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História A Força do Amor - Nem Tudo É Morte


Escrita por: Indis_Imladris

Notas do Autor


Olá, caríssimos leitores! Este é o penúltimo capítulo... :(
Preparados para mais emoção? Para fortes emoções? Então, lá vai...
Boa leitura!

Capítulo 44 - Nem Tudo É Morte


Quando Kyara pensou que chagara seu fim, a cabeça do Orc, que lhe apontava outra flecha, voou longe. Legolas surgiu em seguida e a segurou desesperado vendo que ela estava ferida com uma flecha atravessada no ombro esquerdo. Legolas a pegou no colo levando-a para o acampamento.

- Pensei que não alcançaria aquela criatura. Sabia que algo assim acabaria acontecendo... Falou Legolas nervoso caminhando apressado com ela nos braços.

- Obrigada por me salvar... Kyara não escondia seu sofrimento ao falar com voz engasgada... – Preciso que me ajude a retirar esta flecha.

Ao chegar à tenda, que servia de enfermaria, Legolas a colocou sentada sobre uma mesa. Não demorou muito e logo houve uma aglomeração na frente da barraca. Os amigos queriam saber como se deu o ataque e o quão ferida estava Kyara. Logo a notícia de que a princesa havia sofrido um ataque se espalhou pelo acampamento causando uma apreensão geral.

O primeiro a entrar na tenda foi o rei ... – Kyara!... A vendo sentada sobre a mesa com uma flecha cravada no ombro o rei se dirigiu ao filho... – O que houve? Como ela se feriu?

- Ela estava à beira do rio socorrendo o líder da matilha de lobos e um Uruk a atingiu. Ele acertou uma flecha no ombro esquerdo dela. Só não foi o pior porque eu cheguei a tempo.

Enquanto pai e filho conversavam, Kyara se concentrava no seu ferimento... – Ranila! Procura no baú um alicate para quebrar a ponta da flecha nas minhas costas. A sorte é que atravessou a carne... Tem que quebrar sem despedaçar a madeira. Não pode ficar nenhuma farpa no ombro quando for puxada... A voz da Kyara era firme, mas seu semblante denunciava o tamanho da dor que sentia.

- Kyara! O chá para a dor... Lembrou Ranila.

- Não! Eu não posso. Desta vez terá que ser sem o auxílio das ervas.

- Por que não?... Perguntou Legolas, sem entender o motivo para não usar as ervas.

- Legolas, segure a madeira junto ao meu corpo... Isso, dos dois lados... Segure firme, por favor!

Ao menor toque Kyara tremia deixando escapar gemidos de dor.

- Agora Ranila quebre a ponta.

Eles procederam conforme orientado e Ranila quebrou a ponta da flecha. Kyara respirou fundo e segurou a madeira firmemente. Num único movimento ela puxou a flecha deixando escapar um grunhido, e encostou a cabeça no ombro de Legolas, tremendo. Neste momento, Aragorn pedia licença para adentrar na barraca querendo notícias da Kyara e ficou na companhia de Thranduil em um canto enquanto conversavam baixo para não incomodar.

- Está tudo bem... Tudo bem... Kyara inspirava forte soltando o ar pela boca tentando controlar a dor... – Ainda não cheguei ao pior. Preciso queimar o ferimento para cessar o sangramento.

- Kyara, beba o chá... Pediu Legolas... – Não tem sentido você passar por todo esse sofrimento podendo amenizar suas dores.

- Meu amor! Eu não posso ingerir as ervas sedativas... Primeiro, porque preciso ficar atenta ao que estou fazendo.

Legolas esperava que ela continuasse com suas explicações o que não correu e se impacientou com o silêncio da esposa, pressentindo que ela lhe escondia algo importante.

- Olhe para mim, Kyara. Diga por que não pode beber o chá... Solicitou Legolas gentilmente.

Kyara olhou para ele com os olhos marejados. Tanto Aragorn quanto Thranduil silenciaram percebendo que algo não estava correto e prestaram atenção ao diálogo do casal.

- Sei que está sofrendo muito, mas percebo que me esconde algo... E por que você não vai mais lutar?

Legolas aguardou que ela se explicasse... – Minhas lágrimas não são por causa da dor... Na verdade estou emocionada, agora que estou aqui com você... Queria lhe contar num momento mais apropriado.

- Contar o quê?

Ela se calou olhando fixamente para ele... – Me dê sua mão... Pediu ela tomando fôlego.

Legolas não entendeu a razão do pedido, mas ela insistiu e, ao estendê-la, Kyara levou a mão de Legolas à sua barriga pressionando-a e anunciou com voz embargada.

- Meu amor, sua semente germinou... Ela suspirou mais uma vez emocionada... – E agora uma criança cresce rápido e forte em meu ventre.

A expressão incrédula de Legolas a fez calar esperando que ele dissesse algo. A surpresa foi tamanha que não só Legolas, mas Thranduil e Aragorn calaram enquanto assimilavam a informação. Ranila abraçou Kyara festejando e a parabenizou. Legolas se manteve estático de boca aberta olhando para a barriga da esposa e Kyara foi obrigada a enfatizar a notícia.

- Eu estou esperando um filho, Legolas... Nosso filho.

Saindo do seu estado de completa surpresa e, ensaiando uma reação emocionada, Legolas acariciou o rosto da esposa a beijando.

- Um filho, Kyara!... Meu filho!

- Meu neto!

Thranduil não teve a intenção, mas sua voz soou imperativa empregando um orgulho bobo de avô nas palavras. Aragorn sorria feliz com a notícia tão inesperada.

- Como você pôde se arriscar tanto sabendo que estava grávida? Colocou sua vida em risco e a do nosso filho.

- Eu não sabia até Gahya vir em meu socorro... Por favor! Vamos falar sobre isso depois.

Legolas balançou a cabeça negativamente pensando na loucura que sua esposa havia feito, mas o que importava aquela altura? Ele a abraçou se sentindo um bobo por chorar. Ele recebeu os cumprimentos do pai e do amigo e juntos festejaram a boa notícia.

Aragorn não querendo incomodar Kyara, que ainda não tinha terminado de tratar seu ferimento, a beijou na face e lhe sorriu, mas o sogro não se fez de rogado e a abraçou beijando-a na testa.

- Então, você me dará um neto. Agora estou entendendo um pouco do seu mal estar. Seus enjoos, seus desmaios. Tudo não foi somente por causa da sua magia, não é?

- Fiquei muito fraca, sim, por usar excessivamente minha magia sem contato com a floresta, mas parte do meu mal estar era por causa da gravidez. O pouco de energia que me sobrava o bebe a consumia e isso piorava muito meu estado de saúde... Ela sorriu... – Seu neto, majestade, já é protegido pelo poder dos eldar e pela magia de Tiria. Ele nascerá um elfo e correrá o sangue de guerreiros nas suas veias, como seus pais e seus avós.

O rei sorriu e a abraçou mais uma vez... – Minha criança! Começo a acreditar que você é mesmo a nossa estrela Elentarí ou, seja como for, é a benção de Eru... Um momento! Você disse: seu neto. Você já sabe que será um menino?

Ela riu com a ansiedade que o sogro não escondia e gemeu sentindo o ombro latejar, enquanto o sangue jorrava forte.

- Agora, posso pedir licença aos cavalheiros para terminar meu tratamento?... Legolas ajude-me a tirar minha roupa.

Todos saíram permanecendo apenas Ranila e Legolas.

Do lado de fora a novidade corria pelo acampamento e foi motivo para mais comemoração. Ranila saiu da tenda para colocar no fogo o ferro que encontrou no baú e em poucos instantes retornou com a ferramenta em brasa. A elfa banhou Kyara até a cintura para limpar o suor da batalha antes de queimar o ferimento e enfaixá-la.

Os que estavam próximos ouviram um grito abafado vindo de dentro da tenda. Legolas a apoiou em seu ombro depois que ele mesmo colocou a mistura esverdeada que ela usou para tratá-lo e enfaixou o ferimento com a ajuda da elfa.

- Fale a verdade, você preferiu queimar o ferimento a ferro quente só para não beber aquele veneno que me dava toda hora... Ela sorriu... – Você está rindo? Eu sei o que sofri.

- Seu bobo! Não fugirei daquele veneno. Só não posso beber o chá que deixa a pessoa inconsciente porque ele é abortivo.

- E a loucura que fez vindo para a batalha sabendo que está grávida? Essa flecha poderia ter sido mortal para vocês dois.

- Por favor, Legolas, não se zangue comigo. Fiz tudo o que fiz porque me foi garantido que nosso filho não correria riscos... Legolas suspirou resignado... – Agora preciso socorrer o líder dos lobos.

- Kyara! Você está ferida, cansada e grávida... Agora chega!... Ela o interrompeu.

- Não, Legolas! Preciso socorrê-lo. Ele me ajudou a chegar às montanhas de Emyn Duir e impediu que os Orcs me atacassem. Esses lobos ainda se sacrificaram nessa batalha... Não posso abandonar o líder agora.

E mais uma vez Legolas se viu atendendo aos apelos da esposa.

Recolheram do vale o grande lobo e Kyara tratou do ferimento dele com a ajuda do seu marido. Os outros lobos, os homens de Grimbeorn se responsabilizaram pelo atendimento. Levando-a para sua tenda, Legolas havia conseguido água e roupas limpas para que os dois se banhassem e se trocassem. Ele ainda providenciou uma refeição para os dois e deitou-se com ela obrigando-a a descansar um pouco.

Enquanto isso Ranila foi à tenda de Elrohir para acompanhar seu estado de saúde e deparou-se com Glorfindel de pé em um canto escuro. Ela caminhou em silêncio para o enfermo e testou a temperatura do seu corpo. Verificou suas pupilas e, usando uma faca, colocou-a a frente das narinas do elfo observando a regularidade da respiração dele.

- Ele ainda está vivo, se é o que quer saber... Comentou Glorfindel com rispidez.

Ela não lhe deu atenção e voltou-se para a saída da tenda. Arrependido do seu comportamento com a dama, o elfo tentou se retratar.

- Milady!... Perdoe-me por minha indelicadeza. Sei que está aqui para ajudar.

- Seu braço está ferido, guerreiro.

Respondeu ela, simplesmente. Glorfindel olhou os braços sem perceber o ferimento que encharcava sua roupa de sangue, manchando sua armadura.

- Acompanhe-me.

Dizendo isso, a elfa se retirou deixando-o para trás. Na tenda usada como enfermaria, ela postou-se diante dele com o semblante carrancudo e Glorfindel não gostou da atitude dela, mas tinha que reconhecer que ele havia sido rude primeiro.

- Sente-se guerreiro.

Ranila o ajudou a retirar a armadura e rasgou a manga da túnica. O corte era relativamente grande, mas não era fundo e não havia necessidade de pontos. Dirigindo-se a uma sentinela do lado de fora da tenda, ela pediu que alguém providenciasse a limpeza da armadura do grande guerreiro, o que foi atendido prontamente.

- Mais uma vez agradeço sua atenção e lhe peço perdão por meus modos nada educados... Admito que a situação de Elrohir roubou-me o equilíbrio.

- Como você mesmo disse, ele ainda não está morto... Respondeu ela de cabeça baixa.

Glorfindel ouviu a elfa e mais uma vez voltou seus olhos para a pessoa a sua frente atento aos seus movimentos.

- Como é possível uma elfa vir das terras da princesa Kyara?

Ranila não respondeu. Ela lavou o ferimento com cuidado, aplicou as ervas da Kyara, enfaixando bem apertado. Enquanto era atendido, Glorfindel não desviou seus olhos nem um momento, observando-a em silêncio. Ranila sentia o peso do olhar intimidador do elfo sobre ela desde que chegara e evitou confrontá-lo.

- Vejo que os soldados já foram medicados e tratados, e não há muito que fazer agora... Ela permaneceu em silêncio... – Eu pedi que preparassem minha tenda para que a dama pudesse se banhar e descansar um pouco. Sua bagagem já está lá. Sua montaria já foi tratada e está ao lado da tenda... Disse Glorfindel tentando melhorar a péssima impressão que deixara.

Ela terminou o curativo e olhou fixamente para ele. A beleza dos olhos dela tinha um poder hipnótico para Glorfindel, que se esforçava para não perder a concentração.

- Obrigada por se preocupar, mas ficarei aqui na enfermaria.

- Posso saber por que se lhe ofereço melhores condições de acomodação?... Um guerreiro merece descanso depois de uma batalha, e você lutou bravamente... Ainda tratou muitos feridos.

- O que quer elfo? Primeiro me destrata e agora se preocupa?

- Mais uma vez peço seu perdão. Não tenho o hábito de tratar com indelicadeza uma dama. Esse é o meu dever de cavalheiro – Assisti-la em suas necessidades... Glorfindel estranhou o semblante desconfiado da elfa que fazia cara de poucos amigos para ele... – O que se passa na sua cabeça? Acaso está com medo de mim?... Fique tranquila porque não dormirei na mesma tenda. Ficarei com Elrohir.

Ela pensou por um instante e acabou aceitando a oferta... – Muito bem. Agradeço a gentileza. Leve-me até sua tenda, então.

Glorfindel não poderia negar que aquela elfa o intrigava, principalmente pelo seu jeito reservado e arredio, com ares misteriosos. Impossível não voltar seus pensamento para aquela mulher estranha e todas as perguntas inevitáveis sobre ela... – Quem poderia ser? A qual comunidade élfica poderia pertencer? Como havia ido parar nas terras da Kyara?... Muitas perguntas sem respostas. Resignado, ele seguiu calado.

Diante da tenda abriu passagem e a elfa entrou. Ela observou o lugar por alguns segundos enquanto ele aguardava de pé na entrada.

- Tudo está do seu agrado? Precisa de mais alguma coisa, milady?

Ranila voltou-se para ele e manteve-se em silêncio encarando-o séria. Glorfindel entendeu que era o momento de se retirar, mas não conseguiu sair de onde estava distraído com a visão dela. Sem perceber a olhava dos pés a cabeça num misto de admiração, espanto e suspeita.

- Se sou mais uma da sua raça por que o espanto?

- Porque você é a elfa mais incomum que já conheci... Respondeu ele já desperto.

- As outras mulheres da nossa raça não lutam?

- Nunca foi costume... De onde exatamente você vem?

- Fui encontrada no leito de um rio ainda uma recém-nascida e nunca soube nada a meu respeito... Estou aqui justamente para descobrir minhas origens, saber se tenho família... Ela caminhou até ele parando a sua frente... – Um tipo incomum de mulheres guerreiras me resgatou do rio e vivi com elas até ser acolhida por Gahya há uns anos atrás... Se me permite gostaria de me banhar e vestir algo menos chamativo.

- Por certo, perdoe-me... E fez menção de sair.

- Lamento pelo seu amigo, guerreiro.

Ele se voltou para ela mais uma vez... – Glorfindel... Meu nome é Glorfindel.

Ele se retirou fazendo-lhe uma reverência e ao se afastar ela se pronunciou... – Ranila.

Glorfindel parou, voltando-se mais uma vez para a elfa e inclinou a cabeça ligeiramente. Um brilho diferente escapou dos olhos do guerreiro de Gondolim, que foi capturado pela dama guerreira com um sorriso discreto nos lábios.

 

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Legolas estava deitado na penumbra da tenda com Kyara descansando em seu ombro.

- Ainda não acredito que você está grávida... Ele riu... – Tem uma criança crescendo dentro de você!... E retirou o braço de trás da cabeça dela se debruçando sobre a barriga para beijá-la... – Meu filho!... Agora teremos a nossa família.

Ela sorria feliz com a emoção que ele lhe passava e os carinhos que fazia... – Sim, teremos... Seria perfeito se Elrohir não estivesse no estado em que se encontra... Você tem esperanças de que ele se recupere?... Perguntou Kyara preocupada.

- Sabemos do que o amor é capaz. Tenho esperanças de que Idrial possa trazê-lo de volta.

- É com isso que conto... Lembro o dia quando ela me revelou seus sentimentos por Elrohir. Tive vontade de dizer a ela que achava ser recíproco... Ela pensou que ele a detestasse por conta do seu distanciamento... E os dois riram... – Engraçado, não é? A ideia equivocada que fazemos das coisas. Não quero nem pensar na reação dela quando souber.

- Você vai me contar agora o que aconteceu quando foi para as montanhas de Emyn Duir?

- Quer mesmo saber?... Tenho medo que se zangue comigo se souber.

Legolas ergueu as sobrancelhas num gesto de insistência para que ela continuasse. Kyara fechou os olhos e suspirou, sentando-se em seguida para começar seu relato.

"O sol havia se escondido atrás das montanhas há muito tempo. As sombras já se adensavam ao redor da Kyara e dos lobos, embora à distância, por entre as árvores e sobre as copas negras das que cresciam mais abaixo, ainda pudessem ver as luzes do entardecer. Ela foi avançando com dificuldade, tão rapidamente quanto podia, pelas encostas suaves de um bosque de pinheiros, numa trilha oblíqua, que seguia sempre para o sul. Às vezes abriam caminho através de um mar de samambaias com frondes altas. Às vezes avançavam com o maior silêncio sobre um leito de agulhas de pinheiros, e a cada momento a escuridão da floresta ficava ainda mais pesada e o silêncio mais profundo.

Tornou-se muito arriscado seguir pela trilha até as montanhas sem ser surpreendida por alguma patrulha então ela passou a noite com os lobos em uma caverna beirando os pântanos da floresta. Percorreria por esse trajeto por um dia. Ao amanhecer do segundo dia ela chegou ao local desejado vendo muita movimentação na entrada da caverna, com patrulhas chegando da floresta a todo instante.

Por certo que estavam se organizando, então ela esperou até que pudesse agir sem ser vista.  Logo a armada Orc cercou as montanhas se preparando para seguir rumo ao vale. Ela se esgueirou o máximo que pôde pela vegetação ficando encoberta pelas folhagens altas. Os lobos espalharam-se em torno do lugar esperando com ela uma oportunidade para atacarem, mas não imaginavam serem surpreendidos por um grupamento vindo do mesmo caminho percorrido por eles. Sem ter escolha Kyara foi obrigada a revelar sua posição para se defender. Logo ficou cercada e lutar foi sua única saída.

Uma vez mais o aço da sua espada foi implacável e mostrou aos seus oponentes o destino cruel que os aguardavam. Deflagrada a luta, outro grupo se dirigiu para o lugar, mas desta vez ela contou com os lobos para ajudá-la, que atacaram. Lutavam bravamente, mas seriam derrotados logo e Kyara precisou se desvencilhar dos seus oponentes para por em prática seu plano.

Os lobos fizeram um cerco protegendo-a e ela conjurou seus poderes, utilizando, mais uma vez, a energia de Tiria. Com as mãos erguidas, repetindo seu encantamento, nuvens se concentraram em torno das montanhas com uma forte ventania circulando em suas encostas. Seu corpo parecia uma estrela azulada brilhando intensamente e rajadas flamejantes foram lançadas sobre os Orcs, que corriam para dentro das cavernas em completo desespero.

Algumas árvores foram arrancadas pela ventania e os lobos fugiram assustados com a fúria da natureza provocada por ela. O chão começou a tremer e as pedras começaram a rolar. Ela repetia incessantemente as palavras de encantamento enquanto as montanhas vibravam cada vez mais forte. O tremor foi tão grande que muitas cavernas dentro das montanhas foram soterradas e os Orcs foram esmagados. O horror levou a eternidade de alguns minutos. A quantidade de terra e pedra que deslizou desmantelou a formação rochosa das montanhas, as entradas e passagens internas modificando para sempre a geografia do lugar.

Tanto poder manifestado de uma forma tão intensa foi demais para Kyara, que caiu com apenas um sopro de vida. Em pouco tempo os lobos se aproximaram e a cercaram. Dangroth se aproximou dela e lambeu seu rosto, mas ela permaneceu imóvel. Athos, já acostumado com os lobos, se aproximou e relinchou algumas vezes empurrando com o focinho o corpo dela para acordá-la, mas o que parecia era que desta vez Kyara havia se consumido por completo.

Tudo ao seu redor ficou branco e frio e ela permaneceu deitada inerte no meio do nada de olhos semiabertos. Sabia apenas que respirava, mas não tinha forças se quer para mover um dedo. Uma brisa leve e perfumada tocou seu rosto e quando se deu conta estava deitada no salão do Poço dos Ancestrais em Tiria e viu Gahya abaixada ao seu lado.

- O que aconteceu?... Perguntou Kyara sussurrando.

- Você usou toda sua energia para destruir as montanhas da floresta, ao ponto de levá-la beira da morte. Eu a socorri e a trouxe para Tiria. Você precisava das águas do Poço para se regenerar.

Kyara se sentia estranhamente leve, como se seu corpo não pesasse mais que uma grama.

- Não consigo sentir as coisas... Parece... que sou um fantasma.

- Suas forças estão voltando aos poucos. É melhor continuar deitada... Você se arriscou demais, Kyara. De todas as loucuras que já foi capaz de fazer essa foi a maior delas. Poderia ter morrido. Sabe que não posso ressuscitar ninguém.

- Sei que tenho andado fraca.

- A questão é que desta vez você não morreria sozinha.

- Como assim?... Legolas não estava comigo, mãe.

- Eu sei... Não me referia a ele, minha filha. Estou me referindo à outra pessoa... Seu filho! Mesmo com o poder dos eldar o protegendo, ainda assim você poderia ter provocado a morte dele.

Kyara olhava para ela incrédula tentando assimilar as palavras que ouvira.

- Você está grávida. Por sorte seu filho ainda vive em seu ventre.

- Meu filho?

- Sim. Seu filho... Desde já mostra que é forte e guerreiro como os pais e os avôs. Nascerá um elfo e o poder da sua descendência paterna o protege.

- Eu quase levei meu filho à morte?

- Sim... Sua regra é irregular pelo esforço que faz como guardiã. E, por isso não se deu conta do seu estado atual. Você fez sua escolha. Agora terá que abandonar velhos hábitos e preparar-se para a maternidade... Mas, ainda poderá realizar um último feito.

Nos dias em que Kyara permaneceu em Tiria se recuperando, Gahya convocou os guardiões de Tanusia para ajudarem-na nessa guerra e foi uma satisfação para Kyara poder revê-los. Em Tiria estava uma velha conhecida, que há alguns anos atrás foi socorrida por Gahya depois de ter passado por um tormento muito grande e não deixou de ser surpresa para Kyara sua presença ali. Depois que conheceu a Terra Média, pela primeira vez Kyara olhou para Ranila vendo-a como uma elfa e foi inevitável se perguntar como isso seria possível? Ranila era uma criatura única, misteriosa e imortal. Tinha séculos de existência e ninguém sabia sua história ou quem teriam sido seus pais, nem mesmo ela.

A espera pareceu longa demais para Kyara que temeu pela eficácia das suas ações e o bem estar de todos que amava, querendo retornar o quanto antes.

- Fique tranquila porque o tempo em Tanusia corre mais acelerado que na Terra Média, Kyara. Retornará a tempo de completar sua missão.

Gahya deu a Kyara de presente um arco e uma aljava carregada para que fosse entregue a Legolas e enviou a comitiva para os campos de batalha acompanhada dos lobos.

- Minha criança, a partir de agora seu filho tem a proteção da linhagem do seu marido e da sua linhagem. Tanto o poder dos Eldar quanto o poder de Tiria o protegem, mas essa será a última vez que erguerá Tellas para o combate enquanto carregar essa criança no ventre. Se em algum momento você se ver obrigada a repetir o feito será unicamente para se proteger, e somente o fará em último caso... Agora você viverá a dádiva de ser mãe e nada no mundo se compara a essa emoção. Não tema porque nada acontecerá ao seu filho. Lute uma vez mais para que nunca esqueçam quem você é."

Legolas ouviu tudo em completo silêncio e Kyara continuou.

- Depois de tudo posso dizer que nós dois estávamos errados e certos. Se eu não tivesse me envolvido, agora nosso filho talvez fosse mais um órfão e a floresta teria se acabado. Não poderia prever o que teria acontecido com nosso reino ou com nossas vidas. E se eu tivesse ficado na cidade provavelmente seria obrigada a lutar para nos proteger. Teria lançado mão dos meus poderes da mesma forma e, de uma maneira ou de outra, teria colocado a vida do nosso filho em risco, porque não sabia que estava grávida... Ela suspirou... – Por outro lado, o que fiz foi uma loucura completa. Eu mesma reconheço que minha impetuosidade muitas vezes não passa de imprudência. Por isso peço perdão a você por tê-lo feito se preocupar tanto comigo. Por não dar ouvidos aos seus apelos... Kyara tocou o rosto de Legolas e o beijou... – Essa foi a última vez que ergui minha espada... E colocando uma das mãos na barriga concluiu... – Agora serei mãe e nosso filho está acima de tudo. No fim de tudo aprendi que não preciso de uma espada para ser forte e muito menos provar o meu valor. Posso ser muito mais só com a força do amor que carrego no meu coração por você e por nossa família, ainda mais agora que tenho esse presente crescendo em meu ventre.

- Mesmo antes de saber o que aconteceu não a culpo por qualquer uma das suas atitudes. E lhe sou grato por ser como é. Mesmo que isso me deixe louco às vezes, mas admito que estava certa. Agiu certo e no seu lugar eu teria feito a mesma coisa. Também tenho muito que lhe pedir perdão. Eu a magoei, a ignorei por completo, muito pelo pânico de perdê-la, e... Legolas calou um instante querendo encontrar as palavras certas para admitir suas fraquezas – Eu não sei explicar. Acho que estava com o orgulho ferido por não conseguir fazê-la me obedecer. Fui arrogante a autoritário quando deveria ter te ouvido e te apoiado. Perdão... por tudo... Ele a beijou e falou acariciando os cabelos dela e seu rosto... – Poderíamos ter passado por tudo isso sem tanto desgaste. Você me pediu para dividir minhas preocupações quanto a essa guerra e se eu tivesse atendido ao seu pedido poderíamos perfeitamente ter traçado outros planos... Legolas balançou a cabeça... – Eu nem poderia imaginar que Aragorn estava a caminho. Nunca mais tomarei nenhuma decisão sem lhe consultar, principalmente no que for relacionado à nossa segurança. Temos que aprender a compartilhar tudo na nossa vida, afinal somos um, não é? E não estamos mais sozinhos.


Notas Finais


Eu fui as lágrimas agora. Eu admito que muitas vezes chorei ao longo da história, mas esse momento pude ter a certeza de que os dois finalmente estão se entendendo, dialogando como gente grande, reconhecendo seus erros e pensando juntos sobre o futuro que os espera. Eu estou muito feliz e orgulhosa desses dois.

Kyara não poderia ter feito diferente. Ela precisava fechar com chave de ouro e deixar bem vívida na memória de todos a grande guerreira que ela é.

Sabiamente, ela reconhece que não precisa empunhar uma espada para provar seu valor, porque ela é uma mulher incrível em todos os aspectos e agora está formando sua família ao lado do seu marido. Por essas e outras que amo romance.

Por outro lado, Ranila surge na Terra Média a procura de respostas. Nem ela e nem Glorfindel imaginam como será o futuro para os dois. Quem viver, verá!

Agora temos pela frente mais um drama: O despertar de Elrohir. O que vai acontecer com ele e Idrial? Estou tensa!

Uma beijoca!


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