História A garota sem alma - Perfeitas estranhas

A garota sem alma, parte 3

Perfeitas estranhas...

O despertador toca dentro de uma das caixas que Marcelle passará a noite anterior inteira descarregando de sua caminhonete, pixada com pentagramas feitos de tinta vermelha e insetos mortos no para-brisa, eles também sempre estavam lá.

 Então ela começa a abrir as caixas uma por uma para encontrar o maldito despertador, assim que o acha, o desliga com a cara fechada (praticamente a única expressão que ela faz diariamente), e então ela vê, a única coisa em sua vida que não traz uma história de medo, horror, morte, ou o típico cheiro de morte que a maioria de suas coisas carrega, a tiara de flores de sua mãe, ela tinha um cheiro de prazer pré caos, aquela sensação de fazer algo descuidado pelo prazer momentâneo, mesmo sabendo que haverá consequências, essa era a memória que a coroa trazia, quando ela se sentia solitária, com muito medo, coisa que não acontecia mais, ela costumava abraçar a tiara e ficar em silêncio, somente ela e seus pensamentos. Mas a sensação de segurança é interrompida pelo som de mais um pássaro em sua janela, a face tranquila de Marcelle é novamente trocada pelo nada, pelo rosto de alguém que não lembra qual foi a última vez que sorriu.

 Então ela se lembra de quem era, do que carregava com sigo, a maldição, de todos os dias ter que levantar para cavar mais buracos para enterrar os pássaros, até que decidiu simplesmente coloca-los em sacos e joga-los no lixo, ser boa e enterra-los não a trouxe mais paz apenas ocupou o tempo que ela poderia usar para catar os objetos quebrados que surgiam no chão.           Assim que ela separa os típicos sacos de lixo pretos para coloca-los dentro, ela sai, mas assim que saí se assusta em um pulo, há alguém do lado de fora.  -Puta merda- Diz a garota- Você me assustou mulher!

 E Marcelle dá uma boa olhada nela, ela tinha o cabelo curto até os ombros tingidos de rosa, olhos verdes quase invisíveis por causa da maquiagem pesada e escura, tinha 3 tipos de pircing no nariz e 4 na orelha esquerda, todos pretos, igual a roupa que ela usava, uma camiseta branca que ia até um pouco acima dos joelhos, cobrindo grande parte de seu jeans escuro rasgado, e apesar do calor, ela usava uma jaqueta de couro por cima de tudo.

 Ao notar o olhar atento de Marcelle garota dá uma volta como se estivesse exibindo a roupa, com um sorriso estupido no rosto, mas ela não acompanha com um sorriso, então sem graça a garota estende a mão para Marcelle, que não ergue a mão para cumprimentá-la, mas a garota não se dá por vencida e se inclina para pegar a mão de Marcelle, que em um pulo de susto, tenta se esquivar, mas a garota é mais rápida, ela tenta se soltar, mas ela também é mais forte. –Prazer, meu nome é Sophia! – Diz ela como se Marcelle não estivesse com uma cara de espanto absurda.

Ela solta a mão de Marcelle que a leva até o peito como se esse comprimento tivesse retirado seus dedos, a tal Sophia continua a encarar Marcelle como se esperasse uma resposta, ela é idiota ou o que pensa Marcelle, mas a garota continua a esperar a resposta, então ela levanta uma sobrancelha e continua, - Bom, eu costumo vir até aqui todos os dias então você deve ter se mudado durante a noite – diz, como se fosse algo muito difícil de se deduzir- Acho que iremos nos ver com frequência então seria melhor eu saber seu nome não é?  -Não iremos nos ver com frequência- diz Marcelle finalmente.                                                                                                                                            -Olha só, ela fala – Responde Sophia com um sorriso, que logo é interrompido por um som alto, ela se assusta, mas Marcelle não se move, ela estava familiarizada com esse som a muito tempo, e Sophia corre até a janela, -Isso não é loucura- diz ela com uma expressão que não parecia medo, ela parecia impressionada- isso está acontecendo desde que cheguei aqui – continua ela- esse já é o quinto! – Ela está contando!?- você sabe o que é isso? – Pergunta ela. Marcelle continua a olhar para os pássaros sem expressar reação, então estica o saco e começa a pega-los, como se Sophia não estivesse lá. Enquanto sente o olhar curioso dela sobre seu ombro.

Então Sophia se abaixa e começa a pegar os pássaros pelas asas com as mãos nuas e a coloca-los nos sacos. Assim que Marcelle olha para ela, Sophia sorri! Como se elas não fossem perfeitas estranhas.