Eu desliguei meus sentimentos, você me tornou tão insensível para o mundo...
Após ter formado milhares de calos em meus pés por ter caminhado mais quilometros do que devia, finalmente cheguei a casa da praia. Uma cabaninha confortável e aconchegante de longa vista. Pisei com minhas botas na pequena estradinha de ladrilhos que nos permitia caminhar até a casa sem termos de pisar na areia. Eu fui, e abri a porta com a chave que havia ganhado junto ao documento. O casebre era realmente aconchegante, mas nao me imaginava ali, nao só, desta forma eu estaria tão infeliz. Para quem não tinha nada isso até dava para o gasto. -admirei enquanto formava um movimento de "u" em meus lábios. -Então, quando me vi ali dentro, quando vi todo aquele espaço ao meu redor, eu tive a súbita certeza de que nunca estive tao só. Eu olhei, cada canto, cada detalhe... Nao quero nada disso, eu nao preciso dessa droga, nao agora, nao quando não posso mais compartilhar meus planos e nem meus sonhos ao lado dele! -joguei cadeiras e virei mesinhas ao chao enquanto pensava sobre tudo aquilo. -E sim, mais uma vez estava chorando, como um animal frágil, como uma pessoa boba que costumava se. Mas estas, estas seriam as últimas lágrimas. -prometi a mim mesma enquanto as enxugava. -Então, escutei um barulho que vinha da porta, eu poderia ter ficado com medo, reprimido-me, mas a esta altura eu nao estava, eu nao me importava. Encarei a porta e peguei uma garrafa de cerveja entre as maos. Vi os pés de alguém adentrar e quando levantei a garrafa a fim de bater nessa pessoa, fui cercada por aquele olhar castanho, quando associei, dei um passo atrás retornando, era Bruce.
-O que faz aqui? -perguntei enquanto o encarava friamente.
-Estava passando pela rua, vi você sair com essa mala. -Ele apontou para onde eu a havia deixado. -Decidi segui-la.
-Por que? Eu nao preciso de voce. Achei que tivesse deixado claro! -gritei.
-Selina, essa não é você...
-Não! Nâo sou eu, Bruce! -afirmei. -E estou com medo de mim, mesmo quando escolhi nao sentir medo de nada. -sorri com lágrimas nos olhos.
-Deixe-me ajudá-la. -ele aproximou-se. -Compartilhe sua dor comigo...
-Com você?! -perguntei com desprezo. -Você é o causador da minha dor!
Ele abaixou a cabeça.
-Eu nao o matei!
Eu olhei para a maldita garrafa que estava segurando, um supremo ódio se apoderou de mim.
-É mentira! -eu lancei a garrafa contra a parede, percebi que Bruce estremeceu.
-Selina...
-Eu nao sou uma criança, Bruce! Eu escolhi isso! -olhei ao redor.
-Isso o que?! -perguntou nervoso.
-Não sentir nada! Foi o que eu escolhi!
-Não pode, Selina. Ao menos que arranque seu coração. -cruzou os braços.
-Então eu o arrancarei. -assenti. -E por que você tem um final feliz quando eu nao tenho?!
-Eu nao tenho, Selina. -ele abaixou a cabeça. -A Michelle foi embora.
Me surpreendi ao ouvir
-Oh, sinto muito. -falei ironica. -Acho que você ja começou a pagar pelo que fez. -sorri.
-Não vou te convencer, nao é?
Eu nao respondi, apenas me abaixei para pegar álcool do armário.
-O que está fazendo? -questionou.
-Nada de importante. Por que não sai daqui e segue sua vida? -perguntei enquanto estava de costas para o mesmo.
-Porque acho que agora mais que antes, precisamos um do outro!
-Está enganado Bruce! -virei-me para ele. -E agora vamos. -fui até a porta, sem muita opção ele me seguiu. -E saia antes, para não se ferir!
Ele pareceu confuso, nao entendeu uma palavra sequer que disse.
-Antes do que? -perguntou ainda intrigado.
-Disso!
Risquei um fósforo e joguei para trás, Bruce se surpreendeu ao ver a explosão na casa. Peguei a minha mala de rodinhas e o relógio de bolso que ja estava comigo desde o princípio, pois o guardava entre os seios.
-Você estava jogando álcool no chao?! -perguntou pasmo.
Continuei a andar o ignorando. Eu havia feito tudo aquilo sem que ele percebesse, espalhei o álcool ao chao e joguei as fotos de mim e de Henry por cima do líquido, agora tudo queimava, eu nao queria nada que me fizesse lembrá-lo, gravuras sao piores do que qualquer objeto. Eu nao vou ser mais a Selina boba, eu disse que o pouco de ilusao que me restava acabaria, e acabou.
Eu escolhi nao sentir nada, escolhi deixar de viver, escolhi apenas existir.
-Selina, vem pra minha casa!
-Ora, Bruce! -comecei ironica. -Mal acabamos de nos cumprimentar e já está convidando-me para a sua casa? Que modos são esses?!
-Entendeu o que quis dizer, Selina. Não estou pedindo para dormir comigo... -revirou os olhos.
Eu virei-me para ele, farta daquela discussão.
-Não, obrigada! Eu vou para fora de Gotham, estou cansada de tudo e todos aqui! -disse ao encaminhar-me para a rua.
-Vai sair de Gotham? -pareceu surpreso. -Não quero que faça isso!
-Não pedi sua opinião! -conclui e segui caminho.
Enquanto as chamas chamuscavam e me davam uma cor especial sobre o rosto. Enquanto Bruce encarava-me pasmo e sem reação. Enquanto pensava que aquela garotinha tola havia morrido, que nunca mais choraria, ou me importaria, que nunca mais eu sentiria algo. Acabou, ali, naquele instante, tudo morreu. Eu escolhi isso. Todas as vezes que chorei com o coraçao aflito e me importei, tudo havia chegado ao fim. Porque as vezes nao basta, voce tem de desligas seus sentimentos, tem de deixar de se importar, talvez essa seja a chave afinal para ser feliz.
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