Caminhamos ate acharmos uma lanchonete.
- Com fome? – perguntei. Ele me olhou como uma expressão de ‘’Depois do que aconteceu você ainda pensa em comer?’’- Tudo bem, eu pago.
Entramos e no sentamos de frente para o outro, ele ainda com cara de assustado. Fizemos nosso pedido, e ficamos em silencio por um momento.
- Ta tudo bem? – perguntei.
- Eu é que pergunto. Quer dizer, você acabou de confirmar que eu não estou louco e tudo o que eu vi foi real...
Enquanto ele tagarelava, eu me levantei na frente dele e puxei minha blusa pra que ele visse o cinturão.
Isso o assustou mais ainda.
- POR QUE VOCÊ TEM DUAS FACAS NO SEU CINTO?
- Xiu! Fale baixo, tá legal? Era só um teste para confirmar as minhas duvidas...
- Duvidas?
- Você consegue ver através da névoa.
- O que é isso? O que esta acontecendo? E por que diabos você carrega facas pra escola?
Bufei.
- Uma coisa de cada vez. Lembra da aula do Sr. Diaz, no ano passado?
- É claro, mitologia grega.
- Bom, e se eu te disser que tudo o que ele nos ensinou realmente existiu/existe?
Ele me olhou confuso. Nossa comida tinha chegado. Peguei uma batata frita e apontei para janela onde estava batendo sol. Ela queimou rapidamente.
Ele gritou e todos se viraram.
- Ta tudo bem, ele tem uma doença complicada. – ele estava minha frente na mesa, o puxei pela blusa. – Isso é altamente sigiloso. – sussurrei.
Ele respirou fundo e se sentou corretamente.
- Tudo bem, tudo bem. Então mitologia na verdade não é mito? É tudo real? A verdadeira religião é a dos deuses gregos?
- O que? Não... escuta, sobre religião, isso é muito mais complexo. Lembra da sexta série, quando acharam que você tinha surtado porque tinha dito que viu um monstro no corredor da sala?
- Ah isso foi há muito tempo, me diagnosticaram com inicio de psicose... Pera ai! Não pode ser.
- Scott, o que você viu acontecer comigo foi real, as facas são reais, o monstro existe. Eu vi a minha vida toda, ultimamente tenho lutado com alguns e matado a maioria, isso faz parte da minha rotina.
- Isso é loucura! Quer dizer que você vê através da nevoa também?
- Bom isso é umas das coisas que acontecem comigo sendo uma semideusa.
Ele fez uma careta confusa e começou a rir.
- Semideusa? Você? Não, não, você é minha colega de ciências, isso não é possível.
Dei de ombros.
- Sou filha de Apolo, e recentemente descobri que tenho a benção de Ares, seja lá o que for...
- Existem mais como você?
- É claro! Isso é mais comum do que você imagina, porém a maioria não passa dos 18 anos. Como você é mais difícil de encontrar, você devia ter algum parente semideus.
- Não que eu me lembre.
- Enfim, alguns viram Oraculo, outros conseguem seguir sua vida normalmente.
- Quer dizer que eu estou em perigo?
- É claro que não.
Conversamos durante horas sobre isso. Até que decidimos ir embora. Estávamos saindo da lanchonete.
- Bom, depois dessa conversa toda sobre deuses, heróis e acampamento com cavalos alados, podemos voltar a conversar como duas pessoas normais?
Eu ri.
- Podemos.
- Quer ir ao baile comigo?
- Scott, você me ajudou a fugir de um pedido para ir ao baile, amanhã de manha vou para o acampamento...
- Então isso é um não?
- Isso é um talvez
- Bom, vou passar na sua casa às 20h.
Cheguei em casa e fui logo procurar algo para vestir, eu não tinha nada além de calcas surradas camisetas velhas e do acampamento, nenhum vestido, nenhuma roupa bonita. Fui até o guarda roupa da minha mãe, fui pega de surpresa por ela.
- O que está fazendo?
Dei um pulo de susto.
- Preciso de qualquer coisa pra usar no baile hoje.
- O que? Você vai a um baile? Com quem? – Ela ficou mais animada que eu.
- Com um amigo da escola, mãe. Não é nada demais, somos só amigos, só queria fazer algo que qualquer pessoa normal na minha idade faz.
Ela se sentou do meu lado na cama
- Querida, não se preocupe com o que você “precisa” fazer. Se achar que você deve ir, vá. Agora me diz quem é o sortudo?
- Mãe!
- Tudo bem. Toma. – ela me deu um vestido rosa. – usei em um dos meus encontros com seu pai. Se agradou um deus, aposto que agrada um garoto.
Arrumei-me, tentei fazer algo no meu cabelo, mas não sabia o que, então o deixei solto. Quanto à maquiagem... Nem me esforcei em fazer, apenas passei um batom da minha mãe. Fui lá pra baixo e fiquei esperando na sala, estava nervosa, meus pés não paravam de mexer, quando finalmente a campainha tocou, me levantei na hora e fui correndo até a porta.
- Oi. – disse Scott sorrindo, vestindo um blazer.
Ele me entregou a pulseira de flor.
- Oi. – sorri sem graça. – Tchau mãe!
Fomos caminhando até o colégio, ficava a 3 quadras de casa. Estavamos em completo silencio.
- Belo vestido.
- Obrigada.
Continuamos em silencio, até que uma senhora de rua nos abordou. Ela estava coberta com uma manta velha por isso não conseguíamos ver seu rosto direito e na sua mão esquerda segurava uma vasilha com moedas.
- Um trocado, por favor.
- Ah, só um minuto. – Scott revistava seus bolsos.
Enquanto isso eu a olhava e sentia algo estranho, quando reparei na vasilha de moedas, e não eram simples moedas, eram dracmas.
- Scott, corre.
Puxei sua manta e rapidamente surgiram asas e seu rosto demoníaco me encarou com ódio. Ela tentou me agarrar, mas recuei logo suas garras me arranharam e rasgaram o vestido que minha mãe usou com meu pai. Desgraçada. Estava preparada para revidar, quando Scott a acertou com um pedaço de madeira na cabeça.
- Você a esta vendo, certo? – perguntei.
- Infelizmente.
Desembainhei minha faca para monstros. Quando ela se levantou eu investi e acertei sua barriga.
- Pode tentar me matar heroína, mas Cronos está voltando, vocês irão todos morrer.
E então ela se dissolveu.
Olhei para Scott, ele estava pálido.
- Ela morreu?
- Não. Scott, eu sinto muito, mas não posso ir ao baile, preciso ir para o acampamento imediatamente.
- Tudo bem, eu entendo.
- Me desculpe. – eu disse enquanto ia saindo.
- Não se desculpe, vá salvar o mundo! – ele disse enquanto íamos nos afastando.
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