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História A Forbidden Love - Em seus braços


Escrita por: Juny_Grace

Notas do Autor


Oi Oi :D
Como eu havia prometido, só mais um capítulo para o fim definitivo hihihihihi
Sei que vocês vão me matar nos comentários, mas eu juro que quase chorei escrevendo isso :'(
Sem mais demora...
Desculpem os erros e boa leitura <3

Capítulo 37 - Em seus braços


[Jason]

 

Aquela mesma tensão absurdamente mortal caiu sobre nós como uma pedra naquele momento. Uma pedra grande, dura e pesada. Como uma montanha inteira. O mundo inteiro parou de girar, o ar ficou rarefeito e eu simplesmente não conseguia fazer nada além de encarar aquele rosto de alguém que um dia já amei.

— Não vai me dizer nada? – Sorriu questionadora – Não nos vemos há trezentos anos...

— Como está viva? – Foi tudo o que disse. Frio, rijo, num único tom de autoridade questionadora do pânico.

— Sangue do anjo – respondeu simplista – qual era mesmo o nome dela? A anjinha loira? Annabelle? – Ponderou confusa.

— Annabeth... – Ralhei do fundo da garganta.

— Isso – sorriu meiga – sangue de anjo pode trazer de volta a vida aqueles que já se foram. E Thalia me trouxe de volta pra você, Jason.

— Não – balancei a cabeça confuso – não, não por mim.

— Jason, meu amor – deu um passo a frente – meu amor por você me trouxe de volta. Podemos viver juntos agora, para sempre, como sempre sonhamos...

— Não – afastei-me um passo – não se aproxime. Você a matou.

— Eu não a matei – balançou o cabelo castanho – Thalia a matou.

— E depois você matou minha irmã.

Engoliu em seco, olhando os próprios pés pequeninos descalços.

— Eu precisava me alimentar... Mas agora está tudo bem – insistiu – Eu voltei por você.

Dei mais um passo para trás, processando aquela situação.

— Em todos esses anos tentando seguir em frente, nunca, jamais havia pensado em tentar trazê-la de volta – soltei baixo. – Sequer sabia dessa possibilidade. E mesmo se soubesse... Não o faria – baixei os olhos.

— Porque...? – Perguntou em um sussurro.

— Porque eu te amei, Piper – quando ergui a face novamente, já estava à beira das lagrimas. Tê-la ali, em carne e osso, era um grande choque. E mesmo assim, não queria deixá-la partir simultaneamente queria-a fora de minha vida. – Eu nunca quis te esquecer, mesmo depois de tanto tempo. Você foi única pra mim. Cada momento que passamos juntos... – balancei a cabeça – são tempos que não podem mais voltar. Memórias que não voltam.

— Vamos fazer novas memórias – propôs – memórias de apenas nós dois.

Balancei a cabeça novamente, permitindo que uma lagrima me escorresse.

— Por mais difícil que tenha sido, eu consegui te superar. E eu não estou disposto a abrir mão de tudo o que conquistei até agora por você.

Olhou-se incrédula sentimentalista.

— E o que você conquistou de tão importante?

Antes que pudesse responde àquela pergunta, as costas de Percy entraram em minha frente, duras, eretas e largas. As mãos na cintura.

— Então você é a ex – pronunciou-se pela primeira vez, fazendo-me voltar aquele tempo e espaço. Olhei ao redor vendo as expressões confusas, mais um passo para trás e esbarraria em Will.

Espreitou os olhos verde-água para ele.

— Quem é você? – Analisou-o de cima a baixo, os olhos analíticos.

— Vou ser direto – desviou da pergunta – de o fora daqui, e não volte mais.

Uniu as sobrancelhas finas no meio da testa limpa franzindo o cenho. Percy manteve-se firme, sem mexer um músculo. Emanava um cheiro de si que jamais havia percebi antes. Um cheiro forte e único, ainda mais forte que verbena. Um cheiro de...

Ódio.

— Ah, acho que já entendi – riu baixinho. – Então essa foi sua maior conquista, Jason. Conseguiu se apaixonar novamente. – Engoli em seco vendo-a aproximar-se lentamente.

— Percy – chamei em um sussurro quase inaudível. Ele me ignorou e manteve a postura soberana.

— Nada mal, eu admito – prosseguiu ela – ele é bem bonito. Chega a ser um pecado como nós... – Aproximou-se de Percy, olhando-o nos olhos, colando seu peito ao dele – Possamos ser indiscutivelmente parecidos.

Nico arfou baixo, espantado. Will soltou um “Só pode ser brincadeira”.

Tinham a mesma altura, o mesmo tom de pele avelã, o mesmo cabelo chocolate meio-amargo, a mesma suavidade e brilho na tes. As sobrancelhas finas e o rosto angular meio arredondado, o corpo esbelto e magro. Piper copiou sua postura despojada com as próprias mãos na cintura fina, encarando-o nos olhos. Os tão incríveis e idênticos olhos verde-mar brilhantes e intensos.

 Quem os visse de fora, os julgaria gêmeos.

— Como podem ser tão parecidos? – Resmungou Afrodite.

— Prece que minha alma conseguiu reencarnar – comentou Piper, apanhando uma mecha do cabelo escuro de Percy – que bela duplicata nós temos aqui.

— Dupli... cata? – Will franziu o cenho – O que quer dizer?

— Permita-me explicar – apanhou Percy pelos ombros e arrastou-o para poucos passos distante do grupo formado, virando-o para nós – nesse vasto mundo, existem sobrenaturais como vocês podem estar sabendo. Bruxas, lobisomens, vampiros, caçadores de sobrenaturais, banshees, doppelgangers. Doppelgangers, significa duplicata, em alemão. As duplicatas são pessoas que se parecem muito com você, basicamente sua copia viva. Esse fenômeno raramente acontece – deslizou as mãos sobre os braços nus do rapaz – mas quando acontece, pode ser desastroso. Duplicatas são almas que reencarnam em novos corpos. Se as almas reencarnam, quer dizer que suas vidas passadas terminaram. Mas, se as almas reencarnadas que vagam pela terra encontrarem seu antigo corpo, são denominadas duplicatas ou doppelgangers. E ai vem à parte mais divertida – sorriu fria – as memórias de ambas as pessoas ficam conectadas. Quando uma duplicata encontra seu corpo original, uma delas sempre morre.

— E não pretendo que seja eu – Percy golpeou-a com o cotovelo, e a garota desviou por debaixo do braço.

— Você é bem ágil. Posso ver porque conseguiu prender ele desse jeito – passou suas pernas por entre as de Percy e espremeu os seios contra seu braço esquerdo, agarrando-lhe o rosto entre os dedos da mão esquerda – posso ver porque se apaixonou pro ele, Jason. É uma belíssima copia minha. Bela maneira de seguir em frente.

— Ele não é igual a você – disse baixo.

— Tem razão. Tem uns defeitos aqui e ali, mas nada que um tempinho juntos não resolva – deu de ombros. – Deixe-me reformular minha proposta. – Encarou-me pelo canto dos olhos verdes, ambos me olhavam. – Venha conosco.

— O que? – Indaguei incrédulo.

— Venha conosco. Não precisa ter apenas um de nós, pode ter a ambos. Ele te ama, Jason. Posso ver isso em suas memórias. Ele te ama como eu te amei, e você o ama como já me amou. Tudo isso é recíproco. Vamos fugir, para a Europa. Nós três. Podemos aprender a nos amar novamente.

— Eu nunca mais vou amar você. – Ralhei.

— E porque não? – Instigou com uma sobrancelha erguida.

Sorri singelo, permitindo que as lagrimas caíssem dos meus olhos. lagrimas de felicidade.

— Porque meu coração não pertence a você. Pertence a ele – olhei-o diretamente nos olhos, aquela imensidão verde calorosa e abundante engolindo-me em brilho esmeralda.

Piper baixou os olhos no corpo de Percy, encontrando o colar com pingente de coração. A esmeralda entalhada por mãos artísticas reluziu contar a luz.

Ela se afastou.

— Meu colar – brandiu irritada voltando-se para mim – sabe como eu odeio ser traída.

Um vulto castanho surgiu às suas costas.

— Tecnicamente, você está morta. – Percy a agarrou pela cintura com ambos os braços e se jogou de costas, mantendo-as arqueadas enquanto arremessava a garota no chão duro, batendo seu pescoço contra o mármore em uma ponte perfeita.

Quando se levantou, caminhou de volta para nós, mantendo-se parado a minha frente.

Balancei a cabeça.

— Não faça isso – pedi – por favor...

— Preciso fazer – respondeu – não vou deixar nenhuma tataravó estragar isso.

— Percy, se você tentar, você pode...

— Eu sei – cortou-me – mas vale a pena. – Estendeu a mão direita, acariciando meu rosto molhado. Pressionei a bochecha contra sua mão – Eu te amo Jason.

— Eu também te amo Percy – levei minha própria mão de encontro a sua – obrigado pro não desistir de mim.

— Nunca vou desistir de você. Nem de nós.

— Que fofo – virou-se a tempo de ver Piper estralando o pescoço – tenho vontade de vomitar só de lembrar que ele já me disse a mesma coisa.

— A única diferença é que comigo é verdadeiro – atirou nela.

Fez uma expressão irritadiça.

— Até você morrer e eu reconquistá-lo.

— Acho que ele curte outra fruta.

— Nada que uma noite comigo não resolva – sorriu provocativa.

— Eu não precisei espremer os peitos e jogar a cabeça como uma vadia pra conquistar seu macho – rebateu.

Piper ferveu de raiva, seus olhos mudando de cor. Estrangulando o verde pacifico para o vermelho sangue.

— Não devia ter dito isso, copia.

— Admita, você é passado – os próprios olhos de Percy assumiam a tonalidade vermelha de Alfa. – Briga de ex?

— Você já era.

— Vou te deixar no pó, vadia.

Piper rosnou para ele simultaneamente ele para ela. Os caninos de ambos estavam bem expostos, as orelhas no alto das cabeças emergindo do emaranhado de fios castanhos, as garras compridas nos dedos pequenos.

— Lobisomem – arfou Nico.

— Não – respondi – ela é algo bem pior.

— O que pode ser pior que uma briga de dois Alfas? – Questionou Will.

— A briga de um Alfa com um Hibrido.

E eles partiram para o ataque.

Quando colidiram – garra a garra – a gravidade fez seu trabalho os empurrando para trás e para baixo. A força da colisão foi tamanha que os vitrais no teto abobadado tremeram e rangeram grotescamente. Piper se recompôs rápido e se atirou sobre Percy em pleno ar, como um nadador quando vai dar um mergulho.

Como se fosse um teste de agilidade, Percy fez o mesmo movimento, passou por cima dela, girando o corpo facilmente desviando das garras afiadas. Quando atingiu o chão, desferiu um chute na lateral da cabeça morena, que foi interceptado com uma das mãos pequenas.

Olhou por cima dos ombros e sorriu mostrando os dentes.

Agarrou o restante da perna do garoto e girou-o no ar, arremessando-o para longe. Percy aproveitou o impulso e deu um mortal para trás, pousando graciosamente os pés no chão sem nenhum ruído; como um cisne pousando na água.

A cauda peluda materializou atrás de si, balançando de um lado para o outro, semelhante à de um lobo de verdade. A mulher recompôs a postura ereta, com uma mão na cintura fina, permitiu que a própria cauda – de pelo mais claro que a de Percy – balançasse envolta das pernas.

— Isso é bizarro – comentou Will – estão em pé de igualdade. O que um faz o outro também faz.

— É por isso que precisamos ajudar – enfatizei.

— Não precisa dizer duas vezes – Afrodite mirou a Sniper com um laser no peito de Piper e atirou.

A bala amarela saiu do projétil em câmera lenta aos meus próprios olhos, percorrendo todo o percurso em menos de três segundos. Sem nem mesmo desviar os olhos do seu alvo, agarrou a bala em pleno ar com uma velocidade irreconhecível. Apertou tão forte que o metal explodiu em sua mão liberando poeira amarela.

Arregalou os olhos.

— Como fez isso? – Baixou a arma – É acônito, devia estar morrendo agora.

Piper virou a cabeça lentamente, o sorriso satisfeito estampado no rosto. Deixou o metal retorcido cair aos seus pés e materializou-se a frente de Afrodite, apanhando-a pelo pescoço.

— Não devia subestimar um vampiro – silvou mostrando as presas enquanto a levantava no ar.

— Tem razão – Reyna a agarrou pelo cabelo e puxou com força, fazendo-a soltar Afrodite. Ergueu a morena no alto e derrubou-a de costas no chão, terminando de destruir o mármore já rachado – nunca subestime um vampiro.

— Espero que saiba que isso não doeu nada – instigou do chão.

— Mas isso vai – do alto dos vitrais, suspenso em um dos lustres de velas no alto, Nico armou o arco com uma flecha e disparou bem no peito de Piper.

O instrumento de ponta prateada penetrou em sua pele sem muito esforço, a haste de madeira se partiu ao meio e as milhares de farpas enraizaram em sua carne.

 Ela gritou. Gritou alto e dolorosamente.

— Se tentarmos te ferir com armas próprias de cada espécie, não vamos conseguir nada – aproximei-me dela enquanto Nico dispara mais flechas, prendendo seus braços e pernas no chão frio – mas se te atacarmos com as duas juntas, você não vai durar muito.

Agachei-me ao seu lado.

— E o que vai fazer agora? – Questionou – Não consegue me matar, Jason.

— Eu talvez não –admiti – mas quem saiba ele possa. Will.

Incendia!

E seu corpo foi consumido em chamas. Chamas vermelhas, ardentes e incansavelmente brilhantes naquele calor imensurável. Ela só fazia gritar, gritar de agonia enquanto era incinerada viva pelas labaredas mágicas.

— Volte ao pó – resmunguei baixo.

Assim que me levantei, ela riu. Riu alto e divertida, como se achasse ago para lhe ocupar o tempo que tinha de sobra.

— Isso queima – riu ainda mais alto. – Havia me esquecido como bruxas são irritantes. Mas não se esqueça de um pequeno detalhe, Jason querido. – Virei-me lentamente, vendo as chamas extinguirem-se e o corpo deformado e derretido pelas queimaduras me sorrir vermelho sangrento – eu sempre dou a volta por cima.

O lustre no alto do teto se soltou e Nico caiu de lá como um cometa atingindo a terra. Abriu uma cratera imensa no chão brilhante antes de gritar alto de dor e ser arrastado para a parede mais próxima, onde foi hasteado como uma bandeira na pose de crucificação.

 — Nico! – Will se moveu para ajudá-lo e acabou sendo arremessado para junto dele, forçado contra a parede, onde bateu a cabeça fortemente.

Sangue escorreu pela testa pálida e o loiro caiu na inconsciência.

— O que está fazendo? – Questionei ouvindo sua risada ainda mais alta.

— Jason! – Reyna gritou meu nome no exato instante em que agarrou Afrodite pelo pescoço erguendo a no alto – Não consigo me controlar!

A mulher se debateu sufocando no aperto da vampira. Reyna mostrou as presas e cravou-as fundo na jugular da caçadora. Sufocou um grito estridente e a luz se esvaiu dos olhos castanho-mel em questão de segundos; sangue vermelho escorrendo a partir daquele ponto.

— Pare – disse aflito – pare já com isso!

Piper riu ainda mais alto e o corpo de Reyna voou para a parede junto dos outros. O pescoço girou bruscamente cento e oitenta graus com um estralo.

— Jason! – Percy correu em minha direção.

Tratei de sair de perto dela, porém a voz fina me prendeu no lugar.

— Sua vez, meu amor.

Meu corpo todo formigou parando rijo como uma estatua. Cada veia minha queimando sob a pele. Meus ossos rachando como gelo seco, meus olhos ardendo de puro fulgor. Meus dentes latejaram e a cabeça estourou um ruído alucinante que fez meus ouvidos sangrarem.

Percy parou no meio do caminho.

— Mas o que...?

— Per-cy... ARGH! – curvei-me de dor no abdômen, o peito prensado como se estivesse sendo esmagado por uma tonelada.

— Jason!

A risada ficou ainda mais alta.

— Espero que não tenha se esquecido dos meus poderes, Jason.

Piper se levantou-se nenhum esforço, como se tivesse apenas escorregado e caído ali. As feridas em seu corpo causadas pela queimadura já cicatrizaram, não mais passavam de riscos brancos na pele morena. Conforme se erguia do chão, meu corpo seguia seus movimentos.

 — Jason... – Percy encarava toda a cena com confusão eminente.

— Bem – prosseguiu ela – ser meio vampira tem seus privilégios.

— Eu já sabia – resmunguei – o tempo todo. E não precisei ler sua mente pra saber disso.

— Mesmo? – Caminhou até minha frente, postando-se entre mim e Percy, que estava em uma distancia razoavelmente perigosa. – Como?

— Jason – repetiu ele – o que está acontecendo.

— Ela é hibrida – respondi vendo sua expressão de confusão – meio vampira meio lobisomem. Antes de Piper morrer, eu ofereci meu sangue para salvá-la da doença. Poderia curá-la, transformá-la em vampira, ensinar-lhe a sobreviver. Mas ela não quis. Sempre achou que ser sobrenatural era parte de uma maldição. A Piper que eu conheci e amei, morreu como lobisomem.

Sua face foi clareando aos poucos.

— Então... Se eu sou sua reencarnação, ela...

— Sim. Você é um lobisomem porque ela era um lobisomem. Você é um Alfa porque ela era uma Alfa. A Piper que eu sempre amei morreu há trezentos anos, como uma licantrope. Foi Thalia quem a trouxe de volta, deu o próprio sangue a ela antes que seu corpo parasse de funcionar totalmente. Seu sangue de vampiro se misturou ao sangue de lobisomem em suas veias e a trouxe de volta a vida, como uma boneca. Uma boneca vazia e sem alma.

Balançou a cabeça.

— Por quê? – Questionou – Porque a trouxe de volta?

— Porque ela me amava – respondeu a vampira, a voz neutra e a expressão vazia. – Thalia sempre me amou. Mas nunca foi recíproco, já que o amor da minha vida sempre foi você, Jason. – Virou-se para ele – É minha alma que está em seu corpo. Vocês podem se amar eternamente, se você também for vampiro.

Arregalou os olhos verdes.

— Se eu for... vampiro?

— Hibrido – corrigiu ela – basta apenas um pouco do meu sangue, e você viverá para sempre – mordeu o próprio pulso, deixando o sangue escorrer. – Apenas uma gota, e será indestrutível.

Engoliu em seco.

— Percy, me escute – chamei sua atenção – a Piper que está bem a sua frente é um corpo vazio. Apenas um punhado de elementos químicos bem ligados uns nos outros. A única coisa que se passa em sua mente é ódio e ambição por carnificina. Ela vai matar sem ter motivo, vai destruir o mundo todo se possível. – Encarei-o sério – Você precisa matá-la.

— Você é bonito, mas fala demais – fez um gesto de silêncio com os dedos esguios e minha garganta se fechou.

— Por quê? – sussurrou. – Porque esta fazendo isso?

Inclinou a cabeça para o lado, o cabelo castanho pendendo na lateral.

— Achei que ele tinha sido bem claro. Por pura e mera diversão – seus olhos queimaram em vermelho – não há mais nada em mim além de ódio. Vou destruir o mundo inteiro. Todos vão pagar pelo meu sofrimento.

Cerrou os punhos.

— Liberte meus amigos – abaixou o rosto, a voz tremida de nervosismo – liberte Jason.

— Não posso fazer isso. E nem quero.  – Passeou pelo grande salão destruído, encarando o teto quebrado, onde a lua cheia já estava a pino. – A essa altura você já deve saber que vampiros têm habilidades bem divertidas. Thalia controlava as pessoas. A irritante Reyna Ramirez mostra a todos o que ela quer ver. E nosso amado Jason pode ler mentes. Você sabe o que eu faço, Percy? – Cruzou os braços, analisando as unhas compridas – Eu faço fantoches. Eu controlo o sangue.

Percy ergueu o rosto. Sua expressão era de pura fúria, nunca o havia visto de tal forma; tão irritado e furioso. Estava à beira de um abismo de puro ódio. Seus olhos vermelhos transbordavam irritação.

— E sabe o que eu vou fazer agora? – instigou persuasiva. – Isso mesmo. Vou fazer com que se destruam. – Aproximou-se novamente de mim, aconchegando seu corpo feminino no meu – É ruim não é? – Encarou-me nos olhos – Perder quem você mais ama. Vamos ver como você lida com isso uma segunda vez. Você vai perdê-lo como eu perdi você. Vá.

Assim quem se afastou, meu corpo voltou a se mover. Caminhei lentamente até Percy, olhando-o de perto. O nó em minha garganta desfez-se momentaneamente.

— Percy... – Sussurrei baixo.

— Me desculpe, Jason – pediu ainda enraivecido – por não ter te amado mais.

— Faça o que é certo – pedi baixo – mate-a.

Uma lagrima sofrida escorreu por seu rosto.

— Eu amo você – disse uma ultima vez, antes dos caninos mostrarem-se opressivos no rosnado enfurecido.

Minhas presas desceram como laminas e as mostrei para ele num sibilo rígido e frio. Deixei que uma lagrima me escorresse também, antes de partir pra cima de si.

O metal frio dos meus dedos bateu fino e rijo contra as garras afiadas, que lhe arrancaram faíscas sem dificuldade alguma. Meus dedos ficaram brevemente presos entre os seus, e quando fiz um movimento brusco letal com a outra mão, desviou para o lado e a perna comprida subiu ao meu queixo.

Desviei do chute sem muita delicadeza, mas meu deslize foi esquecer a cauda comprida com pelos de agulha, que mais uma vez atravessou meu peito. Ouvi um ressoante estalar de dedos e meu corpo se dissolveu em negritude. Estava usando o mesmo truque que havia usado da primeira vez no moreno; a revoada de morcegos na qual me dividi atacou Percy de varias direções diferentes.

Era como observá-lo de uma sala de segurança, por trás de varias câmeras. Via-o de vários ângulos diferentes, debatendo-se em vão para afugentar os sanguessugas que lhe cercavam.

— Ótimo trabalho – Piper, que estava sentada no caixão, riu alto aplaudindo de boa fé – quero que isso seja épico!

— Então venha você mesma para a batalha – Percy tornou-se vulto e ressurgiu atrás da garota, pegando-a desprevenida – megera.

Mirou no meio das costas e atacou ali.

Porém, antes de concluir a ação, me vi entre eles novamente, segurando sua mão antes que pudesse acertá-la. Seus olhos me fulminaram.

— Não costumo sujar minhas mãos – olhou-o por cima do ombro nu.

— Tão pouco eu – das unhas afiadas escorreram secreções amarelas.

Ao cair em minha pele, a verbena que Percy havia tomado queimou e chiou, abrindo fendas em meu corpo como faca quente na manteiga. Gritei alto de agonia antes de soltá-lo. O moreno passou pela lateral do meu corpo e chutou as costas de Piper, arremessando-a para o chão e derrubando o caixão de madeira.

— Vai pagar por isso – ralhou de baixo.

— Estou esperando.

Sorriu de canto.

— Não vai esperar muito. A lua cheia está a pino, sabe o que significa? – Levantou-se lentamente – Jason, transforme-se.

Aquele mesmo chiado anterior que ouvira dentro de minha cabeça voltou ainda mais forte, como se estivesse esmagando meu cérebro com uma prensa. Meu corpo ferveu de pura adrenalina, a luz da lua penetrando em mim como parasitas, minhas veias estourando e aquela cena horrível da transformação que ocorria revivendo minha memória.

A pele clara era quase pálida, porém cintilava como diamante sob a luz da lua. Tão fria e lisa como uma chapa de alumínio. No rosto, senti a desfiguração das veias saltarem pulsantes ao redor dos meus olhos, uma vez estes estando inigualavelmente verdes, como sempre ficavam quando perdia o controle sobre mim mesmo. Como os que vira a tanto num pesadelo incomum. Minhas presas cresceram tanto a ponto de saírem da boca, caindo pelo queixo como os dentes de um tigre dentes de sabre. Dos braços saltaram laminas, como adagas aclopadas nos antebraços de ambos os lados. Minha própria pele perdendo a cor pálida para ganhar aquele tom cinza metálico.

Senti as costas rasgando no exato momento em que as asas de morcego saltaram para fora junto das garras dos pés. Percy me encarava embasbacado de pavor e horror. Sabia que a verdadeira aparência de um vampiro era cruel.

— Jason... – Arfou.

— Essa é a verdadeira forma de quem nasce um vampiro – argumentou ela num tom sombrio. – É o seu fim.

Soltou um riso engasgado de sarcasmo.

— Finalmente vou ter um oponente à altura.

A aparência de um vampiro era assustadora. Mas a de um lobisomem, era simplesmente aterrorizante.

Jogou a cabeça para trás e uivou para o alto, para a lua. A benção prateada desceu do céu e envolveu o corpo magro num feixe de brilho esbranquiçado. As pernas se alongaram e os braços deformaram, o cabelo cresceu assim como o nariz se alongou e os dentes saltaram da boca. Os olhos vermelhos crepitaram como fogo nas orbes tremulas, as garras das mãos cresceram ainda mais e os membros cobriram-se de pelo escuro. Os pés tornaram-se patas, as roupas rasgaram conforme o pelo crescia e o corpo dobrava de tamanho. Mesmo inconsciente nas minhas ações, meu corpo todo estremeceu com o contato visual direto com o predador a minha frente.

Percy salivava, a boca escancarada no rosnado que mostrava as cargas dentárias até o fundo intimidava meu ego profundo e aumentava ainda mais meu desejo de sangue e a vontade de esquartejá-lo.

Piper deu um passo para trás.

— Não pode fazer isso – franziu o cenho – vai matá-lo.

Não conseguia tirar os olhos dos seus. A doce e amável aura verde havia se esvaído completamente, restando apenas aquele poder absurdamente maligno junto do desejo incontrolável de matar. Meu próprio corpo se mexia por conta própria, avançando lentamente para perto do lobisomem que ali estava.

Chegava a ser maligno; um gigantesco lobo de pelo marrom escurecido bípede encarando-me com raiva suficiente para alimentar a terceira guerra mundial. Uma carnificina planetária.

“Faça o que é certo” minha própria voz ecoava no fundo de minha mente, como um flashback antes de um ultimo suspiro “mate-a”.

Perdendo todo o controle de sangue que Piper tinha sobre mim, parti para cima dele com unhas e dentes, sedento pelo seu sangue, para dilacerar suas veias e entornar todo aquele liquido quente que corria em suas veias e manchar o solo de escarlate.

— JASON NÃO!

Levantei voo em sua direção, agarrando-o pelos ombros peludos, o levando para o alto, para logo em seguida mergulhar e enterrá-lo no chão.

A igreja estremeceu. As colunas de sustentação balançaram, mesmo que fossem de concreto, como uma maquete que não havia dado certo por ser feita de papel e palitos de dente. Saltei para o alto e cai sobre a barriga da criatura, arrancando-lhe o ar em um uivo dolorido.

Os dentes afiados da boca larga cravaram-se em minha perna segundos depois, dilacerando meus músculos com o puxão firme que dera, invertendo as posições no chão. O lobisomem descontrolado prensou meu corpo no chão com o peso de seu próprio e puxou com força a perna que havia prendido.

O que era para ser um grito dolorido acabou sendo um silvo agudo. Sentia cada tendão, cada osso e cada uma das ligações dos meus músculos se rompendo enquanto minha perna era arrancada e arremessada para longe do meu corpo. Sangue escuro jorrou para todos os lados, banhando o pelo castanho com aquele cheiro de metal superaquecido.

Rosnou ensanguentado, as garras brilhando contra a luz da lua.

Meu corpo estava em combustão, abri as asas e o chutei para o alto com a perna que me sobrara. Mais morcegos apareceram para circuncidá-lo como anteriormente, porém, estes, estavam completamente ofensivos e sedentos por sangue ao meu controle. Debatia-se incansavelmente para se livrar das bestas negras que o arranhavam e mordiam.

 Alcei voo novamente em sua direção, quando me aproximei de si, dispersei os morcegos e enterrei as laminas dos antebraços em seu peito, cravando fundo no pelo denso e grosseiro. Uivou dolorido e o chutei novamente de costas no chão.

Vendo-o de cima, sobrevoando aquela altura, minha memória divagou em lembranças.

 

 

I wanna leave my footprints on the sands of time
Know there was something there
And something that I left behind
When I leave this world, I'll leave no regrets
Leave something to remember, so they won't forget

 

 

“— Atreva-se a abrir essa maldita boca de cachorro e eu arranco sua língua – sibilou ameaçador.

— Está nervosinho por eu estar comprometendo sua missão secreta Batman? – Inclinou o rosto para o lado – Ou está assim pelo belo soco que levou nesse seu queixo torto?”.

 

A voz de Percy mantinha-se viva em minha mente, junto do fulgor dos olhos verdes que tanto me irritavam e me faziam alucinar.

Baixei os olhos para a perna arrancada que ainda sangrava, vendo o lugar materializar outra perna. Regenerava-me como uma estrela do mar quando perde um dos braços, no lugar, cresce outro.

— Jason, pare! – Gritou alto – Estou ordenando!

Ignorando a voz de Piper, me lancei direto para onde o lobisomem estava, colidindo meu próprio corpo contra o seu, fazendo a pressão do impacto estourar os vidros do teto. Os vitrais explodiram em mil pedaços, o céu escuro condecorado com a lua gigante mostrou-se majestoso e límpido. Os cacos caiam sobre nós como chuva de diamante brilhante.

As garras compridas seguraram minhas asas e as pernas fortes pisando em minhas costas. Fez pressão para baixo enquanto puxava para cima, o urro presunçoso brandindo na escuridão.

— JASON!

Arrancou as asas de mim como uma criança bagunceira de sangue frio arranca as asas de uma borboleta.

E mais memórias me invadiram.

 

 

I was here
I lived, I loved
I was here
I did, I've done
Everything that I wanted
And it was more than I thought it would be
I will leave my mark so everyone will know
I was here

 

 

— Fazemos um trato então. Eu te ensino o que sei sobre auto controle e você me ajuda a capturar esse serial killer antes que fira mais alguém.

— De pleno acordo – disse firme. – Se vampiros e lobisomens não se dão bem, o que nos garante que não vamos acabar nos matando a qualquer momento caso algo saia errado?

— Não se preocupe, daremos um jeito nisso. Trégua? – Estendeu-lhe a mão.

Analisou a palma desta antes de aceitá-la.

— Trégua. – Apertou-a firmemente.”.

 

As memórias continuavam vindo, deixando-me desnorteado. As lembranças de cada momento que havíamos passado juntos vindo à tona sem nenhum motivo aparente.

Um vulto escuro caiu sobre o licantrope. Agarrando-se às suas costas, ele se debateu e pegou Piper pelo pé. Bateu-a no chão três vezes antes de arremessá-la para longe e quebrar uma parede.

Aproveitei a distração e agarrei-o pelo pescoço, apertando fortemente sua garganta, impedindo-o de respirar. Minah mente estava uma bagunça com aqueles flashbacks, memórias iam e vinham com liberdade tamanha que acabava pro me deixar atônito.

 

— Concentre toda sua energia em seus ouvidos – segurou-o pelos ombros. – O que você ouve?

Concentrou-se um pouco mais, e ao longe pode ouvir um som de folhas secas se agitando e algo duro batendo no chão, um som que julgou ser um animal.

— Um esquilo quebrando uma noz...

— Ótimo, o que mais?

Concentrou-se mais um pouco e desta vez ouviu a grama ser amassada enquanto algo era arrancado de uma árvore distante.

— Um cervo comendo frutinhas...

— Continue – suas mãos escorregaram para a lateral do seu corpo.

Concentrou-se ainda mais, sentindo seus ouvidos atravessarem o bosque sem nenhuma dificuldade.

— Ouço... Carros – disse baixo – passando de um lado pro outro. Pessoas conversando...

Sorriu bobo.

— Você chegou à cidade. Agora volte para onde estamos e me diga o que ouve.

Forçou sua concentração ao extremo, ouvindo um baixo bater surdo e continuo de algo pulsante. Sua mão acomodou-se em seu peito, do lado esquerdo.

— Meu coração... – Seus ouvidos irromperam de um mar de sons variados e concentraram-se no silêncio. Pouco a pouco, mais batimentos macios uniram-se aos antigos. Abriu os olhos encarando as íris azuladas poucos centímetros das minhas – Seu coração.”.

Balancei a cabeça, visivelmente confuso, mas não afrouxei o aperto. O lobisomem continuava se debatendo e as memórias insistiam em vir cada vez mais rápidas.

“— E o que faremos agora? – Perguntou curioso.

— Simples – tirou a camisa verde que usava – você vai me achar no meio da floresta.

Ergueu uma sobrancelha.

— Como?

Aproximou-se dele novamente e abriu os braços fortes enquanto o torso malhado era exposto à luz do sol de meio de tarde.

— Me cheire.

— Como é? – Olhou-o espantado.

— Me cheire – revirou os olhos – guarde meu cheiro.

Encarou-o como se fosse louco. E logo revirou os olhos aceitando sua sugestão como se fosse ainda mais louco.

Aproximou-se de si e levou o nariz para próximo de seu pescoço. Inspirou fundo captando sua essência no ar parado a nossa volta. A fragrância amadeirada era lasciva, tanto ao ponto de fazê-lo fechar os olhos e apreciar mais de si.

Sentia algo além de seu perfume, algo frio e forte, algo que ultrapassava a fragrância suave de seus poros. Sentia o cheiro da adrenalina em seu corpo, sentia o cheiro do seu sangue correndo nas veias, sentia o medo de muitos dominar em seu corpo. Sentia o cheiro do ódio.

Mas acima de tudo, sentia o cheiro da luxuria.

Um cheiro forte e envolvente, uma fragrância incomparável de desejo e sensualidade, de tamanho descomunal. O doce aroma fê-lo chegar mais perto de si, forçando-o a inalar mais de si. Chegou perto ao ponto de colar o peito ao dele, sentir a maciez e frieza da pele clara, roçar a ponta do nariz em seu maxilar enquanto acariciava seu pescoço com as pontas dos dedos.

Deu-se conta do que estava fazendo apenas quando ouviu um suspiro baixo vindo de si assim que roçou os lábios em sua bochecha.

Afastou-se subitamente, sentindo as bochechas esquentarem ao extremo.

— D-Desculpe – murmurou baixo desviando os olhos de si.

— E-Eu... – Pigarreou – Vou me esconder na floresta. Tente me achar apenas com o olfato..

 

Pisquei varias vezes, desnorteado.

 

“Percy, sua voz grave rouca chamava-o baixa e persistente. Abra os olhos.

Quando o fez, deparou-se com o loiro em pé sobre uma pedra no meio da floresta. Assim que voltou-se para ele, a luz do sol passou minimamente por entre as folhas das copas das árvores, recaindo sobre si dourada quase alaranjada.

Seu cabelo reluziu enquanto seus olhos tornavam-se verdes tão intensos quanto uma pedra de jade. Sua pele clara refletiu o brilho do sol poente como um diamante raro, brilhando minimamente sob a camiseta azul que usava.

Nunca havia notado isso antes, mas mesmo não querendo, Jason era de fato um lindo rapaz.”.

 

—Per-cy...

 

— Isso dói mais do que imaginei – soltou com a voz fraca – acho que cheguei ao meu limite.

— Não se atreva a morrer aqui, vovô – ralhei.

— Não consigo... Não da mais. – Sentiu um aperto doloroso no peito. Segurou firmemente sua mão. – Preciso te dizer algo importante...

— Diga depois – interrompeu-o – vou caçar algum bicho pra você, não se preocupe – fez menção de se levantar, mas sua mão o puxou de volta.

— Não tenho tempo... – seus olhos semicerrados cintilaram uma ultima vez.

— Jason...

— Percy – seus lábios curvaram-se para cima minimamente em um sorriso quase imperceptível – eu amo você.”

 

— Per-cy... – Pisquei novamente, baixando o braço lentamente.

 

“— Como se sente? – Questionou ainda preocupado.

— Melhor – até mesmo o tom de sua voz voltou ao velho grave sensual de antes. – Seu sangue – pontuou – é doce.

Torceu o nariz.

— Péssima maneira de dizer obrigado – suspirou cansado e sentou-se no chão, escorando as costas no sofá – que alivio. Achei que ia morrer.

— Por que...?

— Porque alguém não tem se alimentado – olhou-o raivoso – não faça mais isso imbecil. Vá dar sustos na porra da sua mãe.

Jason se levantou do sofá onde estava deitado e escorregou para o chão, para seu lado, sentando-se com as pernas jogadas, encarando-o incrédulo.

— Não – recomeçou – porque me salvou? Porque me deu seu sangue?

Piscou os olhos algumas vezes, aturdido. Seu coração – que havia sossegado – disparou novamente. O nó grosso em sua garganta se desfez e permitiu que sua alma fosse feliz uma vez naquela noite. Não hesitou, tampouco vacilou no sorriso sincero. Apenas soltou as palavras que a tanto o incomodavam.

— Porque eu também amo você.

Os olhos azuis arregalaram-se nas orbitas, a luz de mais um dos raios banhou seu rosto de branco, destacando ainda mais o azul índigo das íris claras. Em poucos segundos de pasma, o sorriso fino dos lábios róseos quebrou a pressão do rosto másculo com alegria e felicidade.

Sua mão vagou para a sua no chão e seu rosto se aproximou do seu.”

 

Permiti que pousasse suas patas no chão, minha mão afrouxando em seu pescoço.

— Per-cy...

Quando baixei o braço, as garras afiadas penetraram meu peito de uma só vez.

 

 

I want to say I live each day, until I die
And all that I had something in, somebody's life
The hearts I had touched will be the proof that I leave
That I made a difference and this world will see

 

 

 

Arregalei os olhos ouvindo o grito agudo de Piper.

— JASON!

Minha essência esvaiu. Aquele calor que sentia, aquela chama de fura, se apagando gradativamente.

O corpo do lobisomem imóvel diminuindo o tamanho. Duas, três, quatro vezes. Retomando aquela forma tão original e vivida em minha mente.

 

— Jason.”

 

Meu próprio corpo estava mudando e diminuindo. As escamas de aço estavam caindo aos meus pés, minha pele ganhava cor, meu peso diminuía e me ucorpo ficava mais leve.

 

“— Jason!”

 

Em pouquíssimos segundos, estava olhando para o velho Percy; completamente nu exceto pelo farrapo de short que restara de sua calça de couro, os pés descalços e o cabelo bagunçado.

Seu braço atravessado em meu peito.

 

“— Jason?”

 

Olhei para o lado com dificuldade, para a parede. Nico já não estava mais preso. Estava caído de joelhos no chão, ao lado de Will, encarando a cena com desespero e o rosto cheio de lagrimas por cair.

Consegui dar o fiapo de um sorriso para ele, e assenti positivamente.

Abriu a boca lentamente e gritou. Aquele grito estridente e ensurdecedor. Aquele grito que tanto nos metera em enrascadas e nos tirara delas. Aquele mesmo grito que usava quando queria ferir alguém, ou salvar. Aquele mesmo grito que usara para pedir socorro. Aquele mesmo grito que arrebentava vidros de portas e janelas. Aquele mesmo grito que usava para ensurdecer nossos inimigos. Aquele mesmo grito que usava para matar.

Aquele mesmo grito que usava quando alguém estava prestes a morrer.

 

 

I was here
I lived, I loved
I was here
I did, I've done
Everything that I wanted
And it was more than I thought it would be
I will leave my mark so everyone will know

 

 

 

Percy puxou o braço com força para for a do meu peito e me segurou com os braços fortes antes que atingisse o chão.

 

“— Jason...”

 

Fiquei breves momento perdido naquela imensidão azul que se desfazia em lagrimas mudas. Me olhava de cima, deitando-me no chão com cuidado, em seu colo. O cabelo castanho caindo na testa, partes de seu corpo manchadas de sangue e feridas abertas se fechando. A pele morena quente e macia, a magia naquele olhar, no brilho daquelas esmeraldas preciosas e inigualáveis.

— Jason – chamou baixo.

Sorri novamente, ouvindo o som de seu coração acelerado.

— Não chore – pedi fraco. O pingente de coração que resistira fortemente àquela batalha cintilando em seu peito – você fica mais bonito quando sorri...

Tossi sangue e me curvei com a dor.

— Jason!

— Tudo bem – abri os olhos lentamente uma vez mais – conseguimos. Salvamos Washington. Você salvou...

— Não conseguiria sem você – balançou a cabeça – me perdoe. – Fungou forte – Se eu... Se eu tivesse sido mais forte nada disso teria acontecido...

— Percy – fiz força para levantar a mão e levá-la ao rosto molhado que soluçava – não chore. Por favor... Nada disso importa mais...

— Jason, eu... Eu só precisava ganhar um pouco de tempo...

— Você está são e salvo – sorri fraco – fico feliz por isso...

— Ah, Jason – soluçou forte. – Tudo vai ficar bem. Eu prometo.

— Sim – concordei – sei que vai...

— Quero que se lembre de uma coisa – sua voz soava firme – uma coisa que tem de prometer jamais esquecer.

Olhei-o com expectativa.

— O que...?

Ele se inclinou sobre mim delicadamente e repousou seus lábios nos meus.

 

 

I was here
I lived, I loved
I was here
I did, I've done
Everything that I wanted
And it was more than I thought it would be
I will leave my mark so everyone will know
I was here

 

 

 

Assim que se afastou, o gosto doce dos seus lábios delicados e quentes permaneceu em minha boca.

— Não importa quanto tempo passe – sussurrou – nem em quantas vidas eu renasça. Eu juro, Jason. Eu sempre vou te amar.

Seus olhos verdes penetrantes afundaram nos meus com os sentimentos mais puros possíveis. Amor, paixão, prazer, saudade. Tudo num misto recíproco de felicidade e alegria eminente. As pontas de seu cabelo roçando em meu rosto, já que estava perto demais para isso. Sua respiração mesclando com a minha.

— Eu sempre vou te amar, Percy – disse baixo – em todas as vidas, pela eternidade. Num futuro... Onde só exista você e eu. E a imortalidade...

Anuiu com a cabeça.

— Will – chamou – agora.

Apertou-me mais contra si, possessivamente. Quando se calou, pude ouvir a voz de Will entoando um cântico antigo, mais antigo que o próprio sangue vampiresco. Mais antigo que este mundo vivente. Um cântico, no qual eu entendia as palavras.

Phasmatos Tribum Nas Ex Veras Ad Praeterium...

Pouco a pouco, deixei meus olhos fecharem pesados. Senti uma das lagrimas sofridas de Percy cair em meu rosto antes de sentir meu próprio coração falhar uma batida e assim desistir de pulsar sangue, parando de bater lentamente enquanto tudo ficava branco.

 

 

I was here...

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Comentem <3


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