– O Nico está de folga essa semana. Esqueceu-se?
– Ah é. – disse. “Na verdade sei disso. É que gosto de relembrar este detalhe, gosto de estar com você. O que acho estranho, pois nunca te vi e sei lá, te acho perfeito mesmo não sabendo o tamanho desta perfeição.”
– E então, quer ir ou não? Está uma brisa deliciosa lá fora. É melhor do que ficar aqui. – sugeriu e seu argumento pareceu convencê-la.
– Aceito sim. Adoraria na verdade. – sorriu. Os dois como sempre, entrelaçaram os braços e seguiram em silêncio pelos corredores largos da casa do presidente. – Sua irmã é uma graça. – comenta. – A danadinha estava tentando aprender a andar de salto, é uma fofa mesmo.
– Sabia que era com um dos seus sapatos, não é? – riu-se de leve. – O que me faz lembrar que depois vou brigar com ela por isso.
– Não, deixe-a. Ela me pediu pelo sapato e eu deixei, mas não sabia exatamente para o que era.
– Ela é uma graça mesmo. – brincou. – E a senhorita a dá moral, o que acaba fazendo ela me ignorar totalmente, sabia? Posso falar trinta vezes a mesma coisa para ela, mas não adiantará nada.
– Entenda, ela já está com doze anos, ela quer mandar em si mesma. Quer um pouco de independência, a qual também quero, mas não tenho.
– Opa, opa. Chega de melancolia. Não disse que estava com vontade de dar uma volta, então.
– E o que estamos fazendo? Estamos dando uma volta, certo? Mas não quer dizer que eu não possa falar das minhas tristezas.
– Deveria parar de reclamar tanto, tem uma boa vida. – disse tranquilamente.
– Olha hein, está invadindo meu pessoal de novo. – fingiu estar falando sério, ele riu.
– Já falei que não me importo, sabe que não dou ouvidos ao que me diz. – o moreno deu de ombros.
– Ah, então quer dizer que não ouve quando falo com você, me ignora. Aproveita que não vejo nada e abusa da minha simpatia. – deu uma leve batidinha com as pontas dos dedos no braço de Matteo.
– Primeiro, a sua tentativa de me bater falhou. – fala risonho. – Segundo, eu te ouço quando me interessa. E terceiro, não abuso de sua simpatia, não senhora. Na verdade, adoro seu jeitinho de tentar levar na brincadeira os seus problemas.
– Quando se convive com ele desde que nasceu, tem que aceitar. Em pensar que daqui a algumas semanas fará dezenove anos que não enxergo literalmente nada.
– Daqui a alguns dias fará dezenove anos que aquele desgraçado sumiu. – Matteo suspirou, acabou nem notando que dissera aquilo em voz alta.
– Olha, não sei se compreendeu o que eu quis lhe dizer, mas isso foi apenas uma indireta para dizer que meu aniversário está chegando, então, desculpa se te fiz...
– Eu entendi. – a interrompeu. – Não sou o Simón, Luna, digo senhorita.
– Pode me chamar só pelo nome, não me importo, na verdade. – sorriu doce. – Acho até melhor que senhorita.
– Tudo bem, mas meu cargo não me permite senhorita.
– Ah, pare com isso Matteo, ambos sabemos que você não trabalha aqui nem há um ano, mas poxa, convivemos todos os dias, somos amigos, que mal tem? – ela tentava encontrar um ponto negativo em ter uma verdadeira amizade com o moreno.
– Só você mesmo Luna. – balançou a cabeça negativamente e aí percebeu como a chamou. – Viu, de novo te chamei dessa forma. Não posso pegar esse habito, posso perder meu emprego senhorita.
– Não é você mesmo que diz não se importar? Então... – ela fez uma pausa. – Pode me chamar de Luna sem a senhorita. – ela corou, abaixou a cabeça na esperança de Matteo não vê-la. Porém ele sorriu ao ver ela daquela forma.
– Luna... – chamou sem o sorriso no rosto, seu tom de voz era baixo. Ergueu a cabeça para prestar atenção no que ele diria.
– Oi.
– Sente saudade de sua mãe?
– Hã, sinto. Por quê?
– E da Ámbar? – acrescentou.
– Também, acho que até mais do que de minha mãe, se é que posso considerá-la isso.
– E você sabe o motivo dela te tratar daquela forma? – Matteo a olhou a espera de uma resposta mais completa.
– Ela sempre me dizia que era por eu ter nascido sem a visão, já me disse coisas absurdas. Mas fazer o quê? Não tem como mudar. – deu de ombros. – Mas por que a pergunta? Posso saber?
– Nada. Curiosidade, só isso.
– Não parece ser só isso, fale. Quem sabe os papéis se invertem e eu acabe o ajudando. – tentou animá-lo, mas não sabia se iria funcionar. Não sabia nem se ele a dava atenção.
– Para Luna, não tem necessidade.
– Tem sim, fale logo, por favor. – insistiu.
– Para que? Fará diferença para você? Não, então.
– Larga de ser chato e conte-me.
– Está bem, mas só porque você é bastante insistente. – cedeu. Luna ficou feliz, ter convencido Matteo foi algo novo. Ele a levou para sentar-se em uma das diversas cadeiras que havia no quintal.
O que nenhum deles sabia, era que estavam sob o olhar nada contente de Simón.
– Luna, não é? – disse o moreno para si mesmo. – Algo está acontecendo e eu vou descobrir. Esse Balsano está aprontando algo, sei disso. – completa se afastando.
Luna sentou-se e o segurança permaneceu de pé ao lado da moça.
– Não sei o que dizer. – falou Matteo.
– Diga de uma vez.
– Você hoje está complicada. – brincou. – Está mandona.
– Eu sei, faz parte da minha personalidade. Agora, adianta.
– Primeiramente, obrigado por aceitar a Flor, no momento só tenho ela em minha família.
– Não se reencontrou com seu pai quando foi resolver o assunto da morte de sua mãe? – perguntou.
– Não. – balançou a cabeça negativamente. – Só encontrei mais problemas.
– E Flor como estava? Tinha alguém cuidando dela?
– Hã. – não soube o que responder. Estava receoso em dizer a verdade. – Minha ex-namorada estava com ela. – respondeu. “Foda-se, agora já falei. Para ela eu não passo de uma segurança. Que diferença fará se ela souber disso? Ciúmes é a última coisa que sentiria. Minha vida pessoal não à afeta em nada”.
– Hum, e por que terminaram? – após perguntar, Luna se sentiu mal por ter dito aquilo. – Desculpa, fui bem intrometida agora. – ficou envergonhada.
– Tem nada não. Eu também as vezes sou bem intrometido nos seus assuntos, então estamos quites agora. – falou. – E te respondendo, eu terminei com ela, porque ela é uma irresponsável. Não faz nada certo e só me traz problemas. – suspirou para manter a calma. Logo se sentiu aliviado.
– Muita gente comentou sobre sua ida. Por que não me disse que ia embora? Fiquei sabendo pelo meu pai quando você já tinha ido. – indagou à castanha, ela tentava não transmitir a importância que ele tinha para ela.
– Foi tudo rápido demais, não teve como. – respondeu ele sem olhá-la. “Não quis desperdiçar os últimos minutos aqui com uma despedida. Sei que não sou nada importante para você, mas achei que não merecia se despedir de mais outra pessoa a sua volta. Deve estar cansada de perder as coisas que a rodeiam e mesmo que eu não a conheça, de longe dá para notar que é alguém especial, Luna” afirmou em pensamentos.
– Matteo? – Luna o chamava. – Matteo?
– Hã, o que foi?
– Não foi nada. Estou te chamando faz um tempo e você não respondeu, achei até que tivesse saído daqui.
– Me desculpe, estava pensando em algumas coisas.
– Sei. Tinha gente comentando que você além de ter que resolver o falecimento da sua mãe, você tinha que, que... – enroscou-se na fala.
– Já posso até imaginar. – sussurrou. – Aquela filha da mãe ainda me paga. – resmungou.
– A quem está se referindo?
– Quer saber? O assunto encerra aqui.
– Não quis te irritar, eu só...
– Tudo bem. Vamos esquecer tudo, certo? – ela ficou calada, sentiu-se mal por ter invadido daquela forma o pessoal do moreno. Agora ela sabia como Simón sentia-se em relação a ela.
[...]
Enquanto isso, Ada via sua vida indo por água a baixo. As coisas não estavam indo bem e a cada minuto, só pioravam. Pela terceira vez no dia ela tentava entrar em contato com Sebastián.
– Droga, por que não me atende? – esbravejou. Sua irritação a faz bater o celular contra a mesa da cozinha. O barulho de palmas na frente da casa fizera à ruiva se acalmar um pouco.
– Olá, bom dia. – disse uma mulher ruiva e alta, tinha aproximadamente trinta e quatro anos. Ela encarava Ada. – O responsável da casa está?
– Sou eu mesma. – respondeu. Tecnicamente aquela era a verdade. – O que quer, hein?
– Posso entrar para conversamos melhor? – sugeriu. A moça deu de ombros, permitindo a entrada da mais velha.
Enquanto Cecília brincava na sala, Ada e a mulher – até agora desconhecida pela ruiva – estavam na cozinha sentadas uma de frente para outra.
– Bem, poupe-me de formalidades e diga logo o que quer. – começou com grosseria.
– Meu nome é Ana e vim por conta de um pedido de retirada. – disse a executiva abrindo a pasta que possuía nas mãos.
– Retirada?
– Há exatos dez dias, o senhor... – espiou os papéis que tinha nas mãos e depois retornou a conversa. – O senhor Matteo Balsano pediu que a casa fosse posta para alugar.
– Quem aquele idiota pensa que é? – falou brava. – Ele está querendo tomar a casa, é isso?
– Olhe senhorita, a casa estava no nome da mãe dele e com o falecimento da mesma, automaticamente a posse passa para o nome dele. E depois de conversamos com ele, o mesmo pediu para que a senhorita se retire o mais depressa possível.
– Mas ele só pode estar de brincadeira mesmo. Não saio de jeito nenhum. – garantiu mal criada.
– Mas senhorita...
– Quero ouvir da boca dele esse pedido. – cruzou os braços no peito irritada.
– Isso é impossível, ele trabalha para o presidente e foi difícil até para nós entrarmos em contato com ele, imagine você que não é nada dele.
– Sou a mãe da filha dele. – mentiu a ruiva.
– Bom, aí eu não sei, mas...
– Se for preciso eu ir à casa do presidente para impedir, eu vou. – soltou a cortando. – Ele me deixou sozinha com a menina e agora vai me tirar a única coisa que não perdi. Só por cima do meu cadáver! – bateu seu punho contra a mesa e pôs-se de pé.
– Faremos o seguinte, entrarei em contato com algumas pessoas e se acaso der certo, tentamos este encontro entre vocês para fazerem o acordo. – orientou a mulher que se vestia de forma elegante.
– Certo. – sorriu vitoriosa.
– Em breve nos revemos. – apertaram as mãos e a mulher se retirou. Ada não se deu ao trabalho de acompanhá-la até a saída.
[...]
– A bobona caiu direitinho. – comenta se jogando no sofá. – E depois do escândalo que eu fazer na casa do presidente, duvido muito que Matteo não coma aqui, na palma da minha mão. – seu sorriso só aumentava enquanto gesticulava.
– Com quem está falando, mamãe? – soou a garotinha que estava calada até o momento.
– Com ninguém. Vamos ver se o tio Sebastián e se o tio Lorenzo estão em casa? – ela sorria para a filha.
– Vamos. – se alegrou com a ideia sugerida pela mãe.
[...]
Depois de andarem por quase quinze minutos nas ruas um tanto vazias daquele bairro de classe baixa, as duas chegaram ao destino proposto. A ruiva entrou na casa sem ao menos anunciar sua chegada.
– Por que não atenderam o celular hoje? Liguei diversas vezes. – disse, sentando-se no sofá defronte ao homem de quarenta e cinco anos.
– Não estava com vontade, simples. – respondeu Sebastián. O rapaz saiu de dentro de um dos quartos e sentou-se ao lado da ruiva.
– Grosso.
– Cadê a Cecília? – pergunta o jovem de vinte e seis anos.
– Está ali fora brincando com a sua cachorra sarnenta. – disse. – Achei que nem ia mais perguntar sobre sua filha.
– Achou errado. – replicou levantando-se e se retirando do cômodo.
Ada e Lorenzo ainda continuavam ali, a ruiva olhou de um lado para o outro, hesitava em dizer.
– Hoje uma mulher me procurou, disse que me tiraria a casa.
– E eu com isso? – retrucou com frieza dando uma tragada no cigarro entre os dedos, em seguida soltando a fumaça no rosto da moça para incomodá-la.
– Não quer nem ao menos saber quem a mandou que fizesse isso? – arqueou uma das sobrancelhas. Sua pergunta despertou um pouco de curiosidade no homem de cabelos castanhos e olhos vazios.
– Hum, tanto faz. – é tudo que ele manifestou.
– O desgraçado do seu filho quer me ver na rua. O que eu faço, hein? – indagou indignada cruzando os braços na espera de uma resposta.
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