– Me chamou senhor presidente. – indaga Matteo.
– Sim, chamei. – disse o homem. – Esperava isso de todos, menos de você Sr. Balsano. – expressa com decepção. Matteo engoliu em seco as palavras do presidente.
O clima era um pouco tenso, Matteo e Luna não faziam ideia do que estava acontecendo. Enquanto Simón e Rey tinham olhares nada satisfeitos sobre o segurança.
– O que houve? – pergunta Luna. – O que Matteo fez?
– Ah, ainda não sabe? – disse Rey. – Que estranho, afinal envolve você.
– Me envolve? Não estou entendendo.
– Não dê uma de desentendida, sabe muito bem Luna. – manifestou-se Simón, dando ênfase em seu nome. Naquele instante Luna e Matteo entenderam tudo.
– Ah, só que faltava. – resmunga o Balsano soltando um longo suspiro.
– De onde tirou isso Simón?
– Eu ouvi e vi. – responde ele a acastanhada. – Não tenho dúvidas de que eles tenham algo. – apontou para os jovens.
– Então quer dizer que ao invés de fazer seu trabalho, você seguiu a mim e ao Matteo. Que bonito da sua parte. – fala Luna repreensiva.
– Eu estava fazendo meu trabalho e por coincidência vocês estavam perto. Não só perto de mim como perto demais um do outro, não acham?
– Chega, eu falo aqui. – brandiu Rey irritado, todos se calaram. – Não leu o regulamento? Achei que fosse profissional. Que história é essa de tentar beijar a minha filha, hein? – Luna se impressionou com a última frase do pai.
– Senhor eu li o regulamento, mas...
– Não minta para o presidente, hein? – se intromete Simón o interrompendo.
– Cala a boca, pelo que sei você não é nenhum santo. – retruca o moreno alterado com o tom de voz do outro.
– Já falei para ficarem quietos. – intervém o presidente. – Eu mando aqui. Deixei que sua irmã morasse aqui e tudo que fez foi descumprir as regras e ainda por cima abusa das circunstâncias. Como teve a audácia de fazer isso. – pronunciou com o olhar gélido.
– Mas senhor presidente, deixe-me explicar. – pediu Matteo. Rey assentiu, permitindo que ele prosseguisse. – Bom, é que eu não tentei beijar a filha do senhor, eu jamais faria algo desse tipo. – ele sabia que não tinha argumentos favoráveis. – Na verdade não sei como pode dizer isso, pois eu nunca faria isso.
– Eu posso dizer o que aconteceu perfeitamente. – se intrometeu Simón de novo. – Não seguiu as regras porque é ignorante e sempre se acha com a razão. – fez uma pausa em sua acusação, depois olhou para Luna e Matteo que ainda estavam com os braços entrelaçados. – Eu acho que ele não merece o cargo que tem. Afinal, se aproveitou que a senhorita Luna é cega e...
– E você também não merece. Por que tanto me julga? O que ganha em troca? – se defende o rapaz.
– Chega os dois! Será possível? Vão se bater daqui a pouco, é isso? – o homem ficou de pé, logo o silêncio se instalou.
– Isso me parece tentador. – sussurra Matteo no ouvido de Luna, a mesma riu de leve.
– E você? O que tem a dizer Luna? – direcionou a pergunta a filha.
– Como o Matteo mesmo disse, Simón também não é lá um dos melhores funcionários. Não é mesmo, Simón?
– Isso não vem ao caso. Ele tenta beijá-la e eu sou o ruim? – replicou o jovem que até o momento só julgava. – Não me parece justo isso.
– O que não é justo é culpá-lo por algo que ele não fez. Eu mesma permitir que ele me chamasse somente por Luna. – declarou a moça. – Fora que Matteo não tentou nada contra mim de maneira alguma. Ao contrário, sempre tentou me ajudar. – respirou fundo. – Se demiti-lo, estará sendo bastante hipócrita. Até porque mesmo ele e eu tendo uma boa amizade, ele não deixou o profissional em momento algum. Nenhum. – frisou. Tecnicamente estava mentindo.
Todos os presentes permaneceram calados, Matteo não resistiu e sorriu com as palavras da garota. Já Simón ficou mais irritado ainda com a situação. Rey ficou pensativo por alguns segundos.
– Tudo bem, se diz que não houve nada, realmente nada deve ter acontecido. – disse o homem se acalmando e sentando-se.
– Vai deixá-lo sair ileso disso tudo? – questionou Simón. – Acho isso o cúmulo. – era evidente seu descontentamento em relação à decisão. – E daí se ele é o preferido dela? Isso não pode acabar assim.
– Se acalme Sr. Álvarez, sua situação já está bem complicada, não acha? O senhor o culpou por algo que não fez. – advertiu lhe lançando um olhar inquisidor. – Se mentiu por esses mínimos detalhes, não acho apropriado que permaneça aqui. – decretou.
– Chega, cansei. Isso é inaceitável. – esbravejou. – Eu me demito.
– Viu? Te falei que o que sentia por ela iria te prejudicar. – comenta Matteo. – Te avisei que iria perder o emprego.
– Cala a boca Balsano. Você venceu, agora chega de me infernizar. – após dizer isso, Simón saiu do escritório batendo a porta com violência.
– O que houve aqui, permanece aqui. – ditou. Todos que estavam presentes assentiram as palavras do homem que deu por encerrada a reunião.
[...]
No dia seguinte, já passava das sete da manhã.
– É sério Luna, quero logo uma resposta. – argumentava Lili impaciente. Luna tomava café na companhia da mulher.
– Falei com o Matteo ontem, mas sua resposta não foi exatamente clara. Falarei com ele novamente.
– Certo, e desculpe pela minha insistência, mas o quanto antes eu tê-la melhor.
– Sem problemas, mas então, Xabi chega hoje de viagem, certo? – Luna decidiu mudar de assunto para distrair a impaciência da mulher.
– Sim, ele e Bernie já devem ter chegado. O vôo deles de volta para Otherside era às onze da noite de ontem, pois bem, eu a aguarda na sala de visistas. Vou deixar que tome seu café tranquila. – Lili saiu deixando a moça sozinha.
Segundos depois, a castanha ouviu passos no ambiente, suspeitava que não estava mais só.
– Quem é?
– Está melhorando mesmo, estou gostando de ver. – o rapaz colocou a mão sobre a de Luna, a mesma de imediato reconheceu quem lhe fazia companhia. – Fico feliz por isso.
– Obrigada, mas...
– Sim.
– Sim o que?
– Deixo Flor ir. – ele sorriu. – Depois de ver você me defendendo, protegendo meu emprego, vi que posso confiar em você. – acariciou com delicadeza a mão da jovem.
– Ah que bom, ela vai amar a notícia. – disse nervosa com o ato carinhoso do moreno.
– Já falei para ela arrumar as coisas e descer, a tal Lili já está aqui, não está?
– Sim, está na sala de visitas.
– Então venha senhorita. – estendeu a mão, ela não o encontrou, mas Matteo gentilmente a ajudou a se levantar.
Os dois calmamente vão para a sala de visitas. Ao entrar, Matteo viu que a irmã já estava com Lili e a garota mostrava animação.
– Ai Lu, muito obrigada por te feito isso. – a menina correu até a moça e a abraçou. – Só tenho a lhe agradecer. – beijou o rosto de Luna como agradecimento.
– Imagina. Fica tranquila e se divirta. Fiz isso por adorar você. – responde a filha do presidente não escondendo o sorriso.
– Bem, está na hora. O vôo sai daqui uma hora e ainda precisamos fazer algumas coisas. Despeça-se do seu irmão e vamos. – disse Lili.
– Já nos despedimos. – pronuncia-se Matteo.
– É, não quero que ele comece a chorar de novo, sabe? – comenta Flor rindo e os outros três a acompanharam em seguida.
[...]
Depois da ida de Flor, por volta das dez da manhã, Matteo ainda estava calado, não dizia uma palavra.
– O que está acontecendo? Já tá sentindo falta dela? – pergunta Luna.
– Estou pensando em outras coisas. Mas sim, a Flor fará falta.
Luna estava deitada na cama e ficava perdida em pensamentos. Enrolava as pontas do cabelo na esperança de fazer o tempo passar depressa, estava entediada. Matteo continuava parado no mesmo lugar há minutos. Somente observava o jardim da casa do presidente, a vista que se tinha da sacada do quarto de Luna era linda. Era uma pena a moça nunca ter contemplado tal visão.
– No que está pensando?
– Em coisas nada produtivas, só estou remoendo o passado.
– Nossa, não quer dividir comigo? O tédio está me consumindo. – suspirou.
– A raiva também está consumindo meu ser, e não há necessidade de saber, não a diz respeito. – fora grosso, mas logo percebera, pois ela se calara. – Desculpe, mas não estou com lembranças boas em mente.
– Fica tranquilo. Suas palavras me fizeram lembrar-me da minha mãe. – falou baixo e calma.
– E tem vontade de vê-la. – indaga virando-se para ela e dando atenção a conversa.
– Mais ou menos. Tenho, pois querendo ou não ela é minha mãe. Mas não tenho, porque ela me magoou muito. – respondeu. – Acho que se a visse, iria abraçá-la e a perdoaria talvez, não tenho certeza. – seu olhar estava perdido.
– Vivo algo semelhante.
– Sua ex, não é?
– Dessa aí quero distância. É eu aqui e ela lá, para o bem de todos. – usou tom firme. – Mandei que a despejasse da casa da minha mãe, ela não tem direito algum.
– Mas ela tem um filho com você, não? Precisa de...
– Chegou até aqui essa notícia. Ah, a Ada me paga.
– Desculpa, mas é que comentaram e eu acabei ouvindo. Sou cega e não surda. – ele riu.
– Tudo bem Luna, mas vou deixar bem claro, minha consciência está limpa, não fiz nada de errado. Ada é a causadora de tudo isso.
– Pelo que me diz ela deve ser bem, histérica. Quer tudo ao modo dela, não? – queria conhecer mais sobre a mulher que teve a grande oportunidade de tê-lo como namorado.
– É isso aí, não é fácil conviver com gente pobre que acha ser rica. – Luna riu.
– Por que pergunta tanto se quero rever minha mãe?
– Porquê... Porque sou tão curioso quanto você. – mentiu, porém sabia disfarçar, diferente de Luna.
– Ah sim. – notou que o rapaz estava desconfortável com o assunto em questão. – Como está o tempo aí fora?
– Até que está gostoso, quer sair daqui, não é? – sorriu. – Você se entedia fácil.
– Eis uma das minhas peculiaridades.
[...]
Os dois caminharam até o quintal em silêncio e com os braços entrelaçados como sempre, porém tinha algo diferente naquele simples gesto. Luna tinha o costume de sempre por a mão livre sobre o braço de Matteo, era uma forma de se apoiar mais confortavelmente. Mas desta vez, ele colocou uma de suas mãos sobre a da moça. O que a deixou nervosa, embora gostasse da sensação.
– Posso fazer uma pergunta? – Luna quebrou o silêncio.
– Claro, claro que pode.
– A que sentimento você se referia ontem? O que o Simón sentia por mim?
– Hã, não sei como te explicar, acho que ele ainda sente.
– Mas me fale, a que se referia? – ela o olhava fixa, ao menos achava que olhava.
– Bom, acho que não deveríamos falar sobre isso aqui.
– Por que não? – a curiosidade aumentava.
– Porque alguém pode ouvir e isso não é bom, pode acontecer um mal entendido. Outra que estou acobertando ele. – explica.
– Ele já foi demitido, que diferença faz?
– Mesmo assim, vai que... – ele pausa. – Não quero que pense que...
– Se acalme, parece nervoso. – disse sorrindo. – Então me leve a um lugar onde podemos conversar, estou curiosa em relação a isso.
[...]
Matteo a levou ao primeiro lugar que lhe veio à mente: Seu quarto. Não faria nada mais que contar a moça sobre o carinho que Simón tinha por ela, mas ainda sim, tinha certo receio de ter aquela conversa.
– Onde me trouxe? – pergunta após entrar no quarto com a ajuda do segurança. – É escuro mesmo estando de dia.
– É que bem, os quartos dos funcionários não são como dos patrões, certo? – responde. Ela logo soube onde estava. – Mas relaxe, dessa vez não tem nenhum caco de vidro. – tentou descontrair.
– Ah, espero.
– Bem, vou te falar de uma vez para podermos sair daqui, reparei que está desconfortável. – falou baixo as últimas palavras. – Bom Luna, ele era louco por você, mas acho que aquilo não era amor, era obsessão.
– Nossa. Explique-me, fiquei assustada agora.
– Ele sempre queria saber onde você estava, com quem estava. Ele queria te proteger de tudo e de todos, deve ser por isso que ele não gosta do tal Xabi. – diz Matteo, os dois estavam frente a frente.
– Hum, faz sentido. – deu de ombros.
– O que não faz sentido é ele gostar de alguém que nem conhece direito. Ele nunca soube ser cauteloso com as palavras e ao invés de te conquistar, fez você se afastar.
– Eu sentia que ele tinha uma preocupação diferente da sua ou de qualquer outro segurança. – abaixou um pouco a cabeça. – Eu sou cega, não o compreendia muito, e ainda não compreendo.
– Faria mais sentido eu gostar de você e não ele. – acrescentou. Ela corou ao ouvir isso. – Perdão, não me leve a mal. – tentou consertar, mas também estava sem graça diante do que disse.
– Tudo bem, sem problemas. – ela também tentou manter-se calma. – Se ele fosse mais gentil e doce, assim como você, teríamos mais chances de sermos, hã... Ser como você e eu somos. – suas bochechas esquentaram e foram tomadas por um pequeno rubor. – Digo, somos amigos, certo? – gaguejou. – Eu deveria ser menos impulsiva, droga. – sussurrou.
Matteo só a observava, a achava linda daquela forma. O silêncio do moreno só deixava Luna mais nervosa.
– Não se arrependa. – expressa. – Você fica tão linda corada, o que me faz não me arrepender de ter dito aquilo. – sorriu.
Aproximou-se mais da garota e a envolveu pela cintura, seu toque deixou Luna arrepiada e a estremeceu. Ela podia sentir sua própria respiração – que estava irregular – sentia o perfume de Matteo que a inebriou, a fascinou em segundos.
– Matteo, acho que... – não pôde externar mais suas palavras, pois fora interrompida pelos lábios do rapaz.
Não foi realmente um beijo e sim um selinho, que não durou mais que alguns segundos. O coração da acastanhada estava acelerado e aquilo era algo novo para ela, o que deixava suas bochechas ainda mais rosadas.
– Nós, nós, nós... – balbuciou colocando as pontas dos dedos nos lábios após o ato. – Você e eu... Nós... – era somente que conseguia soltar.
– Desculpe, mas não pude evitar. – disse ele baixo, ainda estava abraçado a ela.
– Não estou dizendo que... É que bem... Não sei o que dizer. – confessa com a respiração desregulada.
– Não precisa dizer nada Luna. – e a beijou, mas agora de verdade, prendendo-a mais naquela nova emoção.
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