– Flor? – ele chamou pela irmã, mas não recebeu resposta. – Ada? – ousou chamar pelo nome da namorada.
– Matteo? – falou a ruiva descendo as mesmas escadas apodrecidas que existiam há quase cinco anos atrás. – O que faz aqui?
– Eu que te pergunto. – ele a encarou largando sua mala ao chão.
– Meu amor. – ela correu até o moreno. – Por que veio? – a ruiva sorria.
– Não me chame de meu amor. Não sou mais nada seu. – responde. – E só vim, porque minha mãe morreu, tenho certeza de que já sabia, não é?
– Sabia e lhe dou meus pêsames. – acariciou a face do rapaz.
– Os guarde para você. – se afastou dela, pegou a mala que o acompanhou durante todos esses anos e colocou sobre o sofá. – Onde está a Flor?
– Saiu. – responde dando de ombros.
– Para onde?
– Está na casa de uma coleguinha, e sabe, podíamos aproveitar a ausência dela. – sorriu maliciosa. – Senti sua falta, sabia? – se aproximou novamente.
– Sei. Poderíamos mesmo aproveitar a ausência dela para conversar, certo? – estava sério.
– Conversar. – a ruiva revira os olhos.
– É, porque o presidente me mencionou uma louca que queria minha autorização para registrar uma criança como sendo minha. Será que você pode me explicar tudo isso? – ele se sentou no sofá, que ainda achava desconfortável e cruzou os braços.
– Se acalma Matt, eu vou explicar.
– Então comece, e logo. – o Balsano não estava de bom humor.
– Bem, quando você foi para o exercito já sabia da minha gravidez, lembra? – ele assentiu e ela continuou. – Enfim, eu estava com dois meses e me lembro muito bem que você me disse para eu pegar uma parte do seu salário para as despesas.
– Vá direto ao ponto, por favor. – pediu com impaciência. Ada fez questão de sentar-se ao lado do moreno.
– Como eu ia dizendo, sua mãe me dava cerca de setecentos reais do que você ganhava, mas quando você começou a trabalhar para a tal ceguinha, ela me dava mil reais. Afinal, hoje você ganha muito bem, certo.
– Tudo bem, mas... – ele respirou fundo. – O que minha mãe tinha para ter sido internada?
– Ah ela esteve bem mal nos últimos meses. Vomitava sangue, desmaiou diversas vezes, a dona Juliana fez vários exames, caríssimos por sinal. – disse ela. – Deu que ela estava com câncer no fígado e, infelizmente a coitadinha não aguentou. – concluiu calma, mas sem nenhum remorso pela forma que as palavras foram ditas.
– Meu Deus. – sussurrou com os olhos marejados. – E me fala como anda o meu filho? Ou filha, não sei. – Matteo tentou mudar de assunto. A morte da mãe o incomodava.
– Seu filho é uma menina. A Cecília vai bem, vai fazer cinco aninhos daqui um mês, em dezoito de maio, cinco dias antes de você. – sorriu à ruiva.
– Tem certeza que é minha? – ergueu uma sobrancelha.
– Como pode dizer isso, Matteo? – a moça o questiona com certa irritação. – Fica anos fora de casa e...
– Vamos admitir fidelidade não é muito a sua “praia”. – comenta sarcástico.
– Eu trai você? – indaga nervosa, mentia para si mesma.
– Não, simplesmente se enjoou de mim e foi experimentar outro, coisa normal. – sorriu irônico e isso a irritou.
– Prove. – esbravejou levantando-se do sofá.
– O teste de DNA vai provar, fica tranquila. Vai ser lindo ler Negativo no resultado. – ele gesticulou. – Sabe pelo menos quem é o pai, Ada?
– Você é, Matt. – fala desviando o olha para o chão.
– Não invente. – gritou. – Assuma que é melhor. – o tom firme de sua voz faz a moça se assustar.
[...]
Luna conversava com a amiga no quarto, ela ainda insistia em sua pergunta.
– Vai Nina, como é o Matteo? – disse curiosa.
– Por onde eu começo, mas espera aí... – fez uma pausa. – Porque quer saber? – soltou em tom de malicia.
– Só por saber, oras. – ela estava corada.
– Hum, está bem. – a garota sorriu. – Ele é bem mais alto que você, pele clara, olhos castanho-escuros, e o cabelo são da mesma cor dos olhos. – o descreveu com um sorriso brincando nos lábios. – Ele é um charme, sem comentários. Posso dizer que ele é um anjo.
– Não sei bem como são as devidas feições de um anjo, mas dá para imaginar. – Luna sorriu ao comentar. Tentava com esforço se lembrar do rapaz do seu subconsciente.
– Sim, mas para que queria tanto que eu lhe dissesse?
– Por curiosidade. – deu de ombros, embora não fosse sua verdadeira resposta.
– E não tem curiosidade em saber como é o Simón ou como sou eu? Por que quis saber dele? – ela ainda esperava algo concreto da amiga.
– Simplesmente quis Nina, mas enfim, me descreva você. – pediu animada.
– Com uma palavra me descrevo: Linda! – Nina riu. As duas continuaram conversando, porém o assunto chegou onde não agradava Luna. – Fiquei sabendo da ida do Matteo. Que pena, mas pensa bem, no lugar dele vem o Simón. É uma boa troca.
– Hum. – resmungou descontente.
– Que foi? Tem algo contra ele? Ou acha que sentirá saudades do Matteo?
– Não acho nada. E não sentirei falta de ninguém, ok? – afirmou, tentando acreditar em sua própria mentira. – Está tudo certo, ele foi e pronto. Minha vida continua. – cruzou os braços irritada.
– Você está estranha. O que anda acontecendo Lu?
– Nada. – responde seca.
– Fala, sou sua amiga. – Nina desvia o olhar para os pulsos de Luna. – Ai não acredito. – pegou as mãos da amiga analisando-os, a acastanhada abaixou a cabeça. – Voltou a fazer isso outra vez, por quê?
[...]
Enquanto Nina tentava saber o que acontecia com a amiga, Matteo tentava descobrir algumas verdades que não o deixariam contente.
– Quem é o cara, Ada? Responde.
– É um amigo meu. – disse baixinho. – Sei que agi errado e eu não queria que ficasse bravo.
– Ah não, imagina, não estou nem um pouco bravo. – sua voz era dura, ela se encolheu assustada. – Como é o nome do abençoado?
– É o seu primo de segundo grau. – ainda falava em tom baixo. Matteo se levantou instintivamente, puxou os cabelos com força.
– Está de brincadeira comigo. – esbravejou. – Quer que eu assuma uma filha que nem é minha? Não posso acreditar na sua cara de pau.
– Ele não quer assumir, por isso estou insistindo tanto.
– E onde esse animal está? – questiona, a cada minuto ficava mais nervoso.
– Se eu soubesse teria ido atrás.
– Não se faça de inocente. Cadê ele?
– Não sei Matteo, que droga!
– Não sei o que fazer. Simplesmente não sei. – ele bateu com força a mão contra a mesa que estava próxima a ele.
– Se acalme, pelo amor de Deus. – pediu a ruiva preocupada.
– Cala a boca. – falou grosseiro. – Só sai merda daí, então fica quieta sua... – o moreno decidiu se calar, sabia que estava passando dos limites, o mesmo nunca esteve tão irritado quanto agora. Pegou sua mala e subiu as escadas devagar, sabia que a madeira não era firme.
Ada continuou na sala, a mulher de quase vinte e dois anos, ficava pensando no que iria fazer quando o ex-namorado descobrisse sobre seu outro erro. Ela estava tão nervosa quanto Matteo, a ruiva esfregou o rosto e jogou os cabelos para trás das orelhas. “Você vai se ferrar, Ada sua burra, antes tivesse saído de Otherside” ela suspirou. Decidiu sair um pouco, buscar a filha na casa de uma vizinha era seu intuito.
[...]
A alguns quilômetros de distância, Nina ainda queria saber o que se passava com a amiga. Ver cortes no pulso de Luna fora assustador para a garota.
– Vai falar logo ou não? Senão chamarei seu pai, hein.
– Não, pelo amor de Deus. – disse. – Eu conto. – cedeu ao questionamento da morena.
– Que bom, comece. – Luna se abriu com a amiga. Nina já conhecia as mutilações da filha do presidente e ainda assim, achava um absurdo. A acastanhada contava com detalhes às vezes que buscou desesperadamente uma tesoura ou algo cortante para acabar com seu sofrimento. – Os seguranças sabem disso?
– Não, nem a Yam sabe. Na verdade, só o Ramiro sabia, foi por isso que aumentaram o número de seguranças sobre mim.
– Voltou a fazer isso há quanto tempo?
– Faz pouco tempo, acho que alguns meses, por aí. – estava envergonhada pela sua atitude.
– Os rapazes não perceberam nada de diferente em você?
– Nem você percebeu, Nina. – comenta.
– Mas notei agora. – contradiz a amiga da filha do presidente.
– Matteo sabe e ele sempre tentou evitar isso. – confessa com a voz fraca.
– Mas não conseguiu. Por que ele não disse nada para ninguém?
– Era segredo nosso Nina. – o defende. – E ele não conseguiu evitar, porque ele não pôde ficar vinte e quatro horas por perto, pois se pudesse teria evitado.
– O Simón não notava nada?
– Já falei, o Simón é um tonto. Eu que sou cega, sou mais esperta. – fala irritada.
– Esperta até demais mocinha. – Nina teve uma longa conversa com a amiga. Foi uma conversa motivacional entre as duas. A morena pôde perceber que era isso que Luna precisava: Apoio.
[...]
Naquela noite a filha do presidente decidiu jantar em seu quarto. Estava cansada e seus pensamentos residiam nos seus momentos de loucura. Ela finalmente notava que aquelas atitudes não a levavam a nada.
– Um dia poderei enxergar, e para isso preciso estar viva. – disse para si mesma. – Chega de tesouras ou algo do tipo, se bem que... – balançou a cabeça em negativa com os olhos fechados. – Chega, para, já deu. Você vai começar a se comportar Luna, para o seu próprio bem.
[...]
Na manhã seguinte Matteo acordou e só aí recordou que dormiu no quarto da mãe. Afinal Ada dormia no seu antigo quarto e Flor tinha seu próprio cômodo. O rapaz se levantou e fez sua higiene, ouviu murmúrios no andar de baixo e depois de alguns minutos, ele desceu. O moreno entrou na cozinha, viu a ruiva sentada em uma das cadeiras da mesa com uma menina de cabelos escuros e lisos ao seu lado. A irmã estava de costas para ele, portanto ela inda não o tinha visto ali. Porém, Ada encarou Matteo e isso fez Flor virar-se para trás.
– Matt! – surpreendeu-se a menina. – Ada não mentiu então, você está mesmo aqui. – ela saiu da cadeira e foi até o irmão, os dois se abraçaram forte. A garota de doze anos chorava com o reencontro e com o outro não era diferente.
– Como você cresceu. – comenta. – Está tão lindinha. – sorriu afastando-se um pouco para melhor observar a garotinha.
– Senti sua falta, muita falta. – eles se abraçaram de novo, Ada revirou os olhos com aquela cena.
– Fique tranquila, vou sair daqui o mais rápido possível. – disse, havia reparado na atitude da ruiva.
– Já vai embora? – pergunta Flor com o olhar triste.
– Não, não. A Ada vai. – responde Matteo sorrindo torto para a mulher.
– O que? – exclama. – E vou para aonde com uma criança de cinco anos? Minha mãe me expulsou de casa e o seu primo não quer sequer olhar na minha cara.
– Se vira, não mandei você dormir com outro. – retrucou.
– Grosso.
– Não fala assim do Matt. – protesta Flor. – Você que é chata.
– Flor, pare. – falou baixinho para a irmã. – A gente sabe que ela é chata, mas não precisa falar na cara dela. – Flor riu com o comentário do irmão. Os dois sentaram-se a mesa.
– Ótimo, estão todos contra mim. Danem-se vocês. – saiu da cozinha a passadas duras, deixando a garotinha que estava em seu colo ali.
– E você mocinha? – disse o moreno sorrindo para a menininha que estava envergonhada.
– Fala oi para ele Lia. Ele é mais legal que sua mãe.
– Já tomou café Cecília? – perguntou, ela negou com a cabeça timidamente. – Vem cá. – gesticulou.
– Nem rele nela. – soltou Ada entrando na cozinha novamente. – Não é o pai dela, não precisa fazer nada por ela. – a ruiva pegou a mão da menina e saiu da casa batendo a porta com força.
– Como andam as coisas por aqui? – indaga para a irmã, eles ainda tomavam café.
– Resumidamente: eu vou para o colégio pela manhã, fico em casa na parte da tarde sozinha e a noite, a Ada vem para cá. – explicou.
– Ela está morando aqui, então?
– Sim, de certa forma, sim.
– Escuta, fica sozinha por quê? Ninguém fica com você?
– Não. – nega com a cabeça, enquanto volta a beber seu leite morno.
“Suas empregadas devem trabalhar em um silêncio impecável, devem ser bastante discretas para minha irmã não notar. Presidente filho da mãe” pensou o rapaz.
– Bem, termine de comer que vou te levar para o colégio.
– Certo. – fala animada. – Você não vai mais embora, vai? – encara os olhos do irmão.
– Não. – sorriu com a resposta do mais velho. – Por enquanto não. – completa, ela desmancha o sorriso. – Sei que está triste, mas vamos resolver isso, ok? – assentiu triste e o moreno beijou a testa da garota, a mesma esboçou um pequeno sorriso. “Não tenho a menor ideia do que fazer Flor...” expressa para si mesmo.
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