História A garota sem alma - Meu primeiro sorriso

A garota sem alma

O primeiro sorriso

  Marcelle sai do bar ainda com as roupas rasgadas, e cobertas de sangue, mas quem se importava, ela já ouvia o som das ambulâncias ao longe, e os gritos desesperados das pessoas ainda no bar, então ela caminha, ela sabe que permanecer naquele lugar não iria ajudar, ela continua a caminhar, pois já sente os efeitos do álcool, e acha que já bateu o recorde de pessoas feridas por hoje, enquanto ela andava sem destino certo passaram duas ambulâncias, quem será que eu matei agora? Ela se perguntava.

 Marcelle anda até suas pernas doerem, até a luz do sol deixar o céu, até encontrar um banco de madeira em meio a uma praça em péssimo estado, então ela se senta esticando as pernas cortadas e sangrentas, ela olha para seu estado, sua camiseta azul, estava coberta por manchas vermelhas, suas botas ainda tinham pedaços de cacos de todos os tipos de vidro, e sua calça, estava tão rasgada quanto a de Sophia, e Marcelle é pega novamente pensando nela, o que há com essa garota? Se perguntava.

 Mas Marcelle é pega de surpresa, algo agarrou seu ombro, isso já aconteceu antes, apenas uma vez, no dia em que sua mãe morreu, ela sentiu isso, mas era muito nova, ela quase não foi tocada desde então. Ela gela sobre o toque, mas algo é estranho, foi confortável, não foi como a maldição que a perseguia, ela se sentiu segura pela primeira vez em sua vida, e é isso que a assusta, ela se levanta em um salto desengonçado, e deixa a garrafa cair, se quebrando em mais pedaços sobre seus pés –Senhor! Tome cuidado moça -  diz uma voz doce e masculina- O que diabos aconteceu com você? – Diz ele exasperado, mas Marcelle não consegue dizer nada, ela o observa espantada, ele vê uma mulher coberta de sangue em uma praça escura e pergunta se ela está bem? Oque há de errado com esse rapaz, ela pensa – Venha comigo- diz ele puxando sua mão para um lugar mais iluminado, mas os pés de Marcelle estão doloridos demais para caminhar, e ela está tonta demais para se manter de pé, então ela cai no chão, e os pequenos cacos de vidro que ainda estavam em suas roupas entram mais em suas coxas, ela geme de dor, fazendo o rapaz olhar para ela, e sem pensar duas vezes ele a levanta e a pega no colo como uma daquelas cenas de salvamento de princesa, Marcelle tem vontade de soca-lo nessa hora, não por ele a ajudar, mas sim pelo que ocorrerá logo após a sua ajuda.

  Ele a carrega até um lugar iluminado e a observa espantado –Você estava naquele bar não estava, o que sofreu um ataque, não é? – Ataque? Sim, um contra mim, pensa ela- Se sente tonta? Sente dor? – Sim estou tonta, bebi uma garrafa de vodca, não, não sinto dor, não mais, ela pensa em dizer, mas sua boca não se move, então ela apenas olha para ele, olha bem para ele.

 Ele tinha olhos puxados e castanhos, um nariz fino, uma boca delicada e rosada que eu nunca terei, ele era alto, e forte, usava uma camiseta larga, e uma calça de moletom caída na cintura e uma touca deixando apenas umas mechas de seu cabelo escuro fugirem, ele estava correndo, estava suado, mas não cheirava mal, nem ofegava, era como se ele tivesse apenas acabado de sair de uma ducha. Marcelle começa a se levantar, mas ele a segura pelos ombros e delicadamente a senta novamente- Você está louca se acha que vou deixa-la sair daqui dessa maneira- diz ele a olhando com atenção- espere aqui, não ouse se levantar, senão eu te pego de novo e te levo para minha casa- diz ele só percebendo como isso teve um duplo sentido logo após falar, ele cora e vira a cabeça envergonhado de ter flertado com ela dessa maneira, e Marcelle deixa escapar uma risada, o que foi isso?, ela pensa desesperada, ele me fez rir! Como assim? Marcelle começa a hiperventilar e o rapaz percebe e coloca a mão em seu ombro novamente, Marcelle se acalma com o simples toque dele, então o olha novamente, o que está acontecendo? Ela se pergunta-Me espere aqui, e respire, por favor não se mova por favor, mesmo, por favor, então ela o vê indo até uma loja do outro lado da rua, provavelmente ele está indo comprar curativos, e Marcelle se pergunta, será que ele sabe que esse foi meu primeiro sorriso?