Luna ficou animada, sentiu que naquele dia aconteceria algo bom.
– O que o médico lhe disse que a deixou tão feliz? – perguntou Yam, assim que Luna lhe devolveu o telefone.
– Hoje à tarde vou operar e quem sabe posso enxergar em breve. – respondeu com um sorriso.
– Que boa notícia. – animou-se a empregada. – Já vou avisar ao Matteo que ele vai levá-la ao médico. – retirou-se da sala, a morena assentiu.
[...]
Minutos depois, Luna e Simón caminhavam pelo corredor em direção ao salão, ele a levava para almoçar. O silêncio reinava entre os dois.
– Olha senhorita. – chamou a atenção da moça. – Me desculpe pelo acontecido de hoje de manhã.
– Tudo bem. – fala sem emoção na voz. – Só não quero que aconteça de novo.
– Sim, perdão. Não vou mais tocar em assuntos tão íntimos.
– Espero. – volta a se pronunciar, mostrando desinteresse ao pedido de desculpas do rapaz. – Não quero que tenha uma imagem ruim de mim, mas quero que entenda que quando o assunto é minha visão é difícil para mim.
– Por isso mesmo que eu peço desculpas. A senhorita, uma moça tão simpática e agradável, não deve viver em uma situação desconfortável.
Ela não respondeu, simplesmente ficou em silêncio e seguiu o caminho. Em minutos já estava sentada à mesa e almoçava em família. Sharon não olhava para o rosto da filha e Ámbar encarava a irmã. Luna nem desconfiava do clima que estava no ar.
– Fiquei sabendo que vai ao médico. Por que vai? – Sharon direcionou-se a filha.
– Vou operar novamente. – Luna sorri.
– Para que? – a mulher fala com arrogância. – Sabe muito bem que nunca será uma garota normal.
– Mas nem por isso tenho que ficar parada esperando as coisas acontecerem. – dispara. – Estou me cansando desse tratamento da senhora comigo.
– Dane-se. – ela retrucou calma. – Você é o menor dos problemas ou preocupações para mim.
– Sempre foi assim, não me surpreende você dizer isso. – sussurrou.
– O que disse filha? – perguntou Rey, que estava até o momento em silêncio.
– Disse que eu queria ir para o meu quarto.
– Ah sim, Simón. – chamou o presidente, ele notou que a morena não estava se sentindo bem ali. O rapaz se aproximou rapidamente. – Leve a Luna daqui, por favor.
O rapaz assentiu a ordem e desviou sem querer o olhar para os olhos de Luna, que antes estavam alegres, mas agora estão melancólicos. Ele novamente se lamentou por não estar sendo visto como uma boa pessoa. Depois fixou o olhar desta vez aos olhos azuis intensos de Ámbar e viu a maldade neles. O moreno voltou a ficar nervoso, sabia que com uma palavra Ámbar poderia acabar com sua carreira profissional já de início. Ele ajudou Luna a se levantar e deixaram o salão em silêncio.
– Hoje mesmo vamos acabar com essa palhaçada aqui. – disse Rey ao ver a filha se afastar, o homem parecia decidido.
– O que quer dizer? – perguntou Ámbar, para de olhar para Simón e vira-se para o presidente.
– Quero dizer que não quero mais que discuta com a Luna. – estava sério. – E você Sharon, se não parar com seu jeito arrogante com a menina vou definitivamente pedir divorcio.
– De novo com isso? Pare com isso que coisa tola. – revirou os olhos.
– É sério, sabe que a amo, mas assim não dá. – o homem a encarou calado e ninguém disse mais nenhuma palavra.
[...]
Enquanto tal discussão acontecia, Luna caminhava no corredor na companhia de Simón. O rapaz novamente tentou conversar com ela e demonstrar que a quer bem.
– Desculpe dizer, mas todos nós estamos felizes por você.
– Como assim?
– Ficamos sabendo que vai ao médico. – a olhou. – Te desejo toda sorte do mundo, tomara que possa enxergar.
– Agradecida. – sorriu de leve. – Mas sinceramente toda vez que ouço o que minha mãe pensa de mim desanima-me.
– Não deveria.
– Não é fácil quando se falta apoio. – ela alegou.
– Conte com meu... – Simón disse em um tom sincero. – Quero seu bem. Perdão por ser intrometido.
– Já disse que está tudo bem e obrigada, é bom saber que posso contar com alguém. – eles sorriram, mas Luna não sabia se seu gesto estava sendo retribuído, portanto mantém o olhar focado para frente.
– Senhorita Luna, que bom que te encontrei. – falou Yam assim cruzou com os dois no corredor. – Venha, a senhorita tem que estar pronta para ir ao médico. – Luna não disse nada, somente entrelaçou seu braço ao da empregada. – Simón, será que poderia dizer ao Matteo para buscá-la daqui uns trinta minutos?
– O chamo sim, pode deixar. – disse ele um pouco decepcionado.
– Obrigada.
A duas deixaram o corredor, o segurança permaneceu imóvel observando à morena se afastar. Simón se sentiu decepcionado consigo mesmo, estava conseguindo a amizade de Luna, porém o que vinha conquistando não era exatamente o que queria com a moça que tanto o encantava. O rapaz bateu a porta do quarto do colega, ele já possuía uma ideia de como passar à tarde com a patroa. Não demorou muito e o moreno abriu a porta.
– Seu turno agora. – fala sem emoção.
– Eu sei. – pôde notar a expressão do amigo. – O que foi?
– É que, bem eu andei pensando.
– Diz logo, tenho que ir. – tentou apressar o rapaz.
– Quer que eu faça seu turno? – disse de uma vez.
– Por quê? – franziu o cenho.
– Por quê? Porque, é porque você trabalhou a noite toda, deve estar cansado.
– Não estou, pode deixar que eu mesmo faço meu turno. – afirma Matteo.
– Está cansado sim, olhe só seu mal humor. – contradiz na esperança de manipulá-lo.
– Cara, você está bem? – estava estranhando a atitude do outro.
– Sim estou. – responde Simón. – Não. – solta por fim com um suspiro.
– Fala o que está acontecendo. – recomendou escorando-se na porta.
– Pois é, aí está o problema eu...
– Acham que agora é hora de bater papo, é? – apareceu Miguel. – Vamos, cada um fazendo o que tem que ser feito. – faz um gesto com a mão.
– Sim senhor. – respondem em uníssono. O homem os olhou de cima a baixo ao se afastar.
– Descansa aí cara. À noite você trabalha. – Simón se afastava, mas Matteo o fez parar.
– Escuta uma coisa. – o moreno se virou para o amigo. – Sei que gosta dela, mas acho que deveria parar por aqui com isso.
– Não gosto não, só trabalho para ela. – mentiu corado, pois era verdade.
– Não precisa mentir para mim cara. – riu. – Vai lá, faz meu turno só não baba, viu.
– Valeu. – ele saiu.
Em menos de cinco minutos, Simón já estava na porta do quarto da filha do presidente a esperando. Em poucos minutos, ele já a levava ao carro que a aguardava. Luna segurou no braço esquerdo de Simón o tempo todo. A morena notou que quando estava com o segurança mais simpático, não sentia-se tão segura quanto quando estava com Matteo. Ela decidiu ignorar este pensamento e voltou a se animar, seu sonho estava a um passo de se realizar.
– Nervosa? – estavam a caminho da clínica.
– Sim.
– Fique tranquila, vai dar tudo certo. – comenta Simón.
Ela somente assentiu ao comentário do rapaz. O motorista que estava ao lado do segurança o olhou torto, nunca havia visto tanta ousadia com a filha do presidente, mas não demonstrou e logo estavam na clínica.
– Bem vinda Luna, sente-se. – apontou o médico. – Sente-se rapaz. – virou-se para Simón.
– Simón você está aqui? – pergunta Luna ao se sentar na cadeira com certa dificuldade.
– Estou sim, por quê?
– Por nada. – achou incomodo este fato.
– É que geralmente Ramiro se retirava da sala. – comenta o médico. – Mas não tem problema se ficar. – sorriu simpático. Simón sorriu de leve e continuou ali, sabia que corria certos riscos, mas no momento queria estar perto dela. Sentia necessidade de protegê-la de tudo e todos.
[...]
Enquanto um estava com quem gostava, mas que não era correspondido, outro estava pensando em um amor já retribuído e muito forte, um verdadeiro amor de irmão. Matteo estava andando pelo grande jardim da casa, caminhava lentamente entre os arbustos, distraído com os pensamentos. Ele sentiu uma presença, o perfume doce no ar já dizia que seja lá quem fosse, era uma mulher. Virou-se para trás e viu Ámbar se aproximando, ela sorria e parecia estar contente por tê-lo encontrado.
– Oi. – ela disse.
– Ah é a senhorita. – ele voltou a caminhar.
– Pode me chamar só de Ámbar. – a loira sorriu o acompanhando.
– Meu profissional não me permite.
– Não faço parte dos Benson, meu querido. – ele a olhou. Ámbar era o tipo de garota segura de si, tinha seu charme e era simpática com quem queria.
– Mesmo assim. – voltou seu olhar para frente, recusava a dar-lhe atenção.
– Pelo visto, você é o tipo certinho. – comenta, ele não respondeu e se limitou a somente continuar a caminhar. – Sabe Matteo, caras como você geralmente são os melhores.
– Aonde quer chegar? – parou a olhando confuso.
– Pensa bem, tenho sua idade, sou bonita, rica, quer mais motivos para se interessar por mim? – fala maliciosa.
– Aprendi que na vida os rostinhos bonitos são os mais perigosos.
– Sim, nós mulheres somos bastante perigosas em certas atitudes, ocasiões e até ambientes.
– Oferecida. – solta em sussurro, assim ela não pôde ouvir.
– Relaxa gato. – passa a mão lentamente pelo braço do moreno. – Sou uma boa pessoa.
– O inferno está lotado desse tipo de gente. – sorriu cínico.
– Ui só estou tentando ser simpática. – ela tirou a mão do braço do rapaz.
– Sinto em informá-la, mas esse seu jeito não me agrada.
– Pelo contrário, está te agradando sim. – afirma. – Como eu disse, caras como você são os melhores.
– Melhores em que garota? – disse um tanto curioso e irritado com o jeito oferecido da mesma.
– Melhores em todos os sentidos. – ela insistia em sorrir maliciosa. Mesmo não aprovando o comportamento da moça, Matteo tinha que admitir que ela era bonita e ele também não conseguia disfarçar seu interesse.
– Melhores em todos os sentidos, não é? – usa o mesmo sorriso da loira, finalmente a retribuía.
Ambos estavam perto um do outro e se aproximaram ainda mais. Eles tinham caminhado bastante e estavam em um lugar isolado, encontrá-los ali seria impossível. Ela passou os braços em volta do pescoço do rapaz e ele a abraçou pela cintura.
– Sei que não dá pra mostrar muito, mas mostra para mim do que é capaz. – fala antes de seus lábios se encostarem aos dele. Ele colocou o dedo nos lábios da loira e a fez calar-se, ela sorriu com a conquista.
– Aqui não é um bom lugar, mas...
– Mas...? – o olhou ansiosa pela resposta.
– Mas acontece que você é uma garota muito oportunista, não é? – afastou-se um pouco, mas ainda estavam colados.
– Não estou te entendendo gato.
– Você faz jus à cor do seu cabelo. – sussurrou novamente.
– O que? – pergunta, pois não tinha ouvido exatamente o que Matteo dissera.
– Garota acorda. – a empurrou com um pouco de força, mas não a ponto de machucá-la. – Se você fosse um pouco mais difícil, até que dava para chegar mais além.
– Não seja por isso, eu posso...
– Já chega. Você é de fato bonita e até simpática, mas não desça tanto, vai por mim conheço bem mulheres do seu tipo. – começou a se afastar dela.
– Está dizendo que sou baixa? Que sou vulgar? Olha como me trata, hein. – estava brava. – Você nem me conhece.
– Depois do que vi aqui, preciso mesmo conhecer? – o olhar de Matteo a fez calar-se. – Pode dizer o que quiser, conte também a quem quiser. Trabalho para o presidente e a família dele e pelo o que eu saiba você não faz parte da família. – o moreno a deixou sozinha ali. Ámbar ficou boquiaberta com a atitude do segurança.
– Esse abuso acaba hoje. – fala a si própria a caminho do escritório do presidente. Tinha a intenção de entregar Matteo e Simón por seus comportamentos.
– Assine logo Sharon. – ela pôde escutar a voz firme de Rey que vinha do escritório.
– Não assino nada. – gritou. – Por que quer tanto tirar minha filha de mim. – Ámbar ouvia a “conversa” por detrás da porta.
– Você nem a considera uma filha! Assine logo e livre-se do seu “fardo”.
– Não. – insistiu a mulher. A garota nem mais se lembrava o porquê de estar ali.
– Aposto que se tivesse no meu lugar, imploraria para eu assinar. Só sabe ver os pontos negativos da Luna e não as qualidades. E com a Ámbar você faz completamente o inverso. – declarou. – Não percebe o tratamento distinto que você tem com as duas? Sua louca, você cria rivalidade entre as duas sem necessidade.
– Tem necessidade sim. Ámbar não merece ter uma irmã cega. – afirmou Sharon.
– E Luna não merece uma irmã e uma mãe que a desrespeitam.
– Quem é você para dizer como devo criar minhas filhas. – gritou brava. Ámbar ouvia tudo e finalmente a sua ficha começou a cair. Não tinha cabimento o seu comportamento com a meia irmã.
– Não pensa no mal que faz a Luna, não é? – disse calmo. – Pois então, também teria a ideia estúpida de abortar a Ámbar se soubesse que ela nasceria cega ou com qualquer outra deficiência? – indaga. – Cresça Sharon, cresça.
– Eu sabia que a Ámbar nasceria saudável já nos primeiros meses, porém a Luna eu só descobri depois que nasceu. Se tivesse descoberto antes abortaria mesmo. – responde com naturalidade. – E se fosse esse o caso da Ámbar, não seria diferente. – completou. Ámbar levou à mão a boca, ainda não acreditava na declaração da mãe.
– Sou filha de uma louca. – dizia para si mesma. – Ela, ela me mataria se eu nascesse como a Luna. – passava as mãos pelos cabelos, tentava se acalmar, entretanto era em vão.
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