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História 3 - A Floresta do Medo - Origens


Escrita por: Samuel_Super_

Notas do Autor


Olha a conexão com A Casa Vermelha e O Outro Lado da Ilha? Amei!


Boa leitura!

Capítulo 3 - Origens


Fanfic / Fanfiction 3 - A Floresta do Medo - Origens

- Emillie... – sussurrou Francis.

Levantei a cabeça contra minha vontade. Seu peito era quente, musculoso e familiar. Ele respirava lentamente, e seu coração batia devagar, denunciando a mente dele que fluía em pensamentos. Seus dedos roçavam nos meus cabelos castanhos e seus olhos estavam à deriva.

Mas ele manteve-se calado. Percebeu que não queria estragar o momento. A noite havia desaparecido, e agora o Sol da manhã erguia-se longe de forma poderosa. Ele tudo via, tudo sabia, pensei. Queria ser igual a ele, mas nem tentava. Sabia que nunca iria conseguir.

            - O que houve Francis? – perguntei.

Ele continuou olhando para o teto. A boca projetava-se de forma pensativa, mas não forçada. Finalmente ele abriu a boca.

            - Quero que você fique aqui. Quero que você sempre fique aqui.

Suspirei.

            - Seus amigos já morreram. Você sabe que se tentar sair da floresta pode morrer... – ele me olhou de soslaio. – Desculpa falar assim. Só queria ser direto.

Calei-me. Era um pedido muito difícil de ser realizado. Mesmo com todas as pessoas que amava mortas, eu queria ainda ter uma vida de sucesso. Queria trabalhar para um jornal, escrever sobre as maldades dos nazistas e falar mal de tudo e todos que mereciam. Queria poder ter um filho, um casamento e uma família normal. A ideia de ser eternamente jovem no meio de uma floresta cheia de espíritos me assustava.

Sentei-me na cama, enrolada no lençol branco. Meu cabelo parecia um ninho de rato.

            - Bem... - morde os lábios. – Eu não sei se quero ser eterna.

Ele me olhava. O mesmo olhar sexy que ele tinha naturalmente.

            - Por favor, diga que sente a mesma coisa que sinto por você. – ele pediu.

Olhei para a porta e respondi sem encará-lo.

            - Não sei o que sinto. Acho que está florescendo qualquer sentimento. – expliquei. – Ainda tenho de pensar, Francis.

Então ele revirou os olhos. Algo nele me fazia lembrar o passado. Ainda nu Francis levantou-se da cama e andou até a cozinha. Vesti-me e fui falar com ele.

            - Fran, não queria te magoar. Apenas fui sincera com você. – disse.

Ele não me olhava. Seu corpo era esbelto: as curvas morenas e malhadas se projetavam na luz tênue da casa enquanto o Sol raiava.

            - Eu sei.

Magoei muitas pessoas na minha vida. Muitas mesmo. Mas quando fui magoada, desisti de magoar. Às vezes sentimos o que o outro sente de sacanagem. Só pra variar. Francis serviu pão com geleia e café preto no sofá e sentamos ali, um do lado do outro.

            - Como é sua história? – perguntei curiosa. Apenas sabia que ele tinha perdido os pais e veio morar aqui.

Ele mordeu um pedaço de pão com grosseria. Percebi que era um assunto delicado. Mas Francis relaxou e sorriu.

            - Eu tinha uma irmã muito engraçada. – começou. – Sabe, ela me fazia rir. O nome dela era Anelise. Parecia um pouco comigo, o povo da rua dizia. Mas na verdade éramos muito diferentes interiormente. Acho que por isso nos dávamos muito bem: não brigávamos, sabíamos nos conciliar e fazíamos coisas que irmãos repugnam dos outros.

Tomei um gole para uma pausa.

            - As pessoas não se dão bem, porque, na maioria das vezes, são muito iguais. – retruquei.

            - Então. Meus pais eram comerciantes. Eles tinham uma loja de sapatos na Avenida de Sopot. Nasci lá, na verdade. Morei lá até a tragédia.

            - Seus pais morreram num incêndio, não foi? – perguntei. – Lembro-me que você me contou.

Seus olhos marejaram. Voltei minha atenção para a lareira.

            - 7 de julho. Lembro-me da data. Eu fui sair para comprar café. Tinha 24 anos na época do ocorrido...

Parei para pensar. Como assim? Francis parecia estar ali há muito tempo. Cogitei a opção de ele estar mentindo. Mas pelo tom empregado na voz, Francis aparentava dizer a verdade.

            - ... eles morreram dentro da loja. Uma vela foi acesa, acho. E acabou caindo provocando um acidente. Minha família tentou me procurar depois de tudo, mas eu estava muito abalado. Caminhei pelas ruas durante dias e vim parar aqui. Nessa casa. Onde me mantenho até hoje.

Concertei minha posição no sofá.

            - Aqui o tempo não passa né? – perguntei. – Como assim? Não entendo.

Ele me olhou e segurou em minhas mãos.

            - Emy, a floresta tem esse poder de manter tudo aqui. Ela não envelhece e nem morre. Não sei o motivo disso. – disse Francis.

Assustei-me.

            - Pessoas morreram aqui. – contou Francis. – E eles ficaram. Suas almas se mantêm aqui! Por isso que Prio quis te matar!

O Sol agora estava subindo a janela da frente e uma rajada de vento invadia de vez em quando a casa. Era início de inverno.

            - Ouvi falar em um hospital em 1910 que era estranho como aqui. – falei. – Mas ele ruiu. O que aconteceu com essas almas para elas quererem matar todos que entram na floresta?

Francis reparava na mata escura lá fora.

            - A floresta não mata. Ela apenas mantém. – explicou ele. Então o homem moreno de cabelos cacheados me fitou. Sentia ainda a maciez de seus lábios tocando os meus. – Se soubermos o que está acontecendo, talvez possamos sair daqui livremente.

Lembrei-me do ser de terra que me imprensava no chão. Ele não me matou, pensei. Apenas me deixou para morrer. Um meio-sorriso escapuliu com esse pensamento. Mas quem me atingiu na verdade, foi o Prio. Ele quis me matar.

            - A floresta me ajudou com os alemães. – lembrei. – Quem quis me matar foi quem construiu essa casa. O tal do Prio.

            - Os fantasmas estão matando as pessoas ultimamente. – disse Francis. – Uma mulher grávida morreu aqui alguns meses atrás. Ela, assim como você, fugia dos nazistas. Mas morreu foi na mão dos fantasmas.

Um calafrio percorreu minha coluna.

            - Mas como podemos começar essa procura? – perguntei.

Francis sorriu. Vi o lampejo de seu olhar.

            - Eu sei por onde.

...

Francis me encheu de coisas. Tomei um banho e vesti uma roupa de caça que o homem me emprestara. A calça preta ficara folgada em mim, mas a blusa caiu perfeitamente. Ela era completamente branca, mas tinha alguns furos na frente. Francis me levou até sua mesa e jogou um monte de quinquilharias por cima.

            - Quando meus pais estavam vivos, aprendi com muitos clientes sobre essas coisas do além. Um cara me contou que os padres utilizavam diversos apetrechos para expulsar demônios ou espíritos. Vamos tentar fazer o mesmo. – contou Fran.

Então ele me deu uma faca de cozinha afiada, duas bobinas do tamanho de granadas com sal grosso e uma mochila de mantimentos.

            - Se sair da floresta for perigoso – disse – temos que nos proteger adequadamente. Como é mesmo aquela palavra que você usou para expulsar Prio?

Francis estava prendendo seu facão no cinto. 

- Croatoan. – disse. – Era uma lenda que existia na América.

Lembrei-me da história. Muitas das colônias europeias não deram certo no Novo Mundo, e a que mais ficou famosa foi a Colônia Roanoke. A história envolve desaparecimentos precoces e mistérios aplaudidos pela ciência, por isso ganhou conhecimento em todo o mundo. Croatoan foi uma palavra deixada na árvore cravada. Dizem que era um demônio feminino indígena, mas não é nada confirmado. Os monstros e espíritos não gostam de aparecer muito.

            - Certo.

Saímos da casa de manhã. O foco é um lugar onde servia de encontros para nativos em épocas passadas.

            - Eles se chamavam Colônia Tracintown. – contou Fran andando em meio à mata. – Tinham casas de madeira e cabanas na beira do lago na floresta. Foram os primeiros povos que mexeram com o sobrenatural aqui, nesse lugar.

“Enfim, eles consideravam esse lugar como sagrado. Por isso criaram muitas maneiras de proteger a floresta, até que em 1660 a colônia foi presa e enviada através de navios para o Novo Mundo. No caso para os Estados Unidos. Eles se situaram primeiramente na fronteira com o atual Canadá e depois sumiram. Seus registros desapareceram da história, até que em 1900 surgiram pistas ao norte do país. Ao redor de uma casa.”

            - Acho que eles podem ser realmente o motivo de tudo isso está acontecendo. – palpitei.

Continuamos a caminhar em direção ao Sol. Deviam ser umas 10h da manhã, não sabíamos. Era difícil saber o horário exato sem um relógio. Bússolas, relógios ou qualquer aparelho de localização não funcionava de maneira alguma. Depois de demorados minutos, puxei uma câmera fotográfica que encontrei no porão da antiga casa de London. Registrei as árvores em uma única fotografia.

Foi quando guardei a câmera que senti o arrepio.

            - Espere Francis... – segurei sua barriga e ele parou.

Ficamos estáticos. Algo se movimentava ao longe. Parecia uma cascata, mas então avistei o que era e fiquei horrorizada: de um monte pequeno a frente, escorria um líquido vermelho sulfuroso que descia rapidamente se aproximando de nós.

            - Merda, merda, merda! – gritou Francis me segurando pela mão e me puxando.

Disparamos entre a floresta enquanto o som de árvores sendo derrubadas aumentava atrás de nós. Por um momento olhei para trás e a onda se aproximava: uma mão surgiu da água que envenenava as plantas. Percebi por um momento que era sangue. Já tinha visto catástrofes naturais no Caribe, mas um tsunami de sangue foi novo.

            - Estamos chegando! – gritou Francis por cima do som da água. – Prepare-se!

Engoli em seco. Minha mão de repente tornou-se suada e larguei Fran. Comecei a me afastar dele, entretanto ele não me olhava. Apressei a corrida e uma gota tocou minha pele. Automaticamente, o local onde a pele fora atingida, corroeu. Ignorei a dor no tornozelo.

            - Agora! Se jogue! – ordenou Francis.

Ele fez um gesto amplo com a mão e empurrou as folhas do seu rosto. Quando atravessamos me joguei no chão. Quando caímos no chão, olhei para a onda de sangue que atingiu a folhagem como se fosse uma parede invisível. O sangue voou pelo ar e depois se aquietou.

Quando o líquido invadiu a terra sem nenhum rastro, analisei todo o lugar à minha volta. Cabanas de madeira em lascas e cipós foram construídas ao redor de estacas, como uma colônia. O chão arenoso era limpo. Perto de uma cabana maior que as outras, um lago se localizava no horizonte e uma mesa gigantesca ficava no centro, assim como um rastro já quase desaparecido de uma enorme fogueira. Objetos em formas de pessoas estavam presos no ar em alguns postes.

            - E aqui é a Colônia Tracintown. – observei.

Francis se aproximou de mim.

            - Toda a área é protegida por magia. – ele segurou meu braço. – Vamos procurar respostas?

Assenti.  Um calafrio percorreu por todo meu corpo. Andávamos lentamente de cabana em cabana, até que nos separamos. Entrei numa espécie de refeitório com várias mesas e bancos de madeira espalhados. Mas compreendi que ambos formavam um padrão.

            - Uau...

O teto era aberto. O Sol invadira a área aberta, formando um círculo de luz ao redor de uma mesa circular com um trono. Então imaginei uma colônia unida e feliz jantando em meio à luz do luar e de uma fogueira. Eles riam e devoravam a carne de veado caçada pela manhã. Suas gargalhadas invadiram meus ouvidos. Assim que me virei para o trono, uma mulher estava sentada com roupas de diversos animais peludos.

            - Respirem enquanto podem. – dizia ela se acomodando da melhor forma na cadeira alta. Seu olhar era rígido e maternal. – Nos mudaremos na lua depois dessa.

Reparei que um grupo de mulher, no caso um trio, se remexia inquietas num canto. A mulher do trono olhou também.

            - O que houve bruxas? – perguntara ela.

Elas se entreolhavam. Então as três fitaram Emillie. Algo nos seus olhares a intimidou.

            - É você Emillie. – disse as três em uníssono. – Abra os horizontes e enxergue novamente seu papel.

Então tudo voltou ao normal. Eu estava no meio da tenda, com os raios afetando meu cabelo castanho. Uma tonalidade diferente ocupara minha pele, mas ignorei e continuei analisando tudo. Então captei as informações. Uma mulher se sentara ali na época que aquela colônia era habitada. Fitei o trono em si. Milhares de paus e pedras incrustados formavam todo o objeto.

            - Bom, eles deviam guardar algo aqui.

Então caminhei em direção ao trono e me postei de joelhos. Então puxei um toco de madeira perto do chão, e toda a estrutura ruiu. O trono foi se desmantelando, de cima para baixo. Até que sobrara um pequeno livro por baixo da poeira. O limpei e saí correndo.

 

            - Francis! – gritei por todo o local. O Sol agora já havia atravessado o céu.

Ele virou-se. Fran saiu de uma cabana pesadamente e então olhou para o objeto na minha mão. Seu rosto se iluminou.

            - Olha! – entreguei o livro em suas mãos.

Ele então levantou o livro e o abriu, revelando um monte de letras estranhas.

            - Está escrita numa letra antiga. – observou Francis.

Olhei para o céu.

            - O caminho é longo. Devemos voltar logo. – contei.

Ele ponderou sobre a situação e então demos as mãos e saímos da Colônia Tracintown.

 

            - Bem, sabe o que é isso? – perguntei me empertigando sobre seu ombro. As inscrições estavam por todos os lados: na horizontal, vertical, diagonal e em outros ângulos.

Ele balançou a cabeça em desaprovação, fazendo um som com a boca.

            - Nunca vi algo parecido, mas pelas imagens desenhadas à mão, parece ser um livro de magia. Tem algo como um pouco de Virtebo e coisa do tipo.

Então caminhei até o sofá, onde li um livro velho do porão de Francis. O livro falava de um cara que não podia ficar com uma menina devido às intrigas de família. Parecia até Romeu e Julieta, mas não tinha nada a ver. Pode crer.

Quando a Lua invadiu o jardim na frente da casa, uma luz branca e reluzente inundou meu rosto. Avistei Francis caindo para trás e batendo a cabeça num som oco. Folhas voavam para todo pela casa, uma cadeira foi lançada contra a janela e o grande som de um helicóptero invadiu o local. Então gritei desesperada.

Uma mão surgiu ao meu lado. Era Francis. Ele tinha um olhar perdido, mas mesmo assim se lançou contra mim e me abraçou para cobrir-me dos estilhaços de vidro que partiram das janelas. A porta foi arrombada. Uma menina de cabelos loiros, olhos castanhos-esverdiados (não pude perceber com providencia naquela luz toda) e uma jaqueta de motoqueiro parou perante a nossa porta.

            - Por favor...

Então a garota desabou e lá fora o estrondo terminou numa explosão. Aproximei-me dela.

            - Ei, ei! – bati em seu rosto a fazendo abrir os olhos – O que houve? Quem é você?

Senti medo. Ela podia ser uma espiã dos alemães. Mas ela não tinha nada nazista nas expressões. Ela era morena e musculosa.

            - Sou da Ilha Marphob. – ela disse. – Me chamo Jane. Vim do Outro Lado da Ilha... 


Notas Finais


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