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História A Fênix - Cap. 12 - Doí como o inferno...


Escrita por: FehCivinski

Notas do Autor


Olá!
Sei que demoro, mas eu sempre volto...
Espero que gostem desse cap, eu fiquei muitos dias trabalhando nele, escrevendo e apagando muita coisa. Ainda estou trabalhando as idéias, elas vem e vão, mudam toda hora. Então me deem um desconto... hahha
Cap grande como sempre, cheio de informações, as coisas finalmente estão se esclarecendo, não totalmente, há muitas lacunas a serem preenchidas, mas tenham paciência pq logo tudo estará claro. Boa leitura.

Capítulo 13 - Cap. 12 - Doí como o inferno...


Como posso dizer isso sem quebrar, como posso dizer isso sem assumir, como posso colocá-la em palavras? Quando é quase demais para a minha alma sozinha...

Eu amava e eu amava e eu perdi você...

E dói como o inferno! Sim, dói como o inferno.

Eu não quero que eles saibam os segredos, eu não quero que eles saibam do jeito que eu amei você. Eu não acho que eles entenderiam isso, não, eu não acho que eles iriam me aceitar...

Sonhos lutam com máquinas dentro da minha cabeça como adversários. Venha lutar comigo livre, limpo para a guerra.

Hurts Like Hell / Fleurie



 

AUTORA:

O vão escuro da porta entreaberta a assusta, fechou os olhos e o coração para não se magoar e chorou o que há anos não chorava. Aquilo a fez se sentir viva, como se estivesse sendo sincera com os seus próprios sentimentos. Sozinha, contou as horas no relógio como quem conta os minutos, segundos, para ser feliz. A ansiedade de poder voltar a ser feliz a qualquer instante é gostosa, mas também tão cruel. Acontece que o sofrimento retarda o tempo, cria esperanças e ao mesmo tempo uma vontade louca de sumir. Sumir com toda a dor que se instalou no seu peito, a dor que engana, as vezes silenciosa e outra tão dolorosa quanto o inferno.

 

Não dá pra simplesmente passar uma borracha em cima de tudo o que ela viveu e voltar a ser alguém que não vai ser nunca mais, não dá pra ignorar a dor que vive dentro de sua alma, aquela dor que te faz agonizar todos os dias, que faz querer chorar ou nunca ter se machucado, não dá pra ignorar aquela dor que a a mudou pro resto da vida, não dá.

(...)

 

No domingo uma velha senhora levanta-se ao som do despertador, calçou seus chinelos e arrastou-se para o banheiro, fez sua higiene matinal em total silêncio, coloca seu uniforme e logo está pronta. Prepara o café escutando seu radinho com notícias do dia, ela sabe que hoje todos ali vão acordar um pouco mais tarde, ao menos a pequena Olívia.

 

Olga tem tempo para preparar um bolo de chocolate sem muito açúcar, dona Evangeline deu ordens expressas que estava proibido coisas doces, isso foi logo depois que Olivia teve uma forte dor de barriga. “Senhora Carter é uma boa mãe” Ela pensou. Mas a garotinha adora chocolate, então gentilmente a senhora pediu ajuda a Beth para que procurassem receitas saudáveis na internet e assim chegaram ao bolo de chocolate sem açúcar, mas que ainda é delicioso. O relógio marca 7:30h e o bolo ainda está no forno e agora ela prepara um café, ela sabe que sua chefe irá logo se levantar e o cheiro a deixa de bom humor.

As 8:00h Olga já está colocando a mesa e antes mesmo que termine a pequena garotinha de cabelos longos e loiros surge arrastando consigo seu pequeno cobertor. Olga para o que está fazendo e se abaixa para ficar a altura da menininha, de braços abertos ela espera pelo “Bom dia” de Olivia, esfregando os olhos ainda sonolenta a pequena vai até a senhora e dá um abraço.

- A princesa Olivia dormiu bem? - Olga pergunta.

- Uhum! - Olivia diz num resmungo preguiçoso. - Minha mãe já acordou?

- Ainda não, logo ela virá tomar café com você.

- Mas ela já está dormindo a muito tempo.

- Ela estava muito cansada, vamos deixar ela dormir mais um pouco ok?!

- Ok!

- Adivinha o que eu fiz para você hoje?

- Bolo de chocolate? - A menina diz e seus olhos se enchem de entusiasmo.

- Sim! Você pode sentir o cheiro? - Olga diz com um sorriso satisfeito por deixar a pequena tão feliz.

- Sinto! - Ela fecha os olhos se deliciando pelo cheiro que está no ar. Ao abrir os olhos de novo a garotinha parece triste. - Mamãe disse que não posso comer chocolate Olga.

- Eu fiz um especial, sem açúcar especialmente pra você.

- Sem doce? Qual a graça?

 

A senhora sorri divertida, Olivia é uma criança muito inteligente e espontânea que as vezes fala como se fosse adulta, talvez seja por seu convívio inteiramente com adultos, ela não tem outras crianças a sua volta o que a faz ser tão desenvolvida para pouca idade.

 

Já passam das oito da manhã e Evangeline não se levantou, Olga trabalha com ela a quase sete anos e foram poucas as vezes em que sua chefe perdeu a hora, nem mesmo aos domingos costuma ficar tanto tempo na cama. Embora Evangeline tenha uma reputação dura com outros funcionários, isso nunca se estendeu a Olga.

 

Talvez a velha senhora conheça Eve melhor que muitos, ela esteve presente por tantos momentos que aprendeu a vê-la apenas como uma mulher jovem de mais para tantas responsabilidades e ao contrário de tantos outros saiba que ela tinha um lado bom, mesmo que não gostasse de mostrar com frequência. Ainda de pijama Olivia assiste um desenho na tevê e se recusa a tomar café sem a mãe.

 

Com tantas coisas acontecendo a senhora queria pensar que Evangeline só estava exausta, mas no fundo a preocupação enchia seu peito, pensou duas vezes em ligar para o senhor Lewis, mas senhora Carter não iria gostar. Cautelosamente ela se aproximou da porta do quarto esperando ouvir qualquer barulho, mas só havia o silêncio do outro lado, ela sabe que não pode entrar sem permissão e que poderia levar uma bronca, mas arriscou quando girou o maçaneta e abriu a porta.

 

O quarto estava escuro, apenas a tevê ligada com uma imagem pausada na tela iluminava o ambiente. Era possível ver coisas espalhadas pelo chão e a loira dormia na cama, nela também havia objetos espalhados. Olga reconheceu a caixa velha e todas aquelas coisas, não era a primeira vez viu Evangeline dormir junto a elas, mas fazia muito tempo desde a última vez que viu todas aquelas velhas lembranças que Evangeline guardava. O coração se apertou ao olhar novamente a imagem da tevê, era a imagem de uma garota que se parecia com sua chefe, mas não era mais ela.

 

Então ela pode entender, toda vez que aquela caixa era aberta Evangeline se afundava, era como se fosse puxada para tão longe que não queria voltar, aceitava dar a mão para a depressão que quase tirou sua vida diversas vezes. Sem medo Olga entra no quarto e rapidamente desliga a tevê, recolhe todas as fotos espalhadas e aos poucos coloca de volta na caixa, junto as cartas, a roupa de casamento e todas as outras coisas.

 

Ela sabe que a única coisa capaz de trazer Evangeline de volta é Olivia, a senhora corre até a sala e diz que a pequena pode acordar a mãe se quiser. Liv pula do sofá e corre animada ao encontro da mãe, ela pula na cama e se agarra ao corpo adormecido da mulher, enche de beijos e carinhos até que a loira abre os olhos, ainda sonolenta ela dá um pequeno sorriso ao ver a filha. Mas em um movimento rápido Evangeline se senta e olha assustada para os lados, procura qualquer coisa e tudo está limpo. Seus olhos alcançam Olga e neles há gratidão.

 

- Bom dia princesa Olivia! - Evangeline diz agarrando-se a Liv e fazendo cócegas.

 

As gargalhadas da menina ecoa por todos os cômodos, é contagiante… Lutando para se livrar das mãos rápidas da mãe a pequena se contorce e quando Evangeline para os olha de Liv brilham ao ver o pequeno leão de pelúcia jogado ao longe, ela desce rápido da cama e suas mãozinhas agarram junto sí.

 

- Leãozinho! - Liv diz sorrindo.

 

O rosto de Evangeline empalideceu-se e ela olha nervosamente para Olga, perdida sem saber o que fazer. Aquilo deveria estar na caixa, longe dos olhos e das mãos de Olivia, mas agora era tarde.

 

- É seu mamãe? - Liv pergunta a mãe que demora alguns segundos para encontrar uma resposta.

- Sim, é meu.. - Ela diz num tom de voz calmo, um olhar delicado para filha que era inocente.

- Mas você é mãe, só os filhos têm leões de pelúcia.

 

Evangeline sorri e faz sinal para que a filha se aproximasse, ela a puxou para seu colo e arrumou seus cabelos atrás da orelha, seu peito subiu e desceu num suspiro longo antes de começar a falar, ela tinha prometido a sí mesma ser verdadeira com a filha, embora por vezes tentasse amenizar o peso da verdade.

 

- Este foi um presente do seu pai, ele deu quando a mamãe ainda não tinha você.

- Do meu pai? - Os olhos da menininha brilharam em fascínio, era sempre tão emocionante ouvir sobre o pai que nunca conheceu. Mas que graças a Evangeline era pintado de forma incrível.

- Sim, do seu pai. Ele me disse que era pra sempre lembrar dele.

- Posso ficar com ele mamãe? por favor, por favor?!

 

Como poderia ela lhe negar tal coisa quando pede tão docemente? Um sorriso e um aceno positivo  de cabeça bastaram para que Olivia desse um gritinho eufórico.

 

Da porta do quarto a velha senhora sente-se aliviada, e em silêncio deixa as duas e volta para a sua rotina.

 

(...)

 

O sol da tarde já invadia o quarto de hotel, o corpo do homem ainda jogado na cama, garrafas de bebida espalhadas pelo quarto junto a algumas bitucas de cigarro. Ele se remexia na cama, revirava-se enquanto um sonho o obrigava a voltar onde se recusava quando estava acordado, a parte que ele escondeu de si mesmo.

 

Londres, domingo - Justin Bieber.

(Sonho)

É feriado e decidimos  ir até a casa do lago da família da Felícia. Era o último domingo de julho. Fizemos uma fogueira e sentamos ao redor dela. Tinha um violão velho e comecei a dedilhar algumas notas. Timidamente cantando uma velha canção do Nirvana “Come As You Are”, os olhos da minha garota brilha através da chama, enquanto seus cabelos brincam com o vento e seu corpo se encolhe dentro do cobertor, estou dividido entre soltar o violão para que eu mesmo possa aquecê-la ou continuar tocando enquanto seus olhos me aquecem.

Seu cabelo loiro se confundia  com a cortina de chamas que emanava da fogueira. De alguma forma eu não  conseguia parar de olhar e para minha surpresa,  na quarta estrofe  da música, ela começou  a cantar junto,  cada vez mais empolgada, eu adoro quando ela sorri dessa forma, de um jeito tão despreocupado.

No último  acorde,  Eve  me olhou e sorriu,  os outros aplaudiram, tudo aquilo soava de uma forma ainda mais desesperadora para minha timidez estúpida. A galera ecoava  aquele tradicional  grito de incentivo: “Beija… Beija…Be..” Antes do fim do terceiro brado,  ela me puxou pelo colarinho da camisa e me beijou, beijou com posse, sem medo, com a certeza que assim como todas as coisas que ja desejou na vida se tornaram suas eu também me tornei dela.

A fogueira queimava em mim, o céu estrelado  caiu sobre nós, como um lençol cai bem em noites frias, o últimos dedilhados no violão embalavam nosso beijo, e todos  os outros naquela noite.

(...)

 

As batidas na porta me acordam soando como badalos de um gigantesco sino, grito para que seja quem for vá embora, não quero serviço de quarto, mas as batidas continuam e levanto-me ainda sentindo o efeito do álcool em meu corpo.

Meu corpo dói, um gosto amargo espalha-se por minha boca e meus olhos lutam com claridade, o relógio do celular marca 14:00h, minha tela está carregada de notificação e ligações perdidas, eu não vim até Londres para encher a cara e veja só como estou, cercado por uma bagunça e nem mesmo consigo lembrar de como consegui voltar ao quarto na noite anterior, meus pés se desviam das várias garrafas vazias enquanto os flash de lembranças começam a clarear minha mente, lembro-me de estar parado em frente ao prédio da The Pheonix e brigar com Evangeline na sexta, mas sábado ainda é um buraco.

Minha cabeça dói muito o que me deixa irritado, vou perguntar a maldita camareira se não sabe ler o aviso na porta. Abro a porta com uma força exagerada.

- NÃO SAB… - Fecho a boca e engulo o resto da frase ao me deparar com a figura que está parada em minha porta.

Pisco algumas vezes tentando miseravelmente esconder o estado que me encontro, mas seus olhos vasculham-me, olhando-me dos pés a cabeça, grandes olhos negros decepcionados. Sinto a vergonha me estapear, a dignidade voltando ao meu corpo e eu desvio meus olhos, não consigo encarar minha esposa.

- O que aconteceu com você? - Sua voz saiu num sussurro.

Ela empurra meu corpo e entra no quarto, olhando em volta e uma pequena ruga se forma entre suas sobrancelhas. Eu não sei o que dizer. Espero por sua bronca, por seus gritos irritados, mas esta não é Sara. Ela se aproxima e toca meu rosto com delicadeza, olhos de misericórdia,  seu olhar era tão leve, puro e forte. Decidido a me perdoar, ignorar meus erros. Ela esqueceu tudo que eu fiz. Ela me vê com os olhos de Amor. Não desiste de mim mesmo me vendo assim, não vê o que a vida me fez.

- Fala comigo! - Ela pede.

Carregado de culpa eu a abraço, segurando forte seu pequeno e frágil corpo. Ela não diz nada, segura-se junto a mim, sabendo que estive perdido esses dias que estive longe. Como posso dizer a ela se nem mesmo eu sei o que está acontecendo? Eu só quis esquecer toda a responsabilidade e problemas que tenho, esquecer que tenho uma empresa prestes a cair e funcionários que dependem de mim, que minha esposa é boa demais para alguém como eu.

- Justin, por favor querido me conte o que está acontecendo!

- Você não precisa se envolver nisso, eu vou dar um jeito e acertar as coisas. Eu prometo.

- Eu sei que dará, mas não precisa fazer isso sozinho. Seja lá o que esteja acontecendo nós vamos resolver juntos, porque eu te amo e vou lutar ao seu lado.

- Eu não mereço você. - Digo envergonhado

- Não fale besteira, só diga que me ama e tudo ficará bem.

- Eu te amo…

Ela é meu ponto de equilíbrio, me faz ver as coisas com mais clareza e sou eu novamente quando estou ao seu lado. Enquanto tomo um longo banho gelado ela providência que o quarto fique em ordem, quando saio tudo parece em seu lugar e a camareira nos deixa.

Os seus grandes olhos negros me encontram, eu sei que no fundo deles ainda tem insegurança, medo por algo que nunca irá acontecer.

- Não aconteceu nada, eu juro a você. - Digo sentando-me na cama.

- Eu acredito, sei que ela ficou no passado.

- Sei que está magoada embora não diga, eu só precisava organizar meus pensamentos, saí da frente do furacão.

- Eu não quero brigar… - Ela diz tentando amenizar as coisas, mas eu preciso ouvir o que pensa, mesmo que grite e extravase tudo que está sentindo.

- Brigar às vezes é normal, você pode ficar brava amor. Não precisa ser tão compassiva sempre.

- Eu sei tudo que você deixou por mim, sei que me ama e você está sob pressão pelo que está acontecendo com a empresa. Seria muito egoísta da minha parte ter crise de ciúmes agora. Mas precisa entender que vou estar com você na calmaria e principalmente vou enfrentar o furacão com você, não precisa fazer sozinho.

Ela se coloca a minha frente e abraço seu corpo enquanto minha cabeça descansa em seu ventre. Eu a amo exatamente como é, odeio-me por um breve segundo compará-la a Evangeline, ela estaria gritando e proferindo os mais diversos palavrões e com certeza teria que segura-la para que não voasse em mim com suas unhas, reclamaria que estava machucando seus pulsos e então minutos depois transamos como animais raivosos. Um sorriso me escapa.

- Qual o plano agora? - Sara diz e eu balanço a cabeça como se pudesse afastar os pensamentos.

- Te jogar nessa cama!

- Não seja bobo, estou perguntando sobre a empresa. - Ela diz divertida.

Um longo suspiro me escapa e eu me levanto para me vestir, se quero salvar minha empresa vou ter que fazer algo que jurei que nunca faria e isso me causa um sentimento de derrota, é como se tudo que tivesse lutado para construir estivesse escorrendo como areia pelos meus dedos. Erros foi tudo que cometi, arrisquei em novos investimentos que ao invés de lucro me fizeram cair.

- Não me restam muitas opções.

- Então faça o que deve fazer, estarei ao seu lado.

- Vamos precisar ficar mais um tempo por aqui, tem muitos investidores na Inglaterra.

- Quanto tempo?

- O suficiente para estabelecer a nova filial e encontrar os investidores, depois podemos voltar para casa.

- Quem cuidará da empresa em NY?

- Chaz ou Ryan, ainda não decidi.

- Justin você é o CEO, seus amigos por mais que confie neles, não são você.

- Não se preocupe, eles só irão me representar, a ordem ainda partirá de mim, e será por pouco tempo.

- Confio em você.

- Que bom que um de nós dois confie.. - Digo divertido tentando tirar de seu rosto aquela ruguinha de preocupação.

- Bobo! - Ela diz me dando um beijo terno.

- Está com fome?! - pergunto

- Morrendo na verdade. - Ela diz.

- O restaurante do hotel é ótimo, mas se quiser ir a outro lugar…

- Vamos ficar por aqui mesmo.

Juntos deixamos o quarto, não demora para que estejamos confortáveis em uma mesa desfrutando de um delicioso almoço na companhia um do outro, minha esposa me contava as histórias divertidas sobre seus alunos, gosto de ouvi-la, ela parece se iluminar quando fala das “suas” crianças. A ideia de fazê-la deixá-los é tão egoísta, me sinto um péssimo marido.

- Não se preocupe querido, vai ser bom ter novas experiências e ter novas história pra te contar. - Ela diz percebendo a culpa em meus olhos.

Antes que eu possa dar continuidade ao seu comentário meus olhos se prendem na figura do homem que atravessa o salão cercado por seguranças, já faz alguns anos que não o vejo e este talvez fosse o último lugar que esperava encontrá-lo. Não posso dizer que seja um prazer.

Um de seus seguranças diz algo a ele que no mesmo segundo olha em minha direção, seus pés mudam o caminho e logo ele está caminhando em nossa direção. Meu rosto está sério o bastante para que Sara vire-se para ver de quem se trata.

- Você o conhece? - Ela pergunta curiosa.

- Aquele é o Sheik Nasser Bin Hamad Al Khalifa, está na lista dos dez homens mais ricos do mundo. - Meu tom saiu num sussurro baixo.

- Ele parece tão novo. - Ela diz surpresa. - Talvez seja um investidor em potencial.

- Não!

- Senhor e senhora Bieber… - Ele nos cumprimenta. O sheik está ao lado de nossa mesa, seu rosto tem uma expressão gélida que se reflete ao meu, nunca tivemos uma relação amigável. - É um prazer recebê-los, espero que estejam confortáveis o bastante.

- O hotel é maravilhoso, adorei o menu do restaurante. - Sara diz encantada o suficiente para me irritar.

- Não sabia que este era um dos seus hotéis, se soubesse... - Não consigo terminar a frase, mas acredito que tenha saído um comentário ácido o bastante pois ganhei um chute de Sara debaixo da mesa.

- Sintam-se à vontade, em um gesto de boas vindas o almoço e por conta da casa. - Ele diz e por fim acena com a cabeça antes de sair.

Minha esposa parece não se importar em esconder o encantamento, tenho vontade de cuspir de volta no prato toda minha comida.

— Porque está tão irritado? O homem foi gentil conosco. — Sara diz.

— Vamos fechar a conta e procurar outro hotel.

— Mas…

— Agora! — Meu tom e ríspido e eu tento me recompor. — Por favor querida, depois eu explico.

 

AUTORA:

Os olhos da garota se abrem e a claridade cega no primeiro instante, o quarto era grande, o papel de parede era de um azul céu, ela observou cada detalhe. Jenna Foks acabará de acordar, aquele quarto nem parecia de um hospital ela pensou, olhou com surpresa todas as flores que deixaram para ela, haviam muitas e de todas as cores, deixavam o ambiente colorido e alegre, ela nunca tinha ganhado flores antes, era estranho ganhá-las por ter sofrido uma agressão, era como ganhar flores após morrer, um costume um tanto controverso.

Minutos depois uma enfermeira entrou e gentilmente a ajudou a fazer sua higiene pessoal e trocar os curativos.

 

— Você tem visita. — A enfermeira diz e um medo sobe por sua espinha, a ideia quase que imediata que possa ser Chuck a apavora.

— Visita? — Sua voz soa aterrorizada, afinal quem poderia visitá-la? Não tem uma família ou amigos para isso. Tudo que tinha era Chuck e os amigos dele eram os “amigos” dela e nenhum é bem vindo nesse momento.

 

É visível ver o alívio inundar seu corpo e dar lugar a surpresa por ver o senhor Lewis entrar, o homem segura junto a sí um vaso com flores, margaridas brancas. Ele lhe dá um sorriso simpático ao entrar e Jenna se ajeita ainda mais em sua cama.

 

— Flores! — Ele diz procurando um espaço em meio as tantas outras. — Sou um cara super original. — Ele diz divertido e consegue arrancar dela um sorriso.

— Obrigada! — Ela diz ainda tímida, afinal ele é seu chefe e por alguma razão absurda ela sente-se envergonhada, como se tivesse culpa por tudo que aconteceu. Mas a vítima nunca tem culpa, definitivamente nunca.

— Minha visita não é de todo só uma visita, eu sei que ainda é cedo para falar sobre esses assuntos, mas é necessário.

— É sobre Chuck?

— Não, é sobre você.

— Senhor Lewis eu sei que minhas despesas nesse hospital estão muito acima do meu orçamento, se a senhora Carter não me demitir eu vou pagar. Eu juro, eu ainda nem pude agradecê-la por me ajudar aquele dia.

— Não se preocupe senhorita Foks, Evangeline não irá te demitir e suas despesas já estão inclusas no seu plano de saúde.

— Eu não tenho um plano de saúde e mesmo que tivesse não seria para este tipo de hospital.

— Todos os funcionários da The Phoenix tem um plano de saúde para este tipo de hospital. Agora escute, não vim para falar sobre suas despesas hospitalares.

 

A voz dele é calma, David Lewis tem um jeito próprio e cativante de falar, ele tem aquele jeito que faz parecer mais como um amigo do que propriamente um chefe. Talvez também seja porque ele está um tanto quanto comovido por ela, homens de verdade não consegue entender como outros podem agir como animais.

 

— Oh, me desculpe senhor Lewis, pode falar…

— Certo. Logo a polícia virá para colher seu depoimento, preciso me certificar que não irá tentar inocentar o homem que fez isso a você.

— Não, não desta vez…

— É a melhor decisão que poderia tomar, nenhuma mulher merece passar por isso e saiba que tem nosso total apoio. Para mostrar isso Evangeline pediu que providenciasse um novo lugar para você morar, ao receber alta um dos seguranças irá acompanhá-la e ajudar com sua mudança.

— Eu não sei o que dizer e nem como posso agradecer senhor Lewis.. — Jenna diz sem acreditar.

— A The Phoenix preza pelo bem estar dos seus funcionários. Agora descanse senhorita Foks.

 

Ele queria poder dizer que “Evangeline” preza por seus funcionários, mas ela não ia gostar dessa demonstração de preocupação e humanidade, David sabe que ela prefere ser o “bicho-papão”.

David se despede e logo deixa Jenna sozinha. Evangeline pediu que seu braço direito providenciasse que Jenna teria uma nova vida ao sair daquele hospital, um novo lar e novas perspectivas de futuro, ela fez questão de se assegurar que Jenna Foks se sentisse o melhor possível em meio a toda situação. Embora a jovem não soubesse ela tinha ganhado uma defensora.

 

(...)

 

Um gole a mais de seu drink, o silêncio é agonizante e seus pensamentos parecem sair de sua cabeça e vagar pelo apartamento grande e vazio. Seu corpo cansado está jogado no sofá enquanto observa o cômodo se perguntando se alguns móveis novos irão resolver. Na secretária eletrônica pisca duas mensagens, mas está relutante em ouvi-las, pois é bem provável que seja sua mãe lhe cobrando notícias.

Seus olhos encontram na mesa de centro um porta retrato com uma fotografia que lhe arranca um sorriso melancólico, mas genuíno. A garotinha na foto estava agarrada a ele enquanto a mãe dela o olhava com olhos de carinho. Sua fotografia preferida, o aniversário de 4 anos da Live, isso o lembrava que o próximo aniversário dela estava chegando e ele ainda tinha pensando em seu presente. Isso amenizava a dor que a partida de Cindy ainda lhe causava. A campainha toca e seu corpo dá um solavanco pelo susto, ele não está esperando ninguém, mas lá no fundo ele espera que seja ela de volta.

De Pés descalços o homem vestido em seu jeans se levanta e veste a camisa enquanto caminha até a porta. Ao Abrir vê que não é sua ex namorada quem lhe sorri, mas ainda assim a visita o alegra. Evangeline Carter está parada em sua porta segurando duas garrafas de vodka, ela as levanta e sem dizer nada ele dá espaço para que ela entre.

 

— Devo dizer o quanto estou aborrecida com você por eu ter descoberto que terminou seu namoro através de uma bilhete malcriado da sua agora “ex”?!

— Oh céus, eu deveria ter previsto que ela faria algo assim.

 

O homem suspira jogando seu corpo novamente no sofá, ele tem seus olhos fechados e ao abri-los novamente encontra sua amiga lhe observando preocupada. Não era essa reação que ele esperava dela, era pra estar comemorando já que sempre odiou Cindy.

 

— Você deveria ter me contado Deivi…

— Os últimos dias não tem sido fáceis pra você, não queria te encher com isso…

— Há Deivi, não seja bobo… — ela diz sentando-se ao lado dele. — Se você está triste ou passando por algum problema eu gostaria de saber, somos amigos e sempre estarei ao seu lado.

— Eu sei…

— Eu sinto muito…

— Sente? Achei que ficaria feliz, você a odiava…

— Claro que sinto, embora seja verdade que nunca gostei dela. Mas eu jamais  ficaria feliz por algo que te deixe triste.

— Eu ficarei bem, alguém certa vez me disse que ninguém morre por um coração partido. — Ele diz divertido.

— Alguém inteligente posso ver… — Ela da uma piscadela.

— Muito inteligente… Vejo que trouxe vodka…

— Um velho amigo certa vez me disse que vodka cura tudo, até dores do coração…

— Esse amigo é um sábio…

— Sim ele é, por isso vim retribuir…

 

Não precisou de muito para que os dois estivessem sorrindo atoa, piadas bobas e histórias que compartilharam durante esses anos. David era bobo o suficiente para fazê-la sorrir por horas, e ela era simplesmente ela e isso era capaz de melhorar o humor dele. David Lewis era como família para Evangeline, ele estava em seu coração de uma forma que nada poderia mudar isso.

 

(...)

 

As semanas se seguiram e os poucos a vida continuava, as coisas pareciam começar a voltar ao normal. Evangeline e Justin não se cruzaram desde então e isso parecia perfeito para ambos. Ele aos poucos começava a se estabelecer em Londres, ela apenas seguiu fazendo seu melhor, tocando sua empresa e conquistando seu espaço no mundo, cumprindo a promessa que fez a Olivia, a pequena garotinha iria finalmente para escola como sempre quis, mesmo que para isso Evangeline tenha “doado” uma boa quantia para escola aceitá-la em meio ao ano letivo.

Seu coração ficou pequeno ao ver sua garotinha tão cheia de independência descer do carro com sua mochila rosa nas costas, Olivia estava radiante ao acenar um  Adeus a mãe da porta da escola, Evangeline não poderia acompanhá-la até a sala, pois de acordo com Olívia isso era apenas para crianças e agora ela já estava grande. Uma enorme vontade de chorar chegou aos olhos de Evangeline, era tão difícil soltar seu pequeno milagre para o mundo, mas se era o que Olivia desejava então era de coração partido que a mãe deixaria. Porque também estava orgulhosa da sua garotinha ser tão independente.

 

DIAS DEPOIS...

 

Em uma mesa vários homens conversavam ao mesmo tempo, vozes altas e alteradas falam de negócios enquanto apenas um deles permanece calado encarando a porta. Ele sempre foi um homem focado, e agora é estranho não conseguir pensar em mais nada, afinal mesmo vários e vários problemas pra resolver, sua vida parecendo um caos, mas ainda assim a única coisa que consegue pensar nesse momento e na lembrança da primeira vez que viu a bela mulher loira entrar por sua porta, tão petulante que mais parecia que ele precisava contratá-la do que o contrário.

 

Nasser já tinha tido uma reunião com o marido da mulher e ele não fora capaz de convencê-lo, mas a mulher se sentou a sua frente sem se intimidar, o olhou como igual, sua empresa estava apenas dando os primeiros passos, mas ela tinha tanta ambição e vendia seu trabalho tão bem que poderia vender pão a um padeiro.

Ele ficou a ouvindo, paralisado. Tendo a certeza de que suas pupilas estavam a ponto de explodir dentro dos seus olhos. Mal podia desviar sua atenção. Ele já tinha sua equipe de engenheiros e arquitetos, não precisava e não queria outros, mas então ela abriu sob sua mesa uma planta que fez para seu novo hotel, mostrou-lhe cada detalhe e sabe quando você encontra algo e sente que nunca mais vai encontrar igual em nada nem em ninguém? Foi isso que ele sentiu.

Uma mulher americana, casada tinha cruzado o continente  sozinha, sem ao menos se intimidar pela cultura machista daquele país, petulante o bastante para olhá-lo nos olhos e dizer que sua primeira decisão estava errada. Aquele homem sentia uma mistura de fascínio e irritação. Não importava o quanto intimidador ele pudesse parecer, os olhos dela continuavam a encará-lo por igual. E ele repreendeu-se mentalmente por seu pecado ao desejar a mulher de outro.

Mas de alguma forma ele sabia. Sentia correr em seu sangue, em cada ínfima célula que seu corpo sustentava, sabia que ela seria o meu maior pecado. E foi, claro que foi. Desde do começo, tudo se tratou dos seus olhos e da sua falsa inocência contida neles.

Seu celular vibra em seu bolso e o email faz com que seus olhos brilhem e uma risada soou na mesa e o Sheik ganhou a atenção de todos os homens que estavam sentados a mesa. Ele se desculpou e sorriu no seu mais profundo íntimo ao ver que todas as informações queria estavam alí, nem em mil anos ele deixaria que Justin Bieber voltasse a vida de Evangeline, ele a protegeria de qualquer dor.



 

LONDRES - EVANGELINE CARTER

Meus olhos estão presos ao teto do quarto de hotel, sinto a respiração quente de Nasser em meus seios, seu sono parece tão profundo enquanto seus braços se agarram a meu corpo ainda nú, os cabelos negros dele tem um cheiro bom e contenho-me para não senti-lo entre meus dedos. Ele é um homem e tanto, e por sorte somos parecidos o suficiente para desejar o mesmo, não somos pró sentimentos e sabemos exatamente o que esperar do outro, isso me tranquiliza o suficiente para que nossa “relação” se mantenha durante anos, porque mesmo que ele se for eu continuarei inteira, e se eu também for ele continuará inteiro. Isto é saudável e prazeroso para ambos.

Eu sei que ele tem outras, sua cultura permite que tenha várias mulheres e verdadeiramente não me importo com isso, não até que ele escolha uma para esposa, então aí eu saio de cena. Ele tambem entende que sou livre para viver minha vida como bem entender, isso inclui homens que me interessam, e ainda depois de anos as coisas se matem entre nós nesses termos. Gosto assim.

— Está se apaixonando por mim senhora Carter? — Ele diz ainda de olhos fechados e sorrindo. Não tinha percebido que estava acordado.

— Volte a dormir Nasser, talvez nos seus sonhos eu me apaixonaria por você… — Digo igualmente divertida.

Ele abre os olhos e se ajeita apoiando-se em seus cotovelos enquanto me olha, grandes olhos negros brilhando para mim, cheios de malícia e desejo. Ele é a própria luxúria.

— Eu a proíbo de se apaixonar por mim, seria triste partir seu coração… —Parece que ele acordou no seu melhor humor.

— Se eu tivesse um…

Levanto-me e os olhos dele me seguem, gosto de saber que tenho na cama um dos homens mais poderosos do mundo. Caminho até a sacada e acendo um cigarro, meu corpo se arrepia ao sentir o vento gelado, fecho os olhos e trago a fumaça até meus pulmões e tudo parece calmo, em silêncio dentro de mim. Ao abrir novamente os olhos tenho a visão da cidade, Nasser tem uma bela vista de sua cobertura. Não demora para que ele se junte a mim, traz consigo uma camisa e cobre meu corpo.

— Pedi comida e morangos pra você…

— Gosto da sua sacada… — Digo ignorando o que acabara de dizer.

— Ao menos você gosta de algo meu… — Ele sorri.

— Gosto de outra coisa sua também…

— Meus olhos? — Ele pisca repetidas vezes e eu reviro os meus, seu sorriso tem covinhas e seu humor sacana me diverte. É estranho como somos pessoas diferentes dentro das paredes de um quarto.

As fotos dos jornais nunca diriam que O Sheik Nasser é tão bem humorado. O homem sério de negócios também sabe contar piadas e fode como ninguém. Uma bela manchete para os tabloides, sorrio ao imaginar.

— Parece de bom humor, gosto quando sorri… — Ele diz.

— Me sinto de humor hoje… —  Confirmo.

— O que deixou minha Deusa sorrindo assim? Devo me orgulhar do meu desempenho?

— Seu desempenho foi excelente como sempre…

— Isso muito me alegra, mas?

— Olivia, ela sempre será minha maior alegria.

— Ela se parece com você.

— Ela será muito melhor que eu.

Levo minha atenção de volta à vista enquanto termino meu cigarro. Talvez eu esteja realmente de bom humor, esta foi a semana mais tranquila que tive em muito tempo, as coisas boas nunca duram, mas ainda assim hoje acordei leve o suficiente para sorrir. Quando vou acender outro ele pega da minha mão e leva a sua boca, acendeu e tragou e depois me devolveu.

— Como está a garota? — Ele pergunta e levo mais de um segundo para me dar conta que se refere a minha assistente.

— A garota é forte, não vai deixar que um babaca qualquer a destrua e faça pensar que é menos.

— Soube que tem feito muito por ela.

— Nada que eu fizer apagará o que aconteceu, é só uma garota com um bom futuro pela frente, não merece passar por tudo isso.

— Tem razão. E seu ex marido, voltou a importuná-la?

— Você tem que parar de mandar seus capangas  vigiarem minha vida, sabe o quanto odeio quando faz isso.

— Não fiz isso, eu o vi outro dia em um dos meus hotéis com a esposa. Não foi difícil imaginar que ele o faria, afinal quando ele esteve em Londres ?

— Ele a trouxe? — Não consigo evitar a pergunta que sai sem que eu perceba.

— Você não sabia? — Nasser diz surpreso.

— Deveria imaginar, ouvi dizer que ele irá se estabelecer aqui.

— Também ouvi sobre isso, os negócios vão mal pra ele. O mais interessante é que ele vem tentar se reerguer justo aqui em Londres.

— Onde quer chegar Nasser?

— Em lugar algum..

— Mentira, eu te conheço. Você provavelmente já mandou investigarem Justin. Sabe cada passo que ele deu e quer saber se eu também sei e o que penso a respeito do meu ex marido vir ser meu concorrente direto aqui.

— Eu só queria ficar de olho, me preocupo com você.

— Despenso sua preocupação, sei me cuidar sozinha. E depois ele é só mais um, não estou preocupada.

— Então deve saber que ele está dissolvendo as ações e criando um conselho.?!

— Na situação dele era a única saída. Foi estúpido e agora vai ter que dividir a empresa em pedaços para poder salvar o que levou uma anos de trabalho duro para construir.

— Isso te incomoda, vê-lo fracassar?

— Aquela também era minha empresa, Justin a tirou de mim para isso? Para jogar tudo na lama?

— Você tem a The Phoenix agora…

— Eu sei...

Talvez Nasser não entenda que por muitos anos a Biebers Company foi a menina dos meus olhos, minha primeira realização, meu orgulho. Justin e eu a criamos juntos, sei o quanto custou para construir aquela empresa, sei o trabalho que tivemos.

A alegria ao conquistar o primeiro cliente, a satisfação de concluir meu primeiro projeto assinado de forma independente. Todos os mínimos detalhes desde a criação e até a construção tem traços e suor meus. Eu participei de cada um deles, e ver todo esse trabalho ser arruinado me faz sentir como na primeira vez que a perdi..

— Está na minha hora. — Digo afastando-me.

— Nao sabia que este assunto ainda a incomodava tanto. — Ele pareceu ofendido, quando é a minha vida que ele invade sem permissão.

— E eu não sabia que meu passado te interessava tanto. Não estrague as coisas Nasser.

— Não interessa. Não estou estragando nada, só estava puxando assunto. Nada mudou, sem sentimentos e interesses futuros entre nós.

— Ótimo! Agora como disse está na minha hora.

— Não vá, fique e jante comigo, prometo ser uma melhor companhia.

— Não prometa algo que não possa cumprir…

— Não seja cruel, eu tenho me esforçado. — Ele se aproxima puxando-me pela cintura e roçando sua barba em meu pescoço, beija o lóbulo da minha orelha e é isto que tem feito eu ficar todos esses anos, o seu cinismo e carnalidade.

— Janto com você sob a condição de me contar sobre suas pretendentes a esposa. — Digo visivelmente divertida pois é inacreditável que no século que vivemos ainda existam casamentos arranjados.

Embora finja relutância Nasser sorri concordando com meu pedido.. Desde que nos conhecemos sua família insiste para que ele encontre uma esposa perfeita para lidar filhos e garantir que seu nome permaneça por muitas gerações.

O que sua família não entende é que ele prefere uma vida sem compromissos. Nasser nunca será um homem de uma mulher só, isso estranhamente me conforta porque no fundo e sei que ele nunca irá nutrir qualquer sentimento romântico.

Ouço suas histórias absurdas e isso me faz sorrir, ele é ótimo em histórias. Gosto de ouvir sobre suas viagens e as tradições do seu povo. São raras as vezes que fico tanto tempo com Nasser, geralmente nós almoçamos ou jantamos e terminamos na cama, no começo mal conversávamos, mas com o tempo as coisas ficaram mais naturais e fáceis.

Quando me despeço ele parece manter uma tradição ao me entregar uma joia, talvez ele faça isso com todas com quem dorme, é um gesto generoso. O anel com pedras em rubi reluz é não consigo esconder o quanto gostei.

— Gostou?

— É magnífico...

— Digno de uma Deusa…

Beijo-lhe os lábios em agradecimento antes de partir. Dawson está me esperando com a porta do carro aberta, ele diz algo que não escuto, estou concentrada respondendo alguns e-mails no celular.

— Para casa. — Digo sem tirar meus olhos do aparelho. Ele liga o carro e partimos.

Entre uma ligação e outra eu mal percebo quando o carro para, só percebo quando a porta se abre e vejo a figura seria do meu motorista ao abrir a porta novamente. Estou em uma ligação com alguns contatos de Portugal, a língua é um tanto confusa para mim, faço uma nota mental que preciso de algumas aulas, gosto de saber ao menos o básico.

Dawson me segue até a porta de entrada e depois segue para o anexo da segurança. Quando entro para minha surpresa Olivia ainda está acordada, pulando de um sofá para o outro enquanto Beth e Olga tentam pegá-la, ela parece estar se divertindo fazendo com que as duas tentem. Estou parada na porta segurando o riso.

— Olivia Carter! — A chamo e ela imediatamente para e num pulo rápido desce.

— Mamãe! —  Ela sorri abertamente tentando disfarçar.

—  Já não conversamos sobre pular no sofá?

— Mas a Beth quem começou, eu não queria e ela começou a correr atrás de mim…

— Oh então é culpa dela e não sua?

— Sim, culpa dela…

— Pra quem você puxou essa cara de pau senhorita Olivia? — Sorrio, e ela sorrir tambem correndo em minha direção sabendo que não estava brava.

— Para o meu pai?

— É bem provável… Mas o você que faz acordada uma hora dessas ?

— Estava te esperando, eu terminei minha lista de convidados.

— Deixe-me ver.

Ela corre para seu quarto e quando volta tem nas mãos duas folhas de papel e nelas há uma grande lista de convidados. Em meu escritório nós “trabalhamos” juntas em ideias, ela agora decidiu que quer a decoração de princesa e unicórnios.

Seus olhos brilham a medida que escolhemos cada detalhe, e eu me pergunto quando aquela coisinha desse miúda passou a ter suas próprias vontades.

Sentada em meu colo ela encara o monitor do computador, inalo o perfume dos seus cabelos enquanto meu coração transborda de puro amor.

— Roxo, rosa e azul…

— Estou anotando… — Digo.

— Nós podemos mudar meu quarto também ?

— O que tem de errado com seu quarto?

— Ele é de criancinha…

— Mas eu fiz uma reforma nele ano passado.

— Então, agora eu já sou grande. Eu vou até pra escola. Por favor mamãe.

— Falando em escola, você não me contou como foi seu dia.

— Foi legal… — Ela da ombros.

— Só legal?

— É…

— Há, vamos lá me conte alguma coisa, como é sua professora?

— Sabia que a senhora Mitchell está grávida?

— Sim, eu a vi quando fui na reunião.

— Ela está com uma barriga enorme, você também ficou assim?

— Oh sim, e você não parava quieta… — Faço cócegas e ouço seu risinho.

— O que mais? Me conte tudo…

— Mais nada.

— Eu vi que convidou as meninas do balé e da natação, mas na sua lista não tem muitos convidados da sua escola. Por que não os convidou ?

Ela não responde, apenas me dá de ombros de novo, não é algo que eu goste então paro o que estou fazendo e a viro de frente para mim. Seus olhos estão tristes e não consigo entender o que está acontecendo.

— Olivia o que há ?

— Nada mamãe…

— Me conte, eu sou sua amiga lembra ? Amigas contam tudo uma pra outra.

Sua cabecinha acena positivamente e depois ela me abraça, agarra-se à mim com toda força que consegue e meu coração se enche de preocupação. Era vê-la assim que eu mais temia, o mundo pode ser cruel.

— Me conte querida. Seja o que for vamos resolver.

— Ninguém quer ser meu amigo naquela escola.

— Como assim? Está de brincadeira! São eles que estão perdendo, são uns idiotas porque você é a garotinha mais incrível do mundo.

— Você é minha mãe.

— Por isso que sei. Não fique triste com isso meu amor, logo vão ser eles que irão querer ser seus amigos.

— Acha mesmo?

— Tenho certeza!

— E se eles continuarem não querendo ser meus amigos?

— Eu compro amigos pra você! — Digo tentando fazê-la sorrir.

— Mãeee, você não pode comprar amigos… — Ela diz revirando os olhos e sorrindo.

— Você tem razão, mas eu vou te contar um segredo. A gente não precisa de muitos amigos, os especiais são poucos.

— Tio David é seu amigo especial?

— Sim, ele é…  Mas agora vamos trabalhar no seu aniversário e na nova decoração do seu quarto.

— Eu te amo mamãe.

— Eu te amo princesa.

Minha menininha está tão animada com essa festa e nada além de perfeito pode acontecer. Ela continua a dizer todas as suas exigências para seu aniversário, algo como unicórnios gigantes e princesas por todos os lugares.

Mas meu coração ainda está apertado, não consigo parar de pensar que todas aquelas crianças possam ser má com ela, Olivia tem um gênio dificil as vezes, mas seu coração é bom, ela só uma criança querendo fazer parte do mundo, não posso vê-la sofrer, eu queria tanto poder protegê-la de tudo, minha vontade é ir naquela escola e obrigar aqueles pentelhos a serem seus amigos, se for preciso eu até a mudo de escola, mas o que isso irá ajudar? Como ela aprenderá ser forte se eu ficar tentando escondê-la ? Me doí, parte meu coração, mas preciso deixar que ela lute suas próprias batalhas para que um dia possa voar sozinha.

Quando ela finalmente pega no sono eu continuo em meu escritório organizando tudo. O sono não vem e aos poucos estou afundada em papéis e mais papéis. Batidas tímidas na porta ganham minha atenção e posso ver Olga parada segurando uma bandeja de chá.

— Pode entrar. — Digo tirando os óculos e relaxando meu corpo na cadeira.

— Senhora… — Ela diz servido-me uma xicara.

— Não precisa ficar acordada Olga, você também precisa de descanso.

— É só um chá, isso ajudará-lá dormir.

— Obrigada… — Digo tomando um longo gole, o gosto é bom. O aroma espalha-se e o escritório fica repleta por lembranças, aquele cheiro que lembra minha avó.

Olga continua parada a minha frente, tem uma ruga que junta as sobrancelhas e parece preocupada. Deixo a xícara na mesa e espero que fale alguma coisa, mas ela permanece em silêncio.

— Quer me dizer alguma coisa? Parece preocupada, foi algo que Olivia fez?

— Olivia é a alegria dessa casa senhora, ela não fez nada.

— Então diga o que é...

— Me perdoe por parecer intrometida dona Evangeline, eu, eu só vi no jornal… — Ela hesita, fecho os olhos por um segundo e balanço a cabeça. Sei qual a razão dela estar assim.

— Não se preocupe com isso.

— Ele já lhe causou tanto sofrimento, meu coração doí quando ouço a menina Olivia falar sobre o pai.

— O meu também, o meu também… Mas como poderia quebrar o coração dela contando a verdade? Como dizer a uma criança que seu pai não a ama?

— O tempo é o senhor de tudo, um dia ele vai ver o quanto perdeu.

— Um dia? Anos já se passaram.

Posso ver o olhar piedoso dela para mim, não gosto desse olhar, não gosto de me sentir merecedora de pena. Não há nada que possa ser feito para mudar o passado, a vida é feita de escolhas e Justin escolheu viver a dele com outra família, com outros planos e eu tive que fazer novas escolhas e viver a minha vida de acordo com as mudanças que foram surgindo.

Não posso e nem quero lamentar a vida que tenho, estou criando Olivia para ser forte, quando chegar a hora ela vai saber a verdade, então será a vez dela de fazer as próprias escolhas.

— Mas…

— Eu preciso continuar a trabalhar Olga, vá dormir agora.

AUTORA:

Outra segunda-feira, lá está ela novamente, aparentemente inteira, intacta caminhando para fora de seu prédio onde seu fiel guarda-costa e motorista a espera com a porta do carro aberta. Seu perfume deixa um rastro por onde passa, ninguém poderia imaginar quantas vezes ela teve que juntar seus pedaços em poucos dias.

 

As grandes portas de vidro se abrem, sorrisos e saudações passam por ela a cada passo, Dawson a segue de perto, ele já aprendeu cada gesto que ela espera, talvez ele seja um dos poucos que gostam de trabalhar com Evangeline, uma admiração pulsante por essa mulher o faz acordar e gostar do que faz. Ele chama o elevador e abre a porta quando precisa, seu olhar sempre alerta observando, atento a qualquer movimento inesperado de um estranho, em seu ouvido a equipe de segurança passa as informações, Bruce Hayes confirma que Olivia Carter chegou em segurança a escola.

 

A nova secretária contratada por David Lewis ostenta um sorriso enorme quando as portas do elevador se abrem, Lisa Bennett está segurando uma enorme xícara de café em uma das mãos e na outra sua agenda, ela parece ser uma mulher inteligente, Evangeline não cuspiu o café, isso é um ótimo sinal.

 

Os olhos da loira estão avaliando a nova secretária, a garota segura-se para não demonstrar o quão nervosa está. Evangeline toma mais um gole do seu café enquanto ainda encara Lisa.

 

— Minha agenda! — Ela pede.

 

Um pigarreio desajeitado, e a garota descreve o dia de sua chefe, sua voz saiu calma e audível. Um aceno e pronto, foi todo o diálogo que Lisa Bennett teve com Evangeline Carter na manhã do seu primeiro dia, um longo suspiro saiu de sua garganta ao sair da sala dela, mãos trêmulas em passos apressados ela corre para atender o telefone.

A figura de Jenna Foks surge, ela tem um olhar complacente a nova secretária, Lisa retribui o sorriso, ela viu os noticiários e ainda é possível ver os hematomas nos braços e parte do rosto de Jenna. É o primeiro dia dela também depois do incidente, há tanto trabalho a fazer que ela chegou cedo, ela não conversou com Evangeline desde que saiu do hospital, queria poder agradecer em palavras, mas tambem nada melhor do que mostrar que Evangeline não errou em contratá-la.

 

(...)

 

Brilho do sol em um novo amanhecer, trazendo luz quando parecia escuro demais para ver uma saída. Embora Justin tente negar, ele está mais animado do que gostaria com sua mudança.

O apartamento novo ainda estava cheio de caixas espalhadas por todos os cômodos, eles tinham prometido que levariam apenas o essencial, o que faltasse comprariam novo, mas há caixas com documentos que Justin jurou que eram importantes o bastante para levar. Sara está decidida a terminar de desencaixotar ao menos os livros que ficariam na sala. Ela tirava orgulhosa os porta-retratos e os colocava nos cantos estrategicos, Justin ajudava a colocar os quadros novos na parede. Já era tarde da noite, mas eles continuavam o trabalho duro, aos poucos tudo começava a ter a “cara” deles, a parecer um lar.

 

— Essa caixa é sua querido… —  Sara diz apontando para uma das últimas que ainda restara alí.

— Não lembro desta! —  Ele diz a pegando, estava suficientemente leve.

—  Veio com as outras da empresa, deve ser mais dos seus documentos.

— Eu cuido dela… —  Ele diz a pegando e levanto para seu escritório.

 

Ele não consegue lembrar que caixa era aquela, ele mesmo conferiu todas antes de partir e aquela não estava na mudança. Justin abriu curioso e seu corpo fica imóvel ao conferir o conteúdo da caixa, ele tem a sensação de sentir coração parar alguns segundos atingido por um sentimento pesado. Ele havia pedido para sua secretária sumir com todas aquelas coisas, não fazia ideia que por todos esses anos ela estava apenas colocando em uma maldita caixa. Com as mãos trêmulas pega um dos convites de aniversário de Olivia.

“Já estou completando meu primeiro aninho, venha me conhecer e cantar parabéns comigo papai”

Justin reconhece a letra de Evangeline no convite, dentro do envelope também há uma foto da menininha se lambuzando com um bolo enquanto seus primeiros dentinhos já apareciam através de um largo sorriso. Seus dedos tocaram a foto como se pudesse atravessá-la como um portal do tempo e tocar a menininha.

— Olá peixinho… — Seu sussurro arrasta-se por sua garganta enquanto ele limpa dos olhos as lágrimas que relutante se formavam.

Ao longo de todos os anos ele recebeu cada convite de aniversário e desenhos que ela insistia em mandar, mas todos estes nunca foram abertos, eram ignorados e esquecidos dentro de uma caixa velha com todas as outras lembranças de seu primeiro casamento que costumavam decorar sua sala na empresa. Ele tinha feito uma escolha, era mais fácil quando não tinha que olhar para trás, quando ele podia apenas fingir que não existiam.

 


Notas Finais


É isso, espero que tenha sido esclarecedor e tenha valido a espera, beijos e até o proximo. Não esqueçam de me deixar opiniões.


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