia.

– Essa linda molécula de... – Ron olhou de soslaio para o microscópio e depois me cutucou – Carboidrato... né Harry?

– Uhun – eu respondi, prendendo o riso – Ela é tão... extensa.

Os outros alunos olhavam a cena, divertidos.

– Extensa...? – McGonagall levantou uma das sobrancelhas.

– É... dilatada, sabe? Gigantesca... – Ron movimentou as mãos indicando algo grande. Mais uma vez eu contive uma risada.

– O que mais nós poderíamos esperar da molécula de um caroço de milho, Sr. Weasley? – ela questionou, sorrindo dissimulada.

– Que ela se transforme em um salgadinho, talvez?

A resposta dele foi o suficiente para fazer a sala inteira rir, inclusive a própria McGonagall. Ela fechou os olhos e pôs a mão na cabeça enquanto se afastava da nossa mesa. Ron deu ombros e nós voltamos a nos concentrar na atividade a nossa frente.

A aula acabou e cada um de nós seguiu para casa. A semana passou rapidamente e na sexta, Ron e eu fomos ao rio Jabuticaba, coletar material para a pesquisa de Snape. Como ele não sabia o caminho, eu fui busca-lo e nós seguimos para o rio de moto. Na volta, Ron e eu subimos até a casa dele para que eu pudesse pegar as chaves do meu carro de volta na mão de Ginny. Assim que entramos no apartamento, Ron partiu para o banheiro desesperado, pois estava todo molhado. Eu e Ginny ficamos na sala, nos encarando por alguns segundo, até que ela andou em minha direção e me abraçou. Eu retribuí com um beijo.

– Não está mais zangado comigo, então... – ela falou assim que nós afastamos as nossas bocas.

– Eu não estava zangado com você – eu repliquei, a segurando pela cintura.

– Então o que foi aquilo mais cedo?

A pergunta de Ginny era referente ao a nossa conversa seca no momento que eu cheguei ao apartamento mais cedo e ela abriu a porta para mim e a nossa breve despedida, logo depois. Em nenhum desses dois episódios eu me aproximei muito de Ginny. Talvez eu estivesse chateado com ela.

– Distanciamento de segurança – eu respondi, fingido

– Ah, tá bom Potter – ela me deu um tapa no braço – Por falar em trabalho, porque o Ron chegou todo molhado?

– Não sei, parece que alguém deu um susto nele e ele caiu na água – eu disse – Não vi quem foi, ele estava um pouco longe de mim.

– Logo lá na mata? – Ginny franziu a testa, incrédula.

– Tem gente doida em todo lugar.

Ela riu do meu comentário.

– A gente podia sair pra jantar, né? – eu sugeri, a apertando mais contra o meu corpo.

– É uma ótima ideia – Ginny concordou. Ela ficou na ponta dos pés e jogou os braços ao redor do meu pescoço – Mas e Ron? Não tem comida pronta aqui.

Eu sorri com a preocupação dela.

– Chama ele, eu não me incomodo – eu falei – Mas é melhor a gente ir logo. Hoje é sexta, os lugares enchem rápido.

Ginny concordou e entrou rapidamente no quarto. Alguns minutos depois ela saiu já pronta. Ronald saiu do quarto dele quase no mesmo instante. Nós o convidamos para ir conosco, no entanto ele respondeu que preferia ficar em casa e não atrapalhar. Sem muita insistência contrária, Ginny e eu descemos para o lounge. Nós seguimos para um restaurante no centro.

– Por que você não disse que iria me trazer nesse lugar, Harry? – Ginny sussurrou irritada enquanto o maître nos conduzia até uma das mesas – Eu teria vindo mais arrumada.

– Largue de besteira, Ginny. Você tá linda – ela sempre estava. Ginny sorriu com a minha resposta.

Nós nos sentamos. O maître entregou um cardápio a cada um de nós e se afastou, educado. Nós começamos a olhar as opções. Escolhemos a especialidade da casa, gnocchi recheado ao molho gorgonzola. Enquanto esperávamos o nosso prato chegar, Ginny se manifestou, animada.

– Fui bonificada! – ela comemorou sorridente – Agora estou fixa no departamento de pesquisa! O que significa que nada mais de trabalho durante a madrugada. E ainda tenho direito a três folgas a mais por mês.

– Parabéns, pequena. Você fez por merecer – eu enlacei as nossas mãos – Já sabe o que vai fazer com essas folgas?

– Dormir. Comer. Dormir de novo – ela respondeu, sonhadora – Praticar umas outras coisas também... Caso você tenha tempo, claro.

– Eu arranjo, não se preocupe com isso.

– O ruim é que agora eu preciso comunicar diretamente a administração toda vez que finalizar algum projeto – Ginny deu de ombros, mexendo no porta-guardanapos com a mão livre – Pelo menos foi a exigência que o meu supervisor fez.

– Por quê? – indaguei, curioso – Eu achei que as questões dos laboratórios não tivessem ligações com os processos burocráticos. Pelo menos não diretamente.

– Teoricamente não tem. Mas essa é uma das determinações dos diretores, em particular – ela explicou – A gente finaliza o processo, o engenheiro técnico analisa se tem algum erro. Depois, nós levamos para administração o projeto pronto e o advogado da empresa entra com algum tipo de requisição. A partir daí eu não faço a mínima ideia do que aconteça.

– Complicado isso – eu falei, estranhando tanta burocracia – E você tem uma equipe específica ou isso vai de acordo com quem esteja no dia?

– No departamento de pesquisa a equipe é fixa, por turnos. São dois auxiliares, dois estagiários, um técnico e um advogado – Ginny se mexeu no assento, empolgada – A Angel tá comigo, ela também ganhou essa mini promoção.

Eu sorri com o entusiasmo dela. Ginny falava do trabalho com um brilho especial nos olhos.

– Você sabe quem são os outros da equipe? – questionei, dando continuidade ao assunto.

Estranhamente ela se retesou.

– É, sei... – a resposta de Ginny foi evasiva. Eu franzi a testa, desconfiado.

– Quem? – indaguei novamente, insistindo. Ela sorriu amarelo.

– Ah, Harry... A maioria você não conhece...

– E daí? – semicerrei os olhos.

– Bom... Os auxiliares eu não sei quem são ao certo, mas provavelmente deve ser o Sam e a Emily. Eles são os únicos que trabalham pela manhã nesse lado da corporação. O Engenheiro técnico eu já conheço, é o Justino – Ginny pigarreou antes de continuar – E o advogado... é...

– O advogado...?

– O advogado sou eu, Potter.

Uma voz extremante presunçosa, e irritante aos meus ouvidos, falou bem atrás de mim. Virei rapidamente, irritado. Dei de cara com um homem sentado, de braços cruzados, vestido em um impecável terno de linho preto. Sua cabeleira loira, quase cinza, parecia imóvel de tão perfeitamente arrumada. Draco Malfoy nos observava bem ali, na mesa ao lado.  Automaticamente me arrependi de ter escolhido aquele restaurante.

– O destino é irônico, não é mesmo – um sorriso esnobe enfeitava o rosto dele – Parece que a Weasley e eu vamos ter que nos relacionar de novo.

– Profissionalmente, Malfoy – Ginny rebateu, ácida.

Malfoy replicou, ainda sorridente.

– Claro.... Ninguém disse que deixaria de ser...


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários de vocês!

Pra quem quiser acompanhar o outro lado da história, esse capítulo faz ligação com dois outros lá d'A Troca. Então:
==> Se vocês desejam saber como foi o dia da Ginny, com a volta do irmão, é só dar uma lidinha no capítulo 03 - "O Chocolate"
===> Se vocês desejam saber o que aconteceu durante a visita ao Rio Jabuticaba, é só dar uma lidinha no capítulo 06 - "O Rio"

Beijos, até terça!


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