História A garota dos olhos verdes - Espelho, espelho meu

 Eu estava paralisada ainda na frente da casa de Lauren, ela me olhava curiosa observando minha expressão.

-Você não quer entrar?- Perguntou ela com um ar tímido e eu não pensei no que estava fazendo, apenas entrei. A casa de Lauren era totalmente diferente da casa de minha vó, tinha uma sala grande com um sofá enorme, uma televisão colada na parede com moveis bonitos, e no fundo da sala havia uma cozinha, luzes boas, a casa tinha um ar aconchegante e ao mesmo tempo, rico.

-Obrigada por trazer a bola, não foi nossa intenção jogar no seu quarto.

-Tudo bem. - Eu disse virando-me rápido pra ela, dando de cara mais uma vez com seus olhos verdes. Parei pra observar sua roupa, Lauren usava uma regata e uma calça preta. Seu cabelo preto realçava seus olhos, seu sorriso tímido. Ela devia estar intrigada com minha falta de fala.

-Sua casa é muito bonita, Lauren. - Senti que ela ficou feliz com o fato de eu estar puxando algum assunto.

-Obrigada, já fui à sua, é aconchegante. - Dei de ombros. Será que ela já tinha entrado em meu quarto?

-Olá!- Um homem havia surgido em uma porta atrás de mim, devia ser o pai de Lauren, um homem alto e carrancudo, porem parecia ser simpático. - Você deve ser neta de dona Olinda, certo? Obrigada por trazer a bola.

Apenas sorri e fiz que sim com a cabeça. Eu era uma pessoa tímida, porem aquele momento estava me intimidando ainda mais. Aquela garota havia me despertado algo que eu não sabia dizer oque era.

-Lauren, temos que sair agora, leve a moça até em casa e volte para sairmos.

O cara disse em um tom gentil e calmo. Levar-me até em casa? Eu não tinha 10 anos. Mas não consegui dizer nada, no fundo queria que ela me levasse até em casa.

Lauren abriu a porta para sairmos, sussurrando algo para seu pai e veio logo atrás de mim. Fomos caminhando em silencio na rua. Minha casa era bem ao lado da dela, mas parecia que estávamos caminhando horas.

-Você veio visitar sua avó?

-Não. -Respondi- Eu vim morar aqui.

Lauren ergueu as sobrancelhas. Eu estava caminhando de cabeça baixa, mas ergui para ver sua reação.

-Bom, vamos ser vizinhas então, espero que sejamos boas vizinhas. - Ela riu. Ela ria mordendo o lábio superior, puta que pariu. Eu não era homossexual, eu havia namorado caras e apenas caras, nunca havia me interessado por mulheres, mas aquela garota estava me causando uma sensação estranha. Aquela cena me arrepiava.

-Bom, podemos até ser, mas sua bola quebrou meu espelho. - Eu disse em um tom extrovertido, sorrindo.

-Sério?- Disse ela em um tom preocupado- Poxa, desculpa! Eu posso comprar um novo pra você. - Ela estava falando sério?

-Não, não se incomode, está tudo bem. - Eu disse, chegando à frente da porta da casa de vovó.

-Melhor assim, não quero criar conflitos na vizinhança, muito menos com a nova vizinha.

Lauren riu. Lauren tinha um jeito sexy, curioso tímido e extrovertido ao mesmo tempo. Ela devia achar que eu sou idiota, porque eu parava do nada e observava seu jeito. Ela devia achar que meu cérebro de repente parava de funcionar, de repente voltava.

-Bom... - Disse ela chamando minha atenção pra realidade novamente. - Tenho que ir agora Camila, qualquer coisa você pode chamar.

-Camis. - Disse. Ela me olhou curiosa- Me chame de Camis.

Ela sorriu. Puta merda.

-Certo Camis. Chame-me do jeito que quiser.

Ela piscou e virou de costas indo pra casa. Paralisei, fiquei olhando ela ir pra casa. Lauren tinha um caminhado tímido e sexy. Hora jogava o cabelo pra esquerda, hora pra direita. Ela estava dando em cima de mim, ou era coisa da minha cabeça? Eu estava atordoada.

Entrei em casa e meus pais e minha avó estavam ao redor da mesa comendo o jantar.

-Venha comer Camila, você vai passar mal, amor.

Minha mãe disse em um tom maternal. Minha mãe sempre tinha esse tom maternal, seja qual fosse seu momento. Raivoso, bravo ou carinhoso, minha mãe sempre tinha esse tom maternal. Sentei ao lado dela, de frente para minha vó. Ela havia feito uns bifes com arroz, e eu só percebi a fome que estava quando senti aquele cheiro. Meus pais conversaram algo sobre uma chuva forte que havia dado na cidade onde morávamos, eles falavam, falavam, enquanto eu simplesmente devorava minha comida. Quando terminei, encostei-me à cadeira e meu pai me olhava curioso.

-O que houve Camila? Você não falou nada no jantar.

Percebi que os três esperavam minha resposta. A verdade é que enquanto comida, eu só conseguia pensar nos olhos verdes e no jeito daquela garota.

-Nada. Só estou cansada pai. Vou subir e dormir.

Levantei, e beijei os três. Disseram-me aquelas coisas que sempre dizem, boa noite, miminhos.

Subi as escadas em passos rápidos, tomei banho, sequei os cabelos, e deitei na cama. Comecei a pensar novamente em Lauren. Era uma sensação curiosa sabe? Eu nunca me senti atraída por uma garota, mas nunca havia sentido aquilo por nenhum garoto. O olhar de Lauren me despertava curiosidade, o jeito dela me deixou intimidada, e seus lábios me deixavam... Excitada. Sim, eu fiquei menos de 10 minutos com a garota, mas ela me despertou todos esses sentimentos. Será que eu só estava curiosa? Será que eu era bissexual? E também se fosse, não é um problema, não é mesmo? Bom, não importava. Eu só sei que estava ansiosa para vê-la novamente. Depois de alguns minutos, o sono me ganhou, e eu acabei pegando no sono.

Acordei no dia seguinte com a campainha da casa de vovó tocando. Peguei meu celular para olhar a hora, eram 13h47min da tarde. Puta merda, como eu havia dormido tanto? Levantei em um pulo, não havia ninguém em casa. Mais um toque na campainha.

-Já vai!-Gritei

Desci as escadas rápido e havia um bilhete em cima da mesa. ``Fomos ao mercado, querida, voltaremos à tarde. Descanse. Mama´´. Poxa, oque custavam me acordar? Mais um toque na campainha.

-JÁ VOU, MERDA!

Abri a porta com raiva, e me deparei com os olhos verdes de Lauren.

-Esta nervosa Camis?- Disse ela sorrindo com os lábios entre os dentes. De repente a expressão dela ficou seria, e ela observou meu curto pijama com os olhos. Ela fez uma expressão, eu não saberia dizer se era desejo ou vergonha. - Pelo jeito acordou agora né?

-Acordei. - Disse tímida. - Você quer entrar?

-Não, vim apenas trazer esse presente.

Ela me entregou algo empacotado. Certamente era um espelho.

-Espero que você goste, já que quebrei o seu.

-Obrigada, mas realmente não precisava, eu não... - Lauren colocou o dedo nos meus lábios para me fazer parar de falar. Caracas! Que garota sexy.

-Apenas aceite.

-AMOR!

Alguém gritou de dentro do carro parado na frente da minha casa. Eu nem vi que tinha um carro ali.

-VAMOS, LAUREN!

Gritava uma voz masculina de dentro do carro. Observei curiosa. Amor? Lauren me olhou tímida, deu um sorriso inseguro.

-Tenho que ir agora, meu namorado está de aniversário e vou passar o dia com ele. Mantenha esse longe das bolas Camis. - Disse ela se afastando e apontando para o espelho.

-Pode deixar. - Disse entrando e fechando a porta.

Fui em direção ao sofá e sentei. Então Lauren Jauregui tinha namorado? Então tinha sido tudo da minha cabeça? Mas é obvio. Da onde eu tirei que uma garota daquelas iria estar me paquerando? Eu estava ficando é louca. Dentro de mim ardia um ciúmes, mas eu não tinha que sentir isso porque afinal eu mal conhecia a garota. Maldita garota dos olhos verdes.

Abri o pacote com raiva e me olhei no espelho.

-Espelho, espelho meu, existe alguém mais trouxa do que eu?

Quase pude escutar o espelho respondendo Não.