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História A Força do Amor - Luto


Escrita por: Indis_Imladris

Notas do Autor


Queridos leitores, mais um capítulo emocionante para vocês. Vamos ver o resultado de mais uma guerra sangrenta que os povos livres da Terra Média tiveram que enfrentar... Quem sabe poderá haver luz diante de tanta escuridão e dor.
Boa leitura, amigos!

Capítulo 27 - Luto


Um grito horripilante foi ouvido por toda a região e as criaturas, que resistiram à batalha até aquele momento, olharam atordoadas ao redor sentindo suas forças se exaurirem. Como foram criadas e trazidas das trevas pela maldade, agora pela mesma força eram arrastadas por gigantescas garras negras para as entranhas do mundo.

E tudo de cruel e terrível desapareceu diante de olhares espantados.

Souberam, então, que Legolas havia derrotado o bruxo e ergueram juntos suas espadas, lanças e machados em comemoração a vitória contra o mal. Com o tremor das montanhas, uma espessa fumaça surgiu evidenciando os desabamentos nas cavernas e todos no campo de batalha se perguntaram se alguém havia sobrevivido.

Thranduil, desesperado, correu seguido de Éomer, Gimli e Glorfindel. Procuraram pelas encostas até avistarem Aragorn e Kyara. Estavam cobertos de poeira e ela, trajando seu vestido improvisado com a capa de Legolas às costas, tinha os ferimentos abertos e sangrando.

De cabeça baixa se deixou cair no chão e pôs as mãos no rosto imundo em um pranto de pura dor. Aragorn se abaixou e a abraçou. Quando os homens se aproximaram ele se levantou e pediu a capa de Éomer para cobri-la.

– O que houve? Onde está Legolas?... Perguntou Thranduil com voz trêmula.

Aragorn não teve coragem de dizer o que havia acontecido e abaixou a cabeça ainda chocado com a morte do amigo. Thranduil estatelou. Não bastasse ter sido privado dos pais ainda muito jovem e da sua amada esposa, agora perdia seu único filho e herdeiro do seu reinado.

– Legolas, não!

Gritou Thranduil em desespero querendo seguir para a entrada da caverna. Glorfindel o segurou forte, impedindo-o.

– Deixe-me! Preciso ir até lá... Forçou o rei tentando se desvencilhar.

– E fazer o quê? Acabará soterrado se houver novos desabamentos.

Disse Glorfindel taxativo, forçando o rei a ficar. Ele não queria aceitar a morte do filho e atordoado, prostrou-se.

– Eu... Preciso resgatar seu corpo, então.

– Não haverá corpo para ser resgatado, Thranduil.

Disse Aragorn fitando o chão entregue a sua tristeza.

– Ele já está enterrado debaixo de toneladas de pedra.

O silêncio pesou no ar.

Aragorn e Gimli não queriam acreditar que o amigo, tão querido como um irmão, companheiro de tantas aventuras e batalhas, teria tombado e estaria a caminho dos salões de Mandos. E a imagem da Kyara torturada e destruída pelo sofrimento enchia de lamento o coração de quem a contemplasse por ainda ter que amargar a perda do seu amor.

– Você tinha que ter me deixado lá para morrer com ele.

Disse ela para Aragorn com um fiapo de voz.

– Agora, o que restou de mim?

Ninguém se atreveu a responder.

– Eu lhes digo: nada! Não sou nada mais do que a dolorosa lembrança de um amor destruído.

Ela fitou os que estavam a sua frente e seu semblante apagou-se em lágrimas veladas, perdendo a cor e o brilho. Nada mais daquela guerreira destemida e impetuosa restara. Como ela mesma havia pronunciado, Kyara era apenas uma lembrança da sua beleza e vigor.

Glorfindel a ergueu e desceu a montanha carregando-a no colo, seguido dos demais. Em meio à destruição do vale, dos corpos caídos dos bravos soldados misturados aos Orcs, a comemoração, que antes encheu de alegria todos que se mantiveram de pé, agora dava lugar ao silêncio pesaroso e triste.

Os Orcs, aos poucos, foram amontoados e incinerados e covas começaram a serem abertas para o enterro dos soldados abatidos. Um grande lamento foi entoado pelos elfos em homenagem aos combatentes dessa guerra e os nomes de Thored, Éothain e Hadan foram lembrados.

Os anões ergueram o corpo de Hung e o levaram para as margens do rio, a passos lentos, entoando um canto fúnebre com suas vozes graves, como uma procissão solene, alheios a todos que os observavam e ninguém ousou detê-los.

Por último, Thranduil cantou uma canção sobre um guerreiro belo e iluminado aos olhos do mundo pelo seu destemor e seu coração generoso. Desde criança queria ir para as batalhas na companhia do pai. Forte, ele cresceu tornando-se um gigante diante dos inimigos e um herói para o seu povo e para todos aqueles que dessem ouvidos à sua história. A música fluía de um coração sangrando e sua melodia melancólica pesou no ar já carregado de tanta tristeza.

Ao final da canção o rei chorou.

Aragorn recebeu com alegria contida Haldir, seu amigo dos tempos da Sociedade do Anel e Narthan, elfo Sindar, capitão de Eryn Lasgalen. Tiveram uma breve conversa sobre como haviam sido avisados da batalha, revelando que os filhos de Elrond enviaram em segredo um mensageiro pedindo reforços. Aragorn reconheceu que foi providencial a atitude dos cunhados e foram socorridos num momento crucial.

Pesaroso, Haldir manifestou suas condolências a Aragorn e Narthan repetiu o gesto sem muita força nas palavras porque não somente havia perdido seu comandante e o príncipe tão amado pelo seu povo, mas também seu amigo desde a infância. Ao se dirigir para seu rei, Aragorn o deteve, retribuindo o cumprimento com um forte abraço, porque os dois, acima de tudo, haviam perdido um irmão.

Éomer e Imrahil também foram prestar solidariedade pela perda do amigo a Aragorn, mas Éomer sofria, também, pelo estado da Kyara.

– Aragorn! Coloco-me a disposição para o que for preciso, mas venho lhe pedir que diga a Kyara o quanto estou consternado com sua dor e com tudo o que aconteceu.

– Diga você mesmo, meu amigo. Seu gesto não será mal interpretado. Isso lhe garanto... Disse Aragorn.

– Sei que não, mas devo lhe ser sincero. Não o faço porque me corta o coração ver a imagem dela ferida, seu semblante perdido e olhar apagado. Meus sentimentos por ela me fazem desejar segurá-la em meus braços para tentar consolá-la. Contudo, sei que jamais terei minha vontade atendida... Aragorn nada respondeu e Éomer suspirou... – Transmita meus sentimentos, por favor!... E dizendo isso se retirou.

Elladan e Elrohir se juntaram a Aragorn.

– Sabia que um sofrimento muito grande acompanhava a história dos dois, mas alimentei a esperança de que no fim tudo terminaria bem... Disse Elladan.

– A perda é uma dor que faz parte da vida, mas como aliviar o fardo desse sofrimento para aqueles que perdem seus entes queridos?... Questionou-se Elrohir.

Glorfindel se juntou a eles com Berethor... – Aragorn! Tire-a daqui. Volte para o acampamento com ela e trate dos seus ferimentos... Disse Glorfindel.

– Ela não pode ficar aqui desse jeito, coberta apenas por uma capa ferida como está... Manifestou-se Berethor.

– Vocês podem cuidar de tudo por aqui enquanto eu a levo?

– Claro que sim. Não há muito mais o que fazer. Os corpos estão quase todos enterrados e os feridos já recebem atendimento. Vamos começar a transportá-los para o acampamento... Disse Elladan.

– Gostaria que Thranduil nos acompanhasse. No acampamento poderá se recompor... Aragorn se preocupava com o rei.

– Fale com ele e leve-o daqui, também... Completou Glorfindel... – Foi um golpe muito duro para todos nós, mas esses dois, em particular, devem estar carregando o peso do mundo nas costas.

Diante de Thranduil, Aragorn tentou manter firmeza nas palavras ao pedir que o acompanhasse ao acampamento para descansar e se refazer. Mas o rei ainda tinha obrigações para com seus comandados.

– Não vou abandonar meus soldados, enquanto cumprem o ritual de sepultamento daqueles que agora estão nos salões de Mandos.

Respondeu o rei e perdeu-se no vazio por um instante divagando pesaroso.

– Sequer me foi dado o direito de enterrar o corpo dele... E virou-se para Aragorn... – Sei que também está muito abalado com a morte de Legolas, mas o que aconteceu, afinal? E aquela moça ferida como está.

– Posso relatar o que ocorreu com a morte do bruxo. Todo o resto somente Kyara poderá lhe contar.

– Presumo que pretenda levá-la para Gondor.

– Sim. Depois que a pedra se perdeu com a morte de Legolas, não sei como fará para retornar aos seus. E agora não está em condições de tomar qualquer decisão. Em Gondor estará entre amigos e poderemos cuidar dos seus ferimentos... Venha conosco, Thranduil. Tudo já está acabado por aqui. Vamos montar acampamento e dar descanso aos nossos soldados. Lá poderemos cuidar das nossas próprias feridas e conversar melhor.

O rei élfico, por fim, concordou.

Kyara permanecia recostada nas pedras como um bicho acuado. Ninguém imaginava o tamanho da dor que ela sentia. A movimentação ao seu redor não passava de vultos e reflexos. Sabia que respirava, mas não conseguia ter a consciência de todos os seus sentidos. Ela olhava para as mãos caídas no seu colo, tocava a ponta dos dedos e nada sentia. Não ouvia. Não enxergava com nitidez. Até mesmo as ondas de dor que a afligiam com o pensamento em Legolas já não existiam, como se tivesse se afogado e via sua vida se perder no vazio submerso de uma agonia sem fim. Estava morrendo... Não o desligamento do espírito com o corpo, mas a morte do sentido da vida.

Sua vida se resumia, agora, a solavancos estranhos, que interferiam no silêncio submerso desse vazio, mas não o suficiente para trazê-la de volta a superfície. Aragorn a levou montado em Athos, seguido do rei élfico e sua tropa. Já no acampamento, os dois governantes conversavam sobre todos os acontecimentos e a tragédia que os abateu.

– Será que nunca teremos descanso? Desde o surgimento do sol e da lua sobre essa terra que vivemos numa eterna tensão esperando pelo ataque do inimigo. Sempre com o mal cercando à nossa porta... Desabafou Thranduil.

– Por vezes me faço essa pergunta... Tanto já foi perdido. Tantos feitos heroicos... Se Legolas não tivesse alcançado a pedra agora teríamos perecido. Ele nos salvou.

Concluiu Aragorn sentindo um gosto amargo na garganta e o coração apertado. Era difícil acreditar que Legolas havia partido.

– Acaso sabe há quanto tempo estavam casados?

– Logo que chegaram a Gondor percebemos que estavam apaixonados, mas somente nos foi revelada a união dos dois às vésperas da partida para a guerra... Aragorn suspirou... – Posso dizer que tudo aconteceu em Gondor.

Aragorn percebeu que algo inquietava o rei élfico.

– O que se passa na sua cabeça, majestade?

– Um pensamento infundado, provavelmente... Agora que está abrigada e já recebeu atendimento gostaria de vê-la... Não a importunarei. Tem minha palavra.

Ao chegarem à tenda da Kyara a encontraram deitada com os olhos contemplando o vazio. Sua aparência abatida assustava. Nada indicava que ainda estava viva.

Thranduil a fitou consternado.

– O pouco que vi na batalha me obriga a reconhecer que essa moça é especial... É estranho a forma como ela toca meu coração, como se fosse minha filha a sofrer... Seu estado me mostra que seu amor é profundo. Para Legolas tomar a decisão de se casar como o fez, só poderia ser um amor arrebatador.

– E foi. Posso lhe garantir.

– Não se espante com minha pergunta, mas... não lhe ocorreu que ela possa estar grávida?

Aragorn aprumou-se olhando fixamente para o rei a sua frente.

– Ela é uma edain e sabe que a gravidez com as mulheres da sua raça ocorre com mais frequência... Se essa moça concebeu, não poderei permitir que meu neto viva longe do seu povo.

– Isso é uma questão muito séria para ser discutida agora, Thranduil. Kyara tem a sua gente, o seu reino e eles também serão o povo do seu neto. Isso se realmente estiver grávida... Retrucou Aragorn... – Vamos nos manter calmos e dar um passo de cada vez.

O rei tinha consciência da precipitação dos seus pensamentos, mas, em seu íntimo, queria se agarrar a qualquer esperança vã que o acalentasse. Concordando com Aragorn, se dirigiu a Kyara abaixando-se diante dela. Kyara estava alheia à pessoa ao seu lado e o rei segurou sua mão. Com o toque ela virou o rosto para encará-lo.

Uma reação aconteceu tirando-a da inércia.

Para ela foi como se algo, uma força inesperada a puxasse das profundezas em que estava e ela tocou o rosto do rei sussurrando o nome de Legolas. E sorriu. Ergueu-se o abraçando e o rei retribuiu o abraço.

– Eu cuidarei de você, criança. Não está sozinha.

As palavras do rei a fizeram olhar para ele mais uma vez e o rei viu o sorriso dela se apagar. Não era seu amado e lágrimas correram silenciosas. A complacência do rei diante do gesto cheio de significado da moça não foi suficiente para aplacar sua dor. Os dois eram solidários no mesmo sofrimento.

– Deixe-me levá-la para meu reino, Aragorn. Estamos às portas de Eryn Lasgalen. Lá ela terá mais do que remédios para se curar das torturas que sofrera. Sabe que seu retorno para Gondor será longo e fatigante. Ferida como está, precisa de muito repouso e cuidados urgentes... Deixe-me pelo menos cuidar dessa que é minha nora... E se o destino tiver nos agraciado com a chegada de uma criança, ela será um bálsamo para nosso sofrimento. Quem sabe ela resolva ficar.

Um tremor tomou conta da Kyara. Suas feridas queimaram como fogo com as palavras do rei.

– Não! Não!... Subitamente gritou Kyara.

– O que houve? Por que seu desespero?

Disse o rei acudindo-a com Aragorn abaixando ao seu lado.

– Ninguém a forçará a nada, Kyara. Se não quer seguir com seu sogro para Eryn Lasgalen, então você não irá... Pronunciou-se Aragorn tentando acalmá-la.

Kyara, com uma das mãos pressionando o ventre, agarrou a túnica do rei élfico, com os olhos arregalados expressando todo seu desespero ao relevar o que poderia ter sido a pior das notícias.

– Não posso gerar esse filho. Se o nosso amor rendeu fruto agora está perdido... O que vou gerar não será uma criança, mas um demônio.

– O que você está dizendo?... Perguntou o rei horrorizado.

– Meu ventre agora está marcado com a maldição do bruxo e não poderei gerar nada que não seja das trevas... Eu rogo para que me matem se realmente o tempo me confirmar essa gravidez... Eu imploro.

Kyara pedia repetidamente que dessem fim a sua vida. Aragorn tentou consolá-la e com muito custo ela se aquietou novamente.

– Que outra tragédia ainda nos será acometida?... Perguntou-se Thranduil assustado com as revelações da Kyara.

– Esse bruxo foi capaz de destruir vidas de uma forma mais cruel que a guerra pôde fazê-lo... Concluiu Aragorn.

Os dois reis afastaram-se pensativos com a situação em que se encontrava Kyara.

De repente ela se levantou.

Procurou algo em volta e parou diante do rei élfico com olhos arregalados, assustados. Olhou para a saída da tenda e sussurrou o nome de Legolas. Enlouquecida, vasculhou aos gritos cada canto do acampamento chamando por Legolas, assustando todos que a viam. Parecia uma louca descabelada, vestida com um camisolão branco e faixas pelos braços e pernas, com um semblante pálido, cadavérico.

Aragorn foi atrás dela e a segurou.

– Kyara o que está acontecendo? Ele não está aqui.

– Não, Aragorn. Eu consigo ouvir sua voz me chamando. Ele está aqui sim, eu o ouço.

Aragorn suspirou entristecido, imaginando que ela estivesse delirando e olhou para Thranduil, que abaixou a cabeça pensando a mesma coisa.

– Kyara, pense! Sei que o que vou dizer a fará sofrer ainda mais, mas você precisa se lembrar do momento em que aquele salão desabou. Você o viu ser soterrado... Aragorn a abraçou sentenciando... – Ninguém sobreviveria aquilo. Ele está morto!

Kyara o olhou com horror e grossas lágrimas rolaram pela sua face. Sem querer acreditar, ela sacudia a cabeça em negação à triste realidade que acabara de ouvir. Ela se desvencilhou de Aragorn com um solavanco e olhou em volta perdida sem saber por onde seguir. Tantos rostos desconhecidos a observavam e tudo rodou a sua volta como um terrível pesadelo. Kyara desmaiou. Aragorn a recolheu e a levou para sua tenda, permanecendo lá pelo restante do dia.

Ao final da tarde os comandantes reuniram-se na tenda do rei de Gondor. Tratavam da retirada das tropas e dos feridos, que ocorreria em poucos dias. Inesperadamente, uma sentinela invadiu o recinto anunciando a fuga da princesa de sua tenda. Aragorn correu para acudi-la encontrando-a entre os cavalos das tropas. Logo que chegou acompanhado do rei élfico, Kyara passou montada em seu cavalo. Sem perder tempo Aragorn foi atrás dela, seguido por Thranduil.


Notas Finais


Ai, meu Deus do Céu! E agora? Será que ela está grávida, mesmo? Para onde ela foi? O que está acontecendo?... Acabo de roer uma unha. Odeio fazer isso, mas foi inevitável.
Queridos! Acho até desnecessário dizer que o próximo capítulo será bombástico.
Fiquem atentos!


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