História A Escolhida - Mammon

—Acorda... – a voz seguida pelo chute contra meu pé acabou me fazendo abrir os olhos enquanto percebia o fio de saliva escorrendo da minha boca e todos me encaravam rindo.

              Estava de volta à escola, na sala de aula, olhei para Ana que me acenou e Íris balançou minha cadeira com o pé, Helena apontou para a porta enquanto eu piscava os olhos e via os outros alunos rindo, a diretora entrou na sala de aula e nos observou enquanto eu a encarava, falou sobre a professora de matemática que estava grávida e anunciou o substituto, professor Marlon...

              Um japa, um maldito japa que parecia ter saído de um daqueles mangás, usava um paletó e uma camisa social, olhou para todos nós e se virou em direção ao quadro enquanto ela o observava, escreveu seu nome no quadro enquanto girava sobre os calcanhares e começou a falar, suave, polidamente explicou que ficaria até o regresso da professora enquanto as nerds já se mostravam afetadas por ele...

—Shhh – ouvi os risinhos e olhei para trás enquanto Júlia e Luísa riam ouvi um arfar e quando dei por mim ele estava sentado no canto da minha carteira olhando para mim.

—Oito vezes nove – ele perguntou me encarando.

—56 quer dizer 72 – respondi automaticamente e ele balançou a cabeça enquanto seus dedos deslizavam pelo colarinho da camisa e ele piscou os olhos levando as nerds a loucura enquanto se movimentava pela sala e eu o encarava irritada.

—Quem vale ouro nessa sala? Quem quer se tornar famoso? Rico? Ter sucesso? – murmurou rindo andando pela sala e por mais que eu estivesse confusa, aparentemente ele não desviava os olhos de mim, todo o tempo, mantinha contato visual comigo, enquanto explicava a matéria e perguntava coisas aleatórias que pareciam como um grande jogo, tudo parecia isso isso, estimulando apostas, fazendo propostas à medida que todos se encantavam com seus métodos de ensino das top ten mais odiadas matérias, ele mantinha aquele ar neutro embora seus olhos me afetassem como se estimulasse uma necessidade de me manter atenta, saber respostas ele me incentivara a participar de sua aula, todos queriam responder, ele simplesmente nos transformava em apostadores, disputando sua atenção, oferecendo mais e mais respostas à suas perguntas.

              Quando o sinal tocou, olhei para as meninas e elas olharam para mim, era uma sensação estranha, como se tivesse ausente, não conversavam comigo, me sentia triste, levantei e saí rumo ao banheiro enquanto o monitor andava pelo corredor, definitivamente me questionava sobre o que realmente havia acontecido, seria apenas um sonho? Tudo que acontecera? A balada, a bebida, o lindo Azaziel, sua moto...

Tentava entender aquela história enquanto me observava no espelho, levantei a camiseta e vi a maldita tatoo nas costas, enfim não era um sonho, era real tudo que acontecera, seria possível as meninas se irritarem por causa do novo professor? Revirei os olhos entrando em uma das privadas e fechei a porta.

—Aquele professor é um gato... —Vai dizer que está apaixonada? — Deus como são vadias —Como pode... O cara mal entrou... Você é cega? – as vozes se multiplicavam em comentários sobre o professor enquanto eu ouvia passivamente tudo que acontecia.

—Onde a Sara se meteu? – perguntaram repentinamente e todas ficaram caladas.

—Estou com medo do que aquele gato vai fazer... Já pensou se inventa de dar provas surpresa – a voz de Helena parecia um misto de medo e desconfiança.

—Deixe pra lá... Se precisar de ajuda... – a voz de Íris parecia mais amigável que antes.

—Vamos... O intervalo já vai terminar – uma das vozes parecia cronometrar os relógios.

              Saía do banheiro quando ouvi um arranhar típico de garganta, daqueles que quando ouve sabe que está muito encrencado.

—Quer apostar que ainda seremos íntimos? – o professor Marlon me observava enquanto eu o encarava sentado em um dos bancos, uma das pernas cruzada, as mãos apoiadas sobre ela e eu simplesmente balancei a cabeça tentando espantar os pensamentos nefastos que me faziam entortar os lábios em uma careta inútil.

—Você é maluco... – respondi passando por ele enquanto sentia seus dedos agarrarem meu pulso me fazendo girar sobre os calcanhares e encará-lo com um sorriso pervertido nos lábios — Quer me soltar? – murmurei enquanto ele largava meu braço automaticamente e eu fazia um bico — Quem é você afinal de contas? – balbuciei.

—Mammon my Darling, príncipe da ganância, rei das apostas, apreciador dos avarentos e egoístas– ele curvou a cabeça enquanto os cabelos negros deslizavam pelo seu rosto e eu perdia a noção da realidade arfando e fechando os olhos, o nó em minha garganta me fazia respirar ofegante enquanto sentia meus pulsos serem agarrados e meu corpo deslizava sobre braços quentes e bem conhecidos, Azaziel...