1. Spirit Fanfics >
  2. A Força do Amor >
  3. A Verdade dos Teus Olhos

História A Força do Amor - A Verdade dos Teus Olhos


Escrita por: Indis_Imladris

Notas do Autor


Cheguei! Perdoe a demora, mas a correria hoje foi de matar... Todos estão preparados para esse capítulo? Então, não vou enrolar mais.
Boa leitura, pessoal!

Capítulo 15 - A Verdade dos Teus Olhos


Kyara entrou nos aposentos destinados a ela sentindo-se feliz por ter um pouco de conforto, afinal. O quarto era simples, bem amplo e arejado, embora as paredes fossem de pedra acinzentada. Uma pequena lareira manteria o quarto aquecido, que tinha a sua frente duas cadeiras de madeira e uma mesa de centro com jarro de flores perfumando o ambiente o deixando mais acolhedor. Uma tapeçaria trançada com barbantes foi colocada no centro, pesadas cortinas vermelhas e dois portões de ferro davam passagem para a varanda.

Ela foi até a sacada e ficou admirando o horizonte escurecido a sua frente e, abaixo, a vista do jardim de inverno. Entrou e olhou do outro lado do quarto uma enorme e convidativa cama de casal impecavelmente forrada com uma colcha branca também trançada com barbante bordada com delicadas flores vermelhas. Tinha ainda um mosquiteiro preso ao teto e um aparador ao lado da porta de entrada, a direita de quem entrava, com dois castiçais e um grande espelho oval na parede. Junto ao aparador estavam seus baús. Mais adiante, ao lado da cama, outra porta a levava para a sala de banho, onde uma grande banheira no centro esperava por ela.

Tratou logo de preparar um banho bem perfumado e relaxante com óleos para tentar aliviar a tensão que sentia.

Mergulhada naquela água, esqueceu-se da vida pensando nas palavras do bruxo. Por mais que não quisesse acreditar, seu coração dizia que era verdade. Gahya estava enfraquecendo e escondia esse fato dela. O que mais sua mentora não havia revelado?

Kyara terminou o banho, enrolou-se em uma das enormes toalhas deixadas para ela e deitou-se na cama olhando para o teto sentindo-se solitária. Uma batida na porta a despertou. Ela abriu uma pequena fresta e viu a rainha já vestida para o jantar.

– Milady! Perdoe-me por não estar pronta ainda... Não estou em condições para recebê-la como se deve.

– Vim ver se precisa de alguma coisa, se está bem instalada... Não quero ser inconveniente.

– De forma alguma. Entre, por favor, se não se importar que eu esteja enrolada em uma toalha.

Tentando disfarçar o rubor da face ela começou um assunto qualquer.

– Já que está aqui gostaria de saber se haverá algum evento para a hora do jantar? Não sei ao certo o que vestir.

– Nada especial... Você encontrará as mesmas pessoas que conheceu há pouco. Se me permitir posso lhe ajudar. Posso lhe oferecer meu guarda-roupa.

– Em minha bagagem tenho alguns vestidos. Poderia me ajudar a escolher um?

Arwen procurou nos baús, retirando um vestido.

– Este vestido de seda acetinada verde claro é lindo... Realça ainda mais a cor dos seus olhos e dos seus cabelos... Deixe-os soltos.

– Obrigada pela ajuda... Estou encantada com a sua terra e Minas Tirith é linda. Aliás, como havia dito a Legolas, a Terra Média é belíssima.

– Pelo tempo que estiveram viajando deve ter conhecido vários lugares... Entendi que você retornará para sua terra logo depois que recuperar a pedra.

– Sim! Tenho que retornar. Assumi um compromisso e não poderei faltar com minha palavra. Imagino que ache tudo isso uma loucura, não é?...          Eu mesma penso se não estou enlouquecendo.

– O destino age de forma estranha e sem muito sentido para o nosso entendimento... Embora nossas escolhas determinem nossos caminhos, não estamos livres de sermos surpreendidos pelo acaso... Certamente você começou sua aventura de uma forma, mas até tudo isso acabar não será mais a mesma pessoa.

Kyara a ouviu em silêncio reconhecendo a sabedoria nas palavras da rainha.

– Você não poderá ficar alguns dias que seja? Tem tantos lugares maravilhosos para conhecer. Valfenda, por exemplo. É a casa de meus irmãos e é maravilhosa... Aragorn passa boa parte do seu tempo no labor de governar e depois da guerra muita coisa precisou ser reconstruída... Se você pudesse ficar alguns dias nós duas poderíamos programar uma visita a Valfenda. Ficaria imensamente feliz com a sua companhia.

– Não sei se terei essa oportunidade. Foi pela magia que cheguei aqui e pela magia retornarei...  Deve se sentir um pouco solitária, longe da sua gente... Apesar de ser filha do rei, eu sofria com a solidão. Vivi minha infância sendo criada por babás. Eram tantas que precisava me esforçar para não me confundir... Arwen sorriu... – Sinto falta do castelo e das pessoas de lá, mas não da minha vida de princesa, sempre monótona, sem emoção.

– Nesse ponto não tenho o que reclamar. Assim como Aragorn, também tenho muitos assuntos a tratar, além da administração do castelo. Ele me deixou cuidar das famílias desabrigadas pela guerra. Acabei criando a casa de assistência para as famílias, crianças órfãs e idosos de Gondor. Construímos uma escola nova e reformamos a biblioteca da cidade. Meu pai mandou os melhores cartógrafos de Valfenda e conseguimos atualizar boa parte dos mapas e salvar o acervo histórico que estava se perdendo. Foi muito bom ter essas atribuições e o fiz com muito prazer... Arwen suspirou... - Será uma pena se não puder ficar um pouco mais. Sinto que sua passagem por aqui deixará marcas.

– Eu também sentirei muita saudade... Kyara falou pensando em Legolas... – Agora que estou em Gondor e bem instalada num castelo maravilhoso, cercada de conforto me senti perdida. Já estava acostumada a ser somente Legolas e eu livres por aí, que entre as paredes do quarto fiquei sem saber ao certo o que fazer primeiro.

– Imagino como se sinta. Deve ser gratificante uma aventura como essa.

– É!... Mas, acho que ando tendo aventuras demais.

– Estamos de braços abertos se quiser ficar.

– Eu agradeço, imensamente, a acolhida. Legolas me falou tanto de vocês que... Kyara riu procurando as palavras certas... – Não sei como me expressar... É estranho, mas sinto uma familiaridade tão grande, como se já nos conhecêssemos há tempos.

Arwen lhe sorriu olhando-a nos olhos.

– Sinto a mesma coisa... Legolas tem grande apreço por você.

– Mesmo? Ele disse isso?

Kyara sentiu o coração disparar e sem querer abriu um sorriso, deixando transparecer uma expressão ansiosa e ao mesmo tempo feliz, que não passou despercebida pela Arwen.

– Também tenho muito apreço por ele... Ela suspirou... – Ele comentou que eu salvei sua vida, o que é verdade. Eu o encontrei quase morto e cheguei a pensar que não resistiria, mas não mencionou que ele também salvou a minha vida. No meio do caminho, no desfiladeiro de Rohan, fomos atacados. Cai num precipício e a minha sorte foi conseguir me agarrar a uma saliência. Bati com a cabeça e desmaiei, e ele me resgatou. Depois fui atingida por dardos envenenados. Se ele não tivesse cuidado de mim, agora estaria morta.

– Vocês viveram emoções muito fortes. Agora entendo a ligação entre vocês.

– Você vê uma ligação entre nós dois?

– Sim! Vejo claramente!

– Curioso! Eu mesma gostaria de ter essa certeza.

– Gostaria mesmo? Está preparada para a verdade?

Kyara tremeu diante das perguntas da rainha e não respondeu na dúvida do que a elfa se referia.

– Se realmente quiser saber, basta olhar nos olhos dele e enxergar além do que eles aparentam. Certamente, achará a resposta.

– Não creio que seja prudente fazer isso.

– Se diz isso então já sabe a resposta, mas tem medo dela.

Kyara olhou para Arwen assustada com a verdade daquelas palavras. Sentiu uma vontade tão grande de desabafar tudo que estava engasgado na sua garganta, todos os seus tormentos, mas se controlou.

A rainha segurou as mãos da Kyara e falou olhando em seus olhos.

– Sei que acabamos de nos conhecer, mas seus olhos são sinceros e depois de tudo que nos mostrou e a forma como se portou, tenho certeza de que é uma mulher muito especial. Desde já a tomo como amiga, porque confio em você.

Kyara comoveu-se com as palavras da rainha.

– Eu... Não sei o que dizer.

– Então lhe direi uma coisa que lhe parecerá estranho vindo de mim, que acabou de conhecer, mas falo com muita segurança e sei que entenderá. Ouça a voz do seu coração se quiser ser feliz.

– Por que me diz tudo isso?

– Porque vocês dois são especiais e merecem a felicidade.

Arwen mantinha sua serenidade, mas seu olhar penetrante deixou Kyara bastante incomodada.

– Legolas me falou que você canta como um rouxinol. Seria pedir muito se nos agraciasse com seu canto?

– Será uma honra para mim.

– Então a deixarei se arrumando e a esperarei no salão. Sabe o caminho?

– Sim.

– Até mais tarde.

 

....................................... >>> ....................................

        

Todos já estavam reunidos no salão conversando, enquanto os criados preparavam a mesa para o jantar, quando Kyara chegou. De imediato, ela encabulou-se com a admiração estampada no semblante de cada um ao vê-la entrar. Era a primeira vez que Legolas a via vestida como uma verdadeira princesa e seus olhos brilharam ainda mais encantado com a beleza delicada dela.

Seu vestido verde ondulava suave e gracioso ao caminhar, marcando suas formas, e o cabelo parecia veludo de tão negro e brilhante.

Arwen logo se adiantou e segurou seu braço conduzindo-a para uma das cadeiras e Kyara atravessou o salão devagar e serena. Ela brilhava como as águas do mar,quando banhadas pelo sol e seu perfume tinha o cheiro suave das primeiras flores da primavera.

Os cavalheiros estavam maravilhados com a surpresa, já que apenas a viram trajando roupas brutas e masculinas. Entretanto, Éomer, mais do que maravilhado, a olhava impossibilitado de desviar os olhos, com o desejo impresso neles e logo se aproximou para oferecer-lhe uma taça de vinho, com uma conversa falsamente despretensiosa, atraindo a atenção da Kyara.

Legolas procurou manter-se indiferente aos dois, mas não estava gostando nem um pouco dessa aproximação até Aragorn falar com ele.

– Não pode culpá-lo, meu caro. Ele é um rei sem uma rainha e a beleza dela chama a atenção de qualquer um. Além do mais, ele não sabe do envolvimento de vocês.

– Não existe nenhum envolvimento entre nós dois.

– Não foi o que a Arwen me disse.

– O que Arwen pode saber sobre isso?

– Assim como percebemos que você está apaixonado por ela, Arwen viu que a princesa está apaixonada por você. Isso significa que Elrohir e Berethor não se enganaram... Se estiver seguro dos seus sentimentos, então não perca mais tempo.

Legolas olhou para Kyara sentada ao lado de Éomer conversando animadamente. Algo naquela conversa incomodava o elfo, que se contorcia de ciúmes. Ela se mostrava receptiva ao cavalheiro que não se dava ao trabalho de disfarçar sua admiração. Num dado momento os olhares de Legolas e Kyara se cruzaram e ela admirou-se com a beleza do elfo, vestido com uma túnica azul anil, bordada com fios prateados. A cor da túnica acentuava ainda mais a cor dos olhos dele e o cabelo loiro, sempre trançado,  deixava o rosto reluzente.

O jantar foi servido e Kyara fez uma brincadeira com Legolas, que deveria estar agradecendo aos Valar, porque naquela noite não comeria lembas e nem coelhos. Ao final, ficaram degustando um pouco mais de vinho junto à lareira.

Éomer conversava amenidades com Kyara todo o tempo, fazendo questão de mostrar-se admirado com seus feitos. Ele elogiava as habilidades dela, revelando que as mulheres de Rohan também aprenderam a lutar com espadas. Falou ainda de sua irmã Éowyn, casada com o senhor Faramir, que lutou contra o comandante do exército de Sauron na batalha de Pelennor. Não bastando lhe fez um convite para visitar seu reino.

Ela admirou-se por saber que as mulheres de Rohan eram habilidosas e destemidas, aguçando sua curiosidade sobre as coisas que o homem lhe dizia. Legolas já não conseguia manter sua impassibilidade élfica deixando-se notar que estava furioso com as investidas do rei e mais ainda por ver Kyara completamente envolvida com a conversa.

Éomer era direto e firme com as palavras e sua postura não lhe negava a imagem de bravura e liderança, nem sua beleza bruta. Entretanto, sabia ser gentil e galante quando lhe convinha e naquele momento procurava cativar ao máximo sua companhia, ao ponto de monopolizar a atenção da princesa.

Arwen assistia tudo calada até resolver intervir.

– Cavalheiros! Hoje seremos agraciados com música. A princesa Kyara atendeu a um pedido meu e cantará para nós.

A rainha pediu para um dos criados trazer uma harpa e prepararam uma cadeira perto da lareira para que ela se acomodasse. Kyara apoiou o instrumento no ombro e aprumou-se, dedilhando, com muita destreza, o grande instrumento, deixando correr os dedos entre as cordas de uma ponta a outra, chamando a atenção de todos para si. Ela soltou à voz num canto agudo, penetrante, que tomou de assalto os ouvidos e os corações dos que estavam presente, enredando-os como um encantamento.

Se, aos olhos de todos, ela entrou naquele salão como uma das visões mais belas e agradáveis, agora ouvindo a graciosidade do seu canto, Kyara pareceu quase celestial. Iluminada pela luz da lareira, o brilho dos seus cabelos e do seu vestido a deixaram com uma imagem divina e radiante, como os espíritos bons que caminhavam pela terra antes da chegada dos primogênitos de Ilúvatar.

Quando acabou, todos aplaudiram e ela sorriu.

Breve e intensa foi à troca de olhares entre Legolas e Kyara, que tinham seus corações aquecidos pela alegria do momento, mas Éomer também a admirava, com o coração aquecido pela descoberta daquela mulher surpreendente e a desejou mais que qualquer outra coisa na vida.

O rei de Rohan decidiu, então, conquistá-la custasse o que custasse¹.

Todos ficaram um bom tempo ouvindo canções, degustando vinho e a paz reinou no tempo que permaneceram ali. A figura do bruxo e as preocupações com a guerra foram esquecidas. Com o adiantar das horas, aos poucos, os convidados foram se recolhendo e a música cessou quando Kyara resolveu acompanhar Gimli e também se recolheu para seus aposentos.

Logo que saíram Éomer foi até a varanda conversar com Legolas.

– Sei que está encantado com a princesa, mas vou avisando que não é o único... Declarou Éomer.

– Do que está falando?

– Não se faça de desentendido, meu caro... Também não pense com isso que o veja como um inimigo. Apenas seremos adversários nesta questão.

– Imagino que se refira à princesa Kyara... Ela não é um troféu. E eu exijo que a respeite... Legolas falou com firmeza denotando sua indignação.

– É evidente que a respeitarei, sempre. Ela é maravilhosa, única e jamais faria algo que a magoasse. Prepare-se porque não vou medir esforços para conquistá-la.

– Não seja tolo, Éomer. Ela retornará para sua gente logo que recuperarmos a pedra. O que o faz pensar que ela ficará?

– O amor, meu caro! Que explicação pode dar para esse sentimento? Ela me enfeitiçou e eu não desistirei facilmente... Considere-se avisado, Legolas. Boa noite!

Legolas permaneceu na varanda, pensativo, preocupado com os rumos da conversa com Éomer. Não queria transformar numa disputa amorosa seu relacionamento com Kyara. No entanto, precisaria ter muita cautela para lidar com a situação, porque conhecia o rei de Rohan o suficiente para levar muito a sério as intenções dele, e isso o irritava... – Nossa amizade estará ameaçada, porque, assim como ele, eu não serei um mero expectador.

Legolas desceu as escadas, que levavam ao jardim e sentou em um banco. Começava a ventar mais forte, com os trovões e relâmpagos não dando trégua. Logo a chuva cairia.

Um pouco depois chegou Kyara caminhando até a fonte, sem perceber a presença dele.

– Também está sem sono?

Ela procurou por Legolas no escuro até vê-lo se aproximando.

– Queria ficar um pouco sozinha aqui no jardim antes da chuva cair.

– Se preferir, eu me retiro.

– Não! Fique... Já estava tão acostumada a nossa rotina durante a viagem que fiquei perdida no quarto para me arrumar. Sinto-me... estranha.

– Eu também fico meio desorientado. Amanhã você se sentirá mais ambientada... O que achou?

– Sobre o quê?

– Sobre tudo.

– Ah! O que posso dizer?... Eu simplesmente estou encantada. Surpreendi-me com Glorfindel. Das histórias que me contou eu o imaginei sombrio, entristecido, talvez até um pouco envelhecido, mesmo sendo um elfo e, no entanto, me deparo com um homem vigoroso tão belo e altivo quanto você. Mestre Gimli é exatamente como o imaginei, mas é muito bem-humorado e não sei por que você o chama de rabugento... E os dois sorriram... – Fiquei admirada também com Aragorn ser tão parecido com meu irmão, digo não só fisicamente, mas o temperamento sempre ponderado. Ele me passa uma segurança muito grande... Você não me disse que os irmãos da rainha são gêmeos. Fiquei preocupada quando você me apresentou a Elrohir. Vocês elfos tem um jeito de olhar para as pessoas que parecem ler nossos pensamentos.

– Quando os dois irmãos estão sérios ficam com um semblante um tanto severo, realmente. Mas, são tão gentis e amistosos quanto à irmã... E mais uma vez os dois riram juntos.

– E belos também... São elfos, não é?... A Arwen é realmente maravilhosa. Tão doce e gentil... Ela faz questão de nos deixar a vontade. Sinto como se ela fosse minha irmã, ou fôssemos amigas há muito tempo.

– Todos que você conheceu ocupam posições muito importantes na Terra Média, principalmente Aragorn e Arwen. No entanto, convivem com as pessoas com muita humildade e generosidade.

Legolas viu Kyara desviar os olhos dos dele concordando com a cabeça encerrando o assunto. Mas, ainda lhe faltava saber sobre mais uma pessoa e, não querendo dar margem a qualquer tipo de conjectura, resolveu ir direto ao assunto que o incomodava tanto.

– Você se esqueceu de comentar sobre seu acompanhante no jantar.

– Quem?... O rei de Rohan?

– E tinha outro? Vi vocês conversando todo o tempo. Você somente deu atenção a ele no jantar.

– Verdade? Eu... Não notei isso. Que indelicadeza a minha... Espero que os outros não tenham percebido... Você se aborreceu por causa disso?... Kyara tinha um tom sereno na voz, admirada com o aborrecimento de Legolas.

– Eu não estou aborrecido. Foi apenas uma observação percebida por todos.

– Legolas, assim você me deixa constrangida. Eu... Ele foi... gentil comigo contando um pouco sobre as mulheres do seu povo, apenas isso. Não é o que parece.

– E o que está lhe parecendo?

– Que você está insinuando que estávamos envolvidos em algum tipo de galanteio. Ele não estava me cortejando... E se tinha essa intenção perdeu o tempo dele porque não vim para a Terra Média à procura de romance. Você sabe disso... Kyara deu alguns passos preocupada com o que poderiam estar pensando do seu comportamento com Éomer e mais ainda o que o rei de Rohan poderia pensar... – Preciso me desculpar com nossos anfitriões e esclarecer essa situação com Éomer. Não quero que pense que estava aceitando seus galanteios, se de fato o fez e eu não percebi.

Os dois se calaram um instante. Um silêncio incômodo pairava entre eles.

– Não precisa se dar ao trabalho de se desculpar.

– Não? Talvez devesse pedir desculpas a você, então, já que se incomodou tanto.

– Engano seu. Apenas notei que vocês despertaram um interesse por algo que não foi compartilhado com os demais. Eu estranhei e fiquei pensando que assunto seria esse.

Kyara notou mágoa disfarçada na voz do elfo, que encontrava dificuldade para esconder seu ciúme. Ela caminhou até ele com um sorriso maroto no rosto.

– Se eu não o conhecesse diria que está com ciúmes.

Kyara brincou com Legolas querendo aliviar a tensão entre os dois. O que não lhe ocorreu foi acertar em cheio o que tanto incomodava o elfo. Ele não retrucou encarando-a com o semblante fechado.

Perceber o ciúme de Legolas a encheu de uma expectativa pretensiosa ao imaginar que aquele homem pudesse de fato amá-la. Esse pensamento doeu em seu coração, porque não poderia ficar. E a melancolia a dominou.

– Acho que terei muita dificuldade para partir depois que alcançarmos nosso objetivo. Fui tão bem recebida e sinto tanta afinidade com tudo que me cerca e com todos... Dizendo isso ela suspirou.

Legolas preocupou-se com a reação da Kyara e pensou se aquele suspiro e suas palavras não eram para Éomer e seus galanteios.

– Eles também gostaram muito de conhecê-la. Ficaram admirados com suas proezas e suas qualidades.

– Ficaram?

– Você tinha dúvidas quanto a isso?... De repente são apresentados a uma mulher belíssima, vestida como um caçador, portando uma espada fazendo com que o melhor dos guerreiros parecesse um mero aprendiz. Depois se deparam com a mais bela das princesas, cuja beleza é maior que a própria Lúthien, com uma voz capaz de cativar a fera mais terrível da face da terra... como um encantamento.

Kyara sorriu... – Quem é Lúthien?

– Lúthien foi a filha do primeiro rei élfico do povo Sindar, Thingol Capa Cinzenta. Meu ancestral. Ela foi a criação mais bela de Ilúvatar. Eles viveram na Primeira Era da terra quando o sol e a lua foram criados. A história dela é uma das mais belas canções do meu povo, porque conta a história de amor entre essa elfa e um mortal.

– Gostaria de ouvi-la um dia, mas não acha que é um exagero me comparar a Lúthien, com uma beleza tão extraordinária assim e todas as outras coisas que disse?

– O que digo é a mais pura verdade. Não tenho culpa se você é como é.

Kyara o observava sorridente atenta às suas explicações, aliviada por perceber que ele já não aparentava tanto aborrecimento.

– Nossas vidas nunca mais serão as mesmas, não é?

Legolas a fitou. Em seu semblante uma áurea de mistério se formou.

– Não!... Nunca mais.

Os dois não despregavam os olhos um do outro e uma rajada de vento espalhou os cabelos da Kyara. Num impulso Legolas começou a ajeitá-los e ela fechou os olhos. Sua consciência pedia para sair dali, mas simplesmente não conseguia se mexer. Temia por sua partida se tivesse a certeza do amor entre os dois. No entanto, jamais na sua vida experimentou tamanho anseio por essa descoberta, principalmente sendo Legolas o homem envolvido.

Legolas esqueceu-se do seu ciúme e levantou o rosto dela o acariciando e veio na lembrança dela as palavras da rainha. Criando coragem, ela abriu os olhos, tentando enxergar além daquele azul e o amor que sentiam um pelo outro ficou evidente para os dois.

A ventania que espalhava as folhas e remexia com todo o jardim parecia causar o mesmo efeito neles. A sensação que sentiram na caverna, quando se viram frente a frente pela primeira vez, repetiu-se, porém muito mais violenta.

Ele admirou todos os detalhes do rosto dela e acariciou seus cabelos, afundando-se neles para sentir o perfume suave. Kyara já não tinha mais controle sobre si, consciente apenas do calor da respiração dele em seu pescoço. Não querendo mais refrear seu desejo, Legolas beijou os lábios dela num toque suave. Ela sussurrou o nome de Legolas com os lábios dele ainda tocando os dela, e Kyara os abriu querendo mais, pedindo mais e explodiram num beijo faminto, intenso, com a paixão que sentiam e que era inevitável.

Os dois estavam completamente alheios ao vendaval entregues aquele momento fazendo desaparecer qualquer dúvida que poderia existir sobre o amor que tinham um pelo outro.

Já sem fôlego, Legolas apertou o corpo da Kyara junto ao seu enquanto a acariciava e beijava o pescoço dela, que se agarrou a ele, jogando a cabeça para trás, querendo um pouco mais daquele contato. Suas bocas se procuraram mais uma vez para mais um beijo que parecia não ter fim.

Legolas a fez olhar nos seus olhos disposto a pagar o preço que fosse pelo seu amor.

– Amin mella lle!... Eu te amo!... Sussurrou ele... – Eu te amo, com toda a força do meu ser. Permita-me ser sua luz, seu abrigo, Kyara. Diga que partilhará comigo o amor que sentimos um pelo outro, porque nós não podemos mais calar esse sentimento.

O rosto dele reluzia e sem esperar por uma resposta a beijou novamente, profundo, apaixonado.  Ela se abandonou naquele beijo, sem impedir que as lágrimas corressem silenciosas e sofridas. Ao contemplá-la mais uma vez, Legolas percebeu que ela chorava.

– Por que chora?... O nosso amor é verdadeiro e não pode haver dor ou dúvida com um sentimento tão grande assim tomando conta de nós dois, Kyara.

O olhar dela revelava seu amor e toda a tristeza contida em seu coração. Acariciando o rosto dele, ela falou emocionada.

– Você é a pessoa mais linda do mundo e meu coração jamais pertencerá a outro... Kyara descansou a cabeça no peito dele com o rosto lavado pelas lágrimas... – Disse que com você ao meu lado eu poderia enfrentar qualquer coisa sem medo. Agora vejo que é muito mais... Sem você, temo não conseguir passar os meus dias. E mesmo consciente dessa verdade não posso ficar... Nosso amor é proibido para mim, Legolas.

– Como algo tão maravilhoso pode ser proibido para alguém?

– Legolas, se antes me sentia obrigada a retornar pelo meu compromisso, agora, mais do que nunca tenho que voltar. Gahya espera pelo meu retorno para assumir o meu lugar como tutora da magia do meu povo. Ela precisa de mim... Eu cheguei a pensar em renunciar a tudo por nós dois e sofrer as consequências. Pensei que, se você estivesse ao meu lado, eu poderia enfrentar qualquer punição. Só precisava ter a certeza do amor que sentimos.

– Agora você já sabe. Eu sou capaz de qualquer coisa para que seja minha, para vivermos juntos.

– Não posso fazer isso. Esse destino já está traçado desde que nasci. Ela me alertou sobre o que poderia acontecer quando o encontrasse.

– Como assim?

Kyara fez menção de se afastar, mas Legolas a abraçou mais forte, impedindo-a.

– Olhe para mim e me conte... tudo.

– Eu sempre soube que o encontraria. Desde que te vi nas águas do Poço dos Ancestrais senti algo diferente, uma força que eu não saberia explicar com palavras. No entanto, ela me alertou que eu deveria resistir a qualquer coisa que me desviasse do meu destino... Falhei, miseravelmente. Nós dois caímos em uma armadilha e tudo conspirou para que nos aproximássemos. Foi inevitável que esse amor aflorasse.

– Não tem que aceitar isso, Kyara. Você mesma disse que teme não conseguir passar seus dias se nos separarmos. Ela não permitirá que sofra, porque é o que vai acontecer se você for embora.

Ele a abraçou forte mais uma vez temendo pela decisão dela.

– Kyara, eu imploro a você, por nós dois.

Ela retribuiu o abraço e o beijou, desesperadamente. Nesse momento a chuva caiu pesada e ela interrompeu o beijo.

– Isso está além da vontade dela, Legolas. Se os poderes de Gahya estiverem realmente enfraquecendo, Tiria pode não resistir caso eu não retorne. Eu não posso decepcioná-la... Sei que é difícil para você entender... Por favor! Eu preciso seguir meu caminho. Não posso ir contra meu destino.

– Nenhum medo ou incerteza pode impedir nossa felicidade. Isso se realmente você me amar.

Kyara tocou os lábios de Legolas com a ponta dos dedos e se retirou entristecida.

Os dois passaram a noite em claro, cada um em seu quarto vendo o mesmo cenário. As árvores balançando brutalmente, como se quisessem fugir daquele lugar com medo dos raios que cortavam o céu a todo instante.

Seus pensamentos eram abafados pelo barulho da chuva, que caía torrencialmente, castigando o solo. A noite parecia querer engoli-los e a tormenta lá fora se projetava para dentro dos seus corações, infinita e poderosa.

Eles não viam a luz e nem o amanhã, somente as sombras e a escuridão.


Notas Finais


(1) Importante informar que pedi ao mestre licença para retratar o Éomer solteiro na FIC. Como a história é passada cinco após a derrota de Sauron, creio que neste período o rei de Rohan já deveria estar casado.

Finalmente o beijo tão esperado aconteceu. Agora Kyara está realmente vivendo um impasse. Ela precisa tomar uma decisão muito difícil. Será que ela deixará Tiria perecer por amor ao Legolas? Ou ela sacrificará esse amor para salvar a magia do seu povo?

Queridos leitores, as coisas ficarão cada vez mais difícil para eles e emoção não faltará. Palavra de escoteiro.

Quero aproveitar para desejar a todos um Feliz Natal repleto de paz e as bençãos de Deus.

Sexta que vem tem mais.

Um beijão!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...