História A Filha do Palhaço - Salve-me! (Final - Part. 1)

No dia seguinte tudo ficou bem. Papai acabou com a piada em Gotham, Coringa havia sido morto, finalmente todos teriam paz. Todos menos eu, eu nao estava em paz e tampouco bem. Ah, todo esse acontecimento e essas lembranças nao querem me deixar em paz, eu imploro todas as noites para que elas acabem, mas nao dá! Elas não me deixam tranquila. Eu estou me sentindo sufocada e não consigo achar uma saída. - Eu andei pensando em tudo, meu pai sempre disse que se algum dia eu quisesse ser uma heroina como ele, eu poderia ser. Mas, só que agora eu tenho minhas dúvidas. Eu achava ser filha de um grande herói, queria ser como tal, mas... Eu não sou, não mereço ser uma heroina. Eu nao mereço nada. Eu nao sei porque Bruce ainda me ama, ele devia me odiar por ser quem sou. -Lembro que nesta noite ele sentou-se ao meu lado na cama, e ficou acariciando meus cabelos. Ele quis me proteger, mesmo eu nao sendo sua filha legítima ele decidiu me amar.

Mas o meu coração ainda estava perturbado, eu nao conseguia aceitar a ideia de continuar sendo sua filha, eu me sinto tão culpada, mesmo não sendo.

De repente ouço um som parecido com o bater de uma janela, um vento forte sopra meus cabelos.

-Quem está aí? -perguntei ao me virar para trás.

-Oi! -cumprimentou uma voz atrás de mim.

Voltei-me para a direção contrariá.

Havia uma moça loira com algumas mechas no cabelo, bastante parecida comigo. Mas... Por que? O que? Eu nao estava entendendo nada.

-Quem é você? -questionei ainda assustada.

-Eu sou você. -respondeu.

Franzi a testa. Aquilo só podia ser um sonho.

-Você está louca? -apontei o dedo.

-Escute. -ela sentou-se sobre a cama. -Por que continua aqui? -perguntou com certo desprezo, jogando um dos meus travesseiros ao chao.

-Ei! Para! -disse brava. -Mas o que é que você quer dizer?

-O que eu quero dizer? -perguntou ironica. -Você não é filha dele! Não merece tudo isso!

-Não! -coloquei as maos sobre o ouvido como se quisesse parar de escutar.

-Você é a filha daquele homem! -ela apontou para mim. -Você é a filha do palhaço!

-Não! -repeti. 

Lancei meu criado-mudo ao chao tentando detê-la, mas ela escapou.

-Você é a vilã e não a heroína! -a loira gargalhou como se estivesse debochando de mim.

Eu caí ao chao, não podia continuar escutando tudo aquilo. Eu já estava chorando, meu tormento parecia não ter fim. Eu nao podia permanecer desta forma. Por que? Por que sou filha daquele homem? Por que não sou uma garota normal? Por que não posso ter uma vida normal? POR QUE?!!!

Quando abri os olhos, aquela garota já tinha sumido, mas sua risada permanecia impregnada em minha mente. Encostei-me ao guarda-roupa deslizando minhas maos sobre o cabelo. Aquilo parecia nao querer acabar, então eu devia fazer o que mais temia, eu acho que era a unica coisa que restava.

-Lucy! Onde vai? -questionou meu pai da sala, mas fingi que não escutei, continuei caminhando até o seu escritório.

Abri a porta com força, acabei por lançar seus projetos ao chao, todos os papéis que sobre a escrivaninha estavam, eu os amacei. Entrando com o passo pesado, regalou os olhos ao ver minha reação, ele não entendia porque estava o fazendo, mas eu sabia dos meus motivos. Logo enfureceu-se, percebi isso no seu rosto.

-Lucy, o que é isso?! -perguntou com a voz autiva. 

Mas eu não o respondi, abri violentamente as gavetas de sua escrivaninha, tinha que estar lá, ele não a guardava em outro lugar. Quando abri a última, sorri ao ver, peguei a arma com uma das mãos, era isso que eu procurava. Meu pai espantou-a com minha atitude, ficou tão pasmo que até perdeu a cor. Fechei os olhos e suspirei. Tomando a devida coragem apontei a arma em sua direçao, ele parecia descrente do que via.

-Lucy! Larga essa arma! Por que está fazendo isso? -ele questionou com lágrimas nos olhos.

-Eu nao sou quem você pensa que eu sou! -disse chorando.

Eu devia me acostumar com minha verdadeira identidade, eu nao devia ser uma pessoa boazinha. Eu sei, é confuso e estranho, tá doendo a cabeça, o coração e o corpo todo. -solucei. -Não da, eu nao aguento mais. Essas coisas estão me matando. Eu nao queria fazer aquilo, não queria, mas o meu verdadeiro eu dizia que eu precisava.

-O que você está falando, Lucy? -ele tentou se aproximar, mas balancei a arma o ameaçando.

-Você nao pode continuar com isso! -respondi quase que gritando. -Eu nao sou sua filha! -ao lembrar nao consegui conter o choro.

Ele parecia nao ter resposta.

-Eu nao nasci para ser a heroína, papai! -tentei sorrir.

-Nao, Lucy! Voce nao é como ele! -percebi que uma lágrima escorreu por um de seus olhos.

-Eu sou sim. -afirmei. -Sei que está vendo ele em mim agora!

-Você teria coragem de atirar em mim? -perguntou fugindo do assunto.

-Eu nao quero! -disse saindo de trás do balcao. -Mas eu preciso.

-Não! Você nao precisa! -ele tentou me acalmar. -Me da arma, nós podemos ser felizes! -ele atreveu-se a encostar as maos em meu rosto e eu permiti.

-Eu nao! -respondi. 

Ainda com lágrimas no rosto e um imenso aperto no coraçao, levantei a arma na direção de sua barriga.

-Ou você me mata, ou eu mato você. -meu olhar triste o encarou.

-Não. Por favor nao faça isso. -ele me sacudiu. -Isso não é algo que se possa escolher. 

-Eu vou contar até três...

-Não! -disse me interrompendo.

-Você não entende que eu não posso viver! Não posso viver! NÃO POSSO VIVER!!! -repeti a mesma frase em plantos, me debati em seus braços enquanto falava.

Para que continuar nessa vida? Para que continuar o tratamento para uma doença sem cura? Por que viver como uma louca? Eu nunca mereceria o amor de ninguém. -Tentando me acalmar, coloquei a arma entre suas mãos e a direcionei até meu estomago.

-Papai! -iniciei um tanto tremula. -Me salve! -conclui ao fechar os olhos.