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História A Forbidden Love - Sol e Lua


Escrita por: Juny_Grace

Notas do Autor


Oi Oi :D
Ah, tudo voltando aos eixos <3
Não vão me matar nesse capítulo hihihihi
Desculpem os erros e boa leitura <3

Capítulo 33 - Sol e Lua


 

[Will]

 

— É aqui – chutei uma pedrinha.

— Tem certeza? – Questionou com as mãos na cintura, a pose despojada alternando o peso de uma perna para a outra.

— Feitiços de localização com sangue não falham – ressaltei – é aqui.

— Mas onde é aqui? – Questionou Percy.

Balancei a cabeça em silêncio.

Já havia amanhecido há algumas horas, o sol estava alto, não passava de nove e quinze. Estávamos no meio de uma floresta distante da cidade e do bosque onde Jason vivia. Ficava há duas horas e meia dali, e com toda certeza era um ótimo esconderijo já que era fechada e densa. O ambiente em si era frio e úmido, mesmo com o sol preguiçoso daquela estação, continuava a ventania forte do sul para aquele meio fértil.

O feitiço que fiz mais cedo nos levara direto para o meio da mata, mais especificamente para uma montanha de pedras e rochas grandes e pesadas. Estavam empilhadas estrategicamente formando uma passagem – justa e estreita – descendo direto para o fundo escuro.

Afrodite com o olhar analítico observava tudo com os olhos estreitos.

— Tem degraus – indicou apontando com a mão enluvada para a entrada escura – uma escada. Isso significa duas coisas; ou isso foi obra de algum escultor paranoico, ou...

— Nos querem aqui – respondi por fim. – Vamos.

— Espera ai macumbeiro – a mão pequena segurou firme em meu antebraço vazio antes de prosseguir. – Pode ser perigoso demais ai dentro pra você.

— Nada é mais perigoso do que eu – livrei-me de seu aperto mirando-a firmemente com os olhos – vamos Percy.

Mesmo de costas pude ouvir seu resmungo baixo de reprovação. Precisei abaixar para passar na fissura entre as pedras, e assim que o fiz, o primeiro degrau claro apareceu, depois e outro, e mais um. O interior estava iluminado por tochas, crepitantes e calorosas, iluminando singelamente o corredor escavado imperfeitamente por pelo que pareciam marcas de dedos – mãos humanas. Provavelmente trabalho escravo.

Avançamos cautelosamente com agilidade, Percy em meu encalço. Podia sentir sua respiração às minhas costas farfalhar meu cabelo pela proximidade.

— Will – chamou baixinho – está tudo bem?

— Não – respondi sincero no mesmo tom, para que apenas ele ouvisse – estou com um mau pressentimento.

— Pressentimento? – Ressoou – Como o que?

— Algo ruim, muito ruim. Quase como um mau agouro.

Um calafrio passou por minha espinha com a citação da palavra agouro. A voz de Nico – que já não passava de uma lembrança em minha memória – sussurrou em meu ouvido aquelas mesmas palavras que nos proferira na noite anterior à sua partida.

“Um agouro de morte”.

Engolindo em seco, prosseguimos.

 

Parecia não ter fim, continuava descendo e descendo, como um poço sem fundo. Apenas escuridão. Quando pisei no próximo degrau percebi ser o ultimo e não haver nada além do piso liso diante deste. Mesmo com as luzes das tochas ficava difícil enxergar daquele ponto em diante, era apenas escuridão e trevas, puro breu.

— Incendia – o feitiço de fogo não surtiu efeito algum, o que era um mau sinal. Não havia mais tochas ali, era um beco sem saída daquela negritude – que ótimo. – Resmunguei irritado – Não vejo nada.

— Estamos em uma sala – mesmo sabendo que era inútil fazê-lo, me virei para olhar um Percy invisível. E tamanha foi à surpresa ao ver os olhos vermelhos brilhando sedentos como uma cascata de sangue – é espaçosa e feita de pedra. Tem uma porta grande do outro lado, está tudo vazio. Mas...

— Mas? – Instigou Afrodite. A voz era vaga e avulsa.

Não respondeu de imediato. Respirou fundo e sussurrou alguns segundos depois:

— Tem alguém aqui.

— Alguém? – Perguntei – Quem?

— Não deviam ter vindo – uma quarta voz se fez presente bem a nossa frente.

Não sabia ao certo para onde olhava, nem o que esperava encontrar. No meio da escuridão um filete distante de luz se acendeu, e do meio dele a garota surgiu séria, como nascida do escuro; a mesma pele negra e o cabelo cacheado de antes.

Debaixo do braço, um livro.

— Você – ralhei baixo.

— Saiam. É meu único aviso.

— Nem em sonho – dei dois passos à frente – vocês dois continuem. Se Jason está mesmo aqui, deve estar atrás daquela porta. Vão.

— Will...

— Vou ficar bem Percy – olhei-o por cima do ombro – vá. Ele precisa de você.

Os olhos vermelhos balançaram para cima e para baixo e em seguida o som agudo dos saltos de Afrodite batendo no chão ecoaram para longe. As dobradiças rangeram e a madeira bateu contra a parede segundos após.

Balançou a cabeça.

— Onde foi que você se meteu? – Questionou baixo.

— Onde eu me meti? – Indignei-me – Onde você se meteu. O que se passa na sua cabeça pra ajudar aquela larapia?

— Você traiu sua natureza – retomou a palavra – fez pacto de sangue com o demônio. Desgraçou o sangue da sua família.

— Você não conhece minha família!

— Não? – Arqueou uma sobrancelha – Hécate não lhe contou tudo, pelo visto.

Troquei o peso de uma perna para a outra.

— O que quer dizer?

— Você sabe quem eu sou? – Balancei a cabeça questionando-me se ela conseguia me ver – imaginei que não. A família Solace sempre despreza os mestiços.

— Mestiços...?

Dobrou o corpo e repousou o livro no chão. A calça jeans rasgada nos joelhos. Parecia jovem, não mais que vinte anos. Mas aparentava cansaço, o que era estranho de se enxergar em alguém tão novo. Uma fagulha de fadiga.

— Os Solace compõem a família mais antiga e pura da raça das bruxas – prosseguiu – sempre tida como exemplo a ser seguido e sempre favorecida como a mais talentosa e pura família bruxa. Sempre bem cobiçados e etiquetados, sempre sendo os primeiros em tudo. Sempre desprezando aqueles que não são cem por cento bruxos.

Me mantive em silêncio, os olhos fixos na figura magra, prestando a devida atenção em suas palavras para que não tentasse algo fora do normal.

— Minha família era feita de mestiços, filhos de bruxos com humanos normais. Nossa magia sempre foi mais fraca e nossos feitos não se comparavam com os grandiosos bruxos nobres da família Solace. Sempre fomos tratados como escoria e entojo, nunca recebemos mérito por nada do que fizemos, tampouco fomos convocados para ser parte das famílias honorárias.

— Você não está falando coisa com copisa pra mim – resmunguei alto. – O que tudo isso tem a ver comigo?

— Mais do que você imagina – sua face adquiriu uma expressão irritadiça – nos tempos antigos os mestiços eram considerados atrocidades. Sequer tínhamos servos como vocês, de sangue puro, tem. Nunca fomos fortes como vocês e nunca fizemos diferença na humanidade. Nós apenas queríamos viver nossas vidas, as crianças mestiças só desenvolviam o dom da magia por algum acidente ou acaso; enquanto as crianças puras de sangue nasciam como prodígios – cerrou os punhos. – Nunca fomos aceitos na sociedade, sempre fomos dotados como aberrações da natureza. Até o dia em que vocês pecaram.

Engoli em seco.

— Porque se dirige a mim como se fosse o culpado de tudo?

— Porque você é. Os vampiros jamais deveriam ser alimentados com sangue mágico em hipótese alguma. Eram subordinados dos bruxos, mas a sua preciosa família acabou com toda a paz do vilarejo em que vivíamos. Foi Amélia Solace quem se apaixonou por um servo vampiro. Foi aquela desgraçada da sua tatara bisavó que deixou o próprio servo beber seu sangue. Foi aquela repugnante mulher que deu a todas as linhas de vampiros os poderes que eles tem hoje.

 Arregalei os olhos.

— Os poderes que tem hoje? – Instiguei – Quer dizer que...

— O sangue daquela maldita passa em todas as gerações de vampiros. Até mesmo seu servo, Jason, que pode ler mentes graças ao sangue mágico dela. – Sua voz aumentou uma oitava – Foi um camponês da minha família quem presenciou aquilo. Uma bruxa dando seu sangue a um vampiro de bom grado. Quando a corte soube daquilo, Amélia teve a cabeça decepada. Com raiva de todos os Solace, sua preciosa família foi atrás do camponês e não tiveram misericórdia de destruiu tudo à frente deles apenas por vingança e pra manter os status perante o rei. – Lagrimas nervosas caiam dos olhos âmbar, escorrendo pelo rosto entristecido pela raiva absoluta. Gritou alto – POR CAUSA DA SUA FAMÍLIA CENTENAS DE MESTIÇOS FORAM QUEIMADOS VIVOS!

Deixei o ar escapar dos meus pulmões num suspiro lívido. Copiei seu ultimo movimento – baixei o corpo e depositei o livro em frente aos meus pés.

— Acho que já entendi tudo.

— Você não entende nada! – Embargada pelo choro e o soluço, sua voz tremia de medo e confusão.

— Você quer vingança, não é? – Adivinhei – Quer descontar todo o sofrimento que passou durante todos esses anos em mim, em nome de toda sua família.

— Vocês merecem a morte – ralhou entre dentes.

Ergui os braços.

— Estou bem aqui. – Desafiei.

— Meu nome é Hazel Levesque – sua voz ganhou corpo e precisão. O livro se ergueu flutuante de sua frente, pairando ao redor dos cabelos densos como um pássaro delicado – e chegou a hora de vocês pagarem.

Ri de pelo nariz.

— Meu nome é William Solace – baixei os olhos para o livro ao chão. A capa se abriu bruscamente e as paginas rodaram dentro como uma canaleta, alçou voo como se o vento o erguesse sem o mínimo esforço – e eu não respondo pelos crimes da minha família.

— Phasmatos Crepitus!

Ao redor da garota, inúmeras esferas acenderam na escuridão. Flutuando no vazio como brasas de um incêndio. Não tardou para o cheiro de pólvora arder no nariz e as bolinhas luminosas rasgarem o ar em minha direção, queimando todo o oxigênio puro ao redor delas.

— Phasmatus Impedimmentu!

Quando elas chegaram perto, tudo explodiu em fumaça, luz e enxofre. Estava tudo denso e esbranquiçado, mal conseguia abrir os olhos pelo ardor da explosão. Imediatamente reconheci o cheiro forte de alucinante do ácido sulfúrico e o cloreto de potássio.

Quando consegui enfim abrir os olhos, estava cercado por uma bolha de plasma como uma carcaça de vidro. Os raios corriam pela superfície do domo cristalino queimando todos os resquícios de magia gerados pela explosão.

Essa foi pro pouco.

— Parece que sua avó te ensinou uns truquesinhos – debochou a distancia. – mas nem mesmo ela é párea para mim.

— É ai que você se engana, docinho – pude vê-la torcer a boca – minha avó é forte. Mas eu sei de coisas que ele jamais me ensinaria. Phasmatus Flagellum Radiis!

— Phasmatos cogitare!

A barreira se converteu nos próprios raios que a circundavam. Dispararam pela escuridão como lasers multicoloridos, alternando entre o turquesa e o púrpura. Rasgaram o ar com filetes incandescentes de eletricidade faiscando perigosamente enquanto batiam de frente com os outros raios, vermelhos, que saltaram do grimório da bruxa.

Os raios se chocaram uns com os outros, as fagulhas ricochetearam para todos os cantos, brilhando a cada explosão como fogos de artifício enquanto subiam cada vez mais alto e explodiam fervilhantes. Foi quando todo o ambiente ficou iluminado.

Não era uma sala, como Percy dissera, e sim uma nave vazia. As elevações das colunas greco-romanas erguiam-se em estilo gótico, o teto abobadado cheio de ladrilhos e vitrais desenhados com as imagens de anjos e Deus. As auréolas ao redor das cabeças dos santos representadas como esferas de luz amarela. As estatuas nas paredes, nos observando com olhos vazios e escuros.

Uma basílica.

Ri seco.

— Que cenário mais original.

— Que bom que gostou – respondeu prepotente – vai ser a ultima visão que terá. Tenha a clemência de Deus. Phasmatos Obrigescunt!

— Pondero Speculum!

O imenso espelho de gelo ergueu-se a minha frente ruidosamente saindo do chão árido. Mas a ventania que vinha do outro grimório era alguma ainda mais forte, forte o bastante para não ser refletido de volta com um simples bloqueio.

O vento cinza passou pelo espelho como se fosse uma peneira. Farfalhava meu cabelo e gelava a roupa de coisa, o ruído ferroso estilhaçando a transparência do gelo fino e agredindo os ouvidos com facilidade, como uma faca afiada raspando em mármore bruto. Precisei tapar com os olhos com o antebraço assim que o espelho estilhaçou e o vento continuou a soprar cada vez mais nervoso.

— É o fim – disse Hazel – chegou a sua hora. Você morre aqui.

— Ah, cale essa boca – retruquei. Se não podia parar a ventania, ao menos a viraria contra ela fogo com fogo – Incendia!

Mas nada aconteceu. O vento continuava a zunir nos ouvidos a ponto de me empurrar para trás sem sair do lugar.

— Não adianta – riu alto – sua magia agora é ineficaz contra a minha. Diga adeus ao seu mundo.

Minhas pernas enrijeceram no chão e – quando olhei para baixo – uma surpresa ainda maior me esperava. Estava perdendo a cor; desbotando como um desenho exposto ao tempo disforme do verão chuvoso e calorento, não conseguia mover um músculo sequer, quanto mais um centímetro. Imediatamente o coração acelerou.

Estava petrificando.

— Mas o que diabos...? – Tentei em vão me desprender do chão, e a ausência de coloração rochosa apenas subiu mais depressa por meus calcanhares e meus joelhos – Me solta!

— Quanto mais lutar mais rápido vai virar pedra. – Aproximou-se sorrateira como uma cobra – vai virar estatua de puro sal e calcário. – Quando estava próxima o suficiente para tocar meu rosto, não hesitou em fazê-lo, apertando minhas bochechas com o indicador e o polegar. A mão quente – Mande lembranças à Amélia por mim.

Um vulto prateado passou zunindo entre nós, cortando o vento ao meio, cravando-se no piso rústico. Cambaleou para trás aos berros, a mão em um banho de sangue.

Grunhiu alto enquanto o liquido rubro pingava no chão liso manchando-o da mais pura fonte inesgotável de magia. Atingindo o solo sagrado, o sangue ferveu e chiou evaporando logo em seguida, restando apenas liquido vermelho sem essência alguma – sangue mortal.

— O que você fez? – Berrou – O que é isso?!

— Eu não...

Zunindo mais uma vez, outro objeto voador disparou detrás de minha orelha direto para o chão entre seus pés. Tentei me virar mas foi impossível com a petrificação já acima da cintura, meus olhos mantendo-se firmes na flecha de prata cravada no chão gelado.

Uma sombra escura saltou aterrissando entre nós tapando completamente minha visão. Os olhos âmbar arregalados em surpresa.

— Você... – a sombra ergueu-se ereta a bruxa deu um passo para trás – Veio direto para sua morte – ralhou – Obrigescunt!

O grimório da garota – o qual notei sem diferente do meu, marrom de couro animal – reluziu e flutuou ao redor dela, as paginas revirando apressadas. O vento apenas aumentou, o que de fato era preocupante. Sentia cada parte do meu corpo formigar conforme petrificavam em calcário, cada centímetro correndo como o tempo em segundos.

A sombra arqueou-se uma vez mais e disparou. A flecha perfurou o centro do grimório e o pregou na parede. As paginas secaram como borras de café e sangue pingou das letras, o vento cessou no mesmo instante e o grito de dor de Hazel seguiu de pavor e descontentamento.

— Monstro!

Virando-se de costas, a sombra ganhou forma na baixa luminosidade que se acendera. Era um manto; debaixo dele o corpo esguio se projetava intacto. As peras envoltas no couro preto, os coturnos escuros, a camisa regata cavada nas laterais igualmente pretas, os braços com poucos músculos, a mão firme em volta do arco recurvo. Nas costas, a aljava carregada de flechas por debaixo do manto. Sob o capuz, o rosto pálido, frio e inexpressivo.

Meu corpo respondeu ao olhar negro debaixo do cabelo desgrenhado. Reagiu como fogo reage à gasolina, e o sorriso fino perante minha expressão de espanto realçou ainda mais o brilho singelo de saudade nas íris obsidianas.  

— Olá, Will.

Senti os olhos arregalarem.

— Nico...

 

 

Oh no, did I get too close?
Oh, did I almost see what's really on the inside?
All your insecurities
All the dirty laundry
Never made me blink one time

 

 

Repousou o arco no chão com delicadeza. Retraiu os dedos para a palma da mão direita e golpeou o ar com força. Simultaneamente uma onda quase invisível aos olhos nus nasceu da palma da mão pálida e progrediu ligeira em minha direção. A petrificação parou imediatamente, regrediu ainda mais rápido quando crescera, a onda afetou a magia com um grito rouco e estridente, percorreu todo meu sistema nervoso fazendo-me estremecer. Quando enfim pude me movimentar, meu corpo ruiu de uma só vez.

Os braços de Nico circularam-me antes de atingir o chão. De repente veio o cansaço.

— Te peguei – aprumou-se em mim, ajudando-me a levantar.

— N-Nico, é você? É você mesmo? – encarando-o nos olho0s em busca da resposta, pude ver além deles, mais além do que jamais havia conseguido antes. Vi nosso primeiro encontro na escola, nossa primeira conversa discreta e casual. Nosso primeiro contato, onde senti pela primeira vez na vida uma pele tão magia e gelada. Vi em seus olhos nosso primeiro beijo, nosso primeiro abraço e o primeiro “eu te amo” me veio aos ouvidos como um sussurro distante e doloroso. Meu peito esquentou subitamente. Vi na escuridão fria e aconchegante o brilho sem igual jamais visto na face da terra, as linhas finas de prata pura que cortavam as íris de Nico assemelhavam-se a pequenos filetes incandescentes de eletricidade estática – Sim, é você. Está mesmo aqui...

— Eu ouvi sua voz – respondeu rouco e baixo. – Você me chamou e eu vim. Vim por você, Will.

— Nico – não pude deixar de sorrir com a pronuncia das palavras.

— Está errado! – Hazel gritou do outro lado do salão – Você vai pagar! Todos vocês vão pagar! Vocês tem que pagar por todas aquelas mortes!

— Tem razão, alguém vai pagar sim – Nico me ajudou a sustentar meu próprio peso sobre as pernas. Quando estava firme, ele se distanciou e apanhou o arco no chão – mas não seremos nós.

As faixas de prata – até então despercebidas – no manto negro cintilaram como diamante. Eram tão claras e brilhantes, deixavam-no ainda mais belo que anteriormente. Aquele Nico, pálido e confiante, brilhante de tudo, não se comparava ao Nico de antes – frágil, delicado e medroso. Não mesmo. Aquele Nico a minha frente era ousado e prepotente, avassalador e estável, sem nenhum medo e nenhum rancor, tão forte quanto um diamante.

Aquele sim, parecia o Nico por quem me apaixonara. Aquele sim era o tipo de pessoa que com certeza me salvaria de problemas futuros, o qual esperara por toda a vida. Aquele sim era o amor eterno, meu herói.

Aquele era meu Nico.

 

 

Unconditional, unconditionally
I will love you unconditionally
There is no fear now
Let go and just be free
I will love you unconditionally

 

 

 

Armou-se de seis flechas da aljava e se ajoelhou na perna esquerda. Parecia um filme de aventura, um perfeito herói esculpido em cobalto banhado em platina. Me perguntava como havia aprendido a utilizar a arma. Posicionou as flechas na corda do arco e a puxou para trás, rangendo a fibra de titânio da estrutura de madeira.

Nico parecia um deus da caça, um cavaleiro de Capricórnio pronto para o disparo. A própria Ártemis versão masculina banhada à luz do luar; o arco côncavo na curvatura da lua minguante.

Ri pelo nariz.

— Tudo bem então – resmunguei mais para mim mesmo que para ele – vamos fazer isso juntos. – Estendi o braço rente ao corpo uma vez mais, exausto pela petrificação, canalizando toda a energia em minha voz. O grimório girou a nossa volta – Phasmatus Tribum Nas Ex Veras Emundabit!

Quando Nico disparou, as flechas arderam em fogo dourado.  Rasgaram o ar queimado direto para a garota rasgando todas as barreiras que havia erguido com facilidade, atravessando o corpo moreno, enterrando-se na parede atrás desta.

Uma forma humana esbranquiçada ardeu em chamas por conta da prata, o fogo dourado alastrando-se. Rapidamente até consumi-la por completo. Quando terminou de queimar, olhos amarelos brotaram na escuridão, gigantescos, esfarelando em areia; o corpo da garota ruindo desacordado.

Hazel estava livre da hipnose.

Deixei meu próprio corpo cair de cansaço. Nico largou o arco e se sentou ao meu lado, as pernas jogadas para a esquerda.

— Isso foi incrível – comentou. – O que você fez.

— Libertei sua hipnose. – sorri ofegante. Meu coração continuava descompassado. Pousou a mão sobre a minha, os dedos entrelaçando nos meus. – Nico, onde esteve?

— Precisava partir – disse sem rodeios – Reyna saiu da cidade por um único motivo, e me convidou para ir junto. Fizemos uma viagem até Long Island e lá ela me apresentou a uma mulher. Outra de minha espécie.

— Banshee? – Perguntei incrédulo – Há outras por ai?

Balançou a cabeça.

— Mesmo que poucas, sim. Reyna tinha um plano em mente. Como eram velhas conhecidas, pediu que me ensinasse a propagar minha voz. Se conseguisse fazê-lo em menos de uma semana seria a arma mais poderosa contra Thalia. A mais poderosa que teríamos.

Fiquei em silêncio por breves segundos apenas absorvendo tudo aquilo. Nico havia mudado, evoluído, passado da água ao vinho em questão de dias. Aquilo fez meu peito pesar.

— Eu pensei que tinha perdido você pra sempre – assim que recitei as palavras percebi o quão pesadas estavam. Minha própria voz estava embargada pelo choro e as lagrimas já escorriam pelo rosto – Eu pensei... Pensei que tudo havia acabado... Tudo entre nós...

— Will – sua mão livre pousou em meu rosto – não há como acabar algo que não começou.

Em sobressalto, encarei seus olhos brilhantes e latentes.

— Então, nós não...

— Ainda não – sorriu – você não me pediu formalmente.

Não pude conter o riso.

— Então – peguei sua mão – Nico, você...

— Shh. – Pousou o indicador em meus lábios – Não diga isso agora. Quero que seja especial.

Quando seu dedo escorregou por minha boca, já não estava mais chorando. Estava feliz. Sentia-me completo novamente. Aquela saudade berrante fora se esvaindo pouco a pouco a cada toque gelado em minha pele.

— Você não existe, Nico – zombei fazendo-o sorrir ainda mais.

— Existo sim. Pra você.

Retribui o sorriso acanhado.

Ele se inclinou para frente e colou sua boca à minha.

 

 

So open up your heart and just let it begin
Open up your heart, and just let it begin
Open up your heart, and just let it begin
Open up your heart

Unconditional, unconditionally
I will love you unconditionally
And there is no fear now
Let go and just be free
'Cause I will love you unconditionally
Oh yeah

 

 

Era como estar beijando pela primeira vez. Vivenciando meu primeiro beijo novamente.

Experimentar dos lábios frios era a sensação mais deliciosa e embriagante do mundo. Era como estar alucinando, degustando de algo ainda mais saboroso e prazeroso que o próprio êxtase em si. O doce sabor achocolatado que a língua macia trazia para a minha naquela batalha calma e tranquila de reencontro chegava a entorpecer todos os meus sentidos de uma só vez. Chegava a me preencher de algo que jamais haveria de se ausentar novamente.

Quando nos separamos, nossas se colaram e nosso olhar manteve um patamar fixo entre os sorrisos banhados por felicidade.

— Você voltou pra mim – sussurrei.

— Eu nunca fui embora – respondeu no mesmo tom.

— Eu te amo, Nico.

— Eu também te amo Will.

 

I will love you, unconditionally.

 

 


 

 

 

 


Notas Finais


Quero comentários gigantescos porque fui legal <3


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