Point of view Eadlyn
Estremeci quando ele falou que a Gente ia embora no outro dia de manhã. Eu sabia que uma hora ou outra eu teria que voltar, mas não estava pronta.
Não deixei que ele percebesse a minha neurose, fiquei numa boa o tempo todo.
Parece que o tempo nunca joga do nosso lado. Quando a gente quer que ele passe, ele demora um século, mas quando a gente quer que demora... e foi justamente o que aconteceu, quando cai na real, já estavamos parados em frente a minha casa nos despedindo.
- Amanhã a gente se vê? - perguntou com a boca colada na minha e eu concordei.
- Obrigada por esses dias maravilhosos que eu passei com você, foram os melhores da minha vida...
- Da qui à um tempo, isso vai mudar e você não vai ter ideia de qual dia vai ser melhor porque eu vou fazer de você, a garota mais feliz do mundo.
Abracei ele que beijou meu pescoço.
- Ed, você podia ir pra casa comigo... - falou fazendo cara de cachorro pidão.
- Nós já conversamos sobre isso - me afastei.
- Eu sei, eu sei... É so que... Eu queria ter você comigo toda hora. Você podia morar comigo, o apartamento é grande e eu moro sozinho e seria ótimo...
- Estou indo, baby - lhe deu um último beijo e ele suspirou contrariado.
- Você ainda vai mudar de ideia - disse convencido.
- Quem sabe.
Peguei as malas e subi as escadas, dispensei a ajuda dele porque não queria gente bisbilhotando a nossa vida e a Dallas, meu Deus! Que mulher fofoqueira.
Fui direto pra casa dela, peguei minha bichinha e ela me encheu e perguntas.
- Viajei com minha amiga, estou cansada e preciso ir. Obrigada por cuidar da Lola, Boa noite.
Foi apenas o que eu disse, deixei ela louca de curiosidade.
Destranquei a porta de casa e entrei com as malas. Meu coração acelerou e quase explodiu. As rosas que ele havia me dado estavam espalhadas pelo chão da casa que estava totalmente revirada, meu urso estava estrangulado em cima do sofá e eu ouvi um choro vindo do quarto.
Senti vontade de voltar e correr pra longe dali, o medo que eu sempre senti me atingiu outra vez.
- Eadlyn! - Kriss gritou - Não vá embora!
Ela apareceu cambaleando na sala.
- Kriss! O que houve?
- Você é um vadia agora? Não posso viajar dois dias e você começar a fazer programa por aí com caras ricos? Você não tem vergonha?
Ela veio na minha direção e apertou meus braços com uma força sobrenatural. Eu gritei de dor e as lágrimas dos meus olhos saíram sem permissão.
- Kriss! Para por favor! Eu não estava...
- Não minta para mim! Eu vi tudinho, Eadlyn! O que foi que eu fiz de errado!? - a mão forte dela me jogou para trás em um tapa no meu rosto. Perdi o equilíbrio, cai para trás.
- Você é uma mal agradecida - ela se aproximou de mim.
- por favor, não - pedi chorando como uma criancinha, sentindo meu corpo todinho doer, e minha boca com gosto de sangue.
- Você é ambiciosa, Eadlyn! Você é burra! - ela me puxou pra cima e me encarou nos olhos - Olha pra mim! Olha o que eu me tornei!
- Por favor...
- Eu me apaixonei por um riquinho desses que você acha ser um Príncipe! Olha o que eu me tornei! Eu era linda como você! Ele era apaixonado por mim! Me prometeu tudo! E depois me largou! Depois de cinco meses ele me largou, ele só me usou! E é isso que vão fazer com você! Porque aquela gente não presta! E você vai me dar razão quando Kile te trocar por uma garota da classe dele! Uma menina bonita, rica, comportada e que os pais dele admiram! Uma garota que não vai ser você, Eadlyn! Que não vai ninguém como a gente!
Passei a mão na boca e olhei pro sangue na minha mão enquanto soluçava e ouvia Kriss chorar.
- Mas ele não é assim...
- Eles nunca são assim - ela disse - Eu estou te salvando dessa dor horrível que eu sinto todos os dias. Para de ser burra!
Ela se levantou, olhou pra mim e depois foi para a porta do quarto dela.
- Você pode não entender agora, pode até me odiar. Mas quando ele te descartar, quando fizer você se sentir um lixo, você vai me dar toda razão.
E então ela se trancou lá dentro enquanto quebrava seu próprio quarto jogando tudo na parede.
Abracei meus joelhos e me pus a chorar silenciosamente vendo minhas malas, meu urso despedaçado e as pétalas das rosas murchas pelo chão.
Tudo doía, mas a dor emocional era mais forte que a física.
E se ela estivesse certa? Kriss é uma mulher linda, que já foi muito mal tratada pela vida... E se o Kile estiver fazendo comigo o mesmo que alguém fez com a Kriss? Ah meu Deus. Maldita a hora que eu decidi gostar dele. Não devia ter feito isso, não devia ter dito que sim. Eu deveria ter me afastado.
E se daqui a cinco meses ele descobrir que eu não sirvo pra ele? Que não faço parte do mundo dele?
É melhor cortar o mal pela raíz.
Mas como eu vou fazer isso se estou apaixonada por ele? Não tenho experiência alguma com homens, e se ele destruir o meu coração logo de primeira?
Eu me tornarei alguém como a Kriss?
+++
Sai do banho, vesti uma blusa branca de manga cumprida com decote em v, coloquei minha calça preta e calcei meu all star branco. Passei uma base na lateral do queixo pois estava um pouco roxo e um batom clarinho pra disfarçar o corte, pintei os cílios também e peguei minhas coisas.
Sai de casa e fui para o metro. Kile me ligou e eu não atendi, três vezes. Cheguei na faculdade e fui direto pra sala da primeira aula prática que teríamos de costura.
- Parabéns, em garota! - disse se sentando ao meu lado.
- O que?
Todos ali olharam pra mim disfarçadamente.
- Todo mundo já sabe que você está com o Kile. Felicidade aos pombinhos!
Não consegui nem sorrir pra ele.
- Oh-ou. Problemas ou isso é mentira da mídia?
- Não é nada. So estou com dor de cabeça... Nada demais.
- Tudo bem... garota celestial.
Foquei na aula e esqueci de todo o cochicho à minha volta, meu único foco era terminar a aula, recuperar o que eu perdi e ir embora pra algum lugar.
Eu estava morrendo de calor, quando o intervalo chegou fui para o banheiro e tirei a blusa, fiquei sentada lá um bom tempo.
Observei as manchas roxinhas perto do meu ombro e suspirei lembrando da noite passada.
Minha razão me pedia para ignorar ele, cortar logo toda a relação que a gente tem pela raíz, mas meu coração me dizia que ele era o garoto certo pra mim, que Kriss estava enganada.
Sai do banheiro quando deu hora de ir para a próxima aula. Abaixei a cabeça cabeça e fui encarando meu sapato com a esperança e poder chegar ao meu destino sem dar de cara com alguém que me fizesse perguntas.
- Ei! - senti uma mão pegar meu braço e estremeci com a mesma sensação que tive da noite passada - O que houve com você?
Kile estava parado olhando pra mim. Seus olhos tão lindos me fizeram parar por um instante e me perguntar porque eu acreditaria em Kriss...
- Eu tenho... tenho que ir pra aula - falei desviando o olhar dele.
- Eadlyn, o que aconteceu!? - ele parou na minha frente e segurou meu rosto com as duas mãos, posicionando nossos olhos, ele estava sério e extremamente preocupado. Seus olhos passearam pelo meu rosto por dois segundos e então ele captou tudo. Passou o dedo de leve na lateral do meu queixo.
- Eu não posso perder mais aula.
- Eadlyn, o que aconteceu ontem? - perguntou raivoso ficando vermelho - Porque você estava chorando e porque você está com o queixo roxo? E porque está usando essa roupa no calor?
Não respondi.
- Eu tenho que ir.
- Eadlyn, me responde.
Respirei fundo e olhei em direção à sala de aula.
- Você sabe o que aconteceu. Preciso ir.
Dei as costas mas ele me puxou novamente e ficou me olhando. Dessa vez seu olhar era de culpa.
- Não quero mais isso, Eadlyn. Não quero mais... - Não ouvi o que ele terminou de dizer, meu coração gelou e eu senti as lágrimas se acumulando nos meus olhos.
- Você... Ki... Kile... - ele agarrou a minha cintura e se abaixou um pouco para colocar a cabeça no meu ombro.
- Não suporto mais, Eadlyn - ele falou abafado - Não suporto mais essa mulher, não quero você perto dela - de certo modo meu estado voltou ao normal e então eu entendi o que ele queria dizer - Você não pode mais ficar perto dela, olha o que ela faz com você! A culpa é minha, eu não deveria...
- Não. A culpa não é sua, Kile.
Ele levantou a cabeça e colocou a boca na minha.
- Desculpa. Eu prometi que isso não ia mais acontecer, mas aconteceu...
A culpa na voz dele me deixou arrasada e então eu o beijei. Involuntariamente eu o beijei, mesmo sabendo que talvez ele fosse um mentiroso ou que ele realmente estivesse apaixonado, eu o beijei.
E beijá-lo foi a melhor coisa que eu poderia ter feito naquele dia, ignorar as histórias de Kriss também.
- Eu vou lá na sua casa hoje - ele falou.
Bruscamente eu me soltei dele e me afastei.
- Kile, você não pode fazer isso.
- Posso.
Fiquei quente de raiva e medo.
- Você não vai fazer isso! - disse rangendo os dentes.
- Vou.
- Eadlyn? - olhei para o lado e vi Eikko se aproximar com as mãos no bolso.
- Sim? - dei um sorriso para aliviar a tenção.
- A pedido da minha mãe - ele levantou as mãos para esclarecer - Eu vim aqui para te dizer que ela quer conversar com você, hoje depois da aula lá na loja. Como ela não conseguiu falar com você pelo telefone, vim passar o recado - deu de ombros de um jeito despreocupado e charmoso.
- Hoje? - perguntei e ele concordou.
- Se você quiser, eu te dou um carona. Com todo o respeito - disse para Kile - É que eu vou pra lá quando terminar a minha aula também...
- Tá - Foi o ta mais seco que já ouvi de Kile - Tenho que resolver umas coisas hoje. Seria mais fácil mesmo se você levasse ela.
Eles trocaram um olhar pesado e eu me senti sobrando ali, mesmo sendo o assunto principal.
- Okay. Quando a aula terminar, me encontra na saída principal - ele disse pra mim - Xau, gente.
- Xau - respondemos juntos e então olhei para Kile que observava ele ir embora.
- Só deixo você ir com ele porque eu realmente não posso hoje, tenho muita coisa pra resolver.
- Você não manda em mim - falei me sentindo ofendida - Não é como se eu fosse a sua filha que precisa da sua autorização pra tudo. E você não se atreva à aparecer lá na minha casa.
Ele bufou.
- Porque não? Preciso conversar com a sua mãe.
- Você não pode conversar com ela.
- Porque? Ela é muda?
- Não. Porque ela é viajou.
- Mas ela não estava lá ontem?
- Estava. Viajou hoje novamente. Só veio pegar mais coisas e ver como eu estava.
- E te bater né? Olha, eu vou conversar com ela sim. Porque você é praticamente a filha dela e eu preciso mostrar que quero coisa séria com você. Porque de fato eu quero mesmo. E também preciso bater um papo com ela sobre isso - ele pegou no meu queixo cuidadosamente - Não aceito que ninguém toque um dedo se quer em você. Ninguém. E não dá bola pro Eikko, viu? Só agradece a carona e vai embora, eu te busco quando acabar la.
Respirei fundo e revirei os olhos. De repente toda a raiva que eu estava sentindo evaporou.
- Você não pode ir lá. Não hoje. E também não precisa ter ciumes do Eikko, porque eu só tenho olhos pra você. E eu preciso ir, ja perdi muita aula por sua culpa.
Ele deu um sorriso safado, me puxou para mais um beijo caloroso e então me deixou ir para a sala que foi quando toda aquela sensação ruim voltou a me atacar e as paranóias de que tudo que ele fazia pra mim não passava de armação não saiu da minha cabeça.
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