História A Escolhida - Imenso devaneio

—Você está muito brava comigo... – Azaziel murmurou rindo enquanto me encarava esmurrando seu peito inutilmente como se conseguisse descontar minha frustração.

—Não me faça de idiota – murmurei tentando golpeá-lo mais forte enquanto ele ria.

—Está bem... O quê foi? Eu pensei que você estivesse pronta e tudo que vejo é que ainda está ligada ao seu mundo, ao seu passado... Não costumo errar... Nosso encontro... – Azaziel cruzou os braços sobre o peito e rolou os olhos — Não posso acreditar que você...

—Shhh – murmurei me abraçando à sua cintura enquanto ele acariciava meus cabelos – Você poderia me desculpar? Foi um tormento... Voltar à escola... Você entende não é?

—Não – a voz de Azaziel parecia mais envolvente que antes – Você não pode se deixar envolver pelo seu mundo... Você nunca se encaixou, sempre a deriva, sempre procurando por um farol, uma direção... Toda sua beleza, toda sua força... Você se pintou, se perfumou, escolheu a melhor roupa... Você estava tão bonita... E... Determinada...

—O quê? Sobre o quê você está falando? – murmurei enquanto Azaziel suspirava sorrindo – Você está estranho... Não entendo o quê você diz...

—Eu ando pelo seu mundo desde sempre, sempre procurando por minha amada... – Azaziel murmurou sorrindo —Sabe quanto tempo? Quantas me enganaram? Eu não me importo... Sempre que encontro alguém que pareça com ela... De alguma forma... – Azaziel suspirou me observando enquanto se curvava e sua majestade se expandia por toda a parte, ele era algo único, um ser inacreditavelmente parecido com um humano, mas muito além disso... Impávido.

—Eu não consigo ter essa conversa com você... – murmurei olhando para minhas mãos enquanto mordia os lábios tentando ignorá-lo.

—Foram tantas... Tantas tentativas de revê-la por um momento, de tê-la em meus braços e satisfazer meus instintos – ele sorriu acariciando meus lábios — Naquela noite... Você dormindo na sala, babando, resmungando... Por um segundo... Eu a vi...

—Babando... – balbuciei fechando os olhos sentindo as lágrimas enchendo meus olhos – Eu babava e falava enquanto você me observava? – disse com a voz esganiçada.

—Não se preocupe com isso – ele murmurou rindo – Vocês são tão tolos, sempre se preocupando com a aparência enquanto estamos nos divertindo com suas mentes, com sua necessidade de conhecimento, o desenvolvimento da cultura e das artes... Estivemos todo esse tempo inspirando, ensinando, instigando e por isso fomos punidos... Simplesmente por nos apaixonarmos por vocês, por querermos transformá-los...

—Quer dizer que... – balbuciei balançando a cabeça enquanto ele me abraçava e beijava meu pescoço me fazendo perder qualquer linha de raciocínio que surgisse naquele segundo.

—Agora não existem mais desculpas... – ele murmurou puxando as mangas da camisola que se soltaram exibindo meu corpo enquanto ele se despia sem desviar os olhos e eu prendia a respiração tentando não falar nenhuma bobagem e quebrar aquele momento.

              Estive nos braços de um anjo, simplesmente foi o quê aconteceu, era a imensidão da solidão que vivíamos naufragar do mar de desejos que nos possuíram, as lembranças ecoavam das nossas veias e tudo tinha peso e medidas certas, não existia diferença, mentiras, verdades, tempestades, furacões, era fácil acreditar... Loucura, gloriosa tristeza de sentir nossos corpos se unindo, me ajoelhando diante dele e me curvando diante de seu poder... Tudo tão silencioso e perfeito... Apenas nossos olhos se comunicando, sem palavras, somente atos construindo, inventando tudo que nos faltava... Nos tocamos pela ultima vez, sorrindo, satisfeitos por nada, celebrando um pouco da paz que nos trazia aquele conforto que reinava naquele segundo.

—Durma meu anjo... – balbuciei sentindo o sono me arrastar pelas frestas da janela iluminada pelo sol que pintava listras na cama enquanto lutava para não fechar os olhos e perder a visão daquele lindo adormecido ao meu lado.