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História A gamer - Vem ser meu player2


Escrita por: ValotDeadly e Butantan

Notas do Autor


Olá, eu fiquei tão feliz fazendo isso, nossa, vcs não imaginam.

Tem muita referência a d&d e a jogos onlines.

Se passa no ano de 2002 pq peguei de base o que eu jogava, amém Priston Tale.

Capítulo 1 - Vem ser meu player2


Eu sempre fui uma menina levada, que fugia de casa pela janela para jogar video game com meus primos, que sentava esparramada nos lugares, jogava bola com os garotos da rua, subia em árvores para pegar frutas ou pregar peças em que estava passando por ali.

Era o que minha mãe chamava de moleca e, na moral, nunca me importei com isso.

Amava quando meu pai - um nerdão dos anos 80 - me ensinava a jogar D&D ou quando minha mãe me ensinava a fazer bolos na cozinha - por que se tem uma coisa que eu gosto é de bolo -, e nunca, nunquinha mesmo, me senti confusa quanto a isso tudo.

Sabe por quê?

A forma como meus pais me criaram, livres de qualquer rótulo de "isso é coisa de menina" ou "isso é coisa de menino" e o clássico "mocinhas não deveriam fazer isso!", me deixou totalmente consciente daquilo que eu era: uma mina que gostava de jogar RPG com o pai e fazer bolos com a mãe.

Só isso.

E todo esse papo de meninos e meninas só me faziam ver o quanto a humanidade era fechada em torno de seus pré-conceitos - aqueles conceitinhos pré estabelecidos que todo mundo tem -, e o quanto ela sufocava qualquer um que nadava contra corrente.

Não era fácil não. Imagino para os meus pais o quanto havia sido complicado lidar com aquele bando de parente mala que só sabe meter o dedo na criação alheia, mas agradeço todo o santo dia por eles não caírem nas tentações sexistas que reinam no nosso mundo.


--X--

Tudo que sei sobre RPG - não a terapia para a coluna, mas os jogos de tabuleiro mesmo - aprendi com meu pai, um nerdão que passou a adolescência jogando D&D e acabou levando isso para o casamento.

Minha mãe não desgostava, muito pelo contrário, ela amava dias de mesas para testar suas novas receitas no bando do meu pai, e eu sempre curiosa estava ali no meio, ou aprendendo a confeitar bolos com mamãe, ou aprendendo a criar as mais diversas aventuras com papai.

O bom é que nunca me fizeram escolher e eu alternava entre os dois; jogava granulado e glacê nos bolos e aprendia as regras para ser um mago, ou guerreiro, ou druida, ou bardos com meu velho.

E como qualquer criança saudável, amava os tios que vinham jogar, já que eles me traziam balas as escondidas e me ensinavam as artimanhas para criar personagens mais fortes.

Não foi difícil e logo eu estava na minha pré-adolescência, cheia de cadernos decorados com dragões e guerreiros com armaduras medievais.

A era agora era digital e logo encontrei os mmorpgs que me faziam passar horas upando em dungeons para conseguir um simples manto. Eu passava horas fazendo uma simples quest com lobos - ah! Priston Tale, quem te jogou quem te joga -, o que não era simples na época. Levava muito tempo para upar e as quests demoravam para respaunar - malditos lobos que só apareciam uma vez no dia.

Meu pai ainda tinha aquela velha mesa com os amigos. Todos já possuíam personagens em níveis de deuses, mas ainda assim jogavam, mesmo que fosse uma única vez por mês. E minha mãe agora tentava me fazer levar os meus - supostos - amigos para serem suas novas cobaias de bolos.

O problema era que eu não tinha amigos.

Me consideravam moleca demais para andar com as gurias e os guris ficavam "uma mina não joga como a gente joga."

O que era um absurdo, porque eu podia pegar qualquer um deles no X1 a qualquer momento que nenhum iria me vencer.

Exatamente por não jogar como um guri, afinal era boa demais para estar no nível deles.

O meu único amigo era o Baekhyun, filho de Chanyeol, um dos amigos do meu pai - mais precisamente o tio explosivo que jogava de bárbaro berseker e sempre fodia as paradas tudo e mesmo assim sorria porque tinha uma maldita sorte nos dados.

Baekhyun era alguns anos mais novo que eu, ou seja, quando eu estava na minha pré-adolescência sofrendo para ser aceita em algum grupo, o maldito ainda cheirava a leite em pó.

Não que eu não jogasse com ele, ou que ele não frequentasse minha casa, muito pelo contrário; crescemos juntos ali, mas que eu não queria pagar de babá para os meus futuros - um dia quem sabe, fé no Bacoob e vida que segue - amigos.

Mas que eu senti uma puta falta do moleque quando ele e os pais se mudaram da cidade, isso eu senti, fui até me despedir e dei para ele meu dragão de pelúcia favorito  -- Tiamat eu te amava --, afinal eu já era uma mocinha e não precisava mais dessas coisas.

Baekhyun chorou e me fez jurar de mindinho que um dia iríamos brincar juntos de novo.

É claro que eu prometi.

Adorava aquele moleque.


--X--
 

A adolescência foi ainda mais complexa, apesar de ter feito amizade com Tiffany, que me ensinou tudo que eu sei sobre moda - cabelos, roupas e maquiagem -, mas eu ainda não conseguia amigos para jogar e sempre embocava na mesa de meu pai - substituindo o tio Chanyeol.

Era como se eu mantivesse o tempo todo uma dupla personalidade - a de guria bonita e esperta na escola e a de gamer fora dela -, o que me sufocava e entristecia. Tiffany sabia que eu amava jogar e até mesmo ia pra minha casa, e tentava alguns jogos no meu playstation.

O problemas era que para todo mundo na internet eu era um guri. Entendam, meus queridos - no final dos anos 90 e início dos anos 2000, se tu fosse mina em qualquer jogo online, o caras iriam te dar tudo, até upar para você, e eu definitivamente não queria a ser rebaixada a isso.

Eu jogava melhor que eles, estava nos rankings, mas era eu falar que era uma guria que pronto, pediam para casar comigo ou me humilhavam dizendo que eu estava usando hack.

Sinceramente, a masculidade é frágil demais. Era uma mina ser melhor que eles em algo que eles achavam - se iludiam, na moral - que dominavam e começavam os ataques diversos.

Ou eu era idolatrada sem motivo e pedida em casamento para ser um troféu, ou eu era humilhada porque mina nenhuma manja os paranauê dos jogos.

Então, o que eu fiz? Criei todas as minhas contas como sendo do sexo masculino com o nome de Byun Baekhyun, porque esse era o nome do único amigo que eu tive na vida, e taquei o famoso e muito importante: foda-se.


--X--
 

Ainda amava D&D, mesmo que precisasse jogar com os mais velhos, e amava criar histórias para um dia mestrar uma mesa. Mas o D&D sempre foi muito pessoal, cara na cara, olho no olho, dado na mesa e mentiras na fuça, e eu nunca conseguiria as façanhas que conseguia nos jogos online me passando por Baekhyun.

Anda assim, criava algumas histórias para uma futura mesa e pensava no quanto seria bom ter amigos para jogar. Em contra partida, eu possuía a Priston mais respeitada de Priston Tale.

Eu era conhecida e a fama me cobiçava, conversava com alguns players e, nossa, o respeito deles era muito bom. Consegui até mesmo fazer uns amigos nesse meio tempo, o que era demais.

Tiffany insistia que eu estava enganando os caras e que amigos de verdade não faziam isso, mas quer saber? Eu tinha um puta medo do caralho de quando eles descobrissem que eu era uma mulher, medo da rejeição, do ódio e o pior, dos pedidos em casamento.

Kim Taeyeon não nasceu pra ser troféu de boy nenhum não.

Mesmo com tudo isso, entre os amigos que fiz, um se destacava.

Um tal de LordPelor.

Okay, eu sei o que vocês estão pensando e eu odeio Paladinos de Pelor tanto quanto qualquer um que não seja um mala sem alça vamos-fazer-o-bem, ou os piores cem-por-cento-leal-bom, eu sei. Eu sei que ser leal bom como Paladino de Pelor estraga qualquer campanha e trava qualquer jogo, mas o tal do LordPelor era legal, em contra partida a tudo isso.

Pelo menos não era LordPelorElfo.

Porque ninguém merece um Paladino de Pelor elfo. Ninguém merece um elfo, na moral. Se não for pra druida ou qualquer personagem com ligação com a natureza não jogue de elfo, eles são irritantes e os jogadores são ainda piores.

O por que da minha leve birra? Sério mesmo? Vão jogar magic e esperem um maluco aparecer com um deck verde, agora tente suportar o vagabundo com os seus digníssimos Elfos de Lenoar.

Cara, se fosse um ou dois manolos que fizessem isso, okay, uaaal, boa jogada, agora todo o cuzão de deck verde tinha um Lenoar.

Voltando ao que importa, o tal LordPelor tinha ótimas piadas sobre D&D, o que era raro e me fazia lembrar o tio Chanyeol - que era o único que conseguia fazer piadas engraçadas e contextualizadas -, e além disso ele tinha um Pike que quase me pegava no X1 no jogo, e esse era um fato a se considerar.

O pike dele era focado em defesa, uma build que funcionava bem e que era única, afinal LordPelor era considerado louco naquele servidor, só fazia builds malucas e que só iriam funcionar em níveis altos, o que mostrava a maestria dele com números.

Poderia me apaixonar por ele.

Mas para ele eu era EternalDarknes -- o que mostrava a minha tendência caótica para D&D --, um garoto que se formaria o colegial no fim do ano.

Isso me deixava triste, mas em nenhum momento eu deixaria de falar com ele, afinal, ele seria meu amigo independente do meu sexo, certo?


--X--


Chat do Priston Tale:
23:47h: LordPelor: pqp a quest supresa de aniversário, eu tô berrando, lol
23:48h: EternalDarknes: plmd a gente vai ter que se esconder de um NPC ativo, isso mesmo produção?
23:49h: PristonSale: vendo manto lvl 8 (anexo de item) ou troco por pedra
23:49h: EternalDarknes: lol, estamos no chat no jogo, vou te chamar no pv da quest LordPelor
23:50h: LordPelor: krl eu nem tinha percebido, hahahahaha, chama sim, vamos nos organizar pra quest s2
23:50h: Warrior9000: quanto tá o manto? PristonSale

Confesso que só havia ficado no chat porque estava pulando de alegria por um s2 que me fez repensar muitas coisas. Ignorando completamente o fato de ter falado que o iria chamar no privado, me mantive olhando aquela venda comum nos jogos - o chat global era usado em suma para isso - enquanto aquela pequena frase ia subindo conforme mais players seguiam conversando sobre o jogo, itens ou a quest surpresa do aniversário do jogo.

Meu computador começou a fazer um barulho e percebi que era o LordPelor chamando minha atenção no MSN.Z

LordPelor
"Vc n me chamou no jogo, te chamei aqui
Espero que você queira fazer a quest comigo
Krl se tá on pelo menos responde"

LordPelor acabou de chamar sua atenção

 

EternalDarknes
"Kct eu fui pegar água
Parece que não vive sem mim"

Menti e o meu coração foi na boca quando percebi que meu amigo estava digitando.

LordPelor

"Não vivo mesmo ú.ú

Não quero fazer a quest alone"

 

EternalDarknes

"Tá querendo pegar metade do meu XP hahahahahahaha"

 

LordPelor
"Metade pra mim e metade pra vc me soa melhor q merda nenhuma pra nenhum dos dois"

 

EternalDarknes
"Justo"

 

LordPelor
"Tu tem alguma ideia pra esconderijo?"

 

EternalDarknes
"Sabe os lycans do LVL 10? Podíamos esconder no sumoner deles, já que eles já sumonaram hoje e voltam amanhã, não vai ter nenhum retardado esperando por mais 12h”

 

LordPelor
"Pode dar certo, mas lembra que nós ficamos esperando por 16h quando precisamos fazer aquela quest? hahahahahaha"

 

EternalDarknes
"Acho que somos retardados, hahahhahahahah

Mas pensa bem, essa quest é pra geral, lvl alto e baixo e vai dar mais XP que os lycans, os caras já estão se escondendo"

 

LordPelor
"Vc tem razão, se não rezasse para o deus Gruumsh me casava com vc"

 

EternalDarknes

"Falou o paladino de Pelor, uabjaunsjiahaniajahajaija
Vem, vamos aceitar a quest e nos esconder"

 

Cliquei aceitando a quest e usei uma pedra de teletransporte para a cidade mais próxima dos lobinhos com LordPelor no meu encalço. Logo paramos os personagens atrás de uma árvore, perto do riozinho onde vez ou outra os lobos fugiam.

Troquei de janela com os personagem já seguro e corri pro MSN para falar mais pouquinho com o LordPelor.

 

EternalDarknes
"Cara, foi genial essa quest, pqp ahahhahahahahah"

 

LordPelor
"O mais legal é que apenas uma pessoa vai ganhar, quem tiver com ela na quest pega só o XP, o item especial vai ser pra um player só"

 

EternalDarknes
"Puts e ai?"

 

LordPelor
"E ai o q?"

 

EternalDarknes
"Como a gente faz?"

 

LordPelor
"Que vença o melhor, hanhahahahhaha"

 

EternalDarknes
"Vish, então tu vai ficar só com o XP"

 

LordPelor
"Hahahahahaha, veremos

O lugar ta vazio, é Darknes tu foi foda ao escolher aqui"

 

EternalDarknes
"Agora me diz, quando eu n sou foda? Pq eu n tô me recordando"

 

LordPelor
"Idiota, vc sabe que é foda all the time"

 

EternalDarknes
"Vlw por dizer o óbvio s2"

 

LordPelor
"Se n se achasse tanto, me casava com vc"

 

EternalDarknes
"UI, ta apaixonado, @deus ajuda o moleque"

 

LordPelor
"E se eu estiver…
Kkkkkkk
Foi zuiera, me responde cara"

 

EternalDarknes
"Talvez eu tenha acreditado demais nessa zueira, e talvez, só talvez, eu tenha gostado"

Sai do MSN, do jogo - já que meu personagem ficaria parado ali e se fosse encontrado pelo NPC, voltaria a cidade inicial.

Não tinha estruturas para encarar isso.

Primeiro, porque eu realmente gostava do LordPelor, seja lá como ele fosse, já que nunca tinha visto uma foto sequer dele. O que era justo, pois o mesmo não tinha visto nenhuma minha também.

Mas se ele estava apaixonado, ou gostando ou o caralho a quatro de mim, não era de mim de verdade, mas de Byun Baekhyun, um personagem que eu interpretava dia após dia para sobreviver ao machismo no mundo gamer.

E se ele estava apaixonado por Baek, certeza que o cara era gay.

A ideia de shippar ele com outro player me machucava, mas se ele fosse gay, era tudo que eu podia fazer, torcer para que ele fosse feliz ao lado de alguém legal.

Desliguei o computador de fui tentar dormir, pensando no quanto eu estava fodidamente apaixonada e o quanto aquilo era irreal para mim. Eu havia cavado minha própria tumba quando decidi fingir ser aquilo que não era.

 

--X--

Acordei cedo para ir para escola. Ignorei as mensagens no MSN, não queria sofrer mais por aquilo, e vi que nós ainda estávamos na quest. Éramos um dos últimos. Fiquei com dó do cara que tava jogando com o NPC; as empresas querem fazer algo legal, mas os funcionários estavam penando procurando os players que haviam se mocado em cada canto possível daquele jogo. Não duvido muito que tenham usados até lugares bugados para vencer, um item especial valia a pena.

Trancei meu cabelo porque havia ficado entretida no jogo e ido tomar banho muito tarde, assim não pude o lavar e a desgraça tava toda xexelenta. Mandei um SMS para Tiffany perguntando se havia alguma tarefa e sorri só ver a resposta com um tipico "tu acha mesmo que eu sei?".

Estava cansada, muito cansada, sentia o psicológico pesar muito mais que o físico e isso era horrível. Meu pai dirigia cantarolando alguma música do Queen e eu nem cantei junto, o que o fez erguer uma sobrancelha e me perguntar se estava tudo bem quando me deixou no portão da escola.

Sorri e acenei, não havia como explicar para o meu pai o que estava acontecendo. Dizer para ele que estava gostando de um guri que se por acaso gostasse de mim, não era exatamente de mim que ele gostava, e sim de um personagem que eu criei para poder jogar em paz sem ser troféu de ninguém ou acusada de hackear o jogo.

Meu pai não entenderia, porém ele sorriu de volta e me disse que à noite iria ter campanha.

Meus caros, nada melhor na vida que uma campanha de D&D para ajustar as tristezas diárias, inclusive, recomendo.

Assisti as aulas como sempre, anotando tudo e colocando post-its coloridos em tudo que julgava importante. No recreio, acabei sentando com Tiffany, que sorriu e soltou minhas tranças.

-- Caralho, Taeyeon faz quantos séculos que tu não lava esse cabelo? - Tiffany me puxou para que eu sentasse entre as pernas dela e continuou a desarrumar meu cabelo.

-- Alguns dias, me distrai jogando. - Ela achou um nó e puxou para o soltar. - Cacete, calma com essa mão.

-- Vou pentear isso e dar um jeito pra você, mas vê se lava essa merda quando chegar em casa.

Ela tirou um pente da bolsa e começou a pentear meus cabelos enquanto eu contava tudo que havia acontecido no jogo e o que eu sentia.

-- Você está apaixonada. Simples. -- Continuou a mexer no meu cabelo enquanto eu relaxava. Sério, eu amava quando Tiffany mexia nos meus cabelos. -- Vou fazer uma trança simples e fechar com um coque, tá bom?

Quase ronronei em resposta. Qual é, quando alguém mexe no seu cabelo, você fica todo mole e feliz, é a melhor sensação do mundo.

-- Não posso estar apaixonada. Eu nunca o vi, nem sei como ele é.

-- Aqui, veja como melhorou o aspecto xexelento do seu cabelo. - Tiffany tirou um espelho de mão da bolsa e me mostrou a sua obra de arte. Estava lindo, sorri enquanto olhava o meu reflexo. -- Você não precisa ver alguém pra se apaixonar. Aliás, se apaixonar pela aparência é superficial. O amor, Tae, não é algo que calculamos, ou algo que você possa controlar nas equações loucas que você faz. É mais que isso, é como você se sente ao lado, - Ela riu ao falar essa frase. - ou conversando com a pessoa, Tae. Isso independe do sexo, da aparência ou de qualquer superficialidade que as pessoas insistem em rotular. O amor é simplesmente amor, aquela sensação boa de estar ao lado da pessoa, de sentir-se bem e confortável ao lado dela, apenas isso.

-- Nossa. Nem sei o que falar.

-- Talvez um muito obrigada, Tiffany, a rainha dos conselhos e a mestre suprema dos penteados que disfarçam cabelo sujo.

A abracei daquela forama desengonçada e agradeci. Ela era de longe a melhor amiga que alguém poderia ter.

-- Eu poderia me apaixonar por você. -- Sussurrei baixinho.

Tiffany me deu um soco no ombro.

-- Você deveria parar de falar palavras vazias, Tae. -- Me repreendeu, sorrindo. -- E tanto o meu quanto o seu coração já tem dono.

O sinal tocou e ela sorriu me empurrando para levantar, me seguindo pelas escadas enquanto cantarola "Tae está apaixonada, lá lá lá lá." Ela podia ter os melhores conselhos, e ser a melhor amiga do universo, mas ainda tinha aquele jeitinho infantil que me fazia sorrir e querer esganá-la.

Ah! Qual é, ninguém merece musiquinha com o carinha que tu está afim. É estressante e degradante, mas eu amava essa menina, do jeitinho que ela era.
 

--X--
 

Cheguei em casa mais animada. Não que eu fosse contar para deus e o mundo quem eu era de verdade ou que fosse me declarar para LordPelor, mas saber, entender e aceitar aquilo que se passava dentro de mim era reconfortante.

Não que eu estivesse aceitando tudo que Tiffany havia me falado sem nem ao menos pestanejar. Eu havia pensado o restante das aulas todas - eram filosofia e historia, de qualquer modo - pensando em como me sentia conversando com LordPelor e como era agradável estar ao lado - na mesma quest ou no msn - dele.

O tempo corria quando estava conversando com ele, e eu conseguia me abrir com ele. E olha que isso é uma façanha, pois eu sou bastante fechada, não acho que as pessoas vão querer saber sobre mim, ou querer me entender. Me sinto pressionada ao ter que lidar com as pessoas, então apenas sorrio e aceno. Tudo sempre vai estar bem, mesmo que o mundo esteja caindo em ruínas dentro de mim.

Porém LordPelor conseguia saber quando eu estava com meu mundo em ruínas e em meio a piadas sem sentido e um "vamos uppar juntos", eu acabava falando o que se passava na minha mente confusa.

Ele me entendia mesmo, e não me pressionava a falar sobre, apenas me ouvia quando eu queria falar, e na maior parte do tempo, estava disposto a me fazer sorrir para que aquilo não ficasse me atormentando.

Talvez eu realmente estivesse apaixonada, mas mesmo que Tiffany tenha me falado sobre como ele seria superficial se não gostasse de mim única e exclusivamente por eu ser uma garota. Afinal, isso poderia ser um empecilho sim; a opção sexual não é de fato uma opção.

Então eu havia chego a duas conclusões que estavam me matando:

1) Eu estava apaixonada, gostava mesmo dele e isso me era assustador;

2) Ele poderia gostar de mim também, mas seria um personagem que criei para poder jogar.

Eu não tinha coragem de assumir no servidor que era uma mina, o medo era maior. Medo que os amigos que fiz se virassem contra mim, e medo de ser subjugada.

Tampouco conseguiria assumir na escola que eu era a Taeyeon que mandava os caras a merda por roubarem meu respaul, ou que ficava louca a espera do lançamento de uma nova classe no jogo.

Eu mentia diariamente para todos que conviviam comigo, e viver essa vida dupla única e exclusivamente por ser uma garota me machucava.

Um dia eu poderia fazer o que quisesse, sem ter que me preocupar com o que estava no vão das minhas pernas, certo?


--X--

Depois do jantar, os amigos de papai foram chegando para a campanha que jogávamos há alguns meses. Era uma mesa de Terror e horror, com pitadas de suspense. Papai estava testando Call of cutulus, e é claro que eu jogava de médico. Alguém precisava cuidar daqueles velhos loucos por aventura.

Mamãe havia feito bolo de morangos com chocolate, o que era uma combinação dos deuses. Serviu os pedaços e se sentou para jogar, afinal ela amava suspense e mandava melhor que muitos que estavam apenas tentando levar a mesa na zueira.

Passaram as horas e a aventura fluíu. Acabei descontando minhas frustrações fazendo teoria sobre o mistério do Cutulo, não via a hora do final dos livros serem lançados para saber sobre tudo.

Mamãe me ajudou a controlar os tios e papai sorria feliz ao nos sacanear, fazendo que muitos dos personagens ficassem insanos por não ter pontos de sanidade suficiente para lidar com os acontecimentos dentro do jogo.

No fundo papai seguia a linha de mestre chato, amava aventuras fechadas em que os players precisavam se render a sua forma de mestrar; era pouco sensato, sádico mesmo.

Eu odiava isso. Mesmo que eu tivesse teorizado toda a porcaria de mistério, não conseguiria seguir sem um grupo e metade dele estava insano. Mamãe, que jogava com a classe de psiquiatra, estava tendo trabalho para curar os tios.

Fiquei brava, qual é! Um mestre não deve impor seu sistema de jogo numa mesa, era isso que eu sempre havia aprendido com papai, mas não, agora que estávamos com um estilo que não dominávamos ele me vinha de sacanagens escritas de um velho sádico.

Terminei a partida claramente irritada, nem comi o resto do bolo - e eu amava bolo -. aquilo havia me irritado demais.

Me despedi dos tios, eles não tinham culpa por papai estar sendo um cuzão.

Entrei no quarto e fui direto por computador. Nem liguei pro jogo, precisava desabafar e sabia a única pessoa que iria me entender.

Percebi que LordPelor estava offline, mas ele havia me mandado a seguinte mensagem:

LordPelor
"Talvez eu também queira acreditar, s2"

Meu coração gelou e com lágrimas nos olhos eu comecei a desabafar:

EternalDarknes

"Cara, eu queria muito acreditar, saca? Num eu e vc, mas isso seria impossível. Nunca nos vimos, isso é realmente impossível, eu não sei quem vc é d verdade e vc tbem n sabe quem eu sou.

Isso é tão estranho

Sabe, eu passei o dia todo pensando nisso, e olha q eu tentei jogar Call off cutulu com meu pai, minha mãe e meus tios, lembra que eu falei deles?

O que aconteceu foi q o pai foi um baita cuzão, ele mestrou travado, o tio Teuk e o tio Soo ficaram insanos no jogo."

Na moral, estava pouco me fudendo para o textão no MSN, já que Pelo só veria quando ficasse online. Eu tava desesperada, foi aí que a seguinte mensagem chegou:

LordPelor
"Seu pai parece legal, o meu é muito louco jogando, sempre vai de Berseker e estraga as campanhas"

 

EternalDarknes
"Vc fala isso pq n jogou com meu pai hoje"

 

LordPelor
"Vc pelo menos pode tentar outro estilo, aqui é só D&D e old dragon"

 

EternalDarknes
"Amo D&D, meu estilo favorito s2"

 

LordPelor
"Queria jogar com vc"

 

EternalDarknes
"Tbem queria jogar com vc, mas vc não iria de Paladino de Pelor, né?!"

 

LordPelor

"Hahahahahahahahahaha, por vc eu rezaria para Bane e iria de aatrox"

 

EternalDarknes
"Vc gosta tanto assim de mim?"

 

LordPelor
"O suficiente p querer ficar com vc aqui o tempo td, q quando vc sai me sinto sozinho, tanto q n sei como t explicar"

 

EternalDarknes

"Mas a gente nunca se viu"

 

LordPelor
"Eu n preciso t ver pra saber q gosto d vc"

 

EternalDarknes
"Pq?"

 

LordPelor
"Pq vc me faz rir, tem a Priston mais forte do jogo, é a pessoa mais foda q conheço, ama D&D, joga de bardo, e tem a Tiamat como semi deus preferido"

 

EternalDarknes
"Mesmo se eu fosse completamente diferente daquilo q vc imagina?"

 

LordPelor
"N tem como, eu só imagino coisas boas"

 

EternalDarknes
"Iludido"

 

LordPelor
"Sou, por vc eu sou"

 

EternalDarknes

"Me formo mês que vem. Lembra q vc me disse que já morou aqui? Pode soar estranho, mas vem na minha formatura"

 

LordPelor

"Sua mãe vai me fazer bolo?"

 

EternalDarknes

"Claro s2"

 

LordPelor
"Vou ver com meu pai. Aliás, vc viu q tu ganhou a quest?"

 

EternalDarknes

"Sério? Wtf?"

 

LordPelor

"Eles me viram pq deu pra ver minha lança atrás da árvore, éramos os últimos"

 

EternalDarknes

"Kct tô muito feliz"

 

LordPelor

"Ganhei metade do XP :P"

 

EternalDarknes

"E eu um item especial"

 

LordPelor

"Pois é"

 

EternalDarknes
"Quem é a mais foda do universo?"

 

LordPelor
"Vc, sempre será vc"

 

EternalDarknes
"Simmm, crl"

 

LordPelor
"Ey, vou deitar, te vejo amanhã"

 

EternalDarknes

"Vamos upar juntos amanha?"

 

LordPelor
"Não vou sem vc

S2"

 

EternalDarknes

"S2"

 

Abri o jogo só para constatar que havia realmente ganho a quest de aniversário. Quase chorei de emoção ao ver o manto da minha Priston, era o mais forte do jogo, e combinava com minha build de defesa e ataque extremos - o que não era comum em Pristons, já que eram personagens de suporte.

Gritei no chat global "SOU FODA, CHUPA CONTINENTE, CHUPA WARRIOR E MAGOS, A SUPORTE AQUI GANHOU" e vi as reações me elogiando e me xingando, era engraçado.

Pensei sozinha, sabia que LordPelor estava offline e resolvi ser ainda mais chata no chat global, mandando um "QUEREM SABER O MELHOR? EU SOU UMA MINA, HAHAHAHAHAHAHA, PERDERAM PARA UMA MINA SEUS MACHISTAS DO KRL, CADÊ SEU DEUS AGORA? FOI UMA QUEST FULL NPC, NÃO TINHA COMO USAR HACK!"

E sai do jogo. Não estava me importando com as respostas, eles deveriam aprender a me respeitar como a mina que eu sou, e sinceramente não ficaria para ouvir as mensagens de ódio deles, até por que se ficasse iria denunciar conta por conta.

Eu agora era uma nova Taeyeon, uma que não teria medo de dizer para todos aquilo que gostava e aquilo que era. Sabia que LordPelor ficaria sabendo por algum player e, mesmo que ele não soubesse, eu não deixaria de falar com ele, ou mudaria meu jeito para que ele me aceitasse.

Se ele gostava de mim, teria que ser exatamente como eu era, com todos os meus defeitos e qualidades, da mesma forma que eu aceitaria os deles - com defeitos quero dizer a minha forma egocêntrica de jogar, não o fato de ser mulher, pois isso é parte de mim, não uma qualidade ou um defeito.

E pela primeira vez em muito tempo eu pude dormir tranquila.

No dia seguinte, fui para escola feliz e pela primeira vez levei meu game boy. Preciso ser um mestre pokemon decente, já havia deixado de lado há muito tempo tudo que gostava e o que era para ser aceita.

Os guris ficaram pasmos e, quer saber, eu estava pouco me fodendo. Que gritem a Yondalla por salvação, porque eu ainda vou gritar a Erythnul para que reine o caos.

Tiffany sorriu e me abraçou. Eu continuava jogando a abraçando, não estava me importante naquele dia.

-- Finalmente a minha Tae se libertou.

-- Tiffany, eu preciso usar uma poção. Eu tô tentando tomar esse ginásio.

-- É assim que eu gosto de você.

Tiffany me empurrou até a minha carteira, onde ficamos conversando sobre mil coisas. Contei sobre a quest e sobre a minha revolta no chat global, o que a fez rir; contei que havia convidado LordPelor para vir e essa se animou, a formatura era em menos de duas semanas.

Assisti as aulas normalmente, e ninguém me encheu o saco como faziam antes, até vieram me pedir conselhos sobre a versão Safira que eu estava jogando.

As gurias não me ignoraram como achei que ignoraram, e até aqueles gurus chatos que implicaram comigo no passado ficaram quietos quando eu dissertei sobre D&D e Priston. Coitados, eram noobs.

Não que o machismo deixou de existir quando resolvi me impor, claro que não. Alguns guris tentavam provar que eu estava errada e ficavam caçando falhas nas minhas dissertações, mas isso não me impedia de falar.

Não iria deixar ninguém me calar por eu ser uma mulher. Já havia ficado calada demais e, porra, eu era a número um no ranking de Priston, tinha um bardo nível 15 em uma mesa com meus tios, e já havia zerado a maioria dos jogos que eu gostava no playstation e nintendo - amém final fantasy.

Se eu falava, era porque sabia o que estava falando e macho nenhum iria me calar única e exclusivamente por ter um pinto entre as pernas.

E quer saber?

Eu estava amando ser a Taeyeon.

Continuei conversando com LordPelor, no msn. O engraçado era que ele não havia tocado no assunto das minhas mensagens loucas e sinceras no chat global de Proston, estava tudo completamente normal entre nós.

Talvez ninguém tenha falado com ele, ou ele não tenha percebido a minha mudança de Byun Baekhyun para Kim Taeyeon.

Eram possibilidades a serem consideradas.

 

EternalDarknes
"Pelor, tu vai mesmo vir?"

 

LordPelor

"Vou e nem te conto o melhor…"

 

EternalDarknes

"Claro q quero, conta td"

 

LordPelor

"Vou passar as férias aí, o pai disse q quer rever uns amigos"

 

EternalDarknes

"Omg! Sério?"

 

LordPelor

"Sim, podemos ficar juntos e jogar"

 

EternalDarknes

"Vou adorar s2"

 

LordPelor
"s2, quero muito bolo"

 

EternalDarknes
"Sim, e vamos jogar na mesa do pai"

 

LordPelor
"Seria meu sonho, agora vamos uppar"

 

Juntos, seguimos jogando, subindo de nível e segurando o primeiro e o segundo lugar no ranking mundial.

 

--X--

 

EternalDarknes
"Hey Pelor, como vou te reconher?"

 

LordPelor

"Vou estar com meu pai, ele tem quase 2m de altura, vou usar uma camisa de Priston."

 

EternalDarknes

"Vai ser fácil, um cara c/ uma camisa de priston com um gigante do lado hahahahahahahaha"

 

LordPelor

"Basicamente isso s2"


--X--

 

-- Ai, Tiffany, precisa mesmo passar tudo isso de maquiagem na minha cara? - Vi minha mãe sorrir ao levar meu vestido para o quarto.

-- Para de se mexer, cacete, ainda tô no começo.

Quis chorar, mas eu queria ficar bonita, afinal conheceria Pelor pela primeira vez, além de estar um passo da vida adulta.

Esperei Tiffany terminar a maquiagem e meu estomago gelou quando abri o msn e vi uma mensagem daquele que eu estava esperando.

LordPelor
"A propósito, Tae, eu sou Byun Baekhyun. Espero que vc não ache tudo isso estranho, mas no princípio eu achei que vc era só mais um garoto com o mesmo nome que eu. Mas as suas historias, cara, a sua família é única, hahahahahhahahahhahahahahahhaha

Lembra do garotinho que vc sempre contava nas histórias? Eu soube ai q era eu, e q vc era a Tae, a minha amiga da Tiamat.

Eu soube e nunca entendi os motivos de vc fingir ser eu?

Mas quando vc se rebelou no chat global, eu percebi. E cara, eu te respeito pra krl, saca? Não ligo se tu é uma mina ou um boy, na moral, eu te respeito pela jogadora que tu é e se alguém dizer o contrario chama pro X1 e dá uma surra no cara.

Eu vou te ver, e espero que vc não se importe de eu ser eu, pq eu acho que estou apaixonado por vc.

Até mais, só vou voltar ao msn depois da sua formatura. Ah, kct, eu tô nervoso.

S2, infinitos s2"

 

Estraguei a maquiagem que Tiffany havia feito, deixando algumas lágrimas correrem, e quando fui chamá-la para arrumar vi meu pai surfando com minha mãe na sala, com a maior cara de panda pelo lápis escorrido. Vi meu passado, presente e futuro na forma de um ursinho de dragão apelidada de Tiamat nas mãos de um guri que ria do meu desespero.

Tiffany me seguiu quando saí correndo e me tranquei no quarto, em meio às lágrimas de vergonha e de um sentimento novo que eu não sabia o que era.

-- Tae, cadê a Muna confiante que tu sempre foi? - Minha melhor amiga me dizia enquanto arrumava a cavada que eu havia feito na maquiagem.

-- É ele… Sempre foi ele…

-- Agora tu vai lá e mostra pra ele que é você, sempre foi você.

Abracei a rainha dos conselhos, dei uma última olhada no espelho - ah, qual é, era o Pelor ali! - e sai do quarto com toda a minha confiança.

-- Hey, Pelor. - Falei alto e para todos ouvirem. - Vem ser meu player2!

Sabia que todos ali entenderiam o que eu havia falado e sorri ao ver ele me passando a minha antiga Tiamat e segurando minhas mãos. Não liguei para o grito do tio Chanyeol ou o "oowoun" do meu pai, porque naquele momento tudo que me importava era Baek e sua mão quentinha na minha.




 


Notas Finais


Todos os nomes bizarros que a Ta fala são nomes fe deuses e segue a lógica: quando ela fala sobre não ter amigos diz ter fé no deus mais sociável do d&d.
Ela reza para o deus dos orcs Guumesh, que odeia os elfos, esse deus é caótico mal, então ela usa isso muitas vezes.
O Bark reza pro deus mais bonzinho de todos. Ele Duz que por Taeyeon jogaria como aatrox que é a classe contraria a paladinos erezariapara o deus inimigo.
Foi uma declaração de amor -q
PRISTON TALE AINDA EXISTE, eu jogava isso em 2002, e a nossa, eu amava.
Quest é missão.
Build são os talentos e itens que vc usa, o que vc fax com personagem.
Bom, qualquer coisa me berrem, 💜

Muito obrigada por lerem.

Gabu, obrigada


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