Eu não conseguia ficar calma quando Angelica estava perto de mim. Tudo o que pensava que sabia parecia evaporar junto com o vapor da cafeteira. Às vezes, realmente achava que ela absorvia meu conhecimento e distribuía entre as xícaras de café para os clientes.
Isso não acontecia sempre, apenas toda última sexta feira do mês. Quando a supervisora do La Caféine vinha avaliar nosso trabalho para ter certeza de que não éramos “incompetentes”. Apesar dessa não ser a palavra que ela usava, é exatamente assim que me sentia quando Angelica estava por perto.
Eu era garçonete nesse meu novo emprego. E por mais fácil que essa área possa parecer, de fácil não tem nada. Tinha que entrar em contato diretamente com o cliente, carregar bandejas tomando o maior cuidado do mundo para não deixar cair nada. Caso contrario, seria descontado do meu salário. Que já não estava muito bom, por causa das outras coisas que já havia quebrado. E como se já não fosse tudo muito difícil, sempre tinha que está com um sorriso no rosto. Não importa o quão ruim fosse meu dia.
O cliente tem sempre razão.
Odiava essa frase. Não odiava quando era eu o cliente. Mas as coisas mudaram muito de três anos atrás. Muito mesmo.
- Sophie... Sophie está me escutando? – Angelina me perguntou enquanto estralava os dedos na minha frente.
- Sim. Sim, claro.
Ajeito-me na cadeira e entrelaço as mãos sobre a mesa. Sempre achei que isso me deixava mais seria, alguém menos atrapalhada.
- Como estava dizendo, nossa cafeteria nunca esteve tão bem em questões de clientes. Nossos doces são um dos mais populares da cidade graças a nosso querido Francis.
Francis logo apareceu a seu lado todo sorridente. Adorava ganhar elogios. Seus doces pareciam ganhar um gosto mais especial, e quando algum superior era quem elogiava ele ganhava o dia. Se pedissem para ele passar a noite trabalhando, seria bem provável de ele aceitar.
- E é claro, a vocês. Por isso, se todos mantiverem a mesma frequência positiva de vendas, provavelmente ganharam um aumento no salário.
Todos os presentes comemoraram incluindo eu, que estava urgentemente necessitando de mais dinheiro.
- Isso é claro se não quebrarem nada. – Angelica completou olhando diretamente para mim.
Era provável que ela falasse dos meus desastres em praticamente em todas as reuniões. Sempre tentei me justificar dizendo que não tinha culpa se pensamentos aleatórios invadiam minha cabeça com tanta força que era quase impossível ignorar.
Desviei meu olhar dela para Caroline, minha melhor amiga, que estava sentada na ponta da mesa.
Caroline era uma das funcionarias antigas do café. E também foi uma das poucas pessoas que teve paciência para me ajudar quando comecei entrei. Além de me ensinar como carregar uma bandeja corretamente, ela também foi quem me ajudou a conhecer a cidade e aprender o idioma local. Francês. Esse foi um dos motivos para que nos tornássemos melhores amigas.
Ela olhou para mim e sorriu. Fazendo-me sorrir de volta.
Caroline era como um girassol. Fazia-me feliz e era bonito de olhar.
- Então é isso. Boa sorte a todos. E espero que na próxima visita eu tenha resultados positivos. Tenham um bom dia.
Levantei, amarando o avental na cintura e indo em direção ao balcão para esperar pelos clientes. Pois esse era meu trabalho.
Poderia não ser um dos melhores, mas era meu.
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