Seis dias depois
– Quando vai começar a agir? – pergunta Sebastián a Simón, os dois conversavam pelo telefone.
– Em breve. – respondeu.
– Tem até amanhã, apresse-se. – disse. – Vá depois do almoço, o quanto antes melhor. – sugeriu. – E o presidente, ele já está na cidade?
– Não, Otherside está um caos.
– Enfim, é perfeito o momento. Com o desaparecimento dela, todos vão achar que tem relação com esses grupos, não vão suspeitar.
– Pois é, mas me diga, você não tem relação com aquele povo, não é? – questionou o ex-segurança da filha do presidente.
– É óbvio não. – fala de imediato. – Está maluco? O que te faz pensar isso?
– Sei lá, você é um pouco mais velho do que eu, e eu nunca o vi comentar sobre sua ida ao exercito.
– Porque nunca fui.
– Como não? Todos vão. – o rapaz ficou surpreso.
– Não quando se forja uma identidade falsa. – sorriu torto lembrando-se dessa época. – Bons tempos aquele. – riu de leve, mas logo ficou sério. – Mas para que quer saber, hein?
– Porquê? – ficou nervoso. – Não posso conhecê-lo nem um pouco?
– É bom que não esteja tramando nada.
– Não estou. – afirma Simón. – Confie em mim.
– Faça apenas o que mandei. Tente ser útil, imbecil. – soltou o xingamento e assim como da outra vez, desligou o telefone sem esperar por resposta. Simón suspirou, a cada minuto que passava, mas nervoso ficava.
Na casa do presidente acontecia outra reunião. Miguel novamente tratava sobre os deveres e as regras que deveriam ser seguidas pelos funcionários.
– O máximo que vocês precisam saber é se a senhorita Luna ou senhor Reinaldo estão vivos. Pronto, nada, além disso. – discursou o homem.
Yam e outras empregadas estavam em silêncio. Nico e Matteo estavam calmos, mas claro que o Balsano ainda sim, estava um pouco nervoso e notava que Ramiro não estava diferente. Os demais só prestavam atenção. A sala era composta por mais ou menos quinze funcionários, entre empregados e seguranças.
– Como sabem, até que tudo se acalme em Otherside, o presidente não voltará de Monique, Alemanha. Portanto, já avise isso a senhorita Luna, Nicolás. – avisou Miguel.
– Pode dar o recardo a ela Matteo. – sussurrou o loiro para Matteo. – Sei que gosta desta parte. – o moreno revirou os olhos e riu em seguida.
– Ah, e eu preciso de oito de vocês para um serviço em campo. – anunciou o mais velho. – Vocês três daí de trás, os quatro daqui da frente e... Você, Sr. Balsano.
– Eu?
– Sim, você. Nicolás e Ramiro ficam com Luna, ou tem algum problema? – o encarou.
– Não, eu vou. – responde. “Droga, tomara que aquele retardado do Xabi se comporte”.
– Se organize, irá depois do almoço. Ramiro, pegue o turno da tarde. Bom, vocês dois podem ir, os demais continuem aqui. – disse apontando para Ramiro e Matteo. Ambos assentiram e saíram.
– Não quer ir, não é mesmo? – fala o de cabelos cacheados.
– Nem um pouco, mas tenho.
– Hesitou daquela forma por quê?
– Porque eu não quero ir, oras. Acostumei-me e não quero sair daqui, ir para aquele caos. – deu de ombros, não era totalmente mentira.
– Não exagere, vai dar certo. Bem, poderia avisar a Luna que daqui a pouco irei lá.
– Tenho. – respondeu. Logo segurou-se para não rir.
– Ótimo, só vou fazer uma coisinha e já vou lá, obrigado. – Ramiro bateu de leve no ombro de Matteo e saiu depressa pelos corredores. Matteo apressou os passos, chegou ao quarto de Luna já batendo na porta. Ele ouviu apenas um “Entre” e ao adentrar encostou-se a porta.
– Oi meu anjo. – se aproximou da garota, a mesma estava sentada na cadeira da escrivaninha. Deu-lhe um selinho e ambos sorriram.
– Oi. – falou com doçura, gostava de ser surpreendida pelo amado.
– Tenho uma notícia para te dar.
– O que foi? – perguntou com preocupação, notou que não era boa coisa só pelo tom de voz do segurança.
– Calma, é que seu pai só volta de Monique quando as coisas se acalmarem por aqui. – disse a levantando da cadeira, sentando-se na mesma.
– Refere-se aos rebeldes? – questionou. Sentou-a em seu colo, com as pernas para um só lado.
– Sim, mas não é só isso.
– Matteo, você está me preocupando mais ainda. Diga logo, por favor. – pediu.
– Vou ter que trabalhar fora daqui por alguns dias. – responde cabisbaixo. – Querem que eu e mais outros seguranças resolvamos essa questão dos rebeldes, não é nada demais.
– Não quero que vá. – ela o abraça pelo pescoço. – Pode ser perigoso.
– Não se preocupe Luna, me preparei por quatro anos para isso.
– Não importa. – o abraçou mais forte. – Sentirei saudades, fora que eu preocupo-me com você. – seus olhos já estavam marejados. Matteo a abraçou forte e beijou o topo de sua cabeça.
– Não sei porque tudo isso, minha preocupação é você e... – suspirou. – Não pude rejeitar, Miguel está desconfiado. – acariciou a face da morena. – Não se preocupe, tudo vai dar certo. Nico e Ramiro vão estar aqui, então estará em boas mãos. – sorriu de leve.
– Não será a mesma coisa. – retruca chateada. – Eu ainda queria que... – a calou, pondo um de seus dedos sobre os lábios dela.
– Que tal aproveitar os últimos minutos sem essa despedida desnecessária? – ele sorriu sapeca, colocando uma mecha do cabelo da moça para trás da orelha, ela sorriu. – Vou sentir saudades desse sorriso, dos seus beijos. – sussurrou, a morena corou o abraçando pelo pescoço. Matteo a apertou mais contra o corpo. Em questões de segundos, acabaram com a distância que se punha entre eles com um selinho demorado. Aos poucos, o rapaz começou a intensificar e Luna retribuía ao carinho. Ambos sorriram entre o beijo. Davam selinhos longos e molhados, o que os agradava em demasia. A cada segundo eram beijos mais intensos, o moreno não pensou duas vezes antes de pedir espaço com a língua. Luna sentia-se tranquila naquele momento, mesmo estando preocupada, sentia uma paz incontestável estando nos braços do Balsano.
– Senhorita? – a voz de Ramiro a chamando na porta atrapalhou o casal. Matteo e Luna se separaram imediatamente. Ele bateu levemente na coxa da moça, indicando que ela se levantasse de seu colo. A castanha estava corada, mas não hesitou em dizer um: “Entre” para o segurança que batia na porta.
– E, portanto é isso. O senhor Reinaldo voltará em breve, é só as coisas se acalmarem, e ele estará aqui. – disse Matteo tentando passar tranquilidade.
– Ah sim, espero mesmo que seja em breve. – comentou, com ainda um pouco de rubor tingindo sua face.
– Bom, vou indo. Com licença. – falou Matteo por fim se retirando. Luna suspirou, sentiria falta do amado, mais falta do que sentiu quando ele havia ido há meses atrás.
– Quer ir almoçar, senhorita? – perguntou Ramiro ao ver Matteo se afastar.
– Sim. – respondeu. – Afinal, daqui a pouco tenho médico.
– Exato, vamos? – ofereceu o braço.
Almoçou sozinha como tinha feito já há alguns dias. Minutos antes de ir ao médico, por volta da uma e meia da tarde, Nina apareceu na casa do presidente e junto dela uma garota.
– Oi amiga, trouxe uma prima minha comigo, acho que vocês vão se dar bem. – falou ela ao adentrar no quarto de Luna.
– Olá. – cumprimentou Delfina, prima de Nina, aproximando-se de Luna, a outra sorriu.
– Ela veio passar uns dias em casa e achei legal apresentá-la a minha melhor amiga.
A três conversaram por poucos minutos, até que Luna teve que ir ao médico na companhia de Ramiro. E enquanto uma garota tentava recuperar o que nunca teve, Simón tentava de alguma forma conseguir o número de telefone de Lili. O moreno conseguiu entrar na casa do presidente com a desculpa de que ia resolver assuntos referentes à sua demissão com Miguel. O rapaz andava pelos corredores com pressa. “Se a irmã é do Matteo, provavelmente ele tem o número da tal Lili” com tais pensamentos em mente, ele saiu a procuro de Matteo. Não levou muito tempo para encontrá-lo num dos corredores da casa.
– De novo aqui? – começou Matteo grosseiro.
– Vim resolver umas coisas. Por que a mala? – perguntou Simón o olhando de cima a baixo.
– Trabalharei em campo por alguns dias. Faz um favor para mim? – o moreno revirou os olhos.
– Qual? – questionou com desanimo.
– Vá ao meu quarto e pegue uma mochila que está em cima da cama, senão vou ter que voltar lá de novo e já estou atrasado. – pediu.
– Tudo bem, já a trago para você. – ele viu ai à oportunidade perfeita.
Rapidamente fora para o quarto do ex-colega de trabalho, revirou o local a procura do número de telefone. Olhou em uma agenda que havia por ali, nada. Decidiu olhar na mochila sobre a cama e com felicidade encontrou. Pegou uma caneta qualquer e anotou na palma da mão o número. Guardou-o no mesmo lugar, pegou a mochila e saiu. Sorria vitorioso com seu feito.
– Que demora, mas obrigado. – agradeceu Matteo torcendo os lábios.
– De nada. – Simón mal o respondeu saindo depressa. O Balsano achou estranha a atitude, mas ignorou. Pegou suas coisas e deixou a casa do presidente. Enquanto um rapaz se afastava de quem gostava, outro colocava em prática um plano que afetaria muita gente, não se podia fazer nada. O jogo começou e deixar tal campo de batalha era impossível. Simón saiu da casa do presidente com rapidez, estava ansioso para acabar com tudo aquilo o mais rápido possível. Chegou a humilde casa que o pertencia, sentou-se no sofá desconfortável que tinha há anos. Pegou o telefone e ligou de imediato.
– Boa tarde, Monica falando. – uma voz calma feminina o atendeu.
– Eu gostaria de falar com Lili Benson, tem como?
– Ela no momento está em uma reunião, quem gostaria? – indagou do outro lado.
– Hã... Me chamo, Sebastián, Sebastián Villalobos. – respondeu ele. Não era certo ter se passado por Sebastián, mas já o tinha feito, e não dava para consertar.
– Olha, ela daqui a pouco consegue falar com o senhor, quer deixar recado ou algo assim?
– Quero falar com ela sobre Florencia Balsano.
– Ah sim, a Flor. – fez uma pausa. – Vou passar para a senhora Benson, só um instante.
– Ok, obrigado. – ficou mais nervoso, mas meramente animado.
– Boa tarde. – saudou a mulher. – Quer falar sobre Flor, certo?
– Sim, bem, será que poderia mandá-la de volta a Otherside? – perguntou na lata, sem pudor.
– Como? Quem é o senhor para pedir isso? – o espanto ficou explicito com o pedido.
– Me chamo Sebastián Villalobos e bem... – respirou fundo. – Trabalho com Matteo, irmão de Florencia, e ele pediu que a mandasse de volta para cá.
– Por quê? Por que ele mesmo não me ligou?
– É que, como explicar, ele está em um... – não tinha a mínima ideia do que dizer, tentava passar calma.
– Em um... – Lili instigou.
– Treinamento. – falou a primeira coisa que venho a mente. – Isso, em um treinamento, e me pediu este favor.
– Ah, e por quê?
– A senhora faz muitos “porquês”.
– Mas claro. Acha que deixarei uma garota de doze anos sair da minha responsabilidade assim, ah me poupe, não é. – irritou-se.
– O fato é: Matteo a quer aqui, Otherside está em crise e ele a quer por perto, sabe como ele é.
– Rapaz, isso é sério? – indaga com desconfiança.
– Lógico que é. – disse com convicção. “Lógico que não, mulher sonsa”.
– Como posso ter certeza?
– Não quer acreditar? Beleza, espero que saiba lidar com um cara nervoso depois. – respondeu a manipulando.
– Está bem, pelo jeito é sério. Certo Sebastián, amanhã pela manhã a coloco no primeiro vôo a Otherside. – cedeu. – Porém, deixo claro que a partir daí Florencia não é mais minha responsabilidade.
– Sei disso, fique tranquila. A que horas acha que ela chagará?
– O ligo dando as informações. Posso retornar a este número.
– Pode, e obrigado. – finalizou.
– De nada. – fala seca, desligando o telefone.
“Depois disso não posso me esquecer de trocar de número, sei que dará merda ter me passado por Sebastián, mas eu não ia pagar por isso depois, só quero o meu dinheiro e nada mais”. Simón recostou-se no sofá em que estava sentado e esfregou o rosto com uma das mãos, sabia que pagaria caro, porém estava disposto a fazer qualquer coisa para sair com seus trinta mil reais e com seu nome limpo. Entretanto não seria assim tão fácil, a maré sempre muda de direção. Hoje pode ser o dia da caça, mas amanhã o do caçador.
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