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História A Força do Amor - A Jornada


Escrita por: Indis_Imladris

Notas do Autor


Como vão, caros leitores?
Agradeço imensamente a minha amiga UnicornSilver por comentar. Como escritura talentosa e autora de diversas FICs, ela sabe muito bem como é bom poder trocar ideias com os leitores. Agradeço também a quem acompanha, mesmo caladinho ali no anonimato.
Como prometido, hoje é sexta-feira, dia de mais um capítulo.
Boa leitura.

Capítulo 4 - A Jornada


Quando o mal foi libertado novamente na Terra Média, Legolas e Kyara passaram à margem de todo o perigo, protegidos por uma magia que o elfo desconhecia e somente dias mais tarde lhe seria revelada. Foi o que fez com que permanecessem ocultos aos olhos de Gorlock e cegos para a desgraça causada por ele. Contudo, não tardaria muito o momento de confrontarem com aqueles que os caçavam.

A cavalgada era cansativa. Porém, sem nenhum imprevisto já haviam atravessado uma boa parte da planície que separava a floresta de Lothlórien da floresta de Fangorn. Logo no primeiro acampamento que os dois viajantes fizeram, em meio a uma imensidão cheia de formatos e sombras provocados pela claridade que da lua, a cordialidade entre eles foi gravemente afetada.

 Para não chamar a atenção, foram obrigados a passarem às escuras, sem acender fogueira.

 - Preciso verificar seus curativos, mas nessa escuridão não vou enxergar direito. Então vou lhe dar o remédio para beber e deixarei para tratar disto pela manhã.

- Estou muito bem, não se preocupe... Seria bom se descansasse um pouco. Não precisa temer nada, eu ficarei de guarda.

  - É impressionante ver o quanto já recuperou das suas forças...  Kyara não escondeu sua satisfação com a rápida recuperação do elfo... – Não estou muito cansada agora, mas não me oponho se você quiser montar guarda primeiro.

  Legolas a fitou por um instante em silêncio. O comentário da Kyara o deixou preocupado vendo ali um motivo para discórdia. Ela se dispunha a fazer algo que ele não tinha a menor intenção de permitir. Disfarçando suas preocupações, Legolas logo aprumou o corpo e ergueu o queixo.

 - Você não entendeu. A vigília do nosso acampamento é responsabilidade minha... Você precisa descansar. É importante que esteja bem para a jornada que temos pela frente, que será muito fatigante.

  As palavras enfáticas do elfo causaram estranheza em  Kyara... – Eu vou dividir essa tarefa com você, sim! Já é demais o esforço que está fazendo cavalgando o dia inteiro e agora não vai dormir um pouco? Você é quem precisa repousar e não vejo problema algum em ficar de guarda. Já perdi a conta das vezes que fiz isso... Estou acostumada a esse tipo de esforço.

  - Acredito que esteja, mas mesmo assim vou tomar para mim essa responsabilidade.

 Kyara já estava perdendo a paciência com a insistência do elfo... – Seu tratamento ficará comprometido sem repouso. Portanto, digo que Você tem que dividir comigo a vigília... Falou ríspida.

 - Sinto muito, mas não estou colocando isso em discussão... Legolas deu as costas para Kyara... - Durma. Vai precisar das suas energias renovadas... Sem mais delongas, deu-lhe às costas e subiu nas pedras, permanecendo e permaneceu de prontidão a noite toda.

 Legolas não compartilhou com Kyara suas preocupações, porque não passava pela sua cabeça qualquer ação da parte dela que pudesse ser útil aos dois. Sempre que voltava seus olhos para ela via a mulher e não uma guerreira.

 Kyara não poderia imaginar o que se passava com o elfo e ficou indignada com a atitude dele, mas resolveu se calar para não provocar uma discussão exacerbada demais. A irritação que sentia não permitiu que relaxasse, acabando por passar a noite em claro. Ao amanhecer, o semblante dela deixava evidente que ainda não havia se acalmado, tanto que deveria verificar os curativos do elfo, mas não se atreveu a, sequer, se aproximar dele. 

Passaram-se dois dias de viagem que fizeram em silêncio e tão pouco Kyara tratou dos curativos de Legolas.

 Ao cair da noite do terceiro dia de viagem chegaram às margens do rio Limlight, na divisa da planície de Fangorn com Lothlórien, cujo trecho não tinha muita vegetação. Kyara não tocou mais no assunto e deixou que o elfo procedesse como quisesse a espera de uma oportunidade para revidar a afronta.

Ela não podia negar que a vigilância dele era impecável. Os olhos dele cintilavam, como gemas perdidas nas imensidões que percorriam. Havia momentos que ela percebia, nitidamente, os pensamentos do elfo o levando por caminhos desconhecidos para ela. No entanto, o comportamento dele a deixava intrigada. Havia mais do que arrogância nas suas atitudes. Ele temia algo que não compartilhava e justamente por isso a raiva dela aumentava cada vez mais lhe dando a sensação de que seus pensamentos ecoavam ao seu redor. 

O clima pesado entre os dois, devido ao silêncio da viagem, quebrado somente quando era estritamente necessário, cresceu ao ponto de se verem como estranhos. A proximidade dos dois resumia-se a uma observação discreta e cheia de curiosidade, que de vez em quando se flagravam numa troca de olhares, para logo depois afastarem-se com suas falsas ocupações e novamente manterem-se a espreita.

Kyara não tinha mais como fugir da obrigação de refazer os curativos do elfo. Embora ele desse sinal de melhora, ela não poderia correr o risco de comprometer o tratamento devido ao esforço da viagem e a falta de cuidados. Para facilitar seu trabalho, Kyara acendeu uma fogueira, já contando que ali estavam menos expostos, enquanto Legolas cuidava dos cavalos.

- Tenho que refazer seus curativos... Tome! Beba isso... E estendeu uma caneca para ele com ares pouco amistosos.

- Estou bem, obrigado. Creio que não seja mais necessário beber este chá... Respondeu Legolas, com polidez.

- Quem sabe se precisa beber ou não sou eu... Tire o colete e a camisa... Ordenou Kyara.

- Perdoe-me, mas acho que há um equívoco aqui... Retrucou Legolas surpreendido com a atitude dela... – Deveria ser eu a pessoa preocupada, certo? Curativos também não serão necessários... Legolas tentava esquivar-se, percebendo a ira crescente no semblante da mulher.

- Passei muito tempo na luta de salvar-lhe a vida e agora não vou colocar tudo a perder por conta da sua teimosia, elfo tolo!

- Agradeço, realmente, seu auxílio. Certamente, estaria morto se não fosse por você, mas, minha insistência não se trata de teimosia... Apenas sei que já estou bem o suficiente para dispensar seu chá e novas bandagens... Já lhe dei trabalho demais.

- Deixe-me verificar, então. Se realmente não precisar, terei um imenso prazer em suspender o tratamento.

Legolas hesitou por um instante e Kyara apenas aguardou. Para não piorar a situação, ele achou melhor não discutir, expondo o corpo até a cintura. Kyara o observava se despir em silêncio, mas até ela se sentiu desconfortável com aquela cena, e, ao tocar o dorso do elfo, sua mão tremeu. Kyara apertou-a forte na tentativa de se controlar, sentindo o coração acelerado e continuou a examiná-lo, irritando-se ainda mais com sua reação.

Legolas não dizia nada, permanecendo com o semblante sério. Ela não imaginava a força que ele fazia para ser indiferente ao seu toque delicado.

Aquela situação estava insustentável e ele resolveu dar um basta. 

Com a mão apoiada no peito esquerdo, Legolas virou-se para Kyara e lhe fez uma reverência... – Milady! Tenho consciência de que meu comportamento não tem sido digno... Perdoe-me pela minha falta de tato.

Não sei ao certo, Kyara foi pega de surpresa e não soube o que dizer no primeiro momento. Mal se falaram durante os dias que se seguiram. Entretanto, ele fora ingênuo ao pensar que as coisas se resolveriam apenas com um pedido de perdão.

- Estou irritada por você não me respeitar... Respondeu, ela, simplesmente.

- Como assim, não respeitá-la?... Milady! Eu posso ser desajeitado aos seus olhos e de poucas palavras, mas jamais lhe faltaria com o respeito.

- Por que você não permitiu que eu dividisse a guarda? 

Legolas calou-se por um instante com a pergunta... – Admito a surpresa... e não compreendo. Por que a insistência? Não lhe seria mais fatigante sem o repouso da noite?

- Não estou preocupada com fadiga. Se quisesse conforto não teria aceitado minha missão... O que pensa, afinal de contas?... Acaso está debochando de mim? Por que não permitiu que eu ficasse de guarda?... Disparou ela deixando claro sua irritação e impaciência.

Legolas fixou seu olhar para Kyara e respondeu firme... – Porque você ficou cinco dias sem descansar direito cuidando de mim. Como agora me sinto bem, preferi deixá-la descansar um pouco. Tudo que fiz foi retribuir os seus cuidados e lhe dar maior conforto... Diante do silêncio inquisidor dela, continuou... – Que mal há nisso? Além do mais, os elfos podem passar dias sem dormir.

- Mentira!... Sentenciou Kyara... – Você nem cogitou a possibilidade e quando eu o indaguei a respeito, você pensou logo ser um absurdo uma mulher montar guarda.

Legolas se aproximou e a encarou bem de perto, visivelmente indignado. Kyara, por sua vez inclinou a cabeça, sendo ele mais alto, sustentando o olhar feroz do elfo numa atitude de desafio. Ela ficou remoendo o ocorrido todo o tempo e quanto mais pensava no assunto mais se sentia no direito de estar irritada e exigir esclarecimentos. Afinal, não permitiria ser subjugada por ninguém.

- Está me chamando de mentiroso?... Perguntou Legolas, com um tom ameaçador. 

- Estou... Devolveu, ela. Uma resposta direta, sem titubeio... – Se você me vê como uma criatura frágil, indefesa e completamente incapacitada, então tenha a dignidade de assumir ao invés de inventar desculpas. Assim, poderei lhe provar o quanto está enganado.

- Em nenhum momento passou pela minha cabeça que você pudesse ou não ficar de guarda. Afinal, cuidou de mim sozinha em uma floresta que não conhecia. Se te poupei foi porque estava preocupado com você e queria que descansasse. Qual seria o papel de um cavalheiro?... O que foi em vão já que não tem dormido praticamente nada.

- Tirando o fato das suas orelhas serem pontudas, não vejo distinção alguma entre você e os homens da minha raça. - Você é exatamente como eles... Kyara se afastou um pouco rindo com sarcasmo... – Um cavalheiro é?... Perguntou com deboche... – Coisa nenhuma. Porque sou mulher, acham que não sou capaz de fazer nada além de obedecer às suas ordens, servi-los na cama, cuidar dos afazeres de uma casa e ter filhos. A sua masculinidade fica abalada se divide atribuições estritamente masculinas com uma mulher, não é? Pois bem, lamento! Vim para cá preparada para a guerra e não descansarei enquanto não atingir meu objetivo, goste você disso ou não. Não me importo se acha que estou invadindo seu espaço... Mas, fique tranquilo. Depois que tudo terminar, eu voltarei para minha terra e sua masculinidade não será mais afetada. Só que, até lá, exijo que me respeite ao invés de me dar ordens e tomar decisões sem me consultar. Não sou uma idiota indefesa, entendeu?

Legolas ficou pasmo com as palavras desaforadas da dama que julgava defender... -– Já vi inúmeros carvalhos crescerem desde plantinhas até a idade em que apodrecem e nunca precisei passar por uma situação como essa. Eu nunca conheci uma mulher ou uma elfa que fosse como você. Já disse: se você foi capaz de passar tanto tempo sozinha cuidando de um moribundo, então pode montar guarda, perfeitamente. Não o permiti porque sou um cavalheiro e meu dever é poupá-la, protegê-la. Qualquer um no meu lugar faria a mesma coisa. Apenas isso!... Agora, acredite no que estou dizendo se quiser. Não me importo. Só não vou continuar com essa discussão tola... Legolas respondeu elevando a voz ao tom dela.

Um silêncio mortal instalou-se entre os dois, até Kyara dar fim à discussão... – Muito tocante da sua parte, mas eu não acredito em uma palavra... Se for assim que prefere proceder, que seja. Não vou mais discutir. Só quero deixar claro que isso não muda quem sou e o que vim fazer aqui... Tome!... Ela empurrou a tigela com o emplastro para as mãos de Legolas ao passar por ele, dando-lhe as costas... – Ainda precisa de cuidados. As feridas estão fechadas, mas muito vermelhas... Concluiu, deitando-se em sua cama pretendendo ignorá-lo, se possível, pelo restante da viagem.

Legolas entendeu que, ao lhe entregar o medicamento, ela deixou claro, também, que a partir daquele momento encerravam-se os seus cuidados e qualquer possibilidade de convivência. E teve que reconhecer que a forma como tratou a situação no início foi errada, sentindo-se um completo idiota.

A reação dela a respeito o fez acordar para o fato dela não ser uma dama como as outras. Apresentou-se como uma feiticeira bem armada e assim estava diante dele, mas o temor pelo perigo que os cercava não o permitia considerá-la como tal.

A lua já ia alta quando um som estranho entre os arbustos próximos ao rio fez com que os dois se colocassem de pé e armados. O som intrigante aparentava alguns animais fuçando a terra. Legolas seguiu a frente, com o arco pronto para disparar e Kyara às suas costas.

Num rompante louco, dois javalis adultos saíram de uma moita em disparada na direção dos dois para atacá-los, fazendo com que saltassem para a margem do rio, caindo os dois na água. Legolas fez menção de disparar uma flecha quando Kyara apoiou uma das mãos em seu braço, fazendo-o voltar sua atenção para ela.

- Deixe-os ir. Não conseguiríamos consumir tanta carne sozinhos sem ter como conservá-la... Seria um desperdício.

Legolas abaixou o arco e, ao sair do rio, estendeu-lhe a mão para ajudá-la... – Não estava lhe dando ordens... Disse, inesperadamente.

Kyara olhou nos olhos dele mais uma vez, surpreendida. Já dava por encerrada a discussão e imaginou que as coisas ficariam por isso mesmo. Olhando para Legolas sério a sua frente querendo retomar o assunto à fez perceber que ele estava tão incomodado quanto ela. Por fim, suspirou, abaixando a guarda.

- Você simplesmente deu sua ordem e eu que a obedecesse... Falou com voz branda já aceitando as desculpas do elfo... – Não demonstrou preocupação, mas arrogância.

- Tem razão!

Kyara se afastou alguns passos, tentando raciocinar diante da atitude do seu companheiro de viagem. Já estava acostumada a  disputar seu espaço em um acampamento o tempo todo e talvez não tenha distinguido a diferença entre os soldados de Tanusia e esse elfo.

- Está bem. Estamos muito exaltados... Eu estou muito exaltada e desse jeito nossa convivência será impossível pelo tempo de viagem que ainda temos pela frente.

- Por isso lhe peço perdão... E lhe fez uma reverência... – Acredite! Não tive a intenção de ser arrogante e desrespeitá-la.

Kyara o encarou por um instante... – Não sei se deveria, mas acredito em você... Eu também não consegui me controlar e acabei explodindo. Sei que tenho um temperamento difícil e teimoso. O fato de ser uma mulher torna situações como essa muito complicadas. Os homens me veem como uma intrusa num campo de batalha e me repelem. Sentem-se diminuídos pelo fato de verem uma mulher sendo um soldado tão capaz quanto eles.

- Campo de batalha?

- Eu sou uma guerreira, elfo.

- Havia entendido que você é uma sacerdotisa e que defendia sua magia com espada. Não, uma guerreira em um campo de batalha.

- Sou uma sacerdotisa e uma guerreira, também. Não me veja como alguém indefeso, como os homens da minha raça. Em um campo de batalha sou tão capaz quanto qualquer soldado. Está compreendendo?

- Creio que sim... Legolas respondeu sem muita convicção do que respondia. A verdade é que ele não compreendia coisa alguma e a cada momento uma informação a mais lhe surgia... – Então vamos começar de novo do início e decidiremos juntos os passos que teremos que seguir? Admito que a partir do momento que tomei conhecimento da situação assumi uma postura um tanto... autoritária. Talvez por você não conhecer o território e isso acabou me levando a não considerar sua opinião e...

Legolas se calou um instante de repente olhando para ela e abaixou a cabeça resignado, mantendo-se em silêncio por um instante e deu um longo suspiro.

- Não !você tem razão... Embora esteja armada e vestida como um caçador, eu olho para você e só consigo enxergar a mulher delicada e atenciosa, que cuidou de mim na caverna... Não foi por arrogância que a ignorei.... Legolas não estava certo se deveria revelar a ela suas preocupações. Também não estava certo se deveria confiar em tudo que ela havia dito, se ela era tudo aquilo que dizia ser.

Houve um momento de silêncio e de repente os dois falaram ao mesmo tempo... – “Perdoe-me...”, “Sinto-me...”. As expressões de constrangimento no semblante de cada um foi o motivo para que aliviassem a tensão.

- Fale você primeiro.

- Não! Primeiro as damas.

Kyara abaixou novamente a cabeça lembrando-se das palavras dele ao compará-la com as mulheres e as elfas e se sentiu envergonhada... – Perdoe-me! Estou me sentindo uma tola. Acho que viver num meio tão violento acabou por me tornar muito agressiva... Suspirando, continuou... – Certamente as damas do seu reino são o oposto de mim. Imagino que sejam delicadas e graciosas, não é?... Entenda guerreiro, não sou como suas donzelas. Sou capaz de guerrear como qualquer soldado. Não se iluda por ver uma mulher. Não carrego as armas que viu na minha bagagem à toa.

Kyara disse com firmeza tentando disfarçar sua vergonha diante do elfo. Legolas notou que ela se sentia constrangida e tentou amenizar as coisas.

- Ainda que tente me passar outra imagem, para mim continua sendo uma dama... Armada e valente, mas uma dama que sabe ser atenciosa e delicada, se me permite a ousadia, Milady. Eu é que preciso aceitar o fato de que estou na companhia de uma guerreira e feiticeira. Perdoe-me se não estou preparado.

Ela  se esforçou para manter seu semblante fechado, mas acabou rindo da cara desconsertada que ele fazia e os dois deixaram-se levar pela descontração do momento.

- Muito bem, nobre cavalheiro! Vamos deixar nossas diferenças de lado. 

- Milady! Poderia terminar meus curativos? Acho que sozinho não serei capaz... E estendeu a tigela para ela.

- Evidente que sim... Pode retirar a camisa, por favor?... E lhe sorriu, serenamente.

- Você deveria rir mais vezes.

Kyara ignorou o comentário estendendo a mão para tocar o ombro do elfo, quando Legolas a segurou, com delicadeza, olhando nos olhos dela.

- Não importam as circunstâncias e nem a opinião de quem quer que seja, eu sempre a respeitarei. Perdoe-me se fui um tolo estúpido por ignorar tudo o que fez por mim. Enxerguei a donzela cheia de cuidados, mas não a guerreira que me socorreu e me manteve seguro. Só não posso prometer que não me preocuparei com você, mesmo que se zangue comigo. Por isso, peço que descanse. Essas terras escondem muitos perigos que você desconhece, então, deixe a segurança do nosso acampamento por minha conta. Tenho certeza de que não ficar de guarda não vai diminuir suas qualidades como combatente.

Ela sentiu tanta sinceridade nas palavras do homem que ficou tocada. Estava tão acostumada a ter que brigar por tudo, principalmente com os homens da sua terra, que agora o vendo se expor daquela forma não poderia deixar de se comover com sua sensibilidade e humildade. E pensou que ele não deveria ser como os outros homens, afinal.

- Eu agradeço. Geralmente não recebo tanta gentileza e tanta consideração assim.

Estendendo a mão para ela, ele propôs... – Então, vamos começar do início. De agora em diante decidiremos juntos nossos passos e nossas ações.

Kyara apertou a mão estendida em sua direção, selando o acordo. Naquele momento, ficou claro para eles que não poderiam conviver como se fossem estranhos companheiros de viagem.

Kyara terminou os curativos e lhe deu o chá para beber. Depois, recostou-se em sua sela, retirou as botas encharcadas e secou os pés. Contemplando o céu estrelado, pensou em tudo que aconteceu desde que encontrou aquele elfo e na discussão que tiveram há pouco.

Ela olhou para Legolas, que estava de pé um pouco mais afastado dela observando a imensidão da planície, e admirou seu porte altivo, sua beleza  etérea, mas estava impressionada mesmo era com suas atitudes.

Ele demonstrou muita firmeza e autoridade nas suas ações quando ela revelara os perigos que teriam que enfrentar, não se intimidando, tratando logo de decidir o que fariam. Atitude típica de quem estava acostumado a comandar. Entretanto, não poderia ignorar que sua altivez vinha acompanhada de grande sensibilidade e humildade, o que demonstrou sem a menor vergonha.

Tinha que admitir que aquele elfo era demasiado intrigante.

No tempo em que Kyara permaneceu em silêncio, Legolas refletiu sobre sua vida. Sempre acompanhou seu pai nas batalhas para defender seu reino – A Guerra dos Cinco Exércitos, os conflitos com os Orcs, sua última guerra contra Sauron e desta vez acompanhando Aragorn.

Para os elfos, ainda que fosse muito jovem, já havia passado por muitas coisas e não se lembrava de nada que o fizesse se sentir tão atordoado quanto agora. Todos os obstáculos que teve que enfrentar, suas decisões e suas emoções sempre foram claras e seguras. Sempre soube como agir e para onde ir, mas depois que conheceu Kyara, se viu aturdido.

Mesmo brava era linda e ainda que frágil, era poderosa. Tinha uma personalidade forte, de quem capaz de defender seu ponto de vista a todo custo. Aquele que quisesse confrontar-se com ela teria que pensar duas vezes, porque ela sabia ser teimosa e desafiadora como ninguém e não se deixaria dobrar facilmente. A maneira como erguia o queixo querendo afrontá-lo, ao mesmo tempo em que o irritava, a tornava adorável.

 As coisas poderiam ser mais fáceis para os dois se algo muito ruim não estivesse para acontecer. Tudo que ela lhe contou somente o deixou mais apreensivo com aquela situação. Ele não conseguia ver o que estava à espreita, mas sabia que estava ali todo o tempo e essa sensação de vulnerabilidade o deixava ainda mais tenso.

Um turbilhão de emoções tomava conta dele naquele momento quando sentiu a mão dela tocando seu ombro.

- Chamei por você, mas não me ouviu. Está se sentindo bem?

- Sim! Sim! Estava distraído com meus pensamentos. Amanhã acamparemos mais cedo porque tentarei encontrar alguma caça de pequeno porte para jantarmos... Você não está cansada de frutas, queijos e lembas?

- Para dizer a verdade, não. Esses pães élficos são gostosos e alimentam bem. Agora, se quiser caçar uma coelho, talvez, não seria ruim. Um javali seria muito para nós dois, não acha?... Ele concordou com a cabeça, ainda fitando a planície... – A julgar pela comida que traz consigo imaginei que o povo élfico não consumisse carne.

- Os mortais acreditam que nós, elfos, não comemos carne, mas isso não é verdade. Só dosamos seu consumo. Vou dizer que nossa preferência é por legumes, frutas, verduras, cereais. Carne está no cardápio, só não é o prato principal.

- De fato, as aparências enganam... Ainda falta muito para chegarmos a Gondor?

- Eu calculo uns quinze dias... Fez-se um momento de silêncio... – Milady vai atender o meu pedido e descansar?

- Meu nome é Kyara, lembra-se?... E fique tranquilo. Já temos um acordo.

Legolas suspirou.

- Por que não se senta Legolas? No momento não estamos correndo perigo algum, você sabe disso. Ficar aqui de pé não fará diferença.

Legolas voltou os olhos para ela preocupado. Gostaria que aquelas palavras fossem verdadeiras, mas ele sabia que não passavam de ilusão.

- De pé me sinto mais alerta e essas planícies escondem muitos perigos são traiçoeiras. Ficarei feliz se descansar.

- Está bem. Vou tentar dormir um pouco.

Permaneceram de pé por um instante, contemplando o silêncio da noite e suas nuances na imensidão da planície. Kyara retirou-se, para tentar dormir um pouco.

Mais alguns dias de viagem se passaram e provaram que tentar uma convivência mais cordial e amistosa seria o melhor para os dois. Embora soubessem pouco a respeito um do outro, começava a surgir uma amizade entre eles, ou pelo menos, mais tolerância.


Notas Finais


Os dois estão começando a se descobrirem. Legolas percebeu que a Kyara não é nem de longe igual a qualquer mulher com quem ele tenha tido contato, seja uma mortal ou elfa.
Kyara tem personalidade forte e não leva desaforos para casa. Por outro lado, nosso elfo não é nada bobo e soube logo contornar a situação. Bom para ele que seja assim, caso contrário, se bater de frente com a dama vai ter dor de cabeça.
O mal continua a espreita e não podemos esquecer daqueles que estão a caça da Kyara. O próximo capítulo promete.
Por hoje é só, pessoal. Escrever já é uma tarefa solitária. Não tornem a postagem dessa FIC igualmente solitária. Embarcamos juntos nessa aventura e nada mais natural que troquemos ideias.
Falo vocês nos comentários. Uma beijoca!


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