1. Spirit Fanfics >
  2. A Força do Amor >
  3. Esperança Vã

História A Força do Amor - Esperança Vã


Escrita por: Indis_Imladris

Notas do Autor


Com vão, queridos leitores!
Muita gente acessando e favoritando. Obrigada!
Agradecendo também os novos comentários que estão surgindo. Para quem não sabe seus comentários é o meu combustível e me ajuda a entender como vocês veem a trama.
Sendo assim, comentem!
Boa leitura!

Capítulo 11 - Esperança Vã


Legolas se encheu de esperança ao constatar que a Kyara não havia esclarecido a real condição dos dois viajantes. Diferentemente do que o homem ao seu lado havia deduzido, eles não formavam um casal. Demétrio repetiu a pergunta estranhando a distração do elfo.

- Milorde, se estiver preocupado com sua senhora poderemos ficar.

- Não, está tudo bem. Vamos logo porque temos que conseguir alguma coisa para comer... A propósito, me chame apenas por Legolas.

- Sim, milorde, como queira.

Kyara retornou para a caverna e a primeira providência que tomou foi melhorar a iluminação do lugar. Providenciou uma cama mais confortável para as crianças e a mulher e tratou de examiná-la.

- Você me permite examiná-la? Tenho comigo algumas ervas que poderiam ajudá-la no seu desconforto, além do mais, precisamos saber da sua real condição.

- A senhora é curadora?

- Pode me chamar de Kyara e sim, sou uma curadora.

- Estou com muito medo porque desde que tudo aconteceu não tenho me sentido muito bem e já estou completando os nove meses... Eu não senti nada na gravidez dos meus outros filhos e correu tudo normalmente, mas nessa gravidez sinto que alguma coisa está errada. Não tenho forças para nada, estou sempre com calafrios e com muito sono. Não tenho vontade de comer, muito menos fazer nada. E nesses últimos dias sinto-me muito pior.

Kyara começou a examiná-la e não gostou muito do resultado. Tinha todos os indícios de que a criança estava sentada e na incerteza do tempo que ela ainda teria pela frente já era motivo para ficar em alerta. Uma boa parteira poderia virar a criança. No entanto, seus sintomas indicavam anemia ou talvez algo mais sério, o que tornaria o parto mais complicado. Sem forças, ela e a criança correriam risco de morte. Diante dessas complicações teriam que chegar a Minas Tirith o quanto antes.

- Fique calma porque agora as coisas se ajeitarão e logo chegaremos a Minas Tirith.

- Tenho muitas saudades. Desde que saímos não voltei mais. Minha irmã ainda mora lá e trabalha no palácio. Ela é camareira da rainha Arwen, a criatura mais doce que poderia existir na face da terra... Pensando na família a mulher chorou... – Se alguma patrulha de Gondor passou pelo vilarejo já devem saber do ataque e agora pensam que não sobrevivemos.

A mulher calou-se por um instante e seus olhos arregalados derramaram lágrimas silenciosas ao se lembrar dos momentos de terror que passara com os filhos.

- Foi horrível! De repente tudo estava se incendiando e aqueles monstros invadindo as casas matando qualquer um que encontravam. Quando eu pensei que seria nosso fim, meu marido entrou casa adentro e nos arrastou para o celeiro.

Com as mãos no rosto entregou-se ao seu sofrimento e chorou compulsivamente. Kyara permitiu que ela aliviasse sua dor com as lágrimas e, abraçando-a com carinho, tentou consolá-la.

- Fique calma. O que importa agora é que vocês sobreviveram e tudo ficará bem. O pior já passou. Vamos ajudá-los a sair daqui e logo estarão com sua irmã.

Agora vou ver o que posso conseguir para comermos. Quero que se deite de lado e descanse. Não se preocupe com mais nada. Eu cuidarei das crianças.

- Meus filhos! Eu não tenho tido condições nem de cuidar deles... E chorou novamente.

- Nós vamos ajudar. Já passou por maus momentos e tem que se sentir afortunada por ter escapado com sua família. Descanse. Eu sairei com eles para o riacho. Acha que pode ficar aqui sozinha?

- Sim.

- Logo voltaremos... Virando-se para o menino perguntou... – Gael, nas suas andanças pela floresta, viu alguma coisa que pudesse indicar a presença de Orcs por aqui?

- Não.

- Você gostaria de ir comigo e seus irmãos ao riacho para tomar um banho e pescar uns peixes?

- Sim, mas meu pai não deixa a gente ficar fora da caverna. Eu saio escondido.

- Eu imaginei. Não se preocupe. Este será nosso segredo.

Kyara perguntou as crianças se elas gostariam de tomar um delicioso banho e pescar e, prontamente, disseram que sim. Fora da caverna, ela prendeu o cinturão de facas cruzado ao corpo e a espada na cintura. O menino arregalou os olhos vendo-a se armar.

- A senhora é uma guerreira?

- Sim.

- E a senhora já lutou em alguma guerra?

- Em várias.

- Nossa! Nunca vi uma mulher lutar numa guerra. Seu marido deixa?

- Eu sou diferente das outras mulheres.

Não passou pela cabeça da Kyara qualquer inconveniente quando o pai das crianças se dirigiu a ela como sendo a esposa de Legolas. Agora, se perguntava se não teria cometido um erro ao fazê-lo.

- Diferente como?... Continuou o menino com o seu pequeno interrogatório.

Kyara colocou as outras duas crianças montadas em Athos e seguiu a pé com Gael.

- Nasci para ser uma guerreira e quando a gente nasce com um propósito definido ninguém pode nos impedir.

O menino se calou, mas não tirou os olhos das armas que ela carregava. Chegando ao riacho, Kyara deu um banho nas crianças. Lavou suas roupas e deixou secando ao sol, mas Gael foi o único que tomou banho vestido, certamente por vergonha, já que estava se tornando um rapazinho e ficou intimidado com ela.

Pescaram alguns peixes com um puçá improvisado. Depois Kyara sentou-se numa pedra e ficou observando as crianças brincarem na água. Galen pulava todo o tempo em cima de Gael enquanto Marisla jogava água para o alto. Nessa hora, ela voltou seu pensamento para o vilarejo e a imagem daqueles pequenos corpos carbonizados assombrava sua mente. Entretanto, mesmo com todo o pesar que sentia, não pôde evitar ser contagiada pela alegria das crianças brincando na água e acabou se juntando a elas.

Passado algum tempo ela achou melhor retornarem para preparar os peixes. Enquanto brincaram ninguém havia se queixado de fome, mas bastou saírem da água para que começassem a choramingar e Kyara achou graça da reclamação delas. Limpou os peixes e aprontaram-se. Ela aproveitou a viagem para encher os cantis d’água e os vasilhames que eles possuíam e retornaram para a caverna.

Ao chegar, ela tratou de assar os peixes e alimentar as crianças e a mãe delas. Preparou um chá de sabor e aroma adocicados e o serviu a todos. Depois cantou algumas cantigas e eles adormeceram. Ela deixou que descansassem e saiu novamente para pegar lenha, com sorte, algumas frutas, também. Quando retornou viu que os homens tinham acabado de chegar e começavam a descarregar as coisas que conseguiram.

Legolas havia caçado um filhote de javali e quatro lebres e Demétrio se prontificou a tratar dos animais, levando-os para o riacho. Legolas percebeu logo que ela havia se banhado porque seus cabelos estavam soltos e suas roupas ainda úmidas.

- Esteve no riacho?

- Sim. As crianças estavam imundas e lhes dei um bom banho.

- Disse para não saírem da caverna. Ainda pode haver Orcs por aqui.

- Sei que não há Orcs por aqui. Não no momento. Não depois do que fizeram.

- O que as crianças estão fazendo agora?

- Dormindo. Depois do banho comeram peixe assado e tomaram um chá calmante. Eu os acomodei numa cama confortável com as peles de ovelha e cantei algumas canções. Foi inevitável que dormissem. Até mesmo a Melissa não resistiu. Acho que depois de tudo pelo que passou foi à primeira vez que ela realmente relaxou.

- E você está mais calma?

Kyara suspirou... – Nem sei mais o significado dessas palavras... Ela passou a mão pelo rosto e esfregou os olhos... – Quando a gente pensa que já se acostumou a todo tipo de violência, de repente se vê surpreendido com uma barbaridade dessas... Eram crianças, Legolas! Crianças pequenas.

- Vamos esquecer esse assunto por enquanto. Essa família passou por um tormento horrível e já carregam no coração dor maior do que podem suportar. Devemos agora ser consolo para essa dor.

- Tenho consciência disso, mas esteja certo de que somente acalmarei minha ira quando destruir aquele maldito, porque nunca conseguirei esquecer. E nunca desistirei até que ele tenha chegado ao seu fim.

Legolas preocupou-se com o olhar de ódio cego da Kyara e suas palavras de juramento. Seu corpo arrepiou-se e imediatamente lembrou-se das antigas histórias dos seus parentes da Primeira Era da terra. Da desgraça que quase destruiu os elfos Noldor e sua descendência por conta de um ódio cego e o desejo de vingança.

Segurando os braços da Kyara, ele olhou fundo nos olhos dela, fazendo-a parar.

- Dou minha palavra de elfo que esse bruxo não sairá vitorioso e ao final de tudo encontrará sua ruína, porque o mal não é maior que o bem. E em nome desse bem maior lhe peço que desista dessa vingança e abandone esse ódio que tomou seu coração... Lutaremos juntos e o derrotaremos, mas somente pelo clamor de justiça. Se não o fizer agora, esse ódio a arrastará para a destruição.

Kyara gelou com as palavras de Legolas e abaixou a cabeça envergonhada e infeliz. O ódio e a culpa não a haviam abandonado, mas reconheceu sua fraqueza e deu razão a sabedoria do elfo.

- Você está certo. Certamente minha razão e meus atos serão comprometidos pelo meu desvario... Ela voltou o olhar para Legolas com brandura e falou quase num sussurro... – Obrigada!... Já está se tornando um hábito você sempre vir em meu socorro... Disse ela encabulada com um sorriso pálido nos lábios.

- Eu tenho que pagar minha dívida com você, não tenho?

- Pelo que sei você já pagou a sua dívida e deve até estar com crédito.

- É mesmo?... Ele perguntou divertido devolvendo-lhe o sorriso ao soltar os braços dela, voltando sua atenção para as coisas que conseguiram encontrar no vilarejo.

- Você tem muito jeito com crianças. Seria uma excelente mãe.

- Você mesmo não disse que tudo que faço busco perfeição? Então?... Não poderia cuidar deles de qualquer jeito.

- Não se trata de perfeição. Você realmente tem jeito com crianças. Vi como conduziu a conversa com o menino. Outra pessoa tentaria arrancar a informação à força. Não é todo mundo que tem paciência.

- Você tem?

- Não tenho muito contato com elas para saber, mas admito achar muita graça da lógica e da espontaneidade delas... Neste momento gostaria de ser uma delas. Agora já teria tomado um bom banho, estaria alimentado e dormindo depois de ouvi-la cantar.

Conversavam enquanto desamarravam as cordas do material e retiravam as coisas. Sem querer, Legolas tocou o ferimento no ombro, com uma expressão de dor. Kyara percebeu o gesto e se preocupou.

- Ainda sente dor no ombro? Você está escondendo de mim esse incômodo, não é?

- Não, claro que não. Senti uma pontada no ombro talvez por causa do peso que peguei, mas não é nada.

- Pelo tempo já deve estar cicatrizado, mas seu repouso foi o pior possível... Deixe-me dar uma olhada.

- Depois veremos isso. Agora quero organizar tudo logo.

- Está bem. Vou ajudá-lo a carregar as coisas e depois vou com você ao riacho para dar uma olhada nos seus ferimentos. Depois de tratado, você vai tomar aquele chá amargo novamente e sem reclamação. Hoje não quero nem saber de você montando guarda. Vamos usar a vegetação para encobrir melhor a entrada da caverna e deixarei Athos de vigia. Qualquer coisa que se aproxime pode estar certo de que ele avisará.

- Não confio que seja muito seguro.

- Então, eu ficarei de guarda.

- Não! Não quero você se arriscando. Vamos fazer como sugeriu, então.

- Hum... Ótimo.

Legolas e Demétrio haviam conseguido cobertores, algumas roupas da família, cordas, lamparinas e um vasilhame com banha, um saco de milho e legumes, madeiras, um machado e um serrote, três jarros de cerâmica, pratos, copos, talheres e panelas.

- Nossa! Vocês conseguiram muitas coisas.

- Revirei tudo o que pude com Demétrio. A sorte é que a casa e o celeiro não foram totalmente incendiados e deu para recuperar algumas coisas, como esses utensílios de cozinha, os cobertores e as roupas deles. O melhor é que tem parte de uma carroça lá, que dá para recuperar e os arreios do Demétrio estão intactos... Amanhã vamos trazê-la para cá e reconstruí-la. Por isso já adiantamos as madeiras que conseguimos e as ferramentas. Estou pensando em levá-los para o porto de trocas no Rio Anduim, próximo a Ithílien, a umas cinco ou seis léguas daqui. Lá, conseguiremos alguma embarcação que os levem para a cidade de Osgiliath. Estava em ruínas na batalha de Pelennor, mas Aragorn a reconstruiu para facilitar o transporte e o comércio. Osgiliath fica em frente a Minas Tirith.

- Ótima ideia, porque a Melissa não suportará uma viagem de carroça até Minas Tirith. A criança está sentada e ela tem todos os sintomas de anemia, se não for algo mais sério. A fraqueza que está sentindo, num parto difícil, pode ser fatal para ela e o bebê.

- Você pode ajudá-la?

- Posso, mas, de qualquer forma, na cidade deve ter boas parteiras que poderão resolver o problema. O que não pode acontecer é provocarmos um parto antes do tempo, com uma viagem longa e cansativa. Depois que a criança nascer, possivelmente Melissa não poderá ser removida por alguns dias. Isso se sobreviver.

- Essa novidade não nos deixa com muito tempo, não é?

- Se deixarmos a natureza agir, tudo indica que teremos, talvez, umas duas semanas. No entanto, uma viagem pode antecipar o problema para hoje.

- Achei que a carroça fosse a solução perfeita. Agora temo ficarmos ilhados em um local inadequado e sem proteção, ou, pior ainda, arriscar a vida dela.

- A carroça é o único jeito de socorrê-los e sua ideia de levá-los de barco parte do percurso foi perfeita. Ela também não pode ficar aqui sem recursos. Logo completará os dias que faltam e a criança terá que nascer... Leve o tempo que for, devemos apenas ter cuidado no transporte até o porto. A viagem para ela deverá ser feita com o mínimo de esforço.

Os dois começaram a carregar as coisas para a caverna. Legolas e Kyara improvisaram um fogão e levaram os utensílios para o riacho, no intuito de lavá-los. Chegando lá, Demétrio já havia limpado os animais e estava se banhando.

Kyara retornou com Demétrio levando os utensílios lavados e as carnes limpas para a caverna. Ela pensava em fazer um cozido das lebres, com um pouco dos legumes que conseguiram, deixando a carne de javali para assar pela manhã. Legolas permaneceu no riacho.

Algum tempo depois ela retornou sozinha e o encontrou descalço, somente de calça, com os cabelos molhados e soltos, sem as tranças que costumava usar. Impossível não admirar a sua beleza. Ao chegar perto dele teve vontade de colocar a mexa de cabelo, que lhe cobria o rosto, atrás da orelha, mas se controlou.

Ela arrumou as ervas socadas e o chá sobre uma pedra e começou a examinar os ferimentos. Depois de tudo examinado constatou que estavam cicatrizados. O próprio organismo havia se encarregado de curar o que faltava, com a ajuda do chá.

- Legolas, suas feridas estão cicatrizadas e não será mais necessário colocar nada em cima. As dores que tem sentido é devido à falta de repouso adequado. Então, terá que descansar um pouco mais.

- Por que você não esclareceu a essas pessoas que não somos um casal?

Ela já esperava que ele tocasse no assunto, mas mesmo assim foi surpreendida com a pergunta.

- Talvez pelo mesmo motivo que você, já que não me desmentiu.

- Você me deixou sem saber o que dizer. Por que fez isso?

- Eu poderia dizer que não somos casados. Porém, só por verem um homem e uma mulher juntos já tiraram conclusões. Não queria ter que explicar quem sou e o que estou fazendo aqui com você, ainda mais depois do que aconteceu. Seriam explicações demais. Achei mais fácil deixar as coisas assim mesmo.

Legolas achou lógico o raciocínio dela e não pôde disfarçar seu desapontamento com seus pensamentos... – Nada havia mudado... Tenho que parar com isso. Estou me iludindo, tentando me agarrar a qualquer esperança vã... Vestiu-se em silêncio e se retirou.

Kyara estranhou a mudança de humor dele e deixou que voltasse sozinho. Poderia ter dito a verdade, sem entrar em detalhes, mas nem mesmo ela sabia o porquê de não tê-lo feito. Resolveu se banhar novamente e cuidar das suas próprias feridas e não pensou mais no assunto.

Ao retornar todos já haviam acordado e vestido roupas limpas, mas não viu Legolas. Melissa estava sentada com Galen deitado com a cabeça apoiada em sua perna enquanto a pequena Marisla penteava os cabelos da mãe. O mais velho ficou sentado ao lado dela observando tudo que acontecia na caverna.

Era uma cena bonita de se ver: a mãe rodeada dos filhos. A sua aparência havia melhorado um pouco e sua pele muito branca já dava sinais de estar um pouco mais corada.

- Senhora, a carne do coelho já está macia.

- Ótimo, então. Vamos colocar os legumes para que cozinhem nesse caldo. Usei umas ervas que tenho certeza que vão gostar... Demétrio, vamos combinar uma coisa? Quero que me chame apenas de Kyara.

- Está bem... Kyara! Seu marido, onde está?

Kyara arrepiou-se ouvindo Demétrio falar mais uma vez, e, dessa vez sentiu uma força estranha nas palavras dele: “seu marido!” Por mais absurdo que fosse não soou mal aos seus ouvidos, apenas estranho.

- Kyara?

- Sim!... Legolas? Deve estar fazendo uma ronda. Ele está se recuperando de um ferimento no ombro e pedi que não ficasse de guarda esta noite, para descansar. Certamente, ele só vai atender meu pedido depois de se certificar da segurança da caverna. Enquanto não se sentir seguro não sossegará... Vou procurar por ele.

Kyara saiu da caverna e avistou Legolas entre as pedras, morro acima. Estava com o semblante fechado, como sempre fazia, tentando avistar ao longe.

- Tudo bem?

- Até o momento... Fique tranquila! Farei como me pediu. Amanhã terei muito que fazer com Demétrio e preciso descansar.

- Sabe que falo para seu bem.

- Eu sei.

Permaneceram em silêncio observando o crepúsculo morrer no horizonte. Kyara percebia uma angustia no semblante dele e ficou imaginando se ela era a causa desse mal estar repentino entre eles.

- Você está bem?... Perguntou ela. Ele não respondeu... – Se algo estiver acontecendo você me contará, não contará?

Ele olhou para o céu vendo chegar nuvens escuras e soube que seria uma noite sem estrelas... – O sol se foi... Legolas ergueu-se a deixando sem resposta... – Melhor voltarmos para a caverna e ajeitarmos a camuflagem da entrada.

Retornaram para a caverna e arrumaram galhos para disfarçar mais a entrada e deixaram os cavalos pastando.

Kyara não insistiu na pergunta. Ao se virar, viu as crianças brincando com uns bonecos de pano em cima da cama que fizera para elas. Demétrio estava sentado em outra cama com Melissa descansando a cabeça em seu colo enquanto ele acariciava sua barriga. Destacado deles tinha uma cama feita de palhas coberta por mantas, certamente para que ela e Legolas passassem a noite.

Os dois se olharam pensando a mesma coisa. Legolas fez que não ligou e sentou-se na cama improvisada. Ela sentia-se encabulada. Se fizesse camas separadas para os dois, os outros estranhariam o fato de serem casados e não dormirem juntos.

Agora não tinha mais o que fazer, então, deixou a questão de lado e foi ver o cozido. Preparou os pratos para todos.

- Senhora!... Desculpe-me! Kyara, que delícia! Minha esposa cozinha que é uma maravilha, mas esse cozido de coelho está de lamber o prato. Não é Melissa?

- É a primeira vez em muito tempo que tenho vontade de comer algo de verdade. Pode me ensinar o segredo depois Kyara?

- É amor... Respondeu Legolas silenciando todos com a resposta repentina... – Tudo que ela faz é delicioso porque faz com amor.

- Conheço essa receita, mas aquela pitadinha a mais você me diz depois?... Insistiu Melissa.

Kyara riu.

Todos comeram de se fartar e as crianças, logo que acabaram, trataram de se juntar aos pais. Ficaram amontoados sobre as pernas do pai abraçados a mãe, com cara de sono. Demétrio não tinha braços para tantos ao mesmo tempo.

O carinho que tinham uns com os outros era de dar inveja, principalmente à atenção que Demétrio tinha com Melissa. Kyara observava, discretamente, o jeito com que ele acariciava os cabelos dela e a sua barriga e o olhar cheio de amor que ela lançava para ele. Sem dúvida era uma família feliz, e Kyara pensou no comentário de Legolas, dizendo que daria uma excelente mãe.

Naquele instante desejou um carinho como aquele, e ser cuidada mais uma vez, como fora por Legolas. Lembrou-se, então, que eles dormiriam juntos enquanto estivessem na companhia daquela família e pensou, mais uma vez, se não havia arrumado um problema quando teve oportunidade para esclarecer que não eram casados e não o fez. Legolas estava sentado ao lado dela com o pensamento longe. O distanciamento dele a estava incomodando.

Daria tudo para saber o que pensava... Ela mesma fazia suas conjecturas sem respostas e tentou puxar assunto se dirigindo a ele... – Legolas, aceita mais um pouco de cozido?

- Não, obrigado. Já fui além da conta... Ensinam culinária na ilha?

- Não, mas como mexo com muitas ervas me interessei em aprender mais algumas coisas. Lembra-se que gosto de fazer tudo com perfeição?

- Nunca conheci ninguém como você e nunca conhecerei.

- Já me disseram que sou incomum, mas não sou tão especial assim.

Legolas apenas a olhou em silêncio... – Como gostaria de dizer o quanto é especial para mim... Pensou.

Ela o observava com vontade de se recostar nele e pedir que lhe fizesse um carinho, também... – Não poderia pedir isso sem ser mal interpretada?... Deviam estar carentes porque mais cedo era Legolas quem queria estar no lugar das crianças só para ter atenção... Concluiu que essa jornada acabaria enlouquecendo os dois.

- Não quer cantar uma canção para nós? Acho que nossos amigos gostariam de uma distração.

- Vocês gostam de música?... Todos responderam que sim... – Então vou cantar uma canção.

Kyara cantou uma canção divertida e todos acompanharam batendo palmas e a pequena Marisla logo se levantou para pular e dançar. Parecia uma bonequinha pequena de cachinhos dourados e perninhas grossinhas. Como Legolas havia dito, a melhor coisa era conviver com a espontaneidade das crianças.

Quando ela acabou a canção trataram de pedir outra e logo depois mais uma música e passaram algumas horas somente se divertindo com canções e a dança das crianças. Legolas gargalhava com as palhaçadas delas, até Marisla correr e se jogar no colo dele. Ele a abraçou e se levantou para dançar com ela.

Kyara ficou boquiaberta com a atitude dele. Nunca havia imaginado Legolas pulando numa roda de crianças. De repente, ele estendeu a mão e a puxou para a brincadeira. Eles não faziam outra coisa se não dar as mãos, rodar e cantar, porém há tempos não se divertiam tanto. Kyara ria ao ponto de perder as forças.

As crianças soltaram as mãos atirando-se na cama rindo. Vendo que Kyara perdia o equilíbrio, Legolas a segurou pela cintura.

Os dois estavam felizes e sem pensar se abraçaram. Kyara se deixou ficar abraçada a Legolas agradecendo por sua atitude, mas ao se separarem ele apenas sorriu para ela e se afastou, sentando-se em seguida. Não esperava que fizesse alguma coisa, mas queria ver novamente o mesmo olhar que ele lhe deu na noite anterior quando quase se beijaram.

Legolas não era mais o mesmo e sua atitude educada e um tanto distante, quase desinteressada a confundia e a entristecia. Ao mesmo tempo que era importante manter-se segura, queria novamente a atenção dele, os cuidados, a preocupação. O interesse dele era o que ela buscava, mas somente o via se afastar.

Sem ter o que fazer, sentou-se ao lado dele, cabisbaixa.

- Já se cansou?... Perguntou Melissa... – Estava tão animada e de repente sentou-se amuada.

Kyara notou que ela estava outra pessoa. A comida e a companhia haviam feito um bem enorme a Melissa.

- Admito que estou um pouco cansada, sim.

- Faça como eu. Aproveite seu marido ao seu lado e peça-lhe para fazer um carinho em seus belos cabelos. É assim que gosto de relaxar depois de um dia inteiro de trabalho.

Kyara e Legolas se olharam acanhados e Melissa percebeu.

- Não se envergonhem. Nós estamos acostumados a demonstrar nossos sentimentos. É assim que criamos nossos filhos. Dou graças por Demétrio não ser como esses homens brutos, que acham que carinho é coisa de mulher. Não conheço ninguém mais carinhoso que ele.

- Ora, minha mulher e meus filhos merecem toda a minha atenção. São a única riqueza que tenho, mas estejam certos que apenas retribuo o que recebo. Quer coisa melhor que o carinho da sua mulher ou uma mãozinha pequena como essa alisando o seu rosto?... Disse Demétrio segurando a mão da Marisla.

Os dois não responderam.

- Vocês não tem filhos?... Indagou Demétrio e Legolas respondeu que não... – De certo que são casados de pouco.

Desta vez foi Melissa quem perguntou... – Como se conheceram?

- Eu o encontrei ferido certa vez e nos apaixonamos... Respondeu Kyara, sem pensar.

Os dois se olharam mais uma vez. Legolas deixou passar um brilho em seu olhar. Ainda mais confusa, Kyara voltou seus olhos para o casal a sua frente, assustada.

- Estou cansada... Se me permitem vou dormir.

Todos acabaram se deitando. Algumas horas depois nenhum dos dois havia dormido ainda e era inevitável se esbarrarem para procurar uma posição mais confortável. Sentiam a proximidade de seus corpos e isso os deixavam tensos.

Kyara não tirava os olhos do casal dormindo abraçado a sua frente do outro lado da fogueira.

Melissa não parecia viver uma vida enfadonha e oprimida pela submissão, como via nas outras mulheres. Pelo contrário, era feliz com seu marido e seus filhos. Aliás, todos eram muito felizes juntos e demonstravam isso abertamente para quem quisesse ver.

A certa hora da noite Kyara acabou pegando no sono.


Notas Finais


Hum! Não sei se vocês concordam, mas algo me diz que a resistência da Kyara está realmente indo por terra.
Legolas se sentiu desolado porque suas esperanças lhe pareceram vãs. Ele não pode saber o que passa na cabeça da Kyara. Nós sim.
Os próximos capítulos prometem. Eles estão de partida para Minas Tirith e essa chegada promete muita coisa.
Comentem!
Um beijão em todos!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...