– E tenho outra coisa para dizer.
– Ai meu Deus, mais uma coisa. – sussurrou para si mesmo.
– Está demitido. – informou o homem.
– O que? Por quê? – indaga arregalando os olhos.
– Você vai ter que resolver esses assuntos e não posso liberá-lo ou dar-lhe férias. Por isso está sendo demitido, Sr. Balsano.
– Ah ótimo, como eu vou sustentar a minha irmã? – estava inconformado.
– Se acalme. Esqueceu-se da sua poupança? Enquanto esteve no exercito e trabalhou aqui, seu pagamento foi mandado para a conta de sua mãe, lembra-se?
– Isso é, mas e quando acabar? Que eu saiba uma criança de quase doze anos não pode trabalhar. – comentou.
– E também não pode ser deixada como está. Ela precisa de você, rapaz. – o homem impôs. – Façamos assim, vá e daqui a alguns dias, nós entraremos em contato com você. Pode ser? – Matteo concordou com a cabeça, por mais que a situação estivesse complicada, se animou em saber que poderia voltar a trabalhar ali novamente. – Vá amanhã na parte da tarde.
– Tudo bem, mas como fica o Simón? Ele sozinho não vai dar conta. – disse.
– Peço ao ex-segurança da Sharon para ajudá-lo. Fica tranquilo, você é um excelente profissional, não o dispensaria por motivos tolos.
O segurança se levantou e deu um breve aperto de mão em seu chefe, o mesmo deixou a sala tentando esconder o nervoso com a situação. Não seria fácil enfrentar a vida sozinho, teria responsabilidades com a irmã. Fora o fato de que iria se reencontrar com Ada e com seu, ou não, filho. Matteo caminhava pelos corredores distraído, mas logo é desperto de seus pensamentos.
– Acorda Matteo. – brincou Nico, o antigo segurança de Ámbar.
– Ah, oi Nico. – não deu importância ao colega.
– O que foi? – perguntou, segurando o moreno pelos ombros.
– Nada, problemas.
– Ah isso todos tem.
– Não como os meus. – responde grosso. – Me dê licença. – saiu sem dizer mais nada e voltou para o quarto de Luna. Antes de entrar, deu leves batidinhas na porta e a abriu devagar.
– Pronto Lu, o Matteo chegou e eu vou... Bom vou indo. – falou Ámbar levantando-se.
– Então é isso, vai mesmo embora? – Luna estava com a voz quase inaudível.
– Não tem jeito, te expliquei tudo. – Ámbar aproximou-se da meia irmã, enxugou as lágrimas da garota e beija a testa da mesma. – Tchau Lu, sentirei saudades.
– Também. – suspirou Luna. – Ámbar não conseguia deixar a irmã, Matteo notou e colocou a mão no ombro da loira, ela sorriu e entendeu o recado. Saiu e Luna abaixou a cabeça ao ouvir a porta se fechar. – Ela foi mesmo?
– Infelizmente. – responde.
– Não acredito que minha mãe fez Ámbar escolher entre ela ou eu. – comenta ao levantar e ficar de frente com o segurança. Luna não sabia da sua proximidade com Matteo, pois se soubesse, com certeza estaria nervosa e possivelmente ruborizada.
– Calma, se a senhorita conversou com a senhorita Ámbar, deve ter entendido os motivos dela. – disse tentando amenizar a situação.
– Mesmo assim, não queria que ela tivesse ido.
– Também não queria que minha mãe tivesse ido. – murmura ele em resposta, virando-se para o lado. Não queria encarar os olhos vazios da Benson.
– Mas não me importo com minha... – Luna dizia, porém se deteve ao ouvir o que Matteo havia dito. – O que disse?
– Nada, não falei nada. – desconversou.
– Disse sim. Repita, por favor.
– Não falei nada, estou concordando com a senhorita, é uma pena a senhorita Ámbar ir.
– Não foi não, Matteo. – ela cruzou os braços.
– Agora é a senhorita que está invadindo meu pessoal. – riu de leve e ela corou disfarçadamente com as palavras dele.
– Desculpa. – pediu. – É que sou curiosa e como vê teimosa.
– Não tem problema, mas é que a coisa é realmente pessoal.
– Por isso mesmo, desculpa. – insistiu em seu pedido.
– Bom, não custa nada contar, não é? – ela ficou surpresa. – É que para alguém vou ter que dizer, e para a minha mãe não poderá ser. – ele não se sentia totalmente confortável para contar aquilo, logo o nervoso voltava a aparecer.
– O que tem sua mãe?
– Ela... Como dizer. – coçou sua nuca hesitante.
– Se não quiser dizer, não precisa.
– Não, eu quero falar, mas não dá, não consigo. Não dá para acreditar ainda. – Matteo respirou fundo.
– Está me deixando preocupada, sabia?
– Ela morreu. – soltou depressa. – Ela se foi, e para ajudar minha irmã está em algum lugar por aí. – Luna não disse nada. – E aí, me fala. O que eu faço, hein? – perguntou retoricamente. – Meu pai é um desgraçado, que nem Deus sabe onde está. Éramos só eu, minha mãe e Flor.
– Quem é Flor? – pergunta com uma pitadinha de ciúmes.
– Minha irmã. – responde um tanto irritado. Luna se assusta de leve com o tom de voz do rapaz.
– Ah sim. – aliviou-se ao ouvir isso. – Com certeza você terá forças para tudo isso. – sorriu gentil.
– Deus te ouça.
Luna esticou a mão e sem querer sentiu que relou em Matteo, porém tal toque não a fez se afastar e sim se aproximar. Ela deu um passo à frente e logo pôs a sua mão sobre o ombro do rapaz.
– Olha, já que me deu um conselho hoje e em todos esses meses. Talvez esteja na minha vez de te dar um conselho, não acha? – ela não obteve resposta e ficou sem saber o que fazer. Matteo nem tinha a ouvido, pois a cada segundo que passava, pensava nos problemas e Ada era um deles. – Está aqui ainda?
– Oi? Falou alguma coisa? – ele despertou dos seus devaneios, ela decepcionou-se. – Diga de novo, por favor, não prestei atenção.
– É que eu comentei que, bem, você sempre tenta me animar e talvez esteja na minha vez de te animar.
– Então tente.
– Bom, imagino que a situação não seja fácil, perdeu sua mãe, sua irmã está por aí, não tem pai, mas não esqueça que tem pessoas aqui que gostam de você. – disse, ela ficou incomodada ao notar que se referiu a si mesma. – Digo, onde quer que sua irmã esteja ela está se lembrando de você e obviamente, ela gosta muito de você.
– Tem razão, isso quase compensa a existência da Ada. – comenta baixo, mas Luna escutou e no mesmo instante retirou a mão do ombro do moreno.
“Quem é Ada? Quantas irmãs você tem, hein?” ela pensou. Ele percebeu a atitude repentina dela.
– Está tudo bem, Luna? – perguntou, ele não percebeu que estava sendo antiprofissional.
– Por que me chamou de Luna?
– Ah perdão. – balançou a cabeça negativamente. – Mas, enfim o que houve senhorita?
– Nada, fiquei mal por você, só isso. – Luna se afastou de Matteo e começou a andar lentamente pelo quarto. De algumas semanas para cá, ela começou a notar uma pequena evolução em sua visão.
– Olha Luna, entendo que é... – ele dizia, mas foi interrompido pela garota.
– Luna?
– Perdão novamente senhorita, eu entendo que é emotiva, sensível e tudo mais, mas não acho que seja só isso.
– A voz. – sussurrou, estava com o pensamento longe, não havia nem prestado atenção no que ele falava. Para ela a voz aveludada, mas ao mesmo tempo rouca a chamando por seu nome não lhe era estranho.
Ela procurou a pequena tesoura pontiaguda no mesmo lugar que a encontrou na última vez, e lá estava ela. Pegou-a e a colocou contra o pulso, aos poucos ia aprofundando mais aqueles cortes que ardiam de uma forma ainda suportável, mas a imagem de um rapaz moreno e de feições angelicais invadiu sua mente a fazendo ficar imóvel.
– Pare Luna, não adianta fazer isso. – disse o rapaz de aproximadamente vinte anos, com uma voz rouca. – Não vale a pena minha querida. – nunca havia o visto antes, mas o achava perfeito. – Você ainda viverá tantas coisas, tantas emoções e aventuras. Interromper um destino tão maravilhoso como é o seu é uma tremenda burrada.
Estava assustada, nunca havia visto alguém ou alguma coisa. Como pôde vê-lo? Imaginá-lo? O ter ouvido? A garota soltou a tesoura que ao cair no chão em um baque fez a imagem do rapaz que sorria de forma amigável desaparecer como fumaça.
– Sabia que não me era estranho. – comenta sorrindo involuntariamente.
– Algum problema senhorita? Realmente a senhorita não está bem.
– Estou bem sim, fique tranquilo.
– Hum se diz, quem sou eu para discutir.
Depois dessa breve recordação, a morena decidiu se deitar, afinal, na parte da manhã do dia seguinte ela iria ao médico. Durante a noite ela se mexeu bastante na cama e demorou em pegar no sono. Já Matteo não tinha sequer vontade de dormir e claro – não poderia – enquanto observava a noite mal dormida da filha do presidente.
[...]
Pela manhã, Luna acordou ao sentir um clarão no rosto. Essas simples sensações a alegravam, porém algo lhe dizia que hoje não seria um dia bom.
– Bom dia senhorita. – saudou Yam. – Te acordei, não é? Desculpe-me. – Luna bocejou.
– Bom dia para você também Yam. – estava mais animada do que de costume.
– Está animadinha assim por quê? – perguntou a empregada abrindo as cortinas da vidraça da dava acesso à sacada.
– Não sei, deve ser porque ando melhorando. Hoje vou ao médico e com isso, existe motivos para se animar, não?
– Isso é verdade. Está mais que certa. – sorriu.
[...]
Na mesa durante o café da manhã, o clima não era muito bom. Ámbar e Sharon haviam ido embora pela manhã, Rey e Luna estavam a sós.
– Espero que não esteja triste pelo que aconteceu.
– Entendo o senhor, sei que a mamãe não era uma boa pessoa e...
– Não me refiro a isso.
– Como assim? – pergunta confusa.
– É que demiti o Matteo.
– Ah. – fingiu não se interessar.
– É que surgiram alguns problemas e ele terá que resolvê-las.
– Imagino que tenha motivos para isso, mas era mesmo preciso? – questiona. – Achei desnecessário.
– Minha filha, sei que prefere a ele ao invés do Simón e eu também, mas demiti e pronto.
– Demitisse o Simón e não ele. – falou a garota grosseira.
– Compreenda a situação, como quer que ele assuma um filho estando aqui? Ele é um ótimo profissional, mas fez burradas e tem que consertá-las. – justificou o presidente. – Outra, nem deveríamos nos envolver nisso. Pensei que até já soubesse da demissão.
– Não, ele não disse nada. – estava irritada.
– Viu? Ele é profissional. – complementou o pai.
– Com licença. – se levantou da mesa. “Agora sei quem é Ada, e não me surpreenderia descobrir que Flor é sua amiga e não sua irmã” ela pensou.
– Aonde vai? – pergunta ao vê-la se afastar.
– Ao médico, onde está o Simón?
– Não sei, acho que...
– Obrigada por nada. – o cortou desdobrando a bengala e saindo. Luna não dava muita importância ao ex-segurança, somente não queria que outra pessoa saísse de sua vida, mesmo não sendo intimo.
– Que bom que já tomou café. – falou Yam ao encontrar a morena no corredor. – Venha, o Simón já está te esperando para irem a sua consulta. – Luna assentiu.
[...]
Dentro do veículo, nenhuma palavra fora dita e o silêncio reinou até a clínica. Ao chegar lá, Simón ajudou a moça a descer do Jaguar XJ de cor preta que a trouxe. Ela delicadamente se negou a entrelaçar seu braço ao do rapaz. Isso o incomodou e um sentimento de raiva o invadiu. Raiva de Matteo, pois percebia a preferência. Depois de quase trinta minutos, Luna estava sendo atendida.
– É bom saber que estamos evoluindo. – disse o médico. – Já consegue ter noção se está claro ou escuro. – encarava a moça a sua frente. – Bem, mas não podemos desistir, vamos fazer mais alguns exames. – ela sorriu como se concordasse, mas após saber da saída de Matteo, perdeu toda a animação.
[...]
Horas mais tarde, Luna estava deitada na cama como todos os dias, pensava na vida em uma forma geral.
– Posso entrar Luna? – perguntou Nina abrindo a porta devagar.
– Entre Nina. – se sentou. – Antes que qualquer coisa, diga-me uma coisa.
– O que? – a mais velha sentou-se perto da amiga.
– Como é o Matteo? – disse respirando fundo.
– Matteo, Matteo seu segurança?
– Ex-segurança na verdade. – Luna corou.
[...]
Enquanto a morena questionava a amiga, Matteo já estava a caminho de casa. Não tinha nem noção de como estaria a sua antiga vida. Eram por volta das três da tarde, quando ele foi deixado no seu antigo endereço. Pegou a chave que sempre esteve guardada consigo e abriu a porta com um suspiro. Encontrou a casa desorganizada e com o aspecto de mal cuidada.
– Flor? – ele chamou pela irmã, mas não recebeu resposta. – Ada? – ousou chamar pelo nome da namorada.
– Matteo? – falou a ruiva descendo as mesmas escadas apodrecidas que existiam há quase cinco anos atrás. – O que faz aqui?
– Eu que te pergunto. – ele a encarou largando sua mala ao chão.
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