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História A Força do Amor - Uma Enviada dos Valar


Escrita por: Indis_Imladris

Notas do Autor


Como vão, caríssimos? Bem, espero!
Então, estão preparados para as próximas emoções? Espero que sim, porque hoje mesmo a coisa começa a complicar.
Boa leitura!

Capítulo 34 - Uma Enviada dos Valar


No outono os dias ficavam mais escuros, e uma chuva insistente, que caiu sem cessar por vinte dias, alagou os campos e prejudicou as plantações. Um problema corriqueiro para quem conhecia as variações climáticas da região, mas o que causou estranheza na Kyara foi à dificuldade dos elfos em conseguir suprimentos nas regiões vizinhas.

Sem contar a constante preocupação de Legolas e do rei com a segurança do reino, ao ponto de se tornar proibida a saída para a floresta, que somente poderia acontecer em grupos, nos casos de extrema necessidade e com escolta. Todas as vezes que Kyara tentava saber com Legolas o que se passava ele respondia com meias palavras e desconversava.

Ciente da proibição do rei e da necessidade de ajudar com as provisões do reino, que começavam a faltar, Kyara resolveu arriscar uma saída furtiva, esperando retornar sem ser notada. Então, ela caminhou pela passagem nos fundos do castelo, que levavam ao alojamento das tropas e a estribaria e pegou seu cavalo alegando as sentinelas que acompanharia um grupo a Cidade do Lago.

Ela colocou uma capa cinza de Legolas e esperou os portões serem abertos para um grupo de elfos que iria escoltado à Cidade do Lago como ela havia dito. Misturou-se ao grupo e num determinado trecho do caminho ficou para trás, embrenhando-se pela mata.

A floresta estava coberta por um denso nevoeiro, substituindo o verde pelo cinza, deixando-a mais assustadora. O céu carregado de nuvens negras denunciava que muita chuva estava por vir. Kyara cavalgou pela mata sentindo um sopro de ar e ouviu o barulho do vento, mas seu som era triste.

A floresta sofria novamente.

Chegando a uma clareira, ela desmontou, retirou a capa e as botas, caminhando descalça pela terra vermelha e molhada. Lentamente começou seu ritual de encantamento e logo um assovio fino pôde ser ouvido. O vestido verde grama contrastava com o cinza da paisagem e, pouco a pouco, seu corpo foi tomado por uma luz azulada.

As nuvens do céu começaram a se dissipar e os raios do sol penetraram fortes entre as árvores, levando embora o nevoeiro. Os pássaros saíram de seus ninhos para fazer coro com a Kyara. Um falcão peregrino pousou em uma das árvores atraído pelo encantamento. Flores brotaram por toda parte perfumando o ar e a melodia suave percorreu os quatro cantos da floresta.

No reino élfico, os alagadiços do campo secaram e as sementes brotaram do chão com uma rapidez nunca antes vista. Os jardins ficaram ainda mais floridos e perfumados e o seu canteiro de ervas triplicou de tamanho. Os elfos ouviam aquele som misterioso e viam os efeitos que ele provocava, mas não entendiam como seria possível, compreendendo apenas que se tratava de grande poder.

A magia dela levou prosperidade novamente a todos os lugares, até mesmo na Cidade do Lago e em Valle. Conhecendo aquela magia como ninguém, Legolas viu a prosperidade da floresta se restabelecer e soube que Kyara estava fazendo seu encantamento mais uma vez, deixando-o preocupado.

Enquanto se movimentava com sua dança suave, Kyara notou que outro ser inesperado a observava em silêncio no meio da mata. Uma criatura negra de tamanho avantajado e olhos brilhantes a analisava, talvez enfeitiçados por ela. Ainda que naquele momento não oferecesse qualquer perigo, sua figura era assustadora escondida nas sombras.

No alto de uma pequena elevação da floresta uma patrulha do reino a flagrou e, admirados com sua beleza e encantamento, viram ao redor como a floresta reagia a sua música e a sua dança. Ela se movia suavemente, rodopiando com seus cabelos soltos e seu vestido esvoaçante e a luz que a envolvia tornou-se tão intensa que não se podia olhar diretamente para ela.

Acompanhando a patrulha estava o rei observando tudo impassível.

- Majestade! Um pequeno grupo de Orcs aproxima-se rapidamente e está indo de encontro com a princesa... Alertou Narthan.

- Preparem os arqueiros. Vamos aguardar em silêncio.

O capitão preocupou-se com as ordens do rei sabendo do perigo que ela correria, mas, as cumpriu sem questioná-las.

Não demorou muito e um grupo com quinze Orcs se aproximou dela, que de imediato parou seu encantamento e assoviou para seu cavalo. Retirou da sela sua espada e sua adaga e posicionou-se no meio da clareira, aguardando o movimento dos seus inimigos. O rei ordenou que todos ficassem a postos e aguardassem o seu sinal.

Kyara não esboçava qualquer reação segurando firmemente sua espada, com a ponta fincada no chão.

E os Orcs partiram para o ataque aos berros.

Ela ergueu Tellas no ar, bloqueando o golpe da primeira espada que a alcançou, e com um movimento rápido a prendeu no chão, degolando a garganta da criatura Orc com sua adaga. Um após o outro foram caindo. Cabeças e vísceras foram espalhadas pela clareira e em poucos minutos o grupo foi abatido. Dois haviam sobrado, mas estavam assustados demais para enfrentá-la.

Ao darem às costas para fugir, Kyara lançou sua adaga atingindo um deles, e deixou que o outro escapasse. O Orc ainda tentou se levantar, mas ela já o havia alcançado e sem piedade cortou-lhe a cabeça. O rei e seus guerreiros assistiram tudo num completo silêncio.

Com um meio sorriso e um olhar enigmático, o rei voltou-se para seu capitão.

- Vamos descer.

Estendendo seu braço, o falcão, que assistiu tudo sem tomar parte, logo voou para ela. Mas Kyara estava mesmo curiosa com a criatura negra escondida entre as árvores, que, com seus olhos astutos observou-a todo o tempo sem se mover.

De repente Kyara ouviu um som de cascos de cavalo se aproximando, abafado pelas folhas e a fera correu mata adentro. A distância ela avistou uma patrulha do reino acompanhada do rei, que, por sinal, não estava com cara para conversas. Ela suspirou profundamente vendo que havia sido descoberta, então esperou pela chegada deles apreensiva com o que poderia acontecer.

Kyara fez uma longa reverência com o falcão pousado em seu braço.

- Majestade!

- Imagino que sua saída para a floresta deva ter sido algo de extrema necessidade.

- Perdoe-me, senhor, por ter desobedecido às suas ordens. Devido ao estado das nossas plantações e a dificuldade para adquirirmos suprimentos, vim para a floresta planejando usar minha magia para ajudar nosso povo.

- Suas intenções são nobres, mas da próxima vez me permita resolver os problemas do meu reino. No momento a floresta está muito mais perigosa, e não permitirei que venha aqui seja para o que for. Não quero vê-la cortejando a morte como acabou de fazer. Sua imprudência poderia ter lhe custado à vida... Monte e nos acompanhe.

Ela obedeceu à ordem do rei, calçou suas botas e montou. Reparou que seu estado era deplorável, com o vestido enlameado e respingado de sangue negro. Mais uma vez suspirou, e resignada, cavalgou ao lado do sogro sem dizer palavra, pensando em tudo o que ele lhe disse e sentiu-se envergonhada. O rei não usou um tom severo, mas estranhamente se sentia mal pensando na ideia de vê-lo decepcionado com ela.

Chegando às portas da cidade, o falcão voou.

Logo o fato se espalhou e foi um comentário geral. Ela já imaginava que quando Legolas chegasse à noite teriam uma boa discussão.

Kyara estava trançando um tapete no jardim quando Legolas chegou à tarde. Veio antes do previsto preocupado com ela por causa da sua magia. Ele entrou no gabinete do pai e soube detalhes do que havia acontecido. Legolas relatou que sua patrulha havia enfrentado um contingente de cem Orcs no rio da floresta, a noroeste do reino, e que os tais Orcs vinham de um ataque a Cidade do Lago poucas horas antes. Doze dos seus guerreiros foram feridos, porém dois estavam em estado grave na casa de cura.

- O rio já não é mais seguro... Eu deveria ter seguido adiante para me encontrar com Narthan, mas vi o encantamento da Kyara e temi que ela estivesse em perigo na floresta.

- Foi uma surpresa vê-la naquela clareira. Agora só o que ouço são os comentários sobre o seu duelo com um grupo de Orcs e a magia que invadiu o reino e recuperou a colheita. O povo agora pensa que a história de Melian e Thingol se repetiu e você foi agraciado com o amor de uma Maia enviada de Varda. Eu digo que é uma Maia impetuosa demais.

Legolas riu... – Não deixa de ser um espírito de luz. Gilthoniel-nin¹!... Essa mulher teimosa. Estava demorando algo assim acontecer. Se ela não tomar jeito vou acabar acorrentando-a ao pé da cama.

- Vou fingir que não ouvi isso.

Disse Kyara da porta do gabinete. Os dois se surpreenderam com a presença dela.

- Já notou que seu braço está sangrando? Pretendia se encontrar com a patrulha de Narthan ferido?

- Esse ferimento não é nada. Precisava me encontrar com Narthan porque aqueles Orcs estão indo na direção dele. De qualquer forma eu não poderia seguir adiante depois do que vi na floresta. Sabia que você estava se arriscando.

- Foi por um bem maior. Se eu tivesse pedido permissão você teria concedido?

- Evidente que não, Kyara. Você não sabe da metade dos perigos dessa floresta e a gravidade da situação no momento. Como poderia permitir?

- Não sei por que você não me conta. Há tempos vem escondendo isso de mim.

- Claro que escondi. Sabia que iria se meter num assunto que não lhe diz respeito.

- A vida toda estive envolvida diretamente em todos os acontecimentos do meu reino. Agora tenho que ser mera expectadora. Não sabe como é sentar e esperar pela volta segura de quem se ama... Pensar nos perigos que está correndo lá fora. E o pior ainda, assistir calada quando posso ajudar.

- Não quero que sofra, mas não posso deixar que se arrisque... Quando fomos lutar com o bruxo, você não quis que soubessem que estávamos casados, temendo que eu passasse por constrangimentos com os soldados de Gondor. Agora pergunto: como meu exército reagiria se a levasse comigo?... Há milênios somos atacados por Orcs e sempre soubemos nos defender. Agora não é diferente. Não precisamos que nossas mulheres se envolvam em conflitos. Os elfos vivem assim e você sabe disso.

Ele caminhou até ela e levantou seu queixo carinhosamente.

- Você agora é minha esposa e o seu lugar é onde eu saiba que está segura e protegida. Sei que poderia lutar ao meu lado e seria tão boa ou até melhor que qualquer soldado que já tenha visto lutar, mas deixe-me fazer meu papel e cuidar de você. Não me impeça de ser um elfo.

Ela sustentou o olhar dele por um instante e abaixou a cabeça sentindo-se derrotada. Ao escutar a posse na voz do seu marido, a alma guerreira foi subjugada pelo coração da mulher apaixonada, que acima de tudo ansiava ser aceita por aquele povo.

- Legolas! Vá imediatamente procurar Hirengil. Seu braço está sangrando muito... Disse o rei.

Kyara olhou assustada a quantidade de sangue que começou a escorrer pelo braço dele, formando uma poça no chão.

- Seu ferimento é mais profundo do que imagina.

- Melhor ele ir ao curador já.

- Não se preocupe senhor. Eu posso cuidar disso.

Ela o ajudou a retirar o colete, a camisa e uma bandagem completamente encharcada, revelando um corte profundo na extensão do bíceps.

- Isso aqui está feio, mesmo. Terei que costurá-lo.

- Porque não faz os mesmos curativos dos outros ferimentos?

- Porque nenhum deles foi tão profundo quanto esse. Se pretender voltar à floresta, então terei que fazer isso e vou precisar sedá-lo.

- Não quero dormir. Faça o que tem que fazer assim mesmo.

- Meu amor, será um sofrimento muito grande e desnecessário costurá-lo a sangue frio. Vou enfaixar o ferimento para que possa se banhar.

A contra gosto ele concordou e os dois subiram para o quarto. Algum tempo depois o rei bateu à porta deles e encontrou Legolas dormindo, com o braço enfaixado.

- Como ele está?

- Está ótimo. Mais tarde acordará pronto para assumir sua função, mas ficará com o braço costurado por alguns dias. Com o esforço que irá fazer é melhor que se mantenha assim.

- Terei a companhia de vocês para o jantar?

- Sim, meu senhor. Ele acordará logo.

Outra batida na porta e ela foi atender. Surgiu Glóredhel aflita.

- Minha querida, um mensageiro do curador a aguarda lá embaixo. Parece ser grave.

O rei e Kyara trocaram olhares e desceram as escadas apressados.

- Sim, o que aconteceu?... Perguntou Kyara ao mensageiro.

- Majestade! Milady!... O Senhor Hirengil precisa do seu auxílio, milady, porque os guerreiros da patrulha do príncipe Legolas estão em estado gravíssimo. Seria possível me acompanhar?

- Evidente que sim. Aguarde um momento, por favor!

Kyara subiu ao seu quarto e apanhou seus apetrechos. Ao retornar dirigiu-se ao rei.

- Senhor, tome conta de Legolas por mim, por favor. Qualquer problema mande me chamar. Espero não demorar muito.

- Eu a acompanharei. Preciso saber o que está acontecendo. Glóredhel se Legolas acordar peça para que fique descansando e aguarde nosso retorno... Disse o rei indo atrás da Kyara.

Chegando à casa de cura o senhor Hirengil informou que um elfo acabara de falecer devido a um profundo ferimento na perna e o outro estava esvaindo-se em sangue, com um grande corte na costela direita.

Todas as suas tentativas de estancar o sangramento tinham falhado, e ele mesmo não sabia como esses dois haviam resistido, conseguindo chegar ainda vivos ao reino. O rei abateu-se no ato quando soube da morte do guerreiro e pediu para vê-lo enquanto Kyara se dirigia ao outro ferido, que estava em uma sala reservada.

Quando Kyara chegou até o elfo pôs-se e examiná-lo.

Estava muito pálido e suava frio. Sua pulsação estava muito acelerada, pupilas dilatadas, lábios arroxeados e a pele pegajosa. O elfo havia perdido muito sangue e estava morrendo, e ela temeu não conseguir salvá-lo. Enquanto prendia seus cabelos no alto da cabeça e amarrava seu avental chegaram à sala o rei acompanhado do curador.

- Senhor Hirengil, este elfo está morrendo e temo não ser possível salvá-lo. Veja o ferimento... E o curador se aproximou pondo-se a examiná-lo... – É um corte muito feio, cheio de sangue fresco e partes coaguladas. Observe os rasgos na pele e os veios arroxeados. Foi feito por um instrumento de corte com cerras envenenadas... Se algum órgão foi atingido já provocou uma hemorragia interna e seu sangue já terá sido afetado pelo veneno. Deveria ter me chamado logo que ele chegou. Agora temos que correr.

Kyara solicitou água quente, panos para compressas, uma cripta e uma vasilha para que preparasse suas ervas e foi listando tudo que seria necessário. Enquanto todos corriam para providenciar o que havia sido solicitado o rei ficou no recinto preocupado, enquanto ela tentava manter o paciente acordado para beber seu chá, mas o elfo já dava sinais de delírio, e perdendo a consciência, logo morreria.

- Qual seu nome guerreiro?... Dizia Kyara passando a mão nos cabelos do elfo.

O elfo olhou para ela e sorriu... – Já estou em Mandos? Nunca soube que uma dama tão bela nos receberia.

- Não. Você não está nos salões de Mandos. Você está na casa de cura e será operado agora. Eu me chamo Kyara. Sou a esposa do príncipe Legolas e vou ajudá-lo. Preciso que beba um chá que vou lhe dar e depois você dormirá, profundamente.

- Legolas!... O elfo ficou com o olhar perdido por um instante... – Fui surpreendido por um Orc com uma cimitarra, e o príncipe tentou me salvar... O elfo deu uma pausa... – Ele estava distante e não houve tempo. Eu acabei atingido e o príncipe foi ferido no braço.

Logo que os apetrechos chegaram Kyara preparou o chá e deu ao elfo em pequenos goles.

- A senhora cuidará de mim? Estará aqui quando eu acordar?

Kyara acenou que sim com um sorriso e o elfo adormeceu.

Ela pediu que preparassem as compressas com urgência e até mesmo o rei ajudou a cortar o tecido. Banhou suas ferramentas na água quente e depois as arrumou lado a lado na cama. Usou os mesmos procedimentos e ainda conjurou sua magia como fizera no parto da Melissa em Gondor, transferindo para o elfo seu poder, deixando a região ferida vermelha como suas mãos.

Pediu que o curador a ajudasse com as compressas e começou a operar o elfo. Sua mão desaparecia dentro do ferimento aberto enquanto o curador secava o sangue que saía da abertura. Algum tempo examinando o corte Kyara concluiu que, milagrosamente, nenhum órgão havia sido afetado, e precisava fechar logo o ferimento.

Absorveu o máximo das placas de sangue que se formaram dentro, queimou os vasos que não paravam de jorrar sangue e costurou o corte. Passou um emplastro feito com ervas e enfaixou o paciente, com a ajuda do curador e do rei, dando por encerrada a cirurgia.

- Eu fiz o que pude e posso dizer que nenhum órgão foi afetado, mas devido à urgência para estancar o sangramento pode ser que algo tenha escapado. Terei que observá-lo para ter certeza de que tudo foi feito corretamente... Ela suspirou... – Ele também perdeu muito sangue. Vamos torcer para que o poder dos eldar lhe dê forças para se recuperar. O que posso dizer é que seu quadro ainda é muito grave. Logo que acordar deverá beber o chá que deixarei preparado. Ele anulará o veneno da cimitarra.

O curador se manifestou... – Eu agradeço sua ajuda.

- Não tem o que agradecer. Sempre que precisar mande me chamar e eu terei prazer em ajudá-los. E quanto ao outro elfo? O que vai acontecer agora?

O rei respondeu... – O comando das tropas já foi informado do seu falecimento e agora sua família precisa ser avisada.

- Legolas ainda não sabe de nada. Eu voltarei para o castelo ver se já acordou. Por hora o que podemos fazer é esperar. Mais tarde retornarei para examinar o paciente... Eu não sei o nome do falecido.

- Chamava-se Aradhan... Respondeu o rei.

A julgar pela reação do rei pensou como seu marido reagiria à notícia. Chegou ao castelo e foi conversar com Legolas, que havia acordado há pouco. Como imaginou, ele ficou ainda mais abatido e logo perguntou se a família havia sido informada. Ela disse-lhe que o rei estava tomando todas as providência, então Legolas saiu atrás do pai. Queria ele mesmo dar a notícia sabendo que Aradhan era filho único e havia se tornado guerreiro há pouco tempo, sendo motivo de orgulho para sua família. Kyara preocupou-se porque no semblante do marido ela viu nitidamente que ele se culpava pela morte do elfo. A morte do elfo ocorreu num momento de pesar com tantas famílias ainda de luto pelos falecidos na batalha contra o bruxo nos Campos de Lis.

As horas que se seguiram foram tensas e tristes.

Kyara permaneceu algum tempo na casa de cura observando seu paciente, que aparentemente não demonstrava estar com hemorragia interna e já demonstrava se recuperar do envenenamento, o era um ótimo sinal. Pela quantidade de chá ingerido ele dormiria um pouco mais de um dia e isso daria tempo para que seu organismo começasse a reagir. Para ajudar ela irradiava um pouco da sua energia curativa para o elfo, que somado ao poder dos eldar, logo o guerreiro se recuperaria.

O sepultamento de Aradhan foi triste demais para Kyara. Os elfos passaram dias cantando lamentos e ao redor via-se a tristeza nos semblantes de todos. Legolas organizou outro grupo e partiu ao encontro de Narthan somente cinco dias após o sepultamento por conta do luto, e Kyara novamente sentiu seu coração pesar com o medo que a invadia.

Desta vez ele passaria muitos dias na floresta e a noite que antecedeu essa partida foi angustiante.

- Você agora passa todo o tempo aqui no jardim?... Perguntou Legolas.

- Percebi que você e seu pai queriam conversar depois do jantar, e, como sei que tudo sobre esse perigo que estamos passando é segredo para mim, achei melhor deixá-los a sós.

Ela falou sem olhar para ele sentada na grama ao lado da cadeira, com o braço e a cabeça apoiados no seu acento.

- Meleth-nin²! O que se passa com você? Sinto no tom da sua voz que está tensa.

Disse sentando-se atrás dela. Deu-lhe um beijo na dobra do pescoço e a fez encostar-se em seu peito.

- Como espera que me sinta sabendo que vai voltar para a floresta e desta vez sem previsão de retorno?

- Algost cunn, nissi-nin³.

Ele falou num tom de brincadeira tentando aliviar a tensão, mas Kyara não gostou. Virando-se de lado olhou para ele séria. Legolas suspirou profundamente.

- Sei que está preocupada e se eu pudesse escolher ficaria aqui abrigado em seus braços, mas sabe que não posso. Agora mais do que nunca preciso que se coloque no meu lugar.

- Não estou pedindo para deixar suas obrigações de lado. Não estou pedindo para não defender seu povo. O que me aborrece é esse segredo sobre o assunto. Essa atitude só me faz pensar que o perigo é infinitamente maior do que se mostra. Mesmo que eu não o acompanhe poderia ajudar de outra forma. Se você dividisse seus problemas comigo poderia me juntar a vocês e traçar um plano de ação.

- Pensa que já não fizemos isso? Você não conhece a floresta como nós conhecemos... Ela abaixou a cabeça e ele beijou-lhe a fronte... – Eu não posso morrer e deixá-la sozinha, então não precisa se preocupar. Sei me cuidar e tudo vai dar certo.

- Se pensasse na derrota esperaria você partir e iria logo atrás... Legolas, eu só te peço uma coisa: peça ajuda e aumente suas chances. Mande um mensageiro a Gondor e em vinte dias terá um exército aqui... Ela suspirou... – Você ainda pode contar com meus poderes.

- Já estamos convocando aliados para essa batalha. Povos da própria floresta que somarão esforços conosco. Então, eu é que te peço: não se envolva. Tenho consciência do quanto terá que ser forte para ficar aqui e esperar... Muito mais do que se estivesse enfrentando o inimigo comigo numa batalha, mas agora preciso do seu apoio e da sua colaboração.

Ela lembrou-se mais uma vez da conversa com a Melissa sobre o papel de cada um no casamento. Agora se deparava com seu amor lhe pedindo apoio, e não podia lhe negar isso, ainda que se sentisse tentada a tomar uma atitude. Querendo tranquilizá-lo acariciou o rosto dele e falou firme.

- Eu o esperarei aqui na cidade o tempo que for preciso como me pede. Não quero que retorne para a floresta preocupado comigo... E deslizou os dedos na faixa do braço dele... – Não se esqueça de colocar as ervas no seu braço e beber o chá. Eu precisei retirar os pontos antes do tempo e, embora esteja fechado, o corte ainda pode abrir por causa do esforço. Leve também as erva para o envenenamento. Se esses Orcs estão usando esse artifício será melhor que as tropas se preparem. Com o chá estarão protegidos... Vá sem medo e volte correndo pra mim assim que puder. Estarei pensando em você todo o tempo e quando dormir eu o visitarei em seus sonhos.

Da janela do gabinete o rei ouvia a conversa dos dois preocupado como a nora se comportaria. Legolas sorriu para ela e lhe beijou. Neste momento o rei se retirou. Ficaram algum tempo abraçados em silêncio ouvindo o barulho da água. Ele, vez ou outra, beijava-lhe o pescoço que ela displicentemente expunha ao tombar a cabeça para os lados.

Ele sentia a sua tristeza e o temor em seu coração.

Ela, por sua vez, pensava na posição dele como herdeiro do trono e não poderia lhe causar constrangimentos perante o seu povo com uma conduta insolente. Buscando uma posição mais confortável ele deitou-se sobre a grama e a trouxe consigo repousando a cabeça dela em seu ombro.

Mantiveram-se em silêncio um pouco mais até ela inclinar a cabeça para trás e fitar o rosto dele. Encararam-se tentando adivinhar os pensamentos do outro. E Legolas debruçou-se sobre a Kyara para olhar em seus olhos.

- Amim mella lle!... Disse ela.

Ele acariciou seu rosto admirando cada detalhe e lhe beijou com paixão. Esqueceram-se da angustia dos seus corações deixando-se inflamar pelo calor dos seus corpos. E Legolas a ergueu e a carregou no colo para seus aposentos, não dando importância aos protestos da esposa insistindo que ele fazia muito esforço com o braço ferido.


Notas Finais


Tradução das palavras em élfico:

1 - Gilthoniel-nin - Minha estrela cintilante
2 - Meleth-nin - Meu amor
3 - Algost cunn, nissi-nin - Não tenha medo, mulher minha.
4 - Amim mella lle - Eu te amo

Então, amigos! Temos alguns aspectos a considerar nesse capítulo e adoraria fazer essas reflexões com vocês nos comentários, saber a opinião de vocês. Fico impressionada com a quantidade de acessos, mas a pouca quantidade de comentários.

Aqui, vimos a Kyara tomando sua primeira atitude sem o consentimento do rei ou do seu marido, coisa que sabemos muito bem, não combina com a Kyara ter que pedir permissão para ninguém sobre nada.
Ela acabou por se sentir mal sabendo que desobedeceu um decreto do rei e agora todos os alertas sobre ela estão acesos. O rei se preocupara com o que ela pode fazer. Ele sabe a nora/filha que tem sob seu teto e os problemas que poderá causar.
Por outro lado, nosso casal teve sua primeira DR... rsrsrs... Ainda bem que conversaram numa boa e a Kyara aceitou os argumentos do marido. Eu não sei vocês, mas adoro quando o coração da mulher guerreira é subjugado pelo coração da mulher apaixonada... Quem nunca passou por isso que atire a primeira pedra. Como se não bastasse, as coisas vão começar a ficar feias na floresta. O bicho vai pegar geral...
Será que a Kyara conseguirá ficar impassível diante dessa situação? Poderá o rei controlar o ímpeto e a teimosia da nora? Quem sabe seu marido, então?
Tô sentindo cheiro de confusão a frente.
Comentem!


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