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História A Força do Amor - A Guerra


Escrita por: Indis_Imladris

Notas do Autor


Mais um capítulo, caríssimos.
A guerra! Sangrenta, devastadora... Preparem-se para as surpresas... E o fim está próximo.

Capítulo 42 - A Guerra


Pela manhã do dia posterior à partida de Legolas, Kyara foi acordada com a presença do falcão em sua varanda. Ela soube naquele momento que havia chegado a hora de agir.

Um vento frio corria pelas aberturas da montanha e seu assovio, que de vez em quando soprava nos ouvidos do povo élfico, anunciava a chegada do inverno e com ele novamente a guerra. Talvez não bastasse dizer que se podia sentir nitidamente no ar a apreensão dos que ficaram pelos que partiram para a guerra, além do temor pelo desfecho dessa nova empreitada.

Kyara vestiu-se com sua roupa negra de guerra, suas luvas e suas armas. Trançou os cabelos como de costume, prendeu o colar de Gahya no pescoço e sobre o corpo jogou uma pesada capa preta. Saiu sorrateiramente do castelo estranhando a ausência das sentinelas e deparou-se com Idrial no portão que dava passagem para o pátio na lateral do castelo.

- Vai me impedir chamando a guarda do castelo?

- Depois que eu os tirei daqui?... Sabia que tentaria alguma coisa, mas não vou impedi-la. Prepare-se porque Narthan certamente a espera na entrada da cidade.

- Não se preocupe. Preciso partir pelo nosso povo e pelos nossos homens.

Idrial assentiu com a cabeça e lhe deu passagem.

- É certo o que estamos fazendo, não é, Kyara? Sabe que me culparei por toda a minha vida se algo acontecer com você.

- Nada irá acontecer comigo... Confie em mim.

Kyara tomou o caminho para o alojamento dos guerreiros. As pessoas que cruzaram com ela pelo caminho assustaram-se com sua figura negra armada e sombria.

Dos portões de ferro do alojamento, Kyara assoviou para Athos, que de imediato atendeu ao chamado arrebentando as portas da cocheira com coices, correndo ao seu encontro. Ela montou em seu cavalo sem sela e partiu a trote para o portão da cidade.

No meio da praça principal encontrou Narthan, que barrava seu caminho.

- Princesa! O que pensa que está fazendo?

- Partindo. Chegou a hora de tomar minhas providências e preciso seguir para a floresta.

- Não vou permitir que saia da cidade.

Kyara desmontou e caminhou calmamente na direção do capitão. Atrás dele um pequeno grupo de arqueiros formou uma barreira impedindo-a de seguir adiante.

- Não me obrigue a usar a força, senhora. Tenho ordens expressas do rei para impedi-la de cometer qualquer loucura.

- O que teme Narthan? Que erga a minha espada para qualquer um de vocês?

- Minha senhora, por favor! Peço-lhe que atenda ao meu pedido. Não me obrigue a fazer o que não quero.

- Acham mesmo que eu seria capaz de erguer a minha espada contra minha própria gente?... Perguntou ela para os soldados aos berros e ninguém respondeu... – Não lutaria contra vocês mesmo que minha vida dependesse disso. Agora vou para a floresta ajudar nosso exército e se tem algum arqueiro aqui que pretende me impedir, então terá que usar sua arma.

Ela deu às costas e retornou ao seu cavalo. Ninguém estava entendendo o que se passava na praça entre a guarda do reino e a princesa, e aos poucos o povo foi se aglomerando.

- Chegou a hora de provar se realmente posso absorver o poder dos Eldar.

E partiu para cima dos arqueiros saltando sobre suas cabeças em direção ao portão, que se abriu com a sua aproximação. Narthan correu para o alojamento e logo retornou montado a cavalo. Enquanto dava ordens aos seus comandados Mirhaniel foi ao seu encontro.

- Narthan, não! Você ainda não está recuperado. Se sair a galope por aí vai prejudicar sua operação... Disse Mirhaniel aflita agarrada às rédeas.

- Deixe-me passar, Mirhaniel. A princesa saiu para a floresta e tenho que ir atrás dela e trazê-la de volta.

- Por favor, não. Mande outro em seu lugar. Fraca como ela tem estado sabemos que não irá muito longe... Disse com lágrimas nos olhos.

Ele desmontou do cavalo e a abraçou... – Não tema por mim. Eu ficarei bem... Ele passou os dedos no rosto dela para secar suas lágrimas... – Preciso ir. Cuidar da princesa é minha responsabilidade. Não me perdoarei se algo acontecer com ela.

Ela silenciou e abaixou a cabeça afastando-se dele.

Narthan a puxou de volta e a beijou diante dos soldados e de todo o povo que estava na praça.

- Muitas vezes parei aqui mesmo nessa praça e fiquei escondido admirando-a na varanda... Eu não deixei de amá-la um dia se quer, e quando voltar você será minha, como deveria ter sido desde o começo do nosso amor... E montou novamente saindo em disparada para a floresta.

Ele não precisou cavalgar muito longe porque o galope fez com que Kyara desmontasse logo. Ainda estava muito fraca para um esforço desses e quando se deu conta o capitão a estava amparando no meio do bosque antes da passagem mágica do reino.

- Venha princesa. Eu a levarei de volta... Disse ele segurando-a pela cintura.

Kyara ainda estava ofegante devido ao esforço, e quando ganhou o mundo, saindo do reino, o impacto do vento frio, o cheiro da floresta e a claridade do dia deixaram-na mais tonta. Sua cabeça voltara a latejar e temeu não conseguir alcançar seu objetivo.

- Narthan preciso da sua ajuda.

Ela se desvencilhou dele e ajoelhou-se no chão para vomitar. Ele fez menção de ajudá-la, mas ela fez um sinal com a mão não permitindo que se aproximasse, e levantou sozinha para se apoiar em uma árvore.

- Água, por favor! ... E novamente vomitou. Depois que jogou água no rosto e se limpou devolveu-lhe o cantil agradecendo a ajuda.

- Agora podemos retornar?... Eu a levo em meu cavalo.

- Não, meu amigo. Nós não vamos retornar. Preciso que me ajude com uma missão muito, muito importante.

Ela olhou em volta e sentou-se no chão para retirar as botas. Retirou ainda as luvas, a capa e as armas. Caminhou ao redor sentindo a terra úmida nos pés, a folhagem fofa que cobria a relva do outono que partira. Tocou algumas árvores e aspirou profundamente o ar pesado da floresta. Abriu ligeiramente os braços ao longo do corpo e fechou os olhos.

O vento ao redor começou a circular forte, formando um rodamoinho em torno dela, e a claridade do dia desapareceu, como se as árvores se fechassem ainda mais em torno deles. A terra vibrava sob seus pés e Narthan ficou completamente imóvel observando a cena impressionante a sua frente enquanto Kyara estendia os braços para o alto da cabeça com as mãos irradiando uma luz azulada, que tomou conta do seu corpo.

Os pássaros, que faziam ninho nas copas das árvores, fugiram por causa do vendaval, que tomou conta daquela parte da floresta, e mais e mais a terra tremeu, o vento soprou forte e a vegetação se agitou até tudo cessar de repente e a luz do dia retornar.

Kyara caminhou até Narthan com o corpo ainda tomado pela luz. Seus olhos eram duas esmeraldas, que brilhavam intensamente como no gabinete. O rosto dela era ainda mais belo e assustador ao mesmo tempo, mas ele manteve-se firme e em silêncio, esperando que ela se pronunciasse.

- Agora sim, estou preparada para enfrentar um exército.

Ela apoiou as duas mãos no peito do capitão e transferiu para ele sua energia, que sentiu um arrepio lhe dominar.

- Agora você também está pronto, meu amigo.

- Princesa Kyara! Não darei um passo se quer enquanto não me explicar o que se passa e mesmo que me diga eu a levarei de volta para o reino.

- Em primeiro lugar: pare de colocar a palavra princesa na frente do meu nome. Para você sou Kyara, apenas isso. Em segundo lugar: nós dois não queremos ficar de fora dessa guerra e nossos exércitos precisarão de ajuda... Muito mais do que imaginam. Estou lhe dando a oportunidade para tomar uma atitude realmente importante, que poderá salvar a vida deles e o nosso reino. Agora é tudo ou nada... Ela fez um momento de silêncio... – E então, vem comigo? Porque se pretende retornar para o reino voltará sozinho.

- Eu dei minha palavra que tomaria conta de você. E mesmo que não tivesse me comprometido jamais a abandonaria. Está pretendendo seguir para as montanhas centrais, não é?

- Sim. Mas você tomará outro rumo... Venha! Precisamos chegar ao Rio Encantado o quanto antes. Lá você saberá do que se trata.

Narthan montou em seu cavalo nada satisfeito com aquela loucura, mas como havia dito, não poderia deixá-la sozinha. Sem ter outra opção seguiu à frente. A trilha dos elfos não tinha uma vegetação tão densa e sombria quanto o interior da floresta e vez ou outra um coelho, um esquilo ou mesmo um cervo era surpreendido entre as árvores. O percurso tomou parte do dia até que finalmente chegaram ao Rio Encantado, com suas águas negras e mágicas.

- Estamos sendo seguidos. Há algo na floresta nos observando... Disse Narthan com o arco pronto para disparar.

Kyara calmamente o fez baixar seu arco e assoviou alto. De repente ouviram um uivo longo e assustador floresta adentro. Foi respondido por outro à direita, muito mais próximo, depois, por outro, não muito longe, à esquerda. Eram alcateias de lobos uivando para se reunirem.

Os cavalos se agitaram ouvindo aquele som e até mesmo Narthan ficou nervoso pela quantidade infindável de uivos cada vez mais próximos deles formando um cerco.

- Temos que sair daqui agora ou logo seremos atacados e não sobrarão nem os nossos pensamentos... Disse Narthan olhando em volta.

Naquele momento foram cercados por centenas de lobos uivando, com seus olhos negros fixados sobre eles.

- Calma Narthan! Não seremos atacados... O maior deles se aproximou da Kyara.

- Este é o chefe do bando e os povos do sul o chamam de Dangroth. Estes lobos vivem a sombra das montanhas centrais e estão aqui como nossos aliados contra os Orcs. Assim como nós, eles são constantemente atacados... Como pode ver temos um inimigo em comum. Agora peço que vá para o portão de entrada da trilha dos elfos. Daqui seguirei para as montanhas.

- O caminho para lá é muito difícil e perigoso. Acabará se perdendo.

- Não se preocupe comigo. Meus amigos me mostrarão o caminho. Boa sorte!... Disse Kyara montando novamente... – Nos encontraremos no campo de batalha.

Kyara saiu em disparada adentrando ainda mais pela floresta sempre para o norte, acompanhada dos lobos, com seu chefe à frente, deixando Narthan sem reação para trás. Logo havia desaparecido no meio da vegetação. Por fim ele montou em seu cavalo e atravessou o rio seguindo na direção oeste para o portão da trilha.

 

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Um dos pelotões localizou a horda Orc ao cair da madrugada, seguindo por uma trilha a sudoeste da Cidade do Lado. Do alto do morro avistaram uma infinidade de tochas. Batedores percorreram a região para localizar os outros pelotões, porque precisavam se reunir antes da aproximação do grupamento inimigo.

O céu negro começava a clarear anunciando o amanhecer quando uma flecha flamejante foi lançada dando o alarme da aproximação dos guerreiros que haviam partido para a floresta.

Legolas, Glorfindel e Elrohir estavam com o grupo de elfos que acompanhava os anões a frente da entrada de Erebor, juntamente com Grimbeorn e seus homens, e logo se juntaram aos soldados, que invadiram o vale trazendo notícias de que o inimigo chegaria ainda pela manhã.

O dia já havia amanhecido, mas quase nada podia ser visto por conta de uma forte neblina que desceu sobre o vale. No contraforte a esquerda do portão de Erebor, nas encostas mais baixas e nas rochas aos pés da Montanha Solitária distribuíram-se parte dos arqueiros de Eryn Lasgalen e Lórien Oriental. No contraforte norte estava Bain e seus homens, que guardavam a passagem para o acampamento dos exércitos e logo depois os habitantes de Valle e da Cidade do Lago.

O rei permaneceu com a outra parte dos arqueiros de Eryn Lasgalen na muralha da sentinela, próximo ao bloqueio da passagem para o Morro do Corvo e a queda da cachoeira, juntando-se ao restante dos arqueiros de Lórien e parte dos anões. Ao longe, no meio da imensidão branca do vale, podiam ouvir uivos e berros assustadores dos Orcs e, pouco a pouco, o lugar foi enegrecido por uma multidão que corria furiosa e desordenada procurando seus inimigos, tendo à frente os mais velozes montadores de Wargs e suas feras, movimentando-se como ondas numa tempestade.

Uma muralha de lanceiros formada pelos homens de Grimbeorn posicionou-se a frente da tropa esperando pelo ataque iminente dos Wargs. Seria um duelo de feras, já que esses homens descendiam de uma raça de troca-peles e transformavam-se em ursos¹. As características físicas deles já impunham respeito em qualquer guerreiro porque eram extremamente grandes e fortes.

Em instante os gritos, berros e rosnados triplicaram e a eles juntou-se o som de madeira estalando e de armas se chocando, estrondo após estrondo. Uma nuvem de flechas vinda do norte e do leste cobriu o céu cinzento, forrando o vale e logo outra saraivada e mais outra, e uma torrente de fechas lançadas ao vento lavou o chão acidentado do vale de sangue negro. Saltando sobre as cabeças dos anões, a armada élfica atacou.

Seu ódio pelos Orcs era frio e amargo e no meio do nevoeiro suas lanças e espadas brilhavam como clarão de chama fria, tão mortal era a ira das mãos que as empunhavam.

No meio da confusão estava Legolas fazendo novamente seu arco cantar num zunido constante, com sua habitual agilidade, enquanto Glorfindel golpeava um após o outro quase que instantaneamente de tantos Orcs que o cercavam. Sua armadura dourada se destacava no nevoeiro, quando somente se via o brilho da sua espada no ar. Elrohir atacava feroz demonstrando toda a habilidade aprendida com seu mentor e aprimorada pelos anos de batalhas.

Aquela altura a neblina havia desaparecido por completo revelando o horror da batalha.

Corpos e mais corpos dilacerados expunham-se com o sangue negro se espalhando por todos os lados. As horas avançaram levando o dia e a luta seguia. Aos poucos os Orcs foram se afastando, recuando do ataque, e tudo cessou no vale.

A estratégia fora aplicada com eficácia porque o número de baixas dos aliados era ínfimo, enquanto que a armada Orc sofrera perda significativa. Não que isso os levasse a desistir. O número de Orcs para essa guerra, se bem planejada, poderia durar semanas, mas para um primeiro ataque muitos tombaram e isso os fez recuar.

Os Orcs eram criaturas extremamente fortes sem muita habilidade, entretanto, o cruzamento de Orcs com humanos fez surgir uma raça mais inteligente, que ditava as ações nos ataques. Eles logo perceberam, com essa primeira investida, que não conseguiriam intimidar os inimigos com sua posição desfavorecida.

Ainda que um novo contingente estivesse se preparando para deixar suas cavernas e seguir para o vale da Montanha Solitária, todos pereceriam se não buscassem um meio mais eficaz para atacar.

- Eles recuaram. Penso que perceberam a emboscada que preparamos... Disse Legolas para Glorfindel.

- Isso já era de se esperar, mas vamos manter nossas posições e aguardar.

- No momento é o que poderemos fazer... Concluiu Elrohir.

Os aliados recolheram seus mortos e feridos, e retomaram suas posições aguardando a movimentação do inimigo, que se espalhara pela floresta e ao longo do rio antes da entrada do vale.

A noite já estava adiantada e nada podia ser ouvido, mas todos sabiam que eles estavam lá.

A inquietação tomou conta dos aliados temendo serem obrigados a enfrentar os inimigos de peito aberto fora do vale. Se isso acontecesse seriam aniquilados.

A quantidade de Orcs para derrotar iria além das suas forças e mesmo que vencessem muito se perderia. Ainda na madrugada outra investida do inimigo assolou as tropas aliadas e desta vez flechas incandescentes cruzaram o céu enegrecido para todos os lados e um incêndio se formou na entrada do vale afastando os Orc.

Pela manhã o cheiro de carne queimada impregnava o lugar completamente coberto pelo nevoeiro do inverno e fumaça indicando que ainda havia focos de incêndio na mata. Mais um dia de angústia pela espera do inimigo tomou de assalto os corações das tropas, que se mantiveram firmes em suas posições.

Ao amanhecer de novo dia o comando dos exércitos se reuniu no acampamento para confabular sobre suas posições e que ação tomar.

- Se eles se mantiverem recuados na floresta teremos que avançar... Ponderou Grimbeorn.

- Não podemos avançar. Cairíamos feito moscas se sairmos do vale... Contestou Athan, comandante élfico de Eryn Lasgalen.

- Athan tem razão. Se avançarmos seremos destruídos... Manifestou-se Haldir.

- E se dividíssemos nosso contingente subindo a muralha, passando pelo contraforte de cima? Lá existem muitas trilhas, que levam a floresta. Poderíamos atacar pela retaguarda e forçar o retorno deles para dentro do vale... Sugeriu Dain Pé de Ferro.

Desta vez foi Legolas quem se manifestou... – Mesmo dividindo nosso contingente não teríamos guerreiros suficientes para forçá-los a avançar pelo vale. Além do mais correríamos o risco de sermos atacados pela retaguarda, porque é certo que eles ainda têm outra armada pronta para sair do seu covil.

Mal Legolas acabou de proferir essas palavras sentiram uma ligeira vibração seguida de um estrondo vindo do interior da floresta. Um silêncio se fez presente e todos se entreolharam imaginando o que poderia ter sido. A reunião cessou e todos correram para a muralha da sentinela vendo ao longe a floresta. Nem mesmo os elfos conseguiam ver mais nada além das copas das árvores sumindo no horizonte.

Neste dia a horda Orc manifestou mais uma vez a sua ira adiando a possibilidade das tropas aliadas avançarem para a floresta, entretanto, a cada tentativa de ataque do inimigo uma manobra diferente era aplicada para alcançar os soldados entocados.

Só não poderiam prever por quanto tempo resistiriam mantendo suas posições. E esse estrondo na floresta? Que outro perigo os Orcs poderiam estar preparando? Essas perguntas atormentavam as tropas. Quando se preparavam para nova investida, o inimigo cessou o ataque. Naquele momento, mais do que nunca temeram o que poderia estar por vir.

Os comandantes retornaram para o acampamento e continuaram confabulando sobre uma forma de resistirem. Sem ainda terem uma solução eficaz o desânimo começou a abatê-los e, um a um, chegariam à conclusão de que teriam que avançar no ataque.

Glorfindel falou incisivamente... – Não vamos deixar nossas posições. Temos que esperar.

Todos começaram a discutir sobre a posição irredutível de Glorfindel, mas ele não mudava sua opinião até Legolas perguntar o motivo.

- O que você sabe que ainda não nos contou? Age como se esperasse por um grande acontecimento.

De repente o som de uma corneta soou no meio da floresta e o barulho de cascos de cavalo pôde ser ouvido pelos elfos.

- Essa corneta é de Gondor!... Como é possível?... Legolas reconheceu o toque da salvação de imediato.

- O que vocês acham de uma ajuda inesperada?... Indagou Glorfindel sorrindo para os comandantes.

Neste momento entrou um soldado élfico na tenda onde os comandantes estavam reunidos.

- Majestade! O exército de Gondor está se aproximando.

- Acho que sua esposa nos mandou essa surpresa, Legolas. Quando nos despedimos ela pediu para que mantivéssemos nossas posições mesmo sob o recuo do inimigo. Ela esperava que os Orcs não caíssem na nossa armadilha, então falou para aguardarmos pela ajuda. Só pode ser Gondor... Disse Glorfindel.

Uma grande gritaria foi seguida do tilintar de aço se chocando e em pouco tempo o exército Orc invadiu o vale misturado à cavalaria de Gondor. Os aliados se posicionaram novamente e a batalha recomeçou.

Os primeiros a serem avistados foram Aragorn e Narthan, e Legolas mergulhou no meio da confusão de lanças e espadas para saber sobre Kyara, imaginando que ela estivesse com eles.

Num primeiro momento os Orcs reagiram com pânico atacados pela retaguarda, enquanto os elfos atacaram outra vez, com contingente renovado.

- Aragorn!... Gritou Legolas entre os Orcs.

- Legolas!... Respondeu Aragorn o alcançando e os dois se abraçaram... – Desculpe-me a demora, mas somente vi a mensagem da Kyara graças a Arwen.

- Como assim mensagem da Kyara? Onde ela está?... Perguntou Legolas.

Aproximando-se deles veio o capitão Narthan... – Meu Senhor!

- Narthan, onde está a Kyara? Ela está aqui?

- Melhor sairmos dessa confusão para falarmos... Pediu Aragorn.

Conseguiram se afastar da batalha indo para as trincheiras ao pé da montanha e Legolas pediu esclarecimentos, aflito. Aragorn contou que há quase um mês atrás um falcão começou a rondar o jardim interno do palácio e sempre pousava em sua varanda.

A princípio ele não deu importância ao fato e alguns dias se passaram até Arwen notar uma tira de pano presa a ave, e imediatamente ele se lembrou de uma conversa que havia tido com Kyara no jardim.  Ele retirou a tira de pano e nela continha uma mensagem da Kyara relatando o conflito com os Orcs e seu pedido de ajuda.

- Imediatamente reuni mil e quinhentos homens e vim para cá. Não pude trazer mais porque estamos retomando as negociações com os Haradhrim e por conta disso precisei deixar uma armada preparada para qualquer conflito em Gondor, sob o comando de Faramir.

- Tudo bem, meu amigo. Estávamos num impasse vendo à hora de nos lançarmos sobre os inimigos pela floresta e perdermos nossas posições. Sua chegada nos salvou. Mas isso não explica onde está Kyara.

- Legolas! Sua esposa está nas montanhas centrais. Quando nos aproximávamos do vale sentimos um tremor de terra e agora estou certo de que ela seguiu com aquela ideia de soterrar os Orcs nas cavernas... Eu tentei impedi-la, mas teria que usar a força para isso. Me desculpe, mas falhei. Não pude detê-la. No dia seguinte a sua partida ela foi para a floresta. Recuperou seus poderes e me pediu para ir ao encontro do rei Aragorn na entrada da trilha dos elfos.

- Então ela está vindo para cá... Disse Legolas.

- Mas tem uma coisa que precisa saber... Narthan estava por demais constrangido culpando-se pelas atitudes da princesa... - Ela foi em direção às montanhas com centenas de lobos. Falou que eles seriam nossos aliados nessa guerra... Não sei como ela conseguiu. Só sei que estivemos cercados por centenas deles. Tudo é uma grande loucura, mas optei pela insubordinação porque não poderia deixá-la sozinha na floresta. Ela estava determinada e me convenceu a seguir adiante.

- Fique tranquilo, meu irmão. Nunca acreditei realmente que conseguisse deter essa mulher insana... Concluiu Legolas... – E nem deveria lhe atribuir essa tarefa. Se o fiz foi num momento de desespero. Com sua ausência quem você deixou no comando.

- Finlod ficou no comando. A clareira está cercada e todos a postos. Se preferir, posso retornar ao reino.

- Não tema. Finlod é competente e Rumir saberá como agir. O que devemos fazer é manter a batalha aqui e não permitir que essa praga avance para os povos ao redor... Decretou Legolas olhando em volta, preocupado com a esposa. Nada mais poderia ser dito ou feito a não ser esperar pela chegada dela.

A batalha transcorreu feroz pelo restante do dia sem trégua, e pouco a pouco os Orcs começaram a ser dominados no vale e a vitória parecia próxima, quando um grito ecoou dos picos acima da muralha.

Orcs haviam tomado o caminho das trilhas chegando ao pico da montanha onde havia sido construída a muralha de pedra. O plano de Bain para pegá-los de surpresa pela retaguarda acabou virando-se contra os aliados.

Uma enxurrada de Orcs descia precipitadamente para atacar os contrafortes por cima, com o propósito de invadir o acampamento no estreito da montanha. Se continuassem seguindo por aquele caminho os aliados acabariam sendo forçados a inverterem suas posições.

Guerreiros aliados tombaram e a batalha tornou-se uma tormenta para todos os lados. A luta passou a ser deflagrada aberta e diretamente. Os Orcs juntaram-se de novo no vale e por cima do contraforte da muralha e até mesmo do Morro do Corvo, cujo bloqueio havia sido derrubado. Os exércitos aliados viram-se encurralados no sopé da montanha e no estreito entre a montanha e a muralha da sentinela.

Um grupamento de Orcs avançou contra os aliados com cimitarras de aço, que varriam os soldados a cada golpe. Agora a vitória estava além de qualquer esperança. Nesse desespero Legolas somente imaginava a chegada da Kyara que não acontecia.

O dia já se despedia e nada dela aparecer.

Ao cair da noite houve uma trégua com o ataque dos inimigos e os exércitos aliados puderam se organizar agrupados no sopé da montanha, nas suas encostas e no estreito da muralha. Reuniram ainda um grande grupo para bloquear a passagem das trilhas para a muralha, utilizando pedras e troncos e tentar refazer o bloqueio na passagem para o Morro do Corvo. A construção das barreiras levou quase toda a madrugada. Foi uma noite longa, fria e desgastante.

Em pouco tempo amanheceria e Kyara ainda não havia dado sinal de vida, e cada vez mais Legolas estava certo de que algo terrível havia acontecido. Quando tomou a decisão de abandonar a batalha para procurá-la na floresta, os Orcs atacaram novamente e desta vez trazendo um poderoso aríete feito por um forte tronco de árvore bem resistente, tendo na ponta uma testa de ferro em formato de bola com gigantescos espigões.

Eles avançaram sobre o bloqueio de pedras e troncos enquanto o exército aliado se agrupava novamente ocupando suas posições tentando resistir, obrigando Legolas a permanecer no local da batalha.

As nuvens foram rasgadas pelo vento, e o céu negro foi invadido por um sol vermelho e frio, que cortou o oeste desnudando um brilho repentino na paisagem sombria.

O dia havia chegado e Kyara não apareceu.

A batalha estava longe de terminar e o bloqueio resistia sem saber por quanto tempo mais. Cada investida do inimigo significava o enfraquecimento do bloqueio e a peleja tomou todo o dia avançando pela madrugada adentro, e por dois dias seguidos a resistência se manteve a duras penas.

Há séculos os elfos davam suas vidas em prol da sobrevivência do seu povo, e muitas guerras foram deflagradas nas Terras Ermas. Muitas vezes na companhia de aliados, que juntos mediram força contra o inimigo e lutaram bravamente.

Fortes amizades surgiram dessas batalhas, mas muito se perdeu por conta da maldade e da sede de vingança. Essa guerra não era diferente. Povos declaradamente amigos lutavam lado a lado tentando proteger uns aos outros e os gestos de bravura foram muitos, contudo, não impediram que a morte os atingisse.

Três dias após sua construção, a resistência do bloqueio chegava ao seu fim obrigando o rei Thranduil, acompanhado de Haldir, a precisar desviar maior número de soldados para defender a muralha evitando que os inimigos invadissem o acampamento enquanto os demais lutavam bravamente sem cessar no estreito da montanha e no vale.

Legolas já não se concentrava na batalha preocupado com a ausência da Kyara e seus pensamentos somente o faziam ponderar sobre a vontade de abandonar tudo e ir atrás dela. A conhecia bem o suficiente para ter certeza de que não estaria em outro lugar se não naquele vale. Por outro lado, poderia ter retornado ao reino querendo evitar um embate por conta da sua ousadia, mas algo em seu coração dizia que estava em perigo. Precisava procurá-la. Precisava ter a certeza de que estava bem.

No meio da luta Narthan sentiu uma forte dor no estômago e caiu ajoelhado. Logo um Orc se aproximou para decapitá-lo e Glorfindel lançou sua espada sobre a criatura.

- Está ferido Narthan?... Perguntou Glorfindel ao se aproximar.

- Não fui atingido, mas sinto uma dor muito forte no estômago. Não consigo respirar.

- Venha. Preciso tirá-lo daqui... Glorfindel o suspendeu segurando-o pela sua cintura e o arrastou para a beira do riacho.

- Deixe-me. Você não pode perder tempo comigo.

- Não vou abandoná-lo a morte. Conheço uma pessoa que morreria a míngua se o perdesse... Disse Glorfindel sorrindo.

- O que disse?

- Mirhaniel não resistiria à notícia da sua morte e a estimo demais para vê-la perecer de tristeza. Eu só espero que, sobrevivendo a este inferno, você tenha a decência de casar-se com ela. Caso contrário eu mesmo dou cabo de você.

- Não acredito que me enganei a seu respeito todos esses anos... Disse Narthan com uma expressão de dor e voz estrangulada... – Não se preocupe. Será minha primeira medida logo que retornar... não te dar a chance de ocupar o meu lugar.

Se consumindo de dor Narthan sentiu um gosto adocicado na boca e vomitou sangue.

- Isso não está nada bom... Proferiu Glorfindel não escondendo a preocupação.

Os dois estavam abaixados à beira do riacho quando um clarão se formou ao lado deles. No ar um momento de silêncio se fez e todas as atenções se voltarem para a forte luz.

Glorfindel e Narthan cobriram os olhos e uma nuvem de flechas atravessou o clarão caindo certeiras sobre os Orcs, e logo outra rajada os atingia novamente no vale e nas encostas da muralha. Foram deflagradas em sequência sem que ninguém soubesse quem ou o que agia camuflado pela luz, e o inimigo sentiu o golpe.

Diante de guerreiros surpresos surgiu uma tropa armada de cavaleiros negros com Kyara à frente montada em Athos. Ao seu comando mais flechas foram lançadas, e pouco a pouco o contraforte foi tomado pelos aliados comandados pelo rei Thranduil.

Os Orcs novamente apavoraram-se diante da intensa luz que os atingiu de frente cegando-os o que deu grande vantagem aos combatentes aliados. Quando a luz cessou uma avalanche negra avançou pelo lado esquerdo do vale e por sua entrada. Centenas de lobos invadiram o campo de batalha para atacar os Orcs e suas montarias.

- Heitor! Mande seus homens subirem a muralha... Caled! Cerque a entrada do vale. Não os deixem recuar. Precisamos de reforço no estreito do paredão. Se eles atravessarem chegarão ao acampamento e os habitantes... Estebam!... Estebam! Leve seus homens para o estreito da muralha. Eles não podem chegar ao acampamento... Vamos varrer esses nojentos. Eu não quero nenhum vivo.

Gritava ela montada em seu corcel negro, com a espada em punho para a armada negra que avançou pelo vale. Ela cavalgou no meio da batalha dando ordens de ataque aos companheiros e os guerreiros aliados admiraram a figura negra e imponente da dama, que reluzia como a estrela Elentarí e lutava com bravura e fúria impiedosa, como a maior das feras da Casa de Tulkas, o Valar da guerra.

No tempo em que permaneceram ali assistindo a intervenção dessa tropa misteriosa sob o comando da Kyara depararam-se com outro cavaleiro montado em uma égua branca sem sela. Ele desmontou próximo a Glorfindel e Narthan vestindo com uma capa grossa e um capuz que lhe cobria o rosto. Portava uma espada na cintura, uma aljava carregada nas costas e outra presa a perna direita, com um grande arco de freixo na mão. Ele fez o arco cantar, como Legolas fazia e esvaziou uma das aljavas nesse curto tempo tão extraordinária era sua habilidade, deixando Glorfindel muito intrigado sobre a identidade do arqueiro a sua frente.

Legolas tentava a todo custo alcançar Kyara em meio ao tumulto da batalha e, ao vê-lo, ela desmontou. Com os braços cruzados a frente do corpo desembainhou duas espadas da cintura, e no tempo que caminhou na direção do marido abriu passagem com as espadas.

- Achei que você precisaria disto.

Ela retirou das costas um grande arco de freixo entalhado com símbolos de Tiria e uma aljava carregada. Ele segurou o arco junto com a mão dela e a puxou para si.

- Por que demorou tanto?... E a beijou em meio à batalha. Seu alívio ao vê-la viva e bem não tinha preço.

- Como sabia que eu viria para cá?

- Eu a conheço tão bem quanto você mesma.

- Não está zangado com tudo o que aconteceu e ainda me vê aqui?

- Tenho que me conformar com o fato de que amo uma mulher louca e ainda extraordinária guerreira... Disse ele acariciando seu rosto e a beijou novamente... – Somos imbatíveis juntos, não somos?

- Sim... Respondeu ela sorrindo.

Os dois viraram-se de costa um para o outro e retomaram a luta. Logo a aljava de Legolas havia esvaziado e ele passou a golpear seus oponentes com as adagas. Os dois giravam formando um círculo, atacando com muito sincronismo.

Glorfindel retomou a luta, mas manteve-se próximo ao rio temendo que algum Orc viesse atacar Narthan. Sua agilidade e elegância para lutar eram admiráveis e não passou despercebido pelo arqueiro misterioso. Num dado momento, Glorfindel foi lançado longe por um dos Wargs que corria em disparada, alucinado com um ferimento.

A sua frente uma mão foi estendida para ajudá-lo a se levantar e ele a segurou, firmando-se de pé diante do guerreiro sem rosto. Ele era mais baixo que Glorfindel e sua mão lhe pareceu pequena e delicada para um soldado com suas qualidades.

Como já havia esgotado todas as flechas que portava, o arqueiro retirou sua capa e desembainhou sua espada da cintura, partindo para o confronto direto com os Orcs. Ao fazê-lo acabou revelando-se uma elfa de olhos cinza e cabelos dourados presos por um rabo de cavalo com finas tranças que chegavam quase à metade das costas.

Glorfindel não acreditava no que via a sua frente. A elfa vestia uma calça de couro, um cinto largo, braçadeiras e um colete que cobria apenas os seios. Seu corpo era esguio, porém demonstrava uma estrutura forte, com curvas bem salientes e seu rosto extremamente belo.

Quem era aquela criatura e de onde veio?... Perguntou-se Glorfindel.

Aos poucos, os aliados perceberam a presença da elfa no meio da batalha e ficaram tão pasmos quanto Glorfindel.

Golpe após golpe os Orcs foram caindo.

Narthan avistou Elrohir cercado e ergueu-se com a espada em punho para ajudá-lo. Não pôde evitar vê-lo ser atingido por uma cimitarra, que o fez curvar-se. Narthan saltou sobre os Orcs e duelou corajosamente, para socorrer Elrohir, que estava caído.

Despontava-se o crepúsculo no horizonte e com ele a aniquilação dessas criaturas malignas. Gritos de vitória puderam ser ouvidos por todo o vale e a alegria tomou conta dos guerreiros. Ainda assim muitos haviam caído e outros tantos estavam feridos.

Como toda a guerra, a dimensão traumática dessa passagem estava nas duras marcas deixadas nas memórias e nos corpos dos bravos combatentes. O gosto de vitória, que vinha aos berros nos primeiros momentos, logo seria substituído pelo alívio de ainda estar vivo e depois tudo não passaria de uma tristeza nos olhos e na alma.

Muitos ainda traziam marcas das feridas de outras batalhas, que pareciam doer se não na carne no coração, e o choro dos que ficaram pelos que foram levados não teria cor de esperança. Toda guerra é mundana e todos perdem.

O único alívio era erguer-se do chão após a batalha e saber que sobrevivera.


Notas Finais


Para quem estava atendo, muitas coisas estão em andamento aqui: Kyara aparece no meio da batalha com um grupo de guerreiros, Elrohir sendo ferido, Glorfindel e Narthan ensaiando uma amizade, uma elfa misteriosa... Acabou a própria Idrial ajudando a Kyara a escapar do palácio do rei. Ela teme pelo seu amor e confia na Kyara, mas está com o coração na mão com medo de ter feito a escolha errada.
O que mais está por vir? Surpresas a caminho, queridos.
Falo com vocês nos comentários.
Uma beijoca!


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